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Instituto Politécnico de Viana do Castelo

Escola Superior de Educação

Gestão Artística e Cultural

Sociologia e Antropologia da Cultura

Musica na Educação Infantil

Alão Castanho Ventura Barbosa Nº 4435

Docente: Dr.ª Manuela Cachadinha

Data de entrega 14 Dezembro de 2009


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Índice

Introdução .......................................................................................................... 4
A Música e a Educação ...................................................................................... 6
O Futuro na Educação da Música .................................................................... 11
Limitações do Trabalho .................................................................................... 13
Bibliografia........................................................................................................ 14

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Introdução

“A distância entre o aprendiz e o mestre é grande, mas não a barreira”

(Helena Sá e Costa)

Qualquer estudo sobre a música não se pode limitar a uma análise


puramente técnica dos textos musicais. Esta forma de arte, tão concreta nos
seus conceitos matemáticos e tão abstracta na sua essência, é extremamente
rica do ponto de vista social e antropológico e, como tal, deve ser analisada em
todas as suas vertentes. Considerando a dimensão do tópico, este trabalho
limitar-se-á a aflorar alguns pontos de reflexão sobre a mesma.

Apesar da Música, aparentemente, ter estado presente na vida dos


seres humanos desde os seus primórdios, existiu e, por vezes existe ainda,
uma tendência generalizada, tanto a nível nacional como internacional, para
considerar a Música como uma Arte para um grupo de privilegiados que teriam,
segundo muitos, o “dom”, por muito obscuro que esse termo possa parecer aos
verdadeiros músicos. Era vista como uma área de estudo que deveria ser
deixada a um grupo de especialistas com formação musicológica. Este
tratamento deveu-se, em grande parte, a se considerar uma área demasiado
específica e complexa e pouco relevante para a Cultura das nossas
sociedades. Chegou-se a dizer, há muito anos atrás, que os Franceses eram “à
nascença, desprovidos do sentido musical e que se devia a uma espécie de
fatalidade” (Gagnard, 1974). O caminho percorrido nas últimas décadas foi
grande. Felizmente, em muitos países, este pensamento redutor desapareceu
e, essencialmente, devido à importância que a música assumiu na educação
infantil, como é o caso da Hungria, com o pedagogo Kodály que, utilizando as
canções populares, pôs todo um país a cantar e a saber ouvir música. Esta
corrente, que teve representantes importantes como Kodály, Bartok e, em
Portugal, Fernando Lopes Graça, não foi relevante no nosso país. Em Portugal,
a Música é ainda dificilmente encarada como agente cultural e modificador da
sociedade. O presente trabalho aborda, em traços gerais, a Educação Musical

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no sistema Educativo Português, e também tenta evidenciar o estado de
iliteracia musical ainda patente na nossa Cultura.

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A Música e a Educação

“Música sempre e sempre, com as crianças, com os jovens, com os professores, com os pais
e, só assim, esperar que, um dia, Portugal saia do marasmo musical em que se encontra
mergulhado desde há muito tempo”

(Eugénia Moura)

As correntes modernas tendem a explicar a educação como


“desenvolvimento harmónico de todas as capacidades do indivíduo, com o
duplo objectivo de permitir a plena expansão da personalidade humana e de
concorrer para a organização de uma vida social melhor” (Gagnard, 1974).
Chega-se, rapidamente, à conclusão que a música é um auxiliar poderoso para
o desenvolvimento social da criança e do jovem.

A literacia musical, além de significar uma compreensão musical


determinada, pelo conhecimento da música, sobre a música e através da
música, engloba também competências de leitura e escrita musicais e
organiza-se em torno dos seguintes pressupostos da aprendizagem musical:

1. Todas as crianças têm potencial para desenvolver as suas capacidades


musicais;

2. As crianças trazem para o ambiente de aprendizagem musical os seus


interesses e capacidades e os seus próprios contextos socioculturais;

3. Mesmo as crianças mais pequenas são capazes de desenvolver o


pensamento crítico através da música;

4. As crianças devem realizar actividades musicais utilizando materiais e


repertório de qualidade;

5. As crianças aprendem melhor em ambientes físicos e sociais agradáveis e


no contacto inter-pares.

6. As experiências diversificadas de aprendizagem são fundamentais para


servirem as necessidades de desenvolvimento individual das crianças;

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7. As crianças necessitam de modelos eficazes de adultos.

Existe um caminho importante a percorrer, sempre a par do que se


vivencia na escola e a partir da escola. A Expressão Musical é uma área sobre
a qual recaem, a nosso ver, grandes responsabilidades para o domínio das
linguagens, da evolução do pensamento abstracto, da comunicação
interpessoal e inter-pares, da motricidade, do respeito pela diferença e,
finalmente, pelo sentido estético. A atenção que merece por parte dos
educadores de infância no terreno e, consequentemente, pelos académicos
responsáveis pela sua formação é de que, sem dúvida alguma, existe
ignorância notória sobre os efeitos e causas benéficas desta área no Pré-
Escolar. Ou seja, por um lado não se reconhece a importância devida à
Expressão musical, a não ser para divertir os familiares que vão às festas do
ano escolar e, por outro lado, existe uma falta de preparação dos profissionais
do sector em optimizar as recomendações e respectiva legislação quanto ao
assunto em questão.

Da pesquisa realizada, concluiu-se que existem áreas dominantes de


actuação, a saber:

• A voz: é por excelência o instrumento primordial na expressão e


comunicação do ser humano. A sua utilização é diversa e rica, desde a
invenção e improvisação na reprodução de melodias (rimas, lengalengas e
outras) à entoação, do desenvolvimento tímbrico à capacidade vocal de, por
opção, improvisar ou interpretar algo, com ou sem texto definido. Entre
muitos outros benefícios, tem a utilidade de estabelecer a comunicação
entre as pessoas, nas suas vivências familiares, culturais e sociais;
• O corpo: É considerado a melhor forma de vivência da música por parte da
criança. O “learning by doing”, defendido por todas as pedagogias activas
de ensino da música, encaram o corpo como, de certa forma, o despertar, o
sentir dos elementos musicais e o esboço do que poderá ser expresso
pelos mesmos. Como explicar e iniciar a educação/ expressão musical sem
o uso do seu peculiar e fulcral instrumento de conhecimento e de
entendimento entre a criança e som? Impossível. Aqui há prazer na
execução das tarefas, inerentes ao desenvolvimento da sua musicalidade.

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Sob a forma de Movimento, de Dança e de Percussão Corporal haverá
conhecimento de facto e vivenciação suficientes para identificar e perceber
os elementos ou matizes musicais que se lhe apresentam;
• Os instrumentos: são parte imprescindível na sensibilização e preparação
musical da criança, ou seja são a consumação de uma necessidade que
sentem em traduzir os anseios e a teoria, com as quais são confrontados,
num objecto palpável sonoro. A melhor forma é a sua experimentação,
pondo-se em contacto duas realidades e dois intentos despertados na
criança. A qualidade (sonora e material) dos instrumentos e objectos
tornam-se num ponto de partida para jogos de exploração em que a criança
pode escolher, experimentar e utilizar o som.

Desde 1975, assistiu-se, no país, a sucessivas remodelações. Não é


exagero dizer que, hoje, temos à disposição diversas metodologias de
sensibilização e de educação musical no nosso país e que são bem
conhecidas por um número cada vez crescente de professores especializados.
A prática e o ensino vocacional da Música tiveram um enorme
desenvolvimento, em quase todos os Concelhos do país. Frequentar uma
escola de música tornou-se muito mais fácil. A oferta de espectáculos musicais
é muito maior e, no entanto, salvo raras excepções, parece que nada teve
consequências na vivência dos alunos e tão pouco da sociedade.

O novo programa de Enriquecimento Curricular do 1º ciclo do Ensino


Básico (PEC) foi apresentado em 2006, pelo Primeiro-Ministro. Pretendendo
colmatar as dificuldades que educadores e professores do 1º ciclo sentem em
lidar com a área de música, para a qual se sentem mal preparados, esta foi boa
medida educativa que trouxe, a todas as crianças, actividades consideradas
fundamentais para o seu pleno desenvolvimento. Uma das actividades
referidas explicitamente como uma das principais opções é a Música.

As orientações programáticas no âmbito do Programa de


Enriquecimento Curricular (Música, Apoio ao estudo, Inglês e Actividade Física

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e Desportiva), no que concerne ao ensino de Música no 1º ciclo do Ensino
Básico, estão expostas no DL de 20 de Outubro de 2006, são globalmente os
seguintes:

1. Audição;

2. Interpretação;

3. Composição.

Como resultado deste programa nacional implementado até então, em termos


estatísticos, observamos que os resultados gerais da sua aplicação estão em
ampla ascensão e são os seguintes:

Evolução do nº de alunos por regime 2007/08 vs 2008/09

REGIMES DE FREQUÊNCIA 2007/2008 2008/2009 Variação %

Iniciações 4.958 9.071 + 83%

Articulado/Integrado 5.840 10.064 + 72%

Supletivo 6.484 6.308 - 3%

TOTAL 17.282 25.443 +47%

Portanto e apesar de todos os problemas que existem na implementação


destas actividades e que consistiriam, por si sós, um trabalho, somente

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poderemos esperar por progressos altamente motivantes, no que concerne à
redução da iliteracia musical e, consequentemente, a uma maior apreciação
crítica da Arte e da Cultura. São de louvar todos os que encaram com
entusiasmo este trabalho e contribuem para esta tarefa enriquecedora das
futuras gerações!

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O Futuro na Educação da Música

Muito existe, ainda, a fazer pelas expressões artísticas em Portugal. A


inclusão dos programas de enriquecimento curricular na área da música é um
dos caminhos de facilitação. Para além disso, é visível o esforço estatal para
melhorar e preservar as áreas artísticas em Portugal, inclusive ampliar ao seu
espectro. E, acima de tudo, a regulamentação mantida para o Ensino Superior,
de que os cursos artísticos poderão funcionar com numerus clausus reduzido,
faz-nos pensar que são consideradas áreas prioritárias para o Ministério da
Ciência Tecnologia e Ensino Superior. Antes considerada dispensável ou até
mesmo prescindível, a Música está de volta às agendas educativas e
governamentais. O facto é que, países como a Alemanha, a Holanda e o
Japão, sendo sociedades de inovação por possuírem os maiores rácios na
relação nº patentes/habitante, há muito incluíram nos seus curricula o ensino
da Prática Musical. Designadamente, estes países, que possuem elevados
índices de crescimento académico, particularmente na área das ciências,
convergem simultaneamente numa clara e acentuada aposta na centralidade
da formação musical na aprendizagem. Estes países proporcionam há já várias
décadas formação musical, quer instrumental quer vocal, a todas as crianças
do Ensino Básico.

A Música é o elemento diferenciador que favorece o processo de


aprendizagem, através da estimulação integrada dos sentidos, da atenção, das
capacidades cognitivas, emocionais e motoras, que constituem os alicerces de
todo o processo de aprendizagem.

Historicamente Criam/Construem

Como as pessoas Socialmente Mantêm/Reproduzem a música?

Individualmente Experimentam

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Naturalmente que este artigo apenas tem espaço para expor, através de
uma visão ampla e abrangente, os efeitos da prática musical na educação, no
desenvolvimento de competências várias, na sociedade e na vida, conducentes
ao sucesso, alguns factos que permitem capturar algumas das dinâmicas mais
recentes nesta área e reflectir sobre o imperativo da introdução de mudanças
na abordagem ao ensino/aprendizagem da Música em Portugal.

É irónico o recurso à Ciência para demonstrar o impacto da


aprendizagem pela Música, pela Prática Musical. Este artigo não pretende
retirar o valor da participação em actividades musicais pela beleza e expressão
que a música oferece. Não se pretende diminuir a música como manifestação
artística, ao enfatizar o seu carácter interdisciplinar, mas elevar o seu estatuto
como instrumento imprescindível para a Educação, para a Cultura e para a
inovação.

É inquestionável que o tema do efeito da prática musical é, hoje, um


tópico importante de reflexão e discussão em todas sociedades promotoras de
inovação. Uma cultura de inovação é uma cultura que favorece o
experimentalismo, a exploração, a partilha, a criação, a aplicação de ideias e
produtos, a interacção colectiva, a resolução de problemas, o desenvolvimento
do pensamento crítico, a imaginação, a expressão, a competitividade, o
conhecimento, o rigor, a dedicação, a exigência, a persistência, o exercício da
cidadania, da cultura. A Música é essa cultura. A Música pode constituir-se em
âncora, em semente capital e vital num projecto de afirmação da qualidade, da
mudança, da inovação. Um dos indicadores de progresso de um país passa,
cada vez mais pelo nível musical e cultural do mesmo e, nesse campo,
Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer.

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Limitações do Trabalho

No decorrer deste trabalho, gostaria de ter realizado uma entrevista a


alguém cujo trabalho se tem vindo a desenvolver, precisamente, nesta área de
Ensino da Música. Porém, devido à agenda completamente preenchida dessa
pessoa, por motivos profissionais, foi-me totalmente impossível agendar tal
entrevista.

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Bibliografia

Castelo Branco, S. E.-S. (1997). Portugal e o Mundo: O encontro de culturas na


música. Publicações Dom Quixote, Lda.

Cruz, M. A., & Oliveira, E. (Outubro/Dezembro de 2001). As artes numa


educação cidadã. Educação musical , pp. 10-11.

Del Valle, E. A., & Da Costa, N. M. (1971). Música na escola primária. Livraria
José Olympio Editôra.

Gagnard, M. (1974). Iniciação musical dos jovens. Editorial Estampa, Lda.

Portal da Educação: Documentação de referência. (s.d.). Obtido em 29 de 11


de 2009, de Portal da Educação: http://www.min-edu.pt/np3/940.html

Storms, J. (2003). 101 Jogos Musicais. Asa Editores, S.A.

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ANEXO

Despacho Regulamentador das AEC’s

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