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EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA FAMÍLIA RURAL

Rosane Fontoura
Patricia Weckerlin e Silva
Danielle Prim
Adalberto Camargo
Rosa Riskalla
RESUMO
O Projeto Paraná Biodiversidade, realizado no período de 2003 a 2008 no Estado do Paraná, visa a compatibilização
da produção rural com a conservação da biodiversidade. Nestes cinco anos o Projeto apoiou com recursos
financeiros, aproximadamente 14.000 proprietários rurais e, concomitantemente, realizou capacitação para a
população dos 63 municípios paranaenses inseridos nos Corredores de Biodiversidade Araucária, Iguaçu-Paraná e
Caiuá-Ilha Grande. Neste contexto, foram promovidos esforços no sentido de sensibilizar a sociedade e, em especial,
as famílias rurais das comunidades próximas às áreas naturais protegidas para que realizassem atividades
econômicas de baixo impacto denominados Módulos Agroecológicos (empreendimento ecologicamente correto).
O artigo aqui apresentado pretende mostrar como foi desenvolvida a programação de educação e como foram
estabelecidas as bases conceituais e as linhas teórico-metodológicas para realização de 100 cursos e oficinas de
educação ambiental com os diferentes atores sociais, preparando-os para atuarem na redução das ameaças sobre a
biodiversidade. Os eventos foram coordenados pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos e Empresa
Extensionista Rural da EMATER integrando de forma inédita os órgãos públicos de assistência da produção rural
com instituições ambientais.

1. INTRODUÇÃO
O Paraná teve um processo de desenvolvimento baseado no uso intensivo da terra pela
agropecuária, em alagamentos de áreas para abastecimento de água, geração de energia elétrica,
exploração dos recursos naturais e expansão urbana desordenada, o que reduziu as grandes áreas
contínuas de cobertura florestal nativa do Estado. Com esta redução da cobertura florestal, ocorre a
fragmentação de habitats transformando áreas naturais grandes e contínuas em áreas isoladas umas das
outras e geralmente, por uma paisagem modificada ou degradada, levando a um grave estágio de
degradação e degeneração da biodiversidade (CAMPOS, 2006). Muitos destes fragmentos são
representados pelas Unidades de Conservação (UCs) e levando em conta que a história de criação de UCs
no Estado do Paraná sempre esteve ligada à áreas de remanescentes do processo de colonização e
ocupação do seu território, resultou em áreas com uma baixa representatividade das regiões
fitogeográficas em termos de UCs de Proteção Integral (CAMPOS& COSTA2006).
O Estado do Paraná é formado por várias regiões fitogeográficas, resultantes de suas peculiaridades
geomorfológicas, pedológicas e climáticas. Originalmente 83,41% de sua superfície eram cobertos por
florestas, pertencentes a três tipos principais: Floresta Ombrófila Densa (litoral e Serra do Mar), Floresta
Estacional Semidecidual (oeste e norte do Estado) e a Floresta com Araucária (leste e sul da região dos
planaltos). As três unidades fitogeográficas estão englobadas no bioma “Mata Atlântica”. Existem ainda
outras formações não-florestais na área do Estado, entre elas estão os campos, nas regiões de Ponta
Grossa e Guarapuava, os cerrados, as restingas, os mangues, as várzeas, os campos de altitude e
vegetação rupestre (MAACK, 1968). Hoje, o percentual da cobertura florestal para o Paraná reduziu para
14,64% para os estágios vegetacionais médios e avançados e 3,40% para o estágio avançado.(PARANÁ,
2000).
Segundo BLUM & OLIVEIRA, (2008), em decorrência deste desequilíbrio, implantaram-se
inúmeros processos prejudiciais ao meio e ao próprio ser humano, como erosão, deslizamentos,
assoreamento de cursos d`água, perda de fertilidade do solo, alterações microclimáticas, proliferação de
pragas e espécies exóticas, desertificação, extinção de espécies nativas, entre vários outros tanto de cunho
ambiental quanto social.
“Metade do PIB brasileiro advém do uso direto da biodiversidade por meio da agricultura,
pecuária, pesca, exploração florestal, silvicultura e turismo” (GROSS, 2005).
O Paraná é um estado agrícola, e tem se destacado na produção de grãos, mesmo representando
apenas 2,3% do território brasileiro. De acordo com dados da SEAB em 2007 esteve em primeiro lugar na
produção de milho, feijão, trigo, carne de frango, segundo lugar em soja e segundo maior exportador de
produtos agrícola do país. Com cerca de 20% de sua população vivendo no meio rural, o Paraná possui
quase 370.000 estabelecimentos rurais, os quais ocupam perto de 80% de seu território. São cultivadas
55.000 km2 com lavouras, enquanto 67.000 km2 destinam-se às pastagens (BLUM & OLIVEIRA, 2008).
Além do destaque econômico, o Paraná apresenta uma rica variedade de espécies, com: 10.000 espécies
de borboletas e mariposas, 450 de abelhas, 950 de peixes, 160 de répteis, 120 de anfíbios, 770 de aves e
180 de mamíferos. Muitas destas espécies se encontram ameaçadas como é o caso de alguns mamíferos:
onça-pintada, tamanduá-bandeira, ariranha, mono-carvoeiro e o cachorro-do-mato-vinagre. De acordo
com MIKICH & BÉRNILS (2004) as principais causas são: destruição dos ambientes naturais, introdução
de espécies exóticas invasoras, caça e pesca predatória, comércio ilegal de espécies e poluição dos
ecossistemas terrestres e aquáticas.
De acordo com esta realidade, é necessário que se tomem medidas para adoção ou adequação de
um modelo mais sustentável e viável para que além do eixo econômico se destaquem também os eixos
social e o ambiental.
Recentemente os poderes públicos através de programas e projetos como o Paraná Biodiversidade,
Mata Ciliar e Gestão Integrada de Bacias Hidrográficas entre outros estão implementando ações para a
conservação da biodiversidade em conjunto com as organizações não governamentais e sociedade civil
organizadas em comitês e conselhos estão focados na busca de soluções ambientais.
2.PROJETO PARANÁ BIODIVERSIDADE
O Projeto Paraná Biodiversidade tem como premissas a conservação da biodiversidade e o
manejo sustentável dos recursos naturais em duas regiões fitogeográficas ameaçadas no Estado do Paraná:
Floresta Ombrófila Mista e Floresta Estacional Semidecidual. O objetivo geral do Projeto é a formação de
Corredores de Biodiversidade, interligando remanescentes florestais às unidades de conservação com a
reorientação da produção rural, para o uso de práticas menos impactantes através do apoio de 56 Módulos
Agroecológicos. Tem o apoio financeiro do GEF- Fundo Mundial para o Meio Ambiente/Banco Mundial,
envolvendo diversas Secretarias de Governo.
A área de abrangência do Projeto compreende 63 municípios,
que, juntos, somam uma área territorial de aproximadamente
2.000.000 hectares, o que corresponde a 10% do território do Estado,
que se dividiu em três Corredores de Biodiversidade.

O Corredor Araucária está situado na região da Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária).
O Corredor Iguaçu-Paraná situa-se uma área de transição das duas regiões: Floresta Ombrófila
Mista e Floresta Estacional Semidecidual.
O Corredor Caiuá-Ilha Grande encontra-se na Floresta Estacional Semidecidual abrangendo as
ilhas e várzeas do Rio Paraná, representa um ambiente com rica biodiversidade de espécies aquáticas
entre outras.
Nestas áreas encontramos seis unidades de conservação de responsabilidade estadual que
pertencem a diferentes categorias de manejo e atuam, na proposta do Projeto, como extremidades dos
corredores propostos. A área em questão abrange importantes rios paranaenses como: Iguaçu, Paraná,
Paranapanema, Piquiri e Ivaí.

2.1. Componente Educação Capacitação da Sociedade e Mobilização Social

O componente de Educação e Capacitação da Sociedade para a Conservação da Biodiversidade


buscou sensibilizar a sociedade quanto à importância da conservação da biodiversidade, capacitando-a a
participar e contribuir no processo de recuperação e manutenção da qualidade dos ecossistemas dos
Corredores e do desenvolvimento de sistemas produtivos limpos.
Através do Projeto Paraná Biodiversidade, executado por secretarias de estado do Paraná, realizado
de 2003 e 2008, foram capacitados em oficinas de educação ambiental aproximadamente 10 mil pessoas
dentre estas os produtores rurais que de forma associativa mudaram o padrão de produção para um modo
mais sustentável.
O componente, executado parcialmente pela Assessoria de Educação Ambiental, na Secretaria
Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA, teve como objetivo sensibilizar a comunidade
dos três corredores quanto à importância da conservação da biodiversidade. Para a realização destas ações
são parceiros: a EMATER, IAP, SEED, Prefeituras Municipais e organizações não governamentais.

2.2.Objetivos específicos do componente

• Sensibilizar a sociedade paranaense quanto à importância da conservação da biodiversidade,


tornando-a capaz de participar e contribuir no processo de recuperação e manutenção da qualidade dos
principais ecossistemas do Estado do Paraná.
• Ampliar conhecimentos e desenvolver habilidades e competências; assim como, estimular a
adoção de atitudes e comportamentos positivos dos diferentes agentes sociais quanto à conservação da
biodiversidade;
• Sensibilizar as comunidades próximas (famílias rurais) às Unidades de Conservação e outras
áreas protegidas para que se organizem e realizem atividades econômicas de baixo impacto (Módulos
Agroecológicos) e
• Estimular os profissionais ligados às atividades agropecuárias para a adoção de técnicas que
considerem a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade ambiental.

4. METODOLOGIA

O componente de Educação Ambiental teve como principal foco o estabelecimento das bases
conceituais e as linhas teórico-metodológicas para realização de eventos de capacitação dos diferentes
atores sociais, preparando-os para atuarem na redução das ameaças sobre a diversidade biológica e sua
conservação. Para alcançar os diferentes atores sociais o Projeto estabeleceu uma metodologia especifica
de acordo com o público: técnicos, lideranças comunitárias, professores, alunos para depois atingir os
produtores rurais e suas famílias.
4.1.Professores do ensino fundamental e escolas agrícolas

Para trabalhar com os professores foram realizados Seminários Básicos de Conservação e Uso
Sustentável da Biodiversidade, entre os anos de 2004 a 2006, nos três Corredores, dando um
embasamento teórico sobre: biodiversidade (conceito, distribuição, importância, ameaças e conservação),
conservação do solo, mata ciliar e além da teoria foram desenvolvidas várias práticas ambientais com os
professores para aplicarem em sala de aula. As práticas ambientais eram voltadas à conservação da
natureza, incluindo a biodiversidade nas seguintes relações: Biodiversidade Humana; Corredores de
Biodiversidade; Solo fértil; Água limpa; Matas ciliares; Beleza mais pura; Repensar nossas atitudes;
Produção agrícola, Qualidade de vida e Efeito dominó. Seguindo a orientação teórico-metodológica estas
práticas trabalham o conceito da biodiversidade nas dimensões éticas, ecológicas, estéticas e econômicas.
Além dos seminários os professores também participaram de trilhas de educação ambiental nas
UCs sendo elaborado o manual [tendo auxiliado na elaboração do Manual?] “Conhecendo a
Biodiversidade através das Trilhas”.
Para ampliar os conhecimentos sobre biodiversidade, o corpo docente participou de seminários
avançados nos anos de 2005 e 2006, onde estavam presentes especialistas brasileiros nas áreas de
agroecologia, meio ambiente e educação ambiental.
Para fundamentação teórica foi produzido farto material didático: cartilhas, folder temáticos, kit de
15 cartazes, revista, glossário e CD com palestras.

4.2.Alunos de ensino fundamental, escolas agrícolas e casa da família rural

Para atingir o público infantil e dos adolescentes foram elaboradas algumas oficinas: corredor de
biodiversidade (história infantil), mata ciliar (paródia), ecologia da paisagem (maquete), redução da
biodiversidade (jogo dominó) e conservação da biodiversidade (árvore das soluções).
Depois da participação das oficinas recebiam um certificado intitulado “Amigos da
Biodiversidade”. Também foram elaborados para apoio alguns materiais lúdicos, como Jogo da Memória,
Disco de Fauna, Flora e Ictiofauna, Jogo de Trilha “Caminho da Biodiversidade”, livros com personagens
infantis Antonieta e a Viagem do Zé Capivara e o livreto “Amigo da Biodiversidade” -
Em relação ao público jovem foram realizadas palestras da Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade com práticas ambientais intercaladas. Nessas ocasiões esses alunos tornavam-se os
protagonistas repassando os conceitos para outras crianças envolvidas e ou apresentavam as suas próprias
práticas ambientais como no exemplo bem sucedido de uma turma de crianças com deficiência mental
leve que trabalhavam com hortas de ervas medicinais, experiência apoiada através da publicação do livro
apresentando a prática, visando estimular outras escolas para tal valorização o de resgatar os
conhecimentos sobre as ervas medicinais. Também foi compilado uma Caderno de Redações, redigidas
pelos Amigos da Biodiversidade.

4.3.Produtores rurais e famílias rurais

Para complementar as ações realizadas anteriormente pelos técnicos da EMATER, foram realizadas
palestras, oficinas, visitas técnicas e oficinas de educação ambiental, em parceria da EMATER, IAP e
SEMA.
Nos eventos os produtores rurais receberam uma cartilha do 5`s que trata dos seguintes temas:
Serviços Ambientais: entre os mais importantes estão a produção de água de boa qualidade,
produção de oxigênio, manutenção de predadores de pragas agrícolas, agentes polinizadores, proteção do
solo contra a erosão e a manutenção dos ciclos biogeoquímicos entre outros.
Saneamento Ambiental: técnicas ligadas ao uso adequado, o manejo e a conservação dos recursos
naturais, como: implantação de práticas de controle da erosão, proteção de fontes, nascentes e outras áreas
de preservação permanente e conservação de florestas nativas.
Solidariedade: pode trazer uma melhoria na qualidade de vida e do meio ambiente com ações como
a reconstituição da mata ciliar na microbacia que pertence à sua propriedade, instalação de
abastecedouros comunitários, conservação de capões florestais, recuperação da reserva legal e
planejamento das microbacias.
Saúde Ambiental: para alcança-la é necessário adotar atitudes corretas, como: limpeza do ambiente,
produção e consumo de alimentos saudáveis, proteção do solo e da água, preservação da mata ciliar e
conservação da biodiversidade.
Sustentabilidade: em termos sociais, sustentabilidade significa distribuição de renda mais justa,
aumento da participação dos diferentes segmentos da sociedade na tomada de decisões e acesso a
informação e aos serviços de saúde e educação. Em termos ambientais, a sustentabilidade busca a
utilização correta dos recursos naturais.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

“Educação ambiental é um processo no qual os indivíduos e as comunidades adquirem consciência


de seu meio e apreendem os conhecimentos, os valores, as habilidades, a experiência e também a
determinação que lhes capacite agir, individual e coletivamente, na resolução dos problemas ambientais
presentes e futuros” (Congresso Internacional sobre Educação Ambiental, Moscou, 1987).

As capacitações de educação ambientail para a família rural foram realizadas entre os períodos de
2007 e 2008, atingindo um público-alvo de 3000 proprietários rurais em 80 comunidades dos três
Corredores de Biodiversidade, no qual foram realizadas em suas próprias comunidades, inserindo suas
famílias nas oficinas.
Além das capacitações estas famílias receberam apoio na realização de seus empreendimentos
sustentáveis, que denominamos Módulos Agroecológicos com recursos financeiros para adotarem práticas
menos impactantes.
Nos eventos de mobilização esteve presente um público diferenciado, com uma faixa etária variada.
Entre eles estavam homens, mulheres, jovens e crianças. Em algumas situações eram comunidades
inteiras que participavam desde parentes até vizinhos. Isso foi muito importante para conseguir atingir o
objetivo que era mobilizar a família rural. A participação local dos produtores foi a metodologia utilizada
nas oficinas ambientais, utilizando o lúdico e uma forma descontraída de atrair a empatia e atenção dos
participantes. Reflexão e sensibilização da necessidade de mudança de atitudes. Acostumados à figura de
que os órgãos ambientais só multam e fiscalizam o cumprimento das legislações, para alguns foi uma
novidade a abordagem de chamamento de envolvimento nas questões ambientais e não a imposição de
normas.
5.1.Prática Ambiental – Corredor de Biodiversidade

Através desta prática foi possível despertar na família rural questões sobre a importância da
formação de Corredores de Biodiversidade para reduzir o processo de extinção de espécies e a
conservação dos recursos naturais para a sobrevivência de todos.

5.2.Prática Ambiental – Mata Ciliar


Os participantes compreenderam sobre a necessidade da vegetação nas margens dos rios para a
manutenção da qualidade da água, retenção de resíduos, conservação do solo, ciclo da chuva e equilíbrio
do clima.
5.3.Prática Ambiental – Bacias Hidrográficas
Os agricultores em grupo definem quais são os rios a serem avaliados? na região e qual a situação
em relação à mata ciliar desses rios.

5.4.Prática Ambiental – Efeito Dominó

Os produtores rurais têm a oportunidade de fazer um diagnóstico sobre os principais problemas


ambientais de sua região e a relação com a redução de biodiversidade e como este fenômeno afeta a
qualidade de vida das populações.

5.5.Prática Ambiental – Árvores das Soluções

Momento de provocar nos produtores rurais uma reflexão para a busca das soluções locais e
atitudes para a conservação da biodiversidade. Ações concretas reduzem os problemas ambientais locais,
a exemplo de agricultores que constroem cercas e vêem a mata se regenerar e o aumento do volume de
água do rio que abastece a sua propriedade.
Além desta parte lúdica, a teoria foi responsabilidade dos técnicos da EMATER que apresentavam
palestras sobre o uso correto do solo e durante a programação visitas a campo para ver in loco as
mudanças: os bons exemplos dos negócios apoiados. As mobilizações foram adaptadas conforme a
realidade de cada corredor.

5.6.Atividades complementares – Matriz de Impactos


Em algumas palestras os produtores rurais tiveram a oportunidade de preencher coletivamente com
o técnico da EMATER do seu Corredor uma tabela referente aos impactos causados pelas principais
explorações agropecuárias desenvolvidas no Paraná e assim foi demonstrada a opinião dos produtores de
quais são as atividades agropecuárias que exercem forte pressão sobre os recursos naturais, gerando
passivos ao meio ambiente.
TABELA 1. Matriz de impactos
Tomando como base os principais impactos das explorações agropecuárias citadas na TABELA 1,
os produtores rurais elencaram a soja como a cultura mais impactante ao meio ambiente, seguida da
batata e das plantações de milho e trigo. Este resultado reflete que muitos dos produtores rurais estão
cientes de que modelos convencionais têm causado grandes danos ambientais como: contaminação do
solo, água e ar, assoreamento de rios, erosão, compactação e empobrecimento do solo, diminuição da
biodiversidade e risco à saúde humana.

5.7.Atividades complementares – Conhecimento Local – Depoimentos e Questionários.


Todas as oficinas começavam com os participantes definindo a biodiversidade, nessas falas
podemos verificar as seguintes constatações.

100

80

60

40

20

animais florestas
solo plantação
ser humano agua
ar mata ciliar
rio planeta
alimentos mares
especies exóticas bactérias
fungos banhados
RL parques
microrganismos protozoarios

FIGURA 1. O que compõe a biodiversidade.


A FIGURA 1 demonstra a opinião dos produtores rurais de quais são os elementos que compõe a
biodiversidade:
Média percepção do que compõe a Biodiversidade!
Tomando-se como base os elementos da biodiversidade citados na FIGURA 1, encontram-se
diferenciados percentuais para vários elementos, sendo que na percepção dos produtores rurais
entrevistados, os animais (94%) e as florestas (92%) são os principais exemplares que fazem parte da
biodiversidade, pois tratam-se de exemplares fundamentais para qualquer tipo de ambiente natural .
Outros elementos de destaque foram: mata ciliar (82%), água (77%), rio (75%) reserva legal (74%),
seguido do solo e ser humano (60%). Este resultado serviu de base comparativa para indicar a influência
da capacitação, pois os elementos citados foram mencionados nas práticas ambientais.

Baixa percepção do papel das UCs


Para o item parque (UCs) somente a metade dos entrevistados relacionou a unidade de conservação
com a biodiversidade, indicando a falta de percepção dos entrevistados sobre a função das UCs em
relação à diversidade biológica. As Unidades de Conservação representam uma das melhores estratégias
de proteção do patrimônio natural. Nestas áreas tanto a fauna como a flora são protegidas e conservadas
assim como os processos ecológicos que regem os ecossistemas, garantindo a manutenção do estoque da
diversidade biológica. Sendo assim, pode-se observar a necessidade de uma maior aproximação da
família rural que vive em áreas de entorno das Unidades de Conservação para que possam entender a
importância deste patrimônio que pode refletir até na qualidade de vida.

Média percepção dos serviços ambientais prestados pela biodiversidade


Em relação à agricultura somente 50% relacionaram com a biodiversidade e menos da metade
demonstraram a falta de entendimento de alguns serviços ambientais proporcionados pela biodiversidade
e a sua relação com a agricultura. Entre eles estão os alimentos (48%), fungos (42%), microrganismos
(49%), bactérias (33%) e protozoários (21%). Analisando os dados, os produtores rurais apresentavam um
pouco de dificuldade em relacionar os elementos da diversidade biológica com suas funções,
principalmente com sua produção e aos organismos microscópicos, mas conseguem relacionar a função
da biodiversidade com o equilíbrio ecológico (77%), com rios limpos (67%), qualidade de vida (62%),
preservação (50%) e ar puro (53%), conforme a FIGURA 2. Lembrando que o conceito de qualidade de
vida engloba condições favoráveis ao bem-estar, como infra-estrutura adequada (moradia digna,
alimentação, acesso á saúde, educação, cultura e lazer) e a vida estritamente relacionada? ao meio
ecologicamente equilibrado (SEMA, 2006).
A biodiversidade, ou a variedade de vida na Terra é responsável pela manutenção da vida em nosso
planeta. Entre outros termos, significa a interação entre os seres vivos e a oferta dos bens e serviços que
sustentam a sociedade humana e sua economia. Esses bens e serviços incluem alimentos, medicamentos,
água e ar limpo entre outros recursos naturais que mantêm uma ampla variedade de atividades humanas e
industriais, que podem ser agricultura, silvicultura, exploração de minérios, produtos farmacêuticos, lazer e
outros (GROSS, 2005).

Função da Biodiversidade

Rios limpos

Ar puro

Equilibrio

Preservação

Qualidade de Vida

0% 20% 40% 60% 80% 100%

FIGURA 2. Função da biodiversidade.

Boa percepção das conseqüências da redução da biodiversidade


Entre as principais conseqüências da redução da biodiversidade (TABELA 2) destacam-se:

Conseqüências
Diminuição fauna 53%
Aumento insetos 50%
Diminuição da flora 58%
Aquecimento Global 66%
Contaminação 66%
Solos cada + pobres 56%
Secas 50%
Colheitas cada vez
Menores 33%
TABELA 2. Principais conseqüências na redução da biodiversidade.

Este resultado serviu como base comparativa para diagnosticar os principais problemas da região,
trazendo o produtor à realidade e a necessidade de mudança para reversão do quadro.
Boa percepção de quais seriam as soluções para a questão ambiental
A percepção dos produtores rurais em relação à quais são as principais soluções para a conservação
da biodiversidade foi que 77% deveriam receber dos proprietários incentivos para aplicação da legislação
ambiental à terra: mata ciliar, reserva legal e RPPNs e 63% na formação dos Corredores de
Biodiversidade. Informação muito importante porque indica que os participantes entenderam a
necessidade da formação dos Corredores, a qual só é possível a partir da participação destes para poder
interligar os fragmentos florestais representados pela mata ciliar, reserva legal, ou qualquer área de
floresta vizinha, localizadas próximas às áreas agrícolas, pastagens, florestas comerciais de espécies
exóticas ou mesmo áreas urbanas. Além de estar ajudando a conservação da biodiversidade à formação
dos Corredores de Biodiversidade pode proporcionar os seguintes benefícios:
Integração de remanescentes florestais: a conexão entre fragmentos isolados permite o aumento
dos fluxos biológicos de fauna e flora e conseqüentemente o aumento da biodiversidade. Muitas espécies
frugívoras passam a transitar de um fragmento para outro e são importantes dispersoras de sementes.
Controle da erosão: o aumento de vegetação reduz o impacto da chuva no solo e os efeitos de
enxurrada acarretando a erosão e o empobrecimento do solo.
Recarga hídrica: proporciona melhor absorção da água da chuva pelo solo, evitando o
rebaixamento do lençol freático, mantendo os níveis dos rios.
Manutenção de microclima: a vegetação auxilia a manutenção da estabilidade térmica.
Embelezamento das paisagens locais: proporcionam lugares de recreação e lazer, além de causar
uma sensação de harmonia e bem-estar.

Ao todo, o componente de capacitação executado pela SEMA mobilizou 3.000 produtores rurais,
2.600 líderes comunitários; 2.000 professores (675 escolas); 2.000 alunos; 200 voluntários; 200 práticas
ambientais registradas; 15 seminários; 04 oficinas para professores; 18 oficinas para alunos; 02
seminários em Universidade (380 universitários); 01 Feira da Biodiversidade (413 pessoas); 14
participações em feiras agrícolas; 04 cartilhas da Biodiversidade; 04 jogos didáticos (Jogo da Memória,
Disco Fauna e Flora e Caminho da Biodiversidade e Disco Ictiofauna).
6. Conclusão
Os benefícios econômicos, ambientais e sociais do Projeto são apontados em números que
apresentam uma lista de práticas apoiadas.
De maneira geral, na questão da educação ambiental os resultados são verificados em espaços de
tempo maiores em relação ao do desenvolvimento do Projeto, mas podemos afirmar que nas avaliações
periódicas os participantes deram feedback positivo e que há mudança de comportamento visando a
conservação da Biodiversidade, em andamento nos municípios trabalhados.
Pelos depoimentos dos participantes acreditamos que muitas pessoas passarão a se preocupar com
as questões concernentes à conservação da biodiversidade e serão atores que multiplicarão para um
número maior de pessoas os benefícios de um ambiente equilibrado.
Apesar deste projeto ter início, meio e fim, a equipe de educação ambiental trabalhou para que as
atitudes dos atores sociais permanecessem e transformassem a realidade local. Muitos foram os
indicadores que os técnicos reproduziram para centenas de pessoas; os professores reproduziram para
centenas de alunos, alunos repassando para outros alunos, produtores rurais e assim sucessivamente
promovendo a ampliação do respeito pela natureza.
7.Referências Bibliográficas:

BLUM, C. T.; OLIVEIRA, R. de F. Reserva Florestal Legal no Paraná, Alternativas de


Recuperação e Utilização Sustentável disponível
em:http://www.biodiversidade.rs.gov.br/arquivos/1161520168Reserva_florestal_legal_no_Parana_alterna
tivas_de_recuperacao_e_utilizacao_sustentavel.pdf . Acesso 17 de novembro de 2008.

CAMPOS, J.B. A fragmentação de Ecossistemas, Efeitos Decorrentes e Corredores de Biodiversidade.In:


CAMPOS, J.B; TOSSULINO, M. de G. P; MULLER, C.R.C.organizadores. Unidades de conservação:
ações para valorização da biodiversidade. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2006, p.259-277.

CAMPOS, J.B.;COSTA, L.V.da F.Sistema ou Conjunto de Unidades de Conservação?In: CAMPOS, J.B;


TOSSULINO, M. de G. P; MULLER, C.R.C.organizadores. Unidades de conservação: ações para
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CAMPOS, J.B; TOSSULINO, M. de G. P; MULLER, C.R.C.organizadores. Unidades de conservação:


ações para valorização da biodiversidade. Curitiba: Instituto Ambiental do Paraná, 2006, 348p.

GROSS,T.;JOHNSTON,S.;BARBER,C. V. .A Convenção sobre Diversidade Biológica: Entendendo e


Influenciando o Processo. Um Guia para Entender e Participar da Oitava Reunião da conferência
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MAACK, V.. Geografia Física do Estado do Paraná. Curitiba, Paraná. Livraria José Olympio.Ed,
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MIKICH, S. & BÉRNILS, S. Livro Vermelho da Fauna Ameaçada no Estado do Paraná.


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