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Resumo / Abstract
No decurso da sua existência, os Jogos Desportivos Coletivos (JDC) têm sido ensinados, treinados e investigados
à luz de diferentes perspectivas, as quais subentendem distintas focagens a propósito do conteúdo dos jogos e
das características do ensino-treino. Tais diferenças podem assumir capital importância para a reflexão e estudo,
desde que questionadas e esclarecidas. Todavia, isso requer uma sistematização das operações de classificação
correntes sobre as perspectivas e tendências que se têm imposto. Com o presente artigo, pretendemos construir
um quadro de referências que coloque em relação as diferentes formas de abordar os JDC e as concepções que
as sustentam.
Throughout their existence, Collective Sportive Games (CSG) have been taught, trained, and investigated in light of
different perspectives, which imply approaches that vary according to the content od the games and the teaching-
training characteristics. Such differences may be of vital be of vital importance both for the study and the reílection
of CSG, provided they are questioned and clarified. Nonetheless, this requires a systematization of the current
operations of classification on the prevaling perspective and trends. The present article aims at building up a
referential framework that puts into relation the several forms of approaching CSG, and the concepts that support
these approaches.
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designados jogos desportivos coletivos possu- sentido de estabelecer uma supremacia sobre
em um sistema de referência com vários com- o seu adversário. Devem por isso garantir, no
ponentes, no qual se integram todos os joga- âmbito do quadro regulamentar do jogo, o cum-
dores e com o qual se confrontam constante- primento de princípios de jogo e procurar atin-
mente (Konzag, 1991), e são configuradas a gir objetivos intermédios, desenvolvendo
partir de situações motoras de confrontação ações parcelares.
codificada, reguladas por um sistema de re-
gras que determina a sua lógica interna Na medida em que as ações de jogo
(Parlebas, 1981). ocorrem em contextos de elevada variabilida-
de, imprevisibilidade e aleatoriedade, aos jo-
Os JDC caracterizam-se, entre outros gadores é requerida uma permanente atitude
fatores, pela aciclicidade técnica, por solicita- estratégico-tática (Gréhaigne, 1989; Deleplace,
ções e efeitos cumulativos morfológico-fun- 1994; Garganta, 1994; Mombaerts, 1996).
cionais e motores e por uma intensa participa-
ção psíquica (Teodorescu, 1977). Na construção de tal atitude, a seleção
do número e qualidade das ações depende ob-
O problema fundamental pode ser enun- viamente do conhecimento que o jogador tem
ciado da seguinte forma (Gréhaigne & Guillon, do jogo. Quer isso dizer que a forma de atua-
1992): numa situação de oposição, os jogado- ção de um jogador está fortemente condicio-
res devem coordenar as ações com a finalida- nada pelos seus modelos de explicação, ou
de de recuperar, conservar e fazer progredir o seja, pelo modo como ele concebe e percebe o
móbil do jogo, tendo como objetivo criar situ- jogo. São esses modelos que orientam as res-
ações de finalização e marcar gol ou ponto. pectivas decisões, condicionando a organiza-
ção da percepção, a compreensão das infor-
Assim, o que em primeira instância ca- mações e a resposta motora.
racteriza os JDC é o confronto entre duas for-
mações, duas equipas, condicionadas pelo Isso significa que a forma de um joga-
cumprimento de um regulamento, que se dis- dor entender o jogo e de nele se exprimir de-
põem de uma forma particular no terreno de pende de um fundo, ou de um metanível, que
jogo e se movimentam, com o objetivo de ven- constitui aquilo que podemos designar por
cer. Tanto no ataque como na defesa, as suces- "modelo de jogo" (Garganta, 1997). As rela-
sivas configurações que o jogo vai experimen- ções que o jogador estabelece entre este mo-
tando resultam da forma como ambas as equi- delo e as situações que ocorrem no jogo orien-
pes geram as relações de cooperação e oposi- tam as respectivas decisões, condicionando a
ção em função do objetivo do jogo. organização da percepção, a compreensão das
informações e a resposta motora.
A finalidade dos comportamentos dos
jogadores é, portanto, guiada por um objetivo Desse modo, a dimensão estratégico-
de produção: vencer o jogo (Gréhaigne, 1989). tática emerge simultaneamente como pólo de
No decurso de uma partida, até conseguir mar- atração, campo de configuração e território de
car um gol ou impedir a sua marcação, os jo- sentido das tarefas dos jogadores no decurso
gadores/equipe dirigem os seus esforços no do jogo (Figura 1).
Figura 1. A dimensão
estratégico-tática en-
quanto como pólo de
atração, campo de
configuração e territó-
rio de sentido das ta-
refas dos jogadores no
decurso do jogo (Gar-
ganta, 1997).
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revelando uma forte em que se configura a partir de um conjunto bola (habitualmente sem bola); 2 ) parte-cor-
a
componente de padrões fundamentais, é algo identificável, po principal da aula, onde são abordados os
cultural. reprodutível e transmissível, revelando uma gestos específicos da atividade considerada,
forte componente cultural. Constitui, portan- através de situações simplificadas, com ou sem
to, um meio específico para gerar certos efei- oposição; 3 ) parte-em função do tempo dis-
a
tos, um "utensílio" reconhecido por uma co- ponível, utiliza-se formas jogadas (jogos re-
munidade, que se consagrou culturalmente duzidos ou jogo formal).
através do uso e da eficácia demonstrada na
produção de determinados resultados. Freqüentemente é privilegiada a dimen-
são eficiência (forma de realização) da habili-
Aliás, o vocábulo técnica, comumente dade, independentemente das dimensões efi-
utilizado em distintas atividades humanas, é cácia (finalidade) e adaptação, isto é, do ajus-
entendido, de uma forma genérica, como o tamento das soluções e respostas ao contexto
conjunto de processos bem definidos e (Rink, 1985; Graça, 1994).
transmissíveis que se destinam à produção de
certos resultados. Ora, a concepção que privilegia a des-
montagem e remontagem dos gestos técnicos
Nos JDC, as técnicas não se restringem elementares e o seu transfere para as situações
a movimentos específicos. Constituem ações de jogo, não deve constituir mais do que uma
motoras, formas de expressão do comporta- das vias possíveis no ensino dos JDC, dado
mento, realizadas no sentido de solucionar os que nessa perspectiva se ensina o modo de fa-
problemas que as várias situações de jogo co- zer (técnica) separado das razões de fazer (tá-
locam ao praticante. Trata-se de uma mo- tica).
tricidade especializada e específica de uma
modalidade desportiva que permite resolver de Aliás, importa referir que, no âmbito do
uma forma eficiente as tarefas do jogo. ensino e do treino nos jogos desportivos, Bun-
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ker & Thorpe (1982) constataram que, quan- Por isso, na abordagem dos jogos
do a técnica é abordada através de situações desportivos, aos trabalhos centrados nos mo-
que ocorrem à margem dos requisitos táticos, delos de execução têm sucedido outros que
ela adquire um transfere diminuto para o jogo. colocam em evidência uma abordagem
centrada nos modelos de decisão tática
De fato, a ação de jogo está muito para (Bouthier, 1993).
além dos processos motores contidos na di-
mensão gestual da técnica (Araújo, 1992). O
jogador que recorre a uma dada técnica, no A PERSPECTIVA ESTRATÉGICO-TÁTICA
Figura 2. Cadeia acontecimental do comportamento tático-técnico do jogador no jogo (adap. Bunker & Thorpe,
1982).
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pode ser exprimido através de enunciados depara no jogo, o praticante escolhe os sinais
lingüísticos; saber executar, isto é, possuir um que se afiguram mais importantes para orga-
conhecimento processual que decorre da ação nizar a suas ações.
propriamente dita (Anderson, 1976; Chi &
Glasser, 1980;Maggil, 1993).
O ENSINODOS JDC
Malglaive (1990) e Gréhaigne & God-
bout (1995) sustentam que o sistema de co- As pedagogias tradicionais em Educa-
nhecimento, nos desportos coletivos, decorre ção Física e Desportiva têm privilegiado: (1)
de três categorias (Figura 3): a explicação associada à demonstração, em que
?
o professor prescreve, a todo o momento, os
procedimentos a respeitar para realizar a tare-
(1) regras de ação, isto é, regras básicas do fa; (2) o condicionamento do meio, em que se
conhecimento tático do jogo, que definem as pretende reduzir os ensaios e os erros.
condições a respeitar e os elementos a ter em
conta para que a acção seja eficaz (Gréhaigne
& Guillon, 1991). As regras de ação podem É ao nível da natureza dos constrangi-
mentos da tarefa (dificuldade, obstáculo ou
ser observadas a partir dos princípios de ação,
problema) e dos tipos de empenhamento do
isto é, construções teóricas e instrumentos ope-
sujeito (atenção, esforço físico, compreensão/
Atualmente, os ratórios que se constituem como referenciais
raciocínio) que as várias pedagogias diferem
especialistas defen- macroscópicos que permitem identificar e clas- (Courtay et ai., 1990).
dem a utilização de sificar os comportamentos dos jogadores;
uma pedagogia de
Atualmente, os especialistas defendem
situações-problema, (2) regras de organização do jogo, relaciona- a utilização de uma pedagogia de situações-
a qual representa das com a lógica da atividade, nomeadamente problema1 , a qual representa um prolongamen-
um prolongamento com a dimensão da área de jogo, com a repar- to lógico dos modelos de ação motora inspira-
lógico dos modelos tição dos jogadores no terreno, com a distri- dos nas ciências cognitivas e nos modelos
de ação motora buição de papéis e alguns preceitos simples sistêmicos.
inspirados nas de organização que podem permitir a elabora-
ção de estratégias;
ciências cognitivas Assim, pode dizer-se que, no plano do
e nos modelos ensino-aprendizagem dos JDC, assiste-se a
sistêmicos. (3) capacidades motoras, que englobam a ati- uma transição dos modelos analítico e estru-
vidade perceptiva e decisional do jogador, bem turalista para um modelo sistêmico, no qual
como os aspectos da execução motora propri- os pressupostos cognitivos do praticante e a
amente dita. equipe, entendida como um microssistema
complexo, afiguram-se elementos fundamen-
Face a diversas situações com que se tais (Tabela 1).
Figura 3. Conteúdos do conhecimento em desportos coletivos (adap. Gréhaigne & Godbout, 1995).
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Nesse contexto, afigura-se assim impor- ELLIS, M. Similarities and differences in games: a system for
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