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bastante. Eram aqueles grupos que ensaiavam nos quintais, em
escolas...”, relembra Remédios.
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Abreviação para o nome do teatro utilizada nos fôlderes bimestrais contendo a programação do
teatro
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Expressão latina que significa “no local.” Fonte: Dicionário Aurélio
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a estrutura física já pronta, se deparam com uma sala que nem
era um auditório, muito menos um teatro: o piso do palco era de
cimento, as duas entradas de acesso dos artistas ao palco eram
tão baixas a ponto de um ator que estivesse saindo de uma cena
com a luz no rosto corria o risco de bater a cabeça, não havia
sequer saídas de emergência. O teatro não havia custado nem a
metade do valor estimado conforme indica a placa durante a
construção da obra: apenas R$362.581,00.
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Ou seja, o teatro feito com tudo pago pelo herário e nós
continuávamos no meio da rua”, lembra Sheyvan.
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2. Arte Contemporânea no Dirceu
Bem antes da inauguração do teatro, a Prefeitura através da
Fundação Cultural Monsenhor Chaves, já tinha planos sobre
quem deveria assumir a direção da casa, e para isso vinha
mantendo contato com o bailarino e coreógrafo Marcelo Evelin.
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criar, para fazer espetáculos, mediante um convênio firmado entre a
Prefeitura e a ONG de Marcelo Evelin, o Instituto Punaré.
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Passados três anos de funcionamento o público oscila
bastante no teatro João Paulo II. A fim de diversificar o público,
paralelamente aos espetáculos mais populares, Marcelo Evelin
inseria durante a programação bimestral espetáculos de arte
contemporânea, fato que provoca comentários de que a falta de
espectadores especificamente em relação ao teatro do Dirceu
estaria ligada ao estilo dos espetáculos. “Porque é que a dona
Raimunda nunca foi num teatro? Tem 45 anos de idade, mora
detrás do teatro agora. Aí alguém convence ela de rodear ali e
entrar, com aquela roupinha simples dela... Aí aparece um rapaz
de cueca, uma muié sem sutiã, aí faz uns gestos, umas danças
contemporâneas, e os outros aplaudem... Ela não vai voltar nunca
mais naquele teatro!”, opina Sheyvan Lima.
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Andrade, que em novembro de 2005 alcançou um público de 147
pessoas, em maio de 2006 contabilizou apenas 94 expectadores.
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Outro aspecto ressaltado por Castro foi a especificidade do
projeto de arte contemporânea. Durante os quase três anos em
que participou da gestão do teatro juntamente com Marcelo, ele
presenciou a reação dos artistas locais, antes e depois da adesão
a este projeto. E presenciou o afastamento de muitos deles
depois de algum tempo.
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Essa discussão em torno da adequação ou não das propostas
do teatro João Paulo II entre direção, artistas e comunidade
prossegue até janeiro de 2009 quando ocorre uma mudança na
direção da Fundação Cultural Monsenhor Chaves – órgão
municipal responsável pela administração das casas culturais de
Teresina.
O antigo diretor José Reis, que havia ficado durante oito anos
na diretoria da FCMC, é designado para assumir a Fundação Wall
Ferraz, e entra no exercício do cargo o professor de Língua
Portuguesa, Cinéas Santos, conhecido por todos os piauienses
pelo seu trabalho de aproximar a cultura dos teresinenses; seja
através da arte, da literatura ou da música.
“Muita Fumaça
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Teresina já recebeu dois prêmios da APCA. O primeiro prêmio foi conquistado em 2006 quando
“Sertão”, de Marcelo Evelin, foi escolhido como melhor espetáculo de dança do ano.
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No documento estavam anexados folhetos com os dizeres das
faixas que haviam sido confeccionadas durante o movimento de
abertura do teatro, informações sobre problemas estruturais
detectados durante sua construção, o abaixo assinado pedindo a
mudança do nome do teatro e finalmente uma lista de perguntas
questionando a direção do TMJPII. “O Marcelo tem o perfil dele.
Qual é? Como ele fala sempre: Europa! A Holanda! Então pra ele
tudo de lá é bom, daqui nada presta, né? Tem conquistas? Tem.
Foram muito bem num concurso que eu não lembro o nome, no
Rio de Janeiro. A minha crítica não é aos trabalhos realizados no
Teatro João Paulo II, a minha crítica é: esses trabalhos estão
mudando cultura na nossa comunidade?”, explica Sheyvan.
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3. Berlim mostra o Dirceu
Vários projetos estavam programados para 2009, no Teatro
João Paulo II. Alguns já estavam até sendo discutidos com o
professor Cinéas, especialmente um, relacionado à possibilidade
de uma linha de ônibus que passasse uma hora antes dos
espetáculos, levando as pessoas ao teatro.
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O evento que ocorre anualmente é financiado pela Fundação Federal de Cultura na Alemanha,
Ministério da Cultura do Brasil e pela Fundação Nacional de Artes.
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Alexandre também é instrutor da oficina de break-dance no
João Paulo II. Começou sua carreira cedo, aos 8 anos de idade,
com a capoeira no grupo Abadá até receber o convite do diretor
Marcelo Evelin em 2005 para que integrasse o Núcleo de Criação.
“Pra gente é muito proveitoso porque não sai nada do nosso
bolso, é sempre gratuito... São ótimos esses workshops aqui. A
cada pessoa que vem é uma informação diferente que você
coloca no seu currículo, que enriquece cada vez mais”, explica
Alexandre.
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O último trabalho chamado “Anatômico, Geométrico e
Pessoal”, resultante da oficina de dança contemporânea
ministrada por Weila Carvalho - integrante do Núcleo - dá uma
mostra do resultado interessante que pode surgir. O espetáculo
foi realizado em cima de exercícios das próprias aulas onde o
tema era o corpo em si dando destaque ao seu movimento, a sua
mecânica e a sua própria anatomia. Segundo Weila, “você pega
uma seqüência e troca a música e vê que muda também até o
jeito que as pessoas começam a dançar... Quer dizer, tudo tá
influenciando a coreografia; naquele momento nada é
negligenciado”,
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uma história, e apresentam no palco. “Na verdade a gente tem o
intuito de fazê-las acordar e perceber que o corpo delas está vivo,
e sair dessa coisa de que eu sou velha, que meu corpo é velho,
que isso não existe. Corpo é corpo, independente da idade que
seja.”, explica Bid.
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No teatro o termo “sala” refere-se a palco e platéia, ou seja, a sala de espetáculos.
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Esse decrescimento de público causou polêmica desde que
Marcelo Evelin assumiu o teatro. Por causa disso, as críticas
negativas não paravam, inclusive algumas partindo dos próprios
artistas da cidade, mas também haviam críticas favoráveis:
“Quando eu cheguei aqui um artista me procurou e disse assim:
Marcelo você não tem noção do estrago que você tá fazendo
porque você desestabiliza todos os modelos engessados, todos os
modelos quietinhos, todos os modelos tímidos... Mas eu acho que
arte é pra desestabilizar, arte não é pra compensar ninguém...”,
explica Marcelo.
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4. O teatro é popular?
Uma semana após a primeira entrevista com Marcelo Evelin
voltei ao teatro para continuar minha pesquisa acompanhando
mais uma das oficinas, dessa vez a de Teatro Físico para
adolescentes, ministrada pelo instrutor do Núcleo, Jacob Alves.
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demissão através de uma carta que deveria chegar à casa do
prefeito Sílvio Mendes por meio de um mototaxista. O motivo
alegado era incompatibilidade de idéias com o novo presidente
da Fundação Cultural Monsenhor Chaves.
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Em relação às oficinas cujos instrutores pediram demissão as de Dança Contemporânea e Break
Dance conseguiram substitutos. Apenas a de karatê/ inglês voltada para o público infanto-juvenil
não continuou.
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Quatro dias após a posse do novo diretor, o Núcleo de
Criação posta em seu blog um abaixo-assinado a favor da
continuidade do projeto de arte contemporânea, onde foram
colhidas 475 assinaturas. E Marcelo Evelin também publica em
seu blog uma “Carta Aberta à Dança Brasileira” dirigida aos
artistas que acompanhavam o seu trabalho realizado no Dirceu,
esclarecendo o porquê do fim do Centro de Criação e
conseqüente pedido de demissão dos integrantes do Núcleo; e ao
final, disponibiliza o email do prefeito e de sua assessora
Cristiane Ventura propondo aos interessados que se
manifestassem em apoio ao coletivo de artistas. Mas o prefeito
ratifica mais uma vez sua decisão:
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Uma semana após a posse de Maneco o projeto Viva o Sábado
estreou com a apresentação de Carol Castro cantando um
repertório de samba variado. O público da comunidade que
compareceu foi de aproximadamente quinze pessoas.
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A uruguaia Tamara Cubas, segunda orientadora do Colabora tório já estava em Teresin a na nova
sede do Núcleo quando foi surpreendida junto com mais 6 integrantes do NCD por assaltantes que
levaram notebooks contendo arquivos importantes do que vinha sendo discutido no Colaboratório
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Nena e Evaldo - dois músicos da região do Grande Dirceu -, o
dançarino Bibi, dois componentes do Grupo Flagelo e Sheyvan
Lima. Dos quatro grupos que também deveriam estar presentes -
Renascer, Nazaré, Flor de Liz e um grupo de hip hop do Parque
Itararé - nenhum compareceu.
Devido à dificuldade de reunir os grupos, Remédios inicia a
reunião muito preocupada, porque já recebera várias ligações do
professor Cinéas pedindo a ela que os apresentasse com urgência
à direção do teatro; a ordem da Fundação Cultural Monsenhor
Chaves é priorizar os artistas da comunidade que haviam ficado
distante do teatro.
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TMJPII envolvendo artistas, comunidade e direção do teatro, e
desta vez os grupos seriam novamente convocados a fim de
planejar a programação da casa; proposição de um Conselho
Consultivo onde os integrantes deverão propor idéias para a
reestruturação dos cursos e oficinas do teatro e um abraço
simbólico ao TMJPII nesse mesmo dia.
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O projeto funciona em parceria com os grupos. O SESC paga
as pautas, e ao final do espetáculo o dinheiro que seria destinado
ao pagamento da pauta é destinado ao financiamento de
ingressos a serem distribuídos nas comunidades carentes. “Essa
maneira faz com o que o grupo não fique só esperando a platéia,
mas que ele vá de encontro à população, pra que possa
conscientizar a formação de platéia e também a ter seu trabalho
reconhecido,” sugere Walfrido.
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comunidade deva assistir ao espetáculo tal para subir o nível
cultural, não! Eu nem sei qual é o nível cultural do Dirceu!”,
finaliza o professor Cineás sob aplausos da platéia.
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Trechos das principais entrevistas
Trecho da entrevista gravada com Sheyvan Lima na
Associação de Moradores sobre o histórico protocolado na
Prefeitura, redigido por Remédios Silva.
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entendeu? A gente pediu audiência ontem com ele, mas houve
um probleminha de agenda com o Cinéas. Não aconteceu.
G.C: Sim....
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Trecho da entrevista com Marcelo Evelin sobre a
experiência de trabalhar arte contemporânea no Dirceu, no
dia em que a programação teatro volta ao normal após a
paralisação.
G.C.: Eu vi, acho que foi no blog, que 90% dos artistas são daqui
do Dirceu...
G.C.: Quem é mais que vem pra cá pro teatro? Que tipo de classe
social vem mais ao teatro?
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M.E.: Da cultura do Piauí permanece o Piauí. Eu não sei o que é
que significa “a cultura do Piauí”, entende?
G.C.: Como foi a sua ida pra Holanda? Você foi patrocinado por
alguém?
G.C.: Nunca.
M.E.: Nunca? Mas tu sabe que agora tá na moda aqui o sushi, que
o povo considera chique?
G.C: Eu fiz uma matéria um dia desses que tava ficando bastante
barato, bastante acessível...
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M.E: Pronto! Todo mundo ta comendo sushi agora! Há cinco
anos atrás, Gisele, o povo olhava na minha cara e dizia: Como é
que tu come isso? E hoje em dia é a coisa mais chique. É a mesma
coisa com o público, entende? Eu acho que é uma questão da
gente estar devagarinho, abrindo esse espaço... Eu acho que arte
contemporânea é uma coisa que não pode se impor não.
G.C.: Não.
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mundo gosta do gosta do Calcinha Preta assim como você não
pode dizer que o público não gosta da arte contemporânea,
entende? Como era a tua pergunta mesmo? Porque que o público
não gosta, é isso? Há se o problema é com o público ou é com o
artista!
G.C.: Então você acha que depende do tempo pra que as pessoas
passem a freqüentar o teatro?
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Layane Holanda: Fazendo o blog .
G.C: Certo.
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acabou! Não adianta dizer que vai pro Inferno que também não
tem inferno.
G.C.: Há esse choque das pessoas verem uma pessoa nua dentro
do teatro. As pessoas estão acostumadas a ver aquelas peças... E
se chocam com um homem nu e uma mulher nua dentro do
teatro. Com é que tu vê esse choque?
M.E.: Não pode? E porque é que tem que continuar com o mesmo
teatro? Como é que eu posso separar a condição das pessoas da
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condição do teatro, se o teatro é sobre a construção humana? Se
eu não mudar o teatro porque eu vou mudar as pessoas?
C.S.: Foi a informação que eu tive. Como é que ia saber dessa vaga
lá? Eu não conheço a programação do Dirceu, eu não sei. Pelo
folder que ele me manda? Não, não. Eu não sabia disso não...
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G.C.: Então quem implantou esses programas foi...
C.S.: Não. Quem implantou esses programas fui eu. Nós. A partir
do momento que eu soube que esses espaços tava vagos...
G.C: Moro.
G.C.: Vai.
C.S.: Lá perto né? Pois eu fui e até agora nunca vi ninguém lá. Eu
nunca fui a um espetáculo naquela casa que tivesse trinta
pessoas! Então as vezes que eu fui lá não havia público, não me
pergunte por que, eu não sou do Dirceu, eu conheço pouco a
realidade do Dirceu. Agora o que eu vou fazer é colocar uma
direção e chamar o público.
C.S.: Então, o quê que nós vamos fazer? Primeiro: abrir o teatro
aos grupos do Dirceu. Todos os grupos do Dirceu que quiserem
participar de espetáculos lá basta marcar a pauta!
C.S.: Não sei. Eu não tô dizendo que não era. Quem é de lá é você!
Eu tô dizendo como é que vai ser! Entenda bem! Como é que vai
ser! Os grupos serão convidados! Eu recebi comunicado de
grupos do Dirceu que eles estavam insatisfeitos...
G.C.: Com a saída do Marcelo, caso eles saia mesmo do teatro, não
corre risco de ficar igual ao que já tem por aqui?
G.C.: No Dirceu.
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C.S.: Você mora no Dirceu ou na Holanda? A minha pergunta é: eu
tenho algum compromisso com a Holanda, com o Japão, com a
China, com a Índia, se eu conseguir servir bem a minha aldeia?
Se não tem repercussão nenhuma, se o mundo nunca mais vai
ouvir falar do Dirceu, não tem problema nenhum! A relação do
Dirceu é com Teresina não é com a Holanda não!
G.C.: Mas não é que seja uma imposição. É que precisa haver um
diálogo entre a arte daqui e a arte da Holanda, por exemplo.
G.C.: Sei.
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Referências
BELO, Eduardo. Livro reportagem, São Paulo, Contexto, 2006
WEB-SITES
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Entendendo a arte como conhecimento [entrevista com Sônia
Sobral]. Disponível em:
http://www.tmjp2.blogspot.com/2008_02_01_archive.html -
288k – Acesso em 22/ 12/ 08
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Anexos
PROPOSTA DO ORÇAMENTO POPULAR DE TERESINA PARA O TEATRO MUNICIPAL JOÃO
PAULO II
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COMPÊNDIO ELABORADO POR REMÉDIOS SILVA PROTOCOLADO NA PREFEITURA NO DIA 03
DE MARÇO DE 2009
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ABAIXO-ASSINADO ELABORADO PELOS GRUPOS ARTÍSTICOS DA CIDADE SOLICITANDO QUE O
NOME DO TEATRO HOMENAGEASSE O ATOR RAIMUNDO DIAS.
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MOÇÃ O DE A POI O AO PR OFESSOR CI NÉA S, ELAB ORA DO POR REMÉDI OS SILVA ,
DI STR UIB UÍDO NA ENTR A DA DO T EAT RO NO DIA DO BAT E- PA PO ENV OLV ENDO
DIR EÇÃ O, ARTI STA S E COMUNIDADE .
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