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20 de fevereiro de 2009
A telenovela estraga os actores e o pblico. Com maus actores e mau pblico no h teatro. Sem teatro,
a comunidade v-se privada de um poderoso instrumento de confronto, reflexo e transformao. Por
Manuela de Freitas
Cada sociedade tem o teatro que merece.
Federico Garcia Lorca
Matria-prima
de
criao
artstica,
instrumentista
virtuoso cujo
instrumento ele prprio, o actor sabe que tem de se enriquecer como ser
humano, tem de fazer escolhas e de se exprimir cada vez melhor. Para ter
coisas importantes a dizer aos outros e diz-las bem para que eles as aceitem
e as utilizem. Para contar to verdadeira e profundamente uma histria que a
torne universal. Para acontecer estar presente inteiramente num espao e
num tempo e saber levar o pblico a acontecer, no assistindo, passivo, a
uma exibio, mas sendo co-criador de um acto de vida nico e irrepetvel.
Vendo, ouvindo, sentindo e pensando o que lhe diz respeito e, assim,
aprendendo, tomando partido, transformando-se.
O teatro, como qualquer forma de Arte, no uma cpia da vida. uma
transposio potica da realidade, condensando-a e permitindo que se veja
para alm da pequena histria que se conta. Mergulhando a fundo na
representao do real, desmascara as aparncias que o falseiam e faz com
que cada um que assiste possa pensar: Isto tem a ver comigo. Perante isto, a
minha posio esta. A fora do teatro reside no facto de tornar presentes as
misrias e as grandezas dos seres humanos e os consequentes conflitos que
originam, levando o pblico a tomar partido.
Pelo contrrio, a telenovela, pretendendo ser uma cpia fiel da vida, na sua
forma redutora de a representar utiliza cdigos de identificao poltica, cultural
e moral que fazem dela uma eficaz mquina de propaganda de uma
determinada viso do mundo. Com o ar inocente de mero entretenimento,
instila-a num pblico que passivamente a digere e inconscientemente a
assimila.
Mas no s essa a sua funo perniciosa. E voltamos aos actores.