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Morrer é quase nascer trilhões de pingos de choro

é até melhor e de chuva


nunca vi se constipam em todo mundo
ninguém chorar assim que morre serenos, conformados
chora antes embolados feito merda
nos filmes de Hollywood
a linha desviada quatro horas da manhã
do trem no interior do Ceará
[em alta velocidade e a torneira
do banheiro chorando
e sabendo que morrerão indiferente
ficam em pé O que mata
de guerra e rasgam não é a morte mas
as sobrancelhas o parto prolongado
os olhos
a goela à dois quarteirões
fantasmas rondam o Mercado Central
Um só da multidão não senta à janela e choram o Universo
e sorri e contempla enquanto mastigam com
sua última meia hora os molares restantes
– na barriga da vida. comida estragada.
estão mortos
pior – voltam pras suas casas e penam
estrangeiras [prum parto?
como se nada tivesse acontecido.
Morrer é quase nascer.
Chora um rato na cozinha
[que a dona chegou da gravação
e chora mais embriagado do veneno

fim indevido –
por exemplo
se a cuja usasse uma ratoeira
haveria um momento de vida
de espírito feliz de rato
da missão cumprida
curta
- agarrou-se no queijo e foi-se
com a aura de um parto normal -

Mas assim como há algum rato


que não se interessa
por tragédia humana
nem toda lágrima escorre
de um cérebro triste:

dia desses deu no jornal


da noite
as mesmas atrizes de hollywood
chorando de novo
uma de tédio
aquela de solidão
a outra de estar sozinha
eram três eu acho

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