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º 3 | Ano 2 | 2007
Educação, Ética e Sustentabilidade
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APRESENTAÇÃO
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Na verdade, o n.º 1, do Vol. XIV, da Revista de Educação (Setembro de 2006) é todo ele dedicado à
reflexão sobre a problemática da implementação da Declaração de Bolonha nos cursos de formação
inicial de professores.
Educação. Temas e Problemas | n.º 3 | Ano 2 | 2007
Educação, Ética e Sustentabilidade
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Instituída pelas Nações Unidas para o período de 2005-2014.
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Com esta ou outra designação, dependendo das Reformas a que tem estado sujeito o sistema educativo
português. Recorde-se que a própria Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46786, de 14 de
Outubro) chama a atenção, de forma explícita para a abordagem das questões do Ambiente e da finitude
dos Recursos Naturais.
Educação. Temas e Problemas | n.º 3 | Ano 2 | 2007
Educação, Ética e Sustentabilidade
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educativo? Mas, afinal, que escolas é que temos?... Qual a responsabilidade dos
professores, no meio de tudo isto? Afinal, para que serviram os cursos de formação
inicial de professores? Quem presta contas das enormes somas de dinheiro investidas
no sistema educativo?...
Todos aqueles que estão mais familiarizados com as questões da Educação
reconhecerão a falácia desse tipo de questões. Todavia, tal não impede que o vulgar
contribuinte e o cidadão responsável deixem de se interrogar sobre o que falhou, pois a
todos é evidente que não temos uma Educação de qualidade superior à daquela que
existia há trinta anos atrás. E é aqui, parece-nos, que se torna necessário acrescentar um
outro tema de questionamento, ao da eficácia do sistema educativo: as ligações que as
relações entre Educação e Sustentabilidade possuem com a Ética. Se hoje parece não
haver dúvidas sobre a necessidade de encarar a Educação de modo diferente daquele
como tem sido encarada até aqui – se os grandes problemas a que ela terá de dar
resposta são de natureza diferente dos tradicionais, logo ela também terá de possuir uma
natureza diferente, que permita encontrar respostas eficazes para os problemas actuais4,
parece também haver poucas dúvidas sobre a necessidade de mudança da postura ética,
quer no ensino, quer nas aprendizagens que com ele se pretendem. Na verdade, as
grandes questões ambientais não se detêm nas fronteiras. Por exemplo, é impossível
poluir a atmosfera em Lisboa, sem a poluir em Évora, Madrid ou Reiquiavique; ou
esgotar as reservas de carvão no Reino Unido, sem que isso afecte todo o resto do
mundo; ou ainda, provocar o degelo da Antártida, sem que haja consequências na
subida do nível das águas do mar em todo o mundo. Ou que se extinga uma determinada
espécie ou uma determinada população, sem que isso se reflicta no equilíbrio biológico,
afectando todo o sistema Terra – que, recorde-se, possui elementos vivos e não-vivos.
Os exemplos são fáceis de encontrar, o que significa que os nossos actos deixam de se
reflectirem só em nós, enquanto pessoas ou enquanto povo, para se reflectir sobre os
restantes seres humanos, ainda que em graus e intensidades diferentes. Tal implica uma
postura menos egocêntrica e menos antropocêntrica, como é da nossa tradição
civilizacional. Implica que adoptemos um paradigma interrelacional, quando nos
propomos avaliar as consequências dos nossos actos. Em Educação, por exemplo, a
concretização desta linha de pensamento rompe com uma tradição académica de
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Por isso hoje volta a retomar-se a ideia da abordagem integrada da ciência, sem a compartimentação
precoce em disciplinas especializadas.
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