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QUARTA-FEIRA
I. DEPOIS QUE DEUS criou a terra e a enriqueceu com todo o tipo de bens,
tomou o homem e colocou-o no paraíso de delícias para que o cultivasse e
guardasse1, isto é, para que o trabalhasse. O Senhor, que tinha feito o homem
à sua imagem e semelhança2, quis também que ele participasse do seu poder
criador, transformando a matéria, descobrindo os tesouros que ela encerra e
plasmando a beleza mediante as obras das suas mãos. O trabalho nunca foi
um castigo, mas, pelo contrário, “uma dignidade de vida e um dever imposto
pelo Criador, já que o homem foi criado ut operaretur, para trabalhar. O
trabalho é um meio pelo qual o homem se torna participante da criação e,
portanto, não só é digno, seja qual for, mas é instrumento para se conseguir a
perfeição humana – terrena – e a perfeição sobrenatural”3.
Este preceito divino existia antes de os nossos primeiros pais terem pecado.
O pecado original acrescentou ao trabalho a fadiga e o cansaço, mas o
trabalho em si continua a ser nobre, digno, por ser participação no poder
criador de Deus, ainda que “agora se faça acompanhar de penas e
sofrimentos, de infecundidade e cansaço. Continua a ser um dom divino e uma
tarefa que deve ser realizada sob condições penosas, tal como o mundo
continua a ser o mundo de Deus, mas um mundo em que já não se distingue
com clareza a voz divina”4.
Para que “o homem se faça mais homem”7 com o trabalho, para que este
seja meio e ocasião de amar a Cristo e de fazer com que o conheçam, são
necessárias diversas condições humanas: a diligência, a constância, a
pontualidade..., a competência profissional. Em sentido contrário, o pouco
interesse por aquilo que se realiza, a incompetência, a falta de pontualidade e
as ausências no trabalho... são incompatíveis com o sentido autenticamente
cristão da vida. O trabalhador negligente ou desinteressado, seja qual for o
posto que ocupe na sociedade, ofende em primeiro lugar a própria dignidade
da sua pessoa e a daqueles a quem se destinam os frutos dessa tarefa mal
feita. E ofende ainda a sociedade em que vive, pois nela repercute de alguma
forma todo o mal e todo o bem dos indivíduos. Além disso, o trabalho realizado
descuidadamente, com atrasos e mal acabado, não é uma falta ou um pecado
apenas contra a virtude da justiça, mas também contra a caridade, pelo mau
exemplo e pelas consequências que derivam dessa atitude.
Peçamos a São José que nos ensine as virtudes fundamentais que devemos
viver no exercício da nossa profissão. “José devia tirar muita gente de
dificuldades, com um trabalho bem acabado. O seu trabalho profissional era
uma ocupação orientada para o serviço, tinha em vista tornar mais grata a vida
das outras famílias da aldeia; e far-se-ia acompanhar de um sorriso, de uma
palavra amável, de um comentário dito como que de passagem, mas que
devolve a fé e a alegria a quem está prestes a perdê-las”9. Perto de José,
encontraremos Maria.
(1) Gên 2, 15; Primeira leitura da Missa da quarta-feira da quinta semana do TC, ciclo A; (2) cfr.
Gên 1, 27; (3) São Josemaría Escrivá, Carta, 31-V-1954; (4) M. Schmaus, Teologia dogmática,
Rialp, Madrid, 1959, vol. II, pág. 411; (5) cfr. Card. Wyszynsky, El espíritu del trabajo, Rialp,
Madrid, 1958, pág. 95; (6) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 47; (7) cfr. João
Paulo II, Alocução, 10-I-1979; (8) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 43; (9) São Josemaría
Escrivá, É Cristo que passa, n. 51.