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> Conselho Distrital de Lisboa


> Parecer CDL n.º 13/2007, de 17 de Maio de 2007

Por requerimento datado de ...... (entrada com o número de registo.....),


veio a Senhora Advogada, Dra......, requerer a este Conselho Distrital a
emissão de parecer relativamente à seguinte questão:

No âmbito da organização de escalas ao abrigo do disposto no artigo 41º da


Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, foi a ora requerente notificada de que
integrava a escala no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – Departamento
de Investigação, do dia .. de Abril de 2007, das 9 horas da manhã desse dia
até às 9 horas do dia seguinte (... de Abril de 2007).

Trata-se de uma escala para nomeação de advogados estagiários, não


presencial, em que o advogado estagiário que integra a escala é
contactado, quando necessário, para o telemóvel para se apresentar no
local onde a diligência terá lugar.

Uma vez que não foi solicitada a presença da ora requerente para qualquer
acto ou diligência, vem a Senhora Advogada suscitar a questão do
pagamento da escala, pois entende que, apesar de não ter tido qualquer
intervenção, teve de estar de “prevenção” das 9 horas da manhã do dia ...
de Abril até às 9 horas da manhã do dia ... de Abril.

E, uma vez que se trata de uma escala para nomeação urgente, embora não
presencial, entende a ora requerente que a mesma deve ser paga como
qualquer outra escala para nomeação urgente.
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Considerando o exposto, vem a Senhora Advogada solicitar a este Conselho


Distrital a emissão de parecer relativamente à questão do pagamento dos
honorários, no âmbito de uma escala não presencial, para nomeações
urgentes.

Dispõe a alínea f) do n.º 1 do artigo 50º do Estatuto da Ordem dos


Advogados (E.O.A.), que cabe a cada um dos Conselhos Distritais da Ordem
dos Advogados, no âmbito da sua competência territorial, “pronunciar-se
sobre as questões de carácter profissional”.

Estas “questões de carácter profissional” são as intrinsecamente


estatutárias, ou seja, que decorrem dos princípios, regras, usos e praxes
que comandam ou orientam o exercício da Advocacia, nomeadamente os
que relevam das normas do E.O.A., do regime jurídico das sociedades de
Advogados e do universo de normas emergentes do poder regulamentar
próprio reconhecido por lei aos órgãos da Ordem.

Ora, a matéria colocada à apreciação deste Conselho Distrital subsume-se,


precisamente, a uma “questão de carácter profissional” nos termos
descritos, pelo que não há dúvidas de que se deve proceder à emissão de
parecer.

Vejamos então.

A Constituição da República Portuguesa sempre consagrou o direito de


todos os trabalhadores receberem uma retribuição pelo seu trabalho (cfr.
alínea a) n.º 1 do artigo 59º).
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A assistência judiciária foi, durante muitos anos, prestada gratuitamente


pelos profissionais do foro, reflexo, aliás, da origem nobre da advocacia.

Com o decurso do tempo, a gratuitidade da assistência jurídica aos


cidadãos que, para o efeito, não dispõem de meios económicos deixou de
ser, considerando os padrões de desenvolvimento socio-económico da nossa
comunidade, um princípio deontológico ou de ética fundamental relativo às
profissões forenses.

Num sistema de advocacia liberal, como a nossa, não era razoavelmente


exigível aos profissionais do foro a eficácia da defesa judicial dos direitos
dos cidadãos a título praticamente gratuito.

Consciente disso, veio o Estado, em 1987, com a publicação do Decreto-Lei


387-B/87, de 29 de Outubro, pela primeira vez, garantir aos causídicos, que
intervierem no sistema do acesso ao direito e aos tribunais, a adequada
remuneração, postulada, além do mais, pela princípio da igualdade dos
cidadãos perante a lei.

O princípio da garantia remuneratória manteve-se até aos nossos dias.

A Lei do Acesso ao Direito e aos Tribunais actualmente em vigor – Lei n.º


34/2004, de 29 de Julho, prevê, no n.º 2 do artigo 3º, a remuneração e as
despesas realizadas pelos profissionais forenses que intervierem no sistema
de acesso ao direito e aos tribunais, e estatui, por um lado, que o Estado
lhes garante a remuneração adequada pelo serviço de patrocínio e o
reembolso das despesas que suportem, e, por outro, que os respectivos
termos e quantitativos são os que vierem a constar de Portaria Conjunta
dos Ministros das Finanças e da Justiça.
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Trata-se de um normativo de carácter geral relativo aos causídicos


susceptíveis de intervir no sistema do acesso ao direito e aos tribunais,
aplicável aos advogados, advogados estagiários e solicitadores.

A tabela anexa à Portaria 1386/2004, de 10 de Novembro, prevê os


honorários para a Protecção Jurídica.

A tabela encontra-se dividida pelos ramos do processo civil, do processo do


trabalho, do processo penal, dos processos especiais e outros, onde se
inserem as contra-ordenações.

Prevê, ainda, outras diligências como os incidentes processuais,


procedimentos cautelares, intervenções ocasionais, assistência a arguidos
presos, deslocações a estabelecimentos prisionais, diligências com mais de
duas sessões, presenças no âmbito das escalas de urgência, os honorários
devidos pela resolução do litígio através de meios alternativos, como a
mediação e a arbitragem.

Considerando o âmbito da presente consulta, ater-nos-emos apenas à


questão das presenças no âmbito das escalas de presença.

Para efeitos de assistência ao primeiro interrogatório de arguido detido ou


para audiência em processo sumário ou outras diligências urgentes previstas
no C.P.P., o Conselho Distrital de Lisboa organiza escalas de presenças de
advogados e advogados estagiários, nos termos previstos no artigo 41º da
Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho.
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O Conselho Distrital de Lisboa organiza escalas presenciais, para nomeação


de advogados e advogados estagiários e escalas não presenciais, para
nomeação de advogados estagiários.

A organização das escalas justifica-se pela urgência ou pela própria


natureza do acto processual que não se compadece com a demora no
pedido de indicação de causídico à Ordem dos Advogados e que, assim,
impõe a nomeação directa de defensor ao arguido pela autoridade
judiciária ou de polícia criminal respectiva.

Em 2005, foi solicitada a este Conselho Distrital, pela primeira vez, a


constituição de uma escala não presencial junto da G.N.R – Brigada de
Trânsito, para eventual designação de defensor oficioso no âmbito dos
processos de inquérito decorrentes de acidentes de viação e outra junto da
Polícia Judiciária.
Posteriormente, no início deste ano, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
solicitou a constituição de uma escala não presencial, para eventual
designação de defensor oficioso para assistir a actos relacionados com
extradições e pedidos de asilo.

Nas escalas não presenciais, apenas é exigido ao advogado estagiário que,


durante um determinado período de tempo, esteja disponível, caso se
mostre necessário nomear um defensor, devendo, neste caso, o advogado
estagiário, após contacto para o telemóvel, apresentar-se no local indicado
para a diligência.

Vejamos agora a questão dos honorários.


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Os honorários a atribuir aos advogados e advogados estagiários, no âmbito


das escalas de urgência são os constantes da tabela anexa à Portaria
1386/2004, de 10 de Novembro e pressupõem, como parece lógico, uma
efectiva intervenção do advogado ou advogado estagiário, nomeado pelo
Tribunal/Autoridade Judiciária ou pelos órgãos de polícia criminal.

No ponto 10. da referida tabela, prevê o legislador uma situação particular


em matéria de escalas de urgência: a remuneração a atribuir ao advogado
ou advogado estagiário, por cada presença, período da manhã ou da tarde,
no âmbito das escalas de urgência, desde que não tenha sido efectuada
qualquer diligência.

Certamente, pretendeu aqui o legislador, não compensar o trabalho


prestado pelo advogado, porque obviamente inexistente, mas antes
compensá-lo, de certa forma, pelo tempo dispendido no tribunal, em
virtude da escala em que se encontrava integrado e ainda pelas despesas
em que incorreu com a deslocação ao tribunal.

Como resulta evidente, a questão suscitada pela ora requente não encontra
resposta na tabela anexa à Portaria 1386/2004, de 10 de Novembro, pois
que, como já foi referido, a mesma pressupõe uma efectiva intervenção do
advogado ou advogado estagiário, nomeado pelo Tribunal/Autoridade
Judiciária ou pelos órgãos de polícia criminal.

Contudo, como parece evidente, o conceito de honorários, em geral,


pressupõe a realização de um determinado trabalho, intelectual ou não, ao
qual corresponde uma determinada remuneração.
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De igual modo, no caso do trabalho qualificado que o mandato forense


representa, também os honorários devem sempre corresponder à legítima
remuneração pelo trabalho efectivamente desenvolvido pelo advogado.
O que está sempre em causa em matéria de honorários, é o trabalho
efectivamente desenvolvido e nunca a mera disponibilidade para a
prestação do mesmo.

Considerando o exposto, parece-nos, salvo melhor opinião, que a simples


circunstância de a Senhora Advogada ter integrado a escala não presencial,
do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras do dia ... de Abril de 2007, e não
ter sido contactada para qualquer diligência, não lhe confere, só por si,
qualquer direito a receber honorários.
Concluindo, é nosso entendimento que:

O Conselho Distrital de Lisboa organiza escalas para nomeação de


advogados estagiários, não presenciais, nomeadamente, junto do Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras.

Neste tipo de escalas, apenas é exigido ao advogado que, durante um


período determinado de tempo, esteja disponível, caso se mostre
necessário nomear um defensor, devendo, neste caso, o advogado
estagiário apresentar-se no local onde a diligência terá lugar.

A tabela anexa à Portaria 1386/2004, de 10 de Novembro é omissa quanto a


este tipo de situações.

Contudo, não temos dúvidas de que os honorários devem sempre


corresponder à legítima remuneração pelo trabalho efectivamente prestado
pelo advogado ou advogado estagiário.
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O que está sempre em causa em matéria de honorários, é o trabalho


efectivamente desenvolvido e nunca a mera disponibilidade para a
prestação do mesmo.

Assim, parece-nos, salvo melhor opinião, que a simples circunstância de a


Senhora Advogada ter integrado a escala não presencial, do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras do dia ... de Abril de 2007, e não ter sido
contactada para qualquer diligência, não lhe confere, só por si, qualquer
direito a receber honorários.

Sandra Barroso
Rui Souto

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