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Segundo o aludido princípio, “as normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com a de
grau superior”. SILVA, José Afonso da. Normas constitucionais. A norma jurídica. Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1980. p. 41.
2
expressivo conjunto de direitos sociais são elevados ao vértice do ordenamento. A
partir de então, todas as relações de direito civil, antes circunscritas à esfera
privada, hão de ser revisitadas, funcionalizadas aos valores definidos pelo texto
maior”.2
2
TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1.999. Apresentação.
3
2. Da Constituição como fonte e fundamento normativo
A Constituição como lei fundamental. Concepção estrutural de Constituição.
Relação entre os planos constitucional e infraconstitucional.
3
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. vol. 1. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p.
86.
4
Não se perca de vista que, de acordo com Kelsen, a Constituição jurídico-positiva, ou posta, também possui
o seu fundamento, chamado “norma hipotética fundamental”, o qual prescreve obediência à primeira
Constituição histórica. Por Constituição histórica, entenda-se aquele texto fundamental cuja elaboração não
se encontra prevista em nenhuma disposição normativa anterior, não tendo os seus editores sido investidos de
competência por nenhuma outra norma jurídica. Assim, a atual Constituição da República – norma
fundamental posta – estaria hipoteticamente fundamentada no Ato Institucional n. 5/68. De observar, contudo,
que tal fundamento encontra-se cingido a uma perspectiva dinâmica – relacionamento das normas a partir das
regras de competência e daquelas reguladoras da sua produção – e não estático, que diz respeito ao
relacionamento das normas a partir de seus conteúdos. Cf. COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen. 3.
ed. São Paulo: Max Limonad, 2.000. p. 24 e seguintes.
4
jurídico, a evolução doutrinária – não se prendendo ao neokantismo inspirador do
jurista austríaco e de seu normativismo – veio a apontar para uma concepção
estrutural de Constituição, ressaltando a sua “conexão com a realidade social, que
lhe dá o conteúdo fático e o sentido axiológico”.5 Desta forma, mantém-se o
conceito de lei fundamental, mas esta passa a ser encarada sob diferentes
aspectos, a saber: 1) forma – um complexo de normas; 2) conteúdo – a conduta
humana, motivada pelas relações sociais; 3) fim – a realização dos valores que
apontam para o existir da comunidade; 4) causa criadora e recriadora – o poder
que emana da nação e do povo, respectivamente.6
5
nos limites e com as modalidades previstas, o seu
defeito de legitimidade constitucional.7
Por outro lado, a Constituição não deve ser encarada apenas como
recurso de interpretação da legislação infraconstitucional, embora seja certo que
“as opções feitas no plano normativamente superior refletem-se na atividade
hermenêutica, nos conteúdos e nos significados das normas de nível ordinário”.8
6
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 15 de outubro
de 1988, fruto dos anseios populares e inspirada pelos ideais democráticos e
sociais da sonhada Nova República, erigiu um Estado calcado em ideais de
marcante humanismo e solidarismo, situando a pessoa humana como “princípio,
meio e fim da nova ordem que constrói”9.
9
Cf. GOMES, Luiz Roldão de Freitas. Normas e princípios de direito civil na constituição brasileira de
1988. Texto eletrônico disponível em <www.cepad.com.br>. Acesso em: 18 de setembro de 2004, 13:05.
10
Idem.
7
informada pelos valores e pela filosofia de vida que o modelo constitucional
acolhe.
11
Neste sentido, PERLINGIERI, Pietro. ob cit. p. 10.
12
TEPEDINO, Gustavo. A tutela da propriedade privada na ordem constitucional. Revista da faculdade de
direito da UERJ. vol. 1. n. 1. 1993. p. 107.
8
O que ocorre, então, é uma translação de valores, que se faz sentir
pelo fenômeno da despatrimonialização do direito civil.
13
Cf. PERLINGIERI, Pietro. ob. cit. p. 33.
9
4. Do fenômeno da descodificação do Direito Civil
frente aos valores constitucionais
A descodificação do Direito Civil. A falsa concepção dos microssistemas.
A Constituição como fator de unificação do sistema civilístico.
14
PEREIRA, Caio Mário da Silva. ob. cit. p. 60.
15
Apud GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1995. p. 148/149.
10
representado pelo código, é substituído por um “polissistema”. Assim, os estatutos
(leis esparsas e especiais) formariam os microssistemas do direito privado, os
quais funcionariam com total independência temática uns frente aos outros, à
margem dos princípios do Código Civil.16
16
Cf. TEPEDINO, Gustavo. Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil. Temas de
direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1.999. p. 11.
17
Idem. p. 12.
18
11
encontram “condicionados, vinculados, instrumentalizados, ao projeto
constitucional”.19
19
TEPEDINO, Gustavo. ob. cit. p. 15
12
5. Conclusão
Por certo, não logramos esgotar o assunto, que, por sua relevância,
merece diligente aprofundamento. Contudo, deixamos aqui a nossa contribuição
como um convite à pesquisa, sempre com vistas ao engrandecimento da ciência
do direito.
13
Referências bibliográficas
COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen. 3. ed. São Paulo: Max Limonad, 2.000.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. vol. 1. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 16. ed. São Paulo:
Malheiros, 1.999
_____ Normas constitucionais. A norma jurídica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1980.
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