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RECENSÃO CRÍTICA

Referência Bibliográfica: João Costa e Ana Lúcia Santos, A falar


como os bebés, O desenvolvimento linguístico das crianças, CAMINHO

O livro A falar como os bebés dá-nos conta do desenvolvimento


linguístico das crianças, desde a fase em que ainda se
encontram no útero da mãe até aos seus cinco anos de idade.
Os capítulos I, II e IV foram os abordados nesta recensão, sendo
que o I, distingue as diferentes teorias de desenvolvimento
linguístico, dando ênfase à teoria inatista, argumentando a
favor da mesma. O II capítulo aprofunda o primeiro contacto
com a língua que acontece ainda no útero, até à produção das
primeiras palavras e, subsequentemente, as frases. Finalmente,
o último capítulo apresenta diversos jogos linguísticos
evidenciando a importância de um ambiente propício ao
estímulo do desenvolvimento da linguagem.
Segundo Piaget, a teoria cognitivista (do inglês “behavior” -
comportamento) decorre da evolução psicológica e do estado
maturacional da criança. No entanto, outros estudos permitem
mostrar que o desenvolvimento linguístico é independente do
desenvolvimento de outras capacidade cognitivistas. O
inatismo, é uma hipótese, defendida por Chomsky, que acredita
que o ser humano é dotado de uma gramática inata, ou seja,
essa teoria postula que o ser humano vem programado
biologicamente para o desenvolvimento de determinados
conhecimentos. Já que esta capacidade é inata, a tarefa da
criança é a de desenvolver a sua faculdade em função do
ambiente que a rodeia.
O meio em que o bebé se encontra inserido é de extrema
importância para o desenvolvimento da linguagem, uma vez
que se a criança não crescer num ambiente em que esteja
exposta a uma língua não terá as condições necessárias para a
vir a falar.

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A teoria Behaviorista da mesma forma, acredita na importância
do meio na aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Contudo, admite que os mesmos dependem, exclusivamente,
das interacções externas do tipo estímulo-resposta.
Os autores explicitam as diferentes fases do desenvolvimento
linguístico das crianças, argumentando a favor da teoria
Inatista. Desta modo afirmam que os bebés produzem palavras
e frases que nunca ouviram ( “di” – dei); que são são
sistemáticas nos seus erros; que estes revelam conhecimento
gramatical ( “eu fazi” / “eu bebi”), o que demonstra que a
criança não está a inventar uma nova forma verbal mas sim a
seguir a regra, transformando verbos irregulares em regulares;
que o desenvolvimento linguístico é universal e sequencial,
partindo de estruturas mais básicas para mais complexas; que
o desenvolvimento linguístico é rápido, sendo que aos 15
meses produzem em média cerca de 10 palavras e aos 2 anos,
já, são capazes de aprender 8 novas palavras por semana; que
os bebés não reagem a correcções (“eu vi ele”) ignorando-as ou
reproduzindo-as de forma correcta, apenas, por imitação; que
existem diferenças entre o que os bebés entendem e o que
produzem, entendendo muito mais do que produzem, visto que,
produzir implica maior maturidade do aparelho fonador; que
discriminam desde cedo, diferenciando sinais acústicos
diferentes; que não recebem informação negativas, mas que
atingem um conhecimento negativo; que apesar dos bebés
receberem um input degradado, estes são capazes de
seleccionar os dados relevantes para formular regras; e, por
último, que existe uma fase crucial para a aquisição da
linguagem em que o bebé tem de estar em comunidade e ouvir
falar à sua volta de forma a adquirir uma língua. Se assim é,
torna-se evidente a relevância do estímulo no processo de
aquisição.

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Como referirmos anteriormente, o capítulo II trata do
desenvolvimento linguístico do bebé nas diferentes etapas.
Numa primeira fase, ainda na barriga da mãe, a sensibilidade
do bebé é suficientemente fina para discriminar diferentes tipos
de sons, tais como a voz e os batimentos cardíacos da mãe e
sons exteriores, assim como consegue distinguir diferentes
línguas. No entanto, ainda não é possível determinar se o bebé
discrimina sons porque está biologicamente preparado para tal
ou porque está a treinar as suas capacidades linguísticas. Não
obstante algumas destas capacidades perdem-se à medida que
a criança se especialize na sua língua.
O primeiro contacto com a fala inicia-se após o nascimento da
criança, sendo este processo de compreensão e percepção
inconsciente. É através do choro, do olhar e do balbuciar que a
criança comunica com o mundo à sua volta. Ao chorar a criança
transmite diferentes sentimentos, como fome, irritação ou sono,
percebendo que desta forma consegue ver satisfeitas as suas
necessidades. Por outro lado, o bebé adora olhar para a face
humana e copiar expressões faciais associando-as à emissão da
fala. Apesar da forma de comunicação dos pais ser geralmente
degradada, pela utilização do Paiês, esta contribui para o
desenvolvimento linguístico da criança, uma vez que a mesma
está a trabalhar as suas capacidades linguísticas utilizando, os
nossos sons, ritmos, entoações e até expressões no processo de
descoberta da sua língua.
O balbucio representa o primeiro passo para a linguagem
explicita, podendo ou não corresponder a uma palavra. Estes
primeiros balbucios ou palavras são geralmente formados por
sílabas constituídas por uma vogal (a – água) ou por uma
consoante e uma vogal (na – não).
Durante a fase que acompanha os balbucios, a criança está
apta para associar significados a palavras, sendo arbitrária a
relação entre os sons das mesmas e o seu significado. A partir

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do momento que consegue fazer esta associação a criança
começa a utilizar as primeiras palavras que, normalmente,
acontece aos 12 meses. Estas fazem parte do ambiente que os
rodeia, sendo água, mãe, pai, entre outros alguns exemplos
disso mesmo. Ainda nesta fase, é possível constatar que as
crianças são capazes de assimilar mais palavras do que as que
já produz. Existindo, portanto, uma maior dificuldade na
produção do que na compreensão.
No 2º ano de vida dá-se a explosão do vocabulário, sendo que a
maior parte das palavras correspondem a nomes, verbos,
adjectivos e advérbios. Alguns autores apontam factores sociais
como causa desta explosão de vocabulário. Outros referem
factores de desenvolvimento psicológico e não estritamente
social.
Nesta mesma fase as crianças também desenvolvem a
capacidade de classificação e associação de símbolos; revelam
incapacidade em entender ironias ou metáforas; os sons à sua
disposição aumentam, bem como, a extensão das palavras; o
formato das sílabas começa a tornar-se complexo e as frases
são tipicamente curtas. Quanto à formação de palavras, a
criança faz já alguns plurais, flexiona algumas formas verbais e
demonstra conhecimento da morfologia da língua.
No que diz respeito à produção e formação das primeiras
frases, o aspirante a falante irá descobrir que as palavras se
combinam, que as diferentes ordens traduzem significados
diferentes, e que terá que associar os significados das várias
palavras para conseguir chegar ao significado de uma frase.
A partir dos 3 anos, as crianças já têm capacidade para produzir
frases em que surgem várias categorias puramente
gramaticais: frases com conjugações; artigos; preposições,
pronomes átonos. As frases produzidas tornam-se, assim, mais
complexas e de maior extensão.

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Por último, por volta dos 4 ou 5 anos de idade as crianças
apresentam-se como falantes competentes da sua língua. Não
obstante o processo de aquisição da linguagem só termina na
adolescência, sendo que as suas capacidades linguísticas vão-
se trabalhando toda a vida. Nesta fase ainda não dominam
todos os princípios da gramática, não entendem a linguagem
figurativa, assim como, expressões idiomáticas.
 Ao longo do livro os autores frisaram a relevância
de um ambiente rico em interacções externas,
dando destaque, no último capítulo, a um conjunto
de actividades que estimulam o desenvolvimento
linguístico nas crianças. Estes Jogos linguísticos têm
de ter em consideração aspectos como: a
capacidade-alvo (conhecimento linguístico ou
consciência linguística); conhecimento exercitado
(conhecimento fonológico, conhecimento
morfológico, conhecimento sintáctico,
conhecimento semântico; tipo de tarefa (desenhos,
ouvir e contar e histórias, advinhas, rimas, teatro) e
idade-alvo. Esta trata-se, apenas de uma referência
cabendo aos adultos perceber se um dado jogo
pode ou não ser adequado/estimulante a uma dada
criança.

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