Professional Documents
Culture Documents
PRIMEIRO ATO
1
pensativamente uma xícara de chá, está seu sobrinho Teddy, de
sobrecasaca, com um pince-nez atado a uma fita preta. Teddy tem
aproximadamente 40 anos e usa um grande bigode.
ABBY: Sim, na verdade minha irmã Martha e eu falamos a semana inteira sobre
sua palestra do último Sábado. É realmente maravilhoso, Sra. Harper, como a
senhora conseguiu assimilar o espírito do Brooklin.
TEDDY: Eu, por mim, sempre gostei conversas espirituais. Eu já lhe contei sobre
o que penso dos espíritos.
ABBY: Não, querido, ainda não. Mudando de assunto. Os biscoitos estão bons?
HARPER: Não, obrigada, tenho medo de perder a fome e não jantar. Sempre
exagero nos biscoitos, só para saborear esta geléia deliciosa.
HARPER: Não, não, guardem aqui, pois assim posso continuar comendo sempre
seus biscoitos com ela.
ABBY: Espero que não façam a gente usar esta farinha falsificada outra vez, isto
é – com este problema de guerra. Pode ser falta de caridade minha, mas estou
quase chegando à conclusão de que esse senhor Hitler não é cristão.
2
HARPER: Revólver?
ABBY: Teddy!
TEDDY: Não, tia Abby! Menos conversa sobra a Europa e mais sobre o canal!
ABBY: Bem, não vamos falar sobre a guerra. Quer mais uma xícara de chá,
querido?
HARPER: Não, obrigada. Devo dizer, Srta. Abby, que a guerra e a violência
parecem estar muito longe daqui.
ABBY: Olhando em volta, com satisfação. É uma das casas mais antigas de
Brooklyn. Continua exatamente como o vovô Brewster construiu e mobiliou.
Exceto pela eletricidade, que usamos o menos possível. Foi Mortimer que nos
convenceu a instalar.
ABBY: O pobre menino tem que trabalhar até tarde. Parece-me que hoje vai levar
Elaine ao teatro, novamente. Teddy, seu irmão Mortimer vai chegar um pouco
mais tarde.
ABBY: Achamos tão bom que Mortimer esteja saindo com Elaine, principalmente
para leva-la ao teatro.
3
HARPER: Bem, é uma experiência nova para mim, esperar até as 3 horas da
manhã que minha filha chegue em casa.
ABBY: Oh, Sra. Harper, espero que a senhora não tenha nada contra o Mortimer.
HARPER: Bem...
ABBY: Se a senhora tivesse, nós nos sentiríamos tão culpadas – minha irmã
Martha e eu, pois foi aqui em casa que sua filha conheceu Mortimer.
HARPER: Estômago?
HARPER: Não Srta. Abby. Para ser franca com a senhorita, estou falando da
infeliz relação de seu sobrinho com os fatos espirituais da vida. E apesar de
escrever sobre o teatro, parece que ele não consegue assimilar a verdadeira
relação espirtual que possui esse nobre trabalho.
ABBY: O teatro! Ah, não, reverendo! Mortimer escreve para um jornal de Nova
York.
HARPER: Eu sei, Srta. Abby, eu sei. Mas um crítico está constantemente exposto
ao teatro, o que deveria fazer com que ele se apegasse mais às conexões
espirituais que ele possui.
HARPER: Verdade?
ABBY: Verdade. Ele escreve coisas terríveis sobre o teatro. Vivia feliz escrevendo
sobre imóveis, que é o que conhece bem, e eles fizeram com que ele pegasse
este horrível trabalho noturno,daí o seu bloqueio em relação ao teatro.
Poderíamos chamar de contrariedade.
4
ABBY: Mas, ele tenta se conformar dizendo que é o seu ganha pão.
Complacentemente – É, eu acho que podemos dar um tempo para que ele
assimile essa espiritualidade inerente ao teatro, conforme a senhora diz.
Uma batida na porta direita. Ora, quem será agora? Todos se levantam e Abby
vai até a porta. Teddy vai para a porta ao mesmo tempo, mas Abby faz com
que ele pare. Não, obrigada, Teddy. Eu abro. Ela abre a porta e deixa entrar
dois guardas, os oficiais Brophy e Klein. Entre, Srta. Brophy.
KLEIN: Bem obrigado, Srta. Brewster. As policiais vão até Teddy que está em
pé junto à escrivaninha e fazem continência. Teddy devolve a saudação.
KLEIN: Assim pelo menos a gente tem alguma coisa para fazer na delegacia. A
gente cansa de retocar a maquiagem e fazer as unhas, daí começamos a limpar
as armas, e a primeira coisa que acontece é dar um tiro no próprio pé. Klein
perambula até o fundo esquerdo em direção à arca.
5
TEDDY: Que chegou ao 1º patamar, onde para e puxa de uma espada
imaginária gritando. Atacar! Investe escada acima e sai pelo balcão. Os
outros não prestam atenção.
ABBY: Indo em direção à cozinha. Vou buscar um caldinho de carne para você
levar para ela.
BROPHY: Não se incomode, Srta. Abby. A senhora já fez tanto por ela.
ABBY: Na porta da cozinha. Fizemos o caldinho esta manhã. Minha irmã Martha
acaba de levar um pouco para o pobre Sr. Benitzki. Eu volto já. Estejam à
vontade. Ela entra para a cozinha. Harper se senta.
BROPHY: Vai para a mesa e se dirige aos outros dois. Ela não precisava se
incomodar.
KLEIN: Não adianta tentar impedir que sejam generosas. Ele senta na arca.
HARPER: Quando vim morar no Brooklyn, e me mudei para aqui ao lado, meu
marido já não se encontrava bem. Quando ele morreu, foram as irmãs Brewsters
quem me ajudaram, poderia até mesmo dizer que foram elas,com sua alta
espiritualidade que fizeram com que eu descobrisse minha veia literária e
paranormal.
Neste momento Teddy aparece no balcão tocando uma corneta. Todos
olham.
KLEIN: Ele pensa que é o presidente Teddy Roosevelt. Poderia ser coisa pior.
BROPHY: É uma pena... Uma família tão boa com um biruta desses.
KLEIN: Bem, o pai dele – o irmão da Srta. Abby– era uma espécie de gênio – não
era? E o pai delas – o avô de Teddy – parece que era um pouco maluco também.
6
HARPER: Verdade? Aqui no Brooklyn?
KLEIN: Auh! Ouvi dizer que cometia uns “errinhos” de vez em quando.
KLEIN: Bem, seja lá o que ele tenha feito, deixou as filhas bem de vida. Graças a
Deus!
BROPHY: Não que elas gastem esse dinheiro com elas mesmas.
A porta da entrada abre e Martha Brewster entra. Ela também é uma doce
velhinha com charme vitoriano. Está vestida da mesma maneira antiquada
de Abby mas com uma gola alta de renda. Os homens se erguem.
KLEIN: Como vai, Srta. Brewster? Nós viemos pegar os brinquedos do Natal.
BROPHY: O Coronel foi lá em cima buscá-los. Parece que o Ministério tem que
aprovar.
7
BROPHY: Ela vai indo bem. Sua irmã foi buscar uma sopa para ela.
ABBY: Vindo da cozinha carregando uma vasilha tampada. Ah! Você voltou,
Martha? Como está o Sr. Benitzki?
MARTHA: Bem, querida, tenho medo que seja sério. O médico foi lá e vai ter que
amputar amanhã.
MARTHA: Desapontada. Não. Eu pedi, mas ele disse que era contra as regras do
hospital. Martha vai para o aparador onde coloca a vasilha. Deixa a capa e o
chapéu na mesinha da esquerda alta. Teddy aparece no balcão com uma
grande caixa de papelão e desce a escada colocando-a no banco da
escrivaninha. Klein se dirige para a caixa de brinquedos. Harper fala
enquanto isso.
ABBY: Para Brophy. Aqui está o caldo, Srta. Brophy. Fique certo de que está
gostoso e quentinho.
KLEIN: Vai para a porta da entrada com a caixa, abre a porta, Brophy vai
atrás. Já vamos Sra., e muito obrigado.
HARPER: Vai para o sofá e pega o chapéu. Também preciso ir para casa.
HARPER: Fortaleza?
8
MARTHA: As escadas são sempre a colina de San Juan.
ABBY: Uma vez, há muito tempo... Vai em direção a Martha... lembra, Martha?
Nós pensamos que se ele se tornasse George Washington, poderia ser bom para
ele.
MARTHA: Mas ele ficou debaixo da cama vários dias sem querer ser ninguém.
ABBY: E a não ser ninguém, preferimos que ele seja Teddy Roosevelt mesmo.
HARPER: Bem, se ele fica feliz com isso – e o que é mais importante – se as
senhoras estão felizes... Tira um papel azul do bolso. Façam com que ele assine
estes papéis.
ABBY: A Sra. Harper tomou todas as providências para que Teddy vá para o
sanatório Lar Feliz quando nós passarmos desta para melhor.
MARTHA: Mas porque Teddy tem que assinar algum papel agora?
HARPER: É melhor deixar tudo arranjado. Se Deus resolver levá-las de uma hora
para outra, para a outra dimensão, talvez não possamos convencer Teddy a
concordar, e isto nos traria complicações legais. A Sra. Witherspoon sabe que os
papéis vão ficar guardados até que seja preciso usá-los.
ABBY: Para Martha. A Sra. Harper combinou com ela para vir aqui amanhã ou
depois, e conhecer Teddy.
ABBY: Vai até a porta e grita para ele. Lembranças a Elaine – e Sra. Harper, por
favor, não seja tão severa com Mortimer só porque ele não encontrou a
espiritualidade do teatro. Fecha a porta e volta à sala.
9
MARTHA: Indo até o aparador e colocando os formulários em cima dele.
Nota o aparelho de chá na mesa.
Vocês tomaram chá agora? Não é meio tarde?
ABBY: Como alguém que sabe um segredo. É sim. E o jantar vai ser tarde
também.
ABBY: Teddy! Teddy para no patamar. Boas notícias para você. Você vai para o
Panamá cavar outra comporta para o canal.
ABBY: Pegando a mão de Martha. Isso mesmo, querida. Não pude esperar por
você. Não sabia a que horas você ia voltar e a Sra. Harper estava para chegar.
MARTHA: Vou correndo lá embaixo para ver. Ela se dirige, feliz, para a porta
do porão.
ELAINE: Vai para o centro. Abby fecha a porta e vai para o centro. Boa tarde,
D. Abby. Boa tarde, D. Martha. Pensei que mamãe estivesse aqui.
MARTHA: Indo em direção à esquerda da mesa. Ela acabou de sair. Você não
se encontrou com ela aí fora?
10
ELAINE: Apontando a janela da parede esquerda. Não, eu cortei caminho pelo
cemitério. Mortimer não chegou ainda?
ELAINE: Ele me pediu para encontrá-lo aqui. Posso esperar por ele?
MARTHA: Nós também achamos. É bom saber que se Mortimer é obrigado a ver
essas peças que ele tem que ver, ao menos está sentado ao lado da filha de uma
mulher que dá valor às coisas do espírito.
Martha vai para trás da mesa. Abby também e começa a tirar o chá. Elaine e
Martha ajudam.
ABBY: Meu Deus, Elaine! O que você deve pensar de nós por não termos tirado a
mesa até esta hora!
Pega na bandeja e vai para a cozinha. Martha sopra uma vela, leva para o
aparador e Elaine faz o mesmo com a outra vela.
MARTHA: Para Abby enquanto ela sai. Não se incomode com a cozinha.
Quando Mortimer chegar eu lhe ajudo. Para Elaine. Mortimer deve estar
chegando.
ELAINE: É. Mamãe vai ficar surpresa por não me encontrar em casa. É melhor eu
dar um pulo até lá e dizer boa noite a ela. Vai até a porta da entrada.
ELAINE: Abrindo a porta. Quando Mortimer chegar, digam a ele que volto logo.
Abre a porta e vê Mortimer do lado de fora. Alô, Mortimer. Mortimer Brewster
entra. Ele é um crítico de teatro.
11
MORTIMER: Voltando-se para a direita. Você estava indo a algum lugar?
MORTIMER: Eu não sabia que isto ainda se usava, nem mesmo no Brooklyn.
Joga seu chapéu no sofá.
MORTIMER: Muito bem. E você também parece bem. Vocês não mudaram muito
desde ontem.
ABBY: Ah, Meu Deus, foi ontem, não foi? Nós temos visto você bastante,
ultimamente.
Ela atravessa o palco e começa a sentar na cadeira atrás da mesa.
Vamos, sentem-se, sentem-se.
MARTHA: Impedindo-a de sentar. Abby, nós não temos uma coisa para fazer na
cozinha?
ABBY: Hein?
12
MORTIMER: Ele está na escrivaninha, tirando vários papéizinhos do bolso e
separando notas de dinheiro misturadas com os papéis. Onde você quer ir
jantar?
MORTIMER: Não com a droga de peça que iremos ver esta noite. Se o que ouvi
sobre ela estiver certo, estaremos no Blake’s às dez horas.
ELAINE: Indo para o centro alto. Você deveria ser mais condescendente com as
peças que vê.
ELAINE: Não sou tão ingênua assim. O fato é que os musicais, de certa forma,
despertam bons sentimentos nas pessoas. Ele lhe dirige o olhar. Pois veja nosso
caso: depois de assistirmos uma peça séria, um drama, nos juntamos às pessoas
para pegar o metrô e eu fico ouvindo você dissertar sobre o que viu. Depois de um
musical você me leva para casa de táxi e ainda me faz alguns elogios.
MORTIMER: Indo até o centro baixo. Ei, espere um minuto querida, estou me
esquecendo da minha credencial de jornalista.
ELAINE: Bem, devo admitir que depois do drama de Behrman você me disse que
eu tinha um tipo de beleza especial - e isto é o tipo de coisa que mexe com uma
garota. Mas você nunca me havia dito isso, o que só aconteceu porque antes
13
havíamos visto um musica, depois do qual você disse que eu tinha belas pernas.
O que é a pura verdade!!
MORTIMER: Olha para as pernas dela depois vai até ela e beija-a . Para uma
filha de uma escritora espiritualista, você está sabendo muita coisa sobre a vida
carnal.
ELAINE:, preciso avisar mamãe para não ficar me esperando até tarde.
MORTIMER: Quase para si mesmo. Eu nunca fui capaz de me explicar bem isso.
ELAINE: Dando uns poucos passos em direção a ele. Você disse “manter”?
MORTIMER: Não, não. Cheguei à conclusão que você está se reservando para
depois de legalizar a situação.
ELAINE: Indo em direção a ele enquanto ele recua. Eu posso me dar ao luxo
de ser uma moça direita por alguns anos ainda.
ELAINE: Ora, meu bem, não finja que você me ama tanto assim...
MORTIMER: Olha para ela com contida luxúria e vai em direção a ela. Não se
esqueça de dizer a sua mãe para que não a espere esta noite.
ELAINE: Consciente que não pode confiar neles próprios e recuando para o
fundo. Pois acho que esta noite é que vou pedir que ela me espere.
14
TEDDY: Vem do balcão e desce a escada vestindo roupas tropicais e um
chapéu de explorador. No pé da escada vê Mortimer. Vai até ele e aperta
suas mãos. Olá Mortimer.
MORTIMER: Não sei. Queria ser cirurgião, como vovô, mas não queria passar
antes pela Faculdade de Medicina. E isso lhe criou alguns problemas.
ABBY: Vindo da cozinha e cruzando para a frente da mesa. Vocês não vão
chegar atrasados no teatro?
15
MORTIMER: Com o braço em volta do pescoço de Elaine, olha o relógio. Nós
não vamos jantar. Só temos que sair daqui a meia hora.
ABBY: Recuando à esquerda alta. Bem, então vou deixar vocês dois sozinhos
outra vez.
ABBY: Feliz, enquanto vai para o centro. Mortimer, Elaine é mesmo uma boa
moça. Martha e eu acreditamos que ela será uma boa influência para você.
MORTIMER: Ri, anda para esquerda e aí vira para Abby. Por falar nisso, eu vou
casar com ela.
ABBY: O quê? Ah, querido! Ela corre e o abraça e então dispara em direção à
porta da cozinha enquanto Mortimer vai para a janela esquerda e olha para
fora.
Martha! Martha! Martha vem da cozinha. Venha cá! Tenho notícias ótimas para
você! Mortimer e Elaine vão se casar!
MARTHA: Casar! Oh, Mortimer! Ela corre para a direita de Mortimer que olha
para fora da janela, abraça-o e beija- o
ABBY: Vai para esquerda dele. Ele abraça as duas. Nós esperávamos que isso
acontecesse. Elaine deve ser a moça mais feliz do mundo.
MORTIMER: Puxa a cortina para trás e olha pela janela. Feliz? Olha só para ela
pulando aqueles túmulos. Olhando para fora, ele nota subitamente alguma
coisa. O que é aquilo?
MARTHA: Olhando para fora à direita dele e Abby à sua esquerda. O que é
querido?
ABBY: Cruza atrás da mesa e puxa a cadeira para a direita da mesa. Não sei
como você pode pensar em passarinhos, com Elaine, o noivado e tudo mais.
16
MORTIMER: É uma espécie em extinção. Ele se vira da janela. Thoreau gostava
muito deles. Ao mesmo tempo, vai para a escrivaninha para olhar várias
gavetas e papéis. Por falar nisso, deixei um envelope grande aqui a semana
passada. Era um dos capítulos do meu livro sobre Thoreau. Vocês o viram?
ABBY: Indo para a esquerda de Mortimer. Quando é que vocês vão casar?
Quais os seus planos? Deve ter alguma coisa a mais a que você possa nos contar
sobre Elaine!
MORTIMER: Elaine? Oh, sim, Elaine achou que era brilhante! Ele vai para o
aparador e olha nos armários e nas gavetas.
MORTIMER: Meu capítulo sobre Thoreau. Ele tira uma pilha de papel da gaveta
direita, leva-a para a mesa, folheia as páginas.
ABBY: No centro. Quando Elaine voltar, temos que celebrar. Precisamos beber à
felicidade de vocês. Martha, não sobrou um pouco daquele bolo? Nas últimas
falas, Martha pegou a vasilha do aparador, sua capa, chapéu e luva da mesa
do canto. Fundo à esquerda.
MARTHA: Enquanto sai para cozinha. E dizer que tudo aconteceu nesta sala.
ABBY: Bom, com a sua noiva sentada a seu lado, essa noite, espero que ao
menos dessa peça, você goste. Pode ser que seja algo romântico. Qual o nome
dela?
17
fato, e aí volta, escancara a tampa da arca e olha fixo para dentro. Ele fica
meio louco por um momento, recua e então ouve Abby cantarolando antes
de entrar na sala. Ele larga a tampa da arca e segura-a fechada – olhando em
volta – disfarçando. Abby entra na sala carregando o forro da mesa e uma
toalha que ela coloca na cadeira de braços e então pega a pilha de papéis e
torna a colocá-la na gaveta do aparador. Mortimer fala com voz meio tensa.
Tia Abby.
MORTIMER: Ele tem que assinar agora mesmo. Ele está lá embaixo no porão.
Chame-o aqui imediatamente.
MARTHA: Desdobrando a toalha. Ela está à direita da mesa. Não tem tanta
pressa assim.
ABBY: Não. Quando Teddy começa a trabalhar no canal não se pode desviar sua
atenção.
MORTIMER: Teddy tem que ir para o Lar Feliz agora! – Hoje á noite.
MARTHA: Oh, não, querido. Vai ser quando não estivermos mais aqui.
ABBY: Virando-se para Mortimer . Mortimer, como é que você pode dizer uma
coisa dessas? Enquanto nós vivermos, nunca haveremos de nos separar de
Teddy.
18
Sempre fomos indulgentes com Teddy porque pensávamos que ele fosse
inofensivo.
MORTIMER: Ele era inofensivo! É por isso que ele tem que ir para o Lar Feliz.
Tem que ser internado.
MORTIMER: Vocês têm que saber de uma coisa. E é melhor que saibam logo.
Teddy matou um homem!
MARTHA: Sabemos sim. Mas não tem nada a ver com o Teddy. Pega a bandeja
do aparador e arruma a mesa com três lugares.
ABBY: O nome é Hoskins. Adam Hoskins. É tudo o que eu sei sobre ele, exceto
que é um metodista.
MORTIMER: É tudo o que você sabe sobre ele? E o que ele está fazendo aqui? O
que aconteceu com ele?
ABBY: Oh, Mortimer, não pergunte tanto! O “cavalheiro” morreu porque tomou
vinho envenenado.
19
MARTHA: Bem, nós pusemos no vinho porque se nota menos. No chá, fica com
cheiro muito forte.
MORTIMER: Então vocês sabiam o que estavam fazendo! Vocês não queriam
que a Sra. Harper visse o corpo!
ABBY: Não! Não durante o lanche. Não seria muito agradável... Agora, Mortimer,
que você sabe tudo, esquece... Acho que Martha e eu temos direito aos nossos
segredinhos. Ela vai ao aparador pegar dois cálices do armário da esquerda
enquanto Martha vai do aparador para a mesa com um saleiro.
MARTHA: E não conte nada a Elaine. Ela pega o terceiro cálice do aparador e
vira para Abby, que está levando a bandeja do aparador. Ah, Abby, quando eu
saí, encontrei a Sra. Schultz. Ela está bem melhor e gostaria que levássemos o
Júnior ao cinema de novo.
MARTHA: Só que desta vez, ele vai onde nós quisermos. Ela vai para a cozinha
e Abby a segue. O Júnior não vai me arrastar de novo para uma dessas fitas de
pavor.
MORTIMER: Deus do céu! Eu não posso entregá-las a polícia! Mas o que é que
eu faço?
ABBY: Por favor, pare de se preocupar. Nós dissemos que é para você esquecer
o que viu.
MORTIMER: Esquecer! Não dá para entender que temos que fazer alguma coisa?
20
MORTIMER: Mas o Sr. Hotchkiss -
ABBY: Indo para o aparador, pára e vira-se para Mortimer. Hoskins, querido.
Continua o seu caminho para o aparador e pega guardanapos e argolas da
gaveta esquerda. Martha coloca sua bandeja com xícaras, pratos, etc. na
mesa. Mortimer continua falando enquanto isto.
MORTIMER: Seja lá qual for o nome dele. Vocês não podem deixá-lo aqui.
MARTHA: Indo em direção a Mortimer. Vamos sim, querido. Como fizemos com
os outros.
MORTIMER: Afastando-se para a direita. Não, vocês não podem enterrar o Sr...
Duplo sobressalto. Vira-se para elas. “Outros”?
MORTIMER: Quando você diz outros, quer dizer outros? Mais de UM? –
OUTROS?
MARTHA: Isso mesmo. Deixe-me ver, com este, faz onze. Para Abby, à
esquerda superior da mesa. Não é, Abby?
MARTHA: Acho que você está enganada, Abby. Com este completamos onze.
ABBY: Não, querida, me lembro que quando o Sr. Hoskins chegou, eu pensei:
com ele completamos uma dúzia certinha.
MORTIMER: Alô! Volta e si e atende. Alô, Alô Al. Meu Deus, é bom ouvir sua
voz.
21
MORTIMER: Para as tias. Shhhhhhh... No telefone, enquanto as tias vão ao
aparador e colocam os candelabros da prateleira de cima para a de baixo.
Não, Al, eu estou completamente sóbrio... Só lhe telefonei porque estou me
sentindo um pouco - você não entenderia. Olha, eu estou contente que você
tenha telefonado. Entre em contato com George imediatamente. Ele tem que fazer
a crítica da peça hoje à noite. Não vou poder ir. Não Al, você está enganado, lhe
conto tudo amanhã. Bem, George tem de assistir à peça hoje. Este é o meu
departamento e sou eu quem manda nele. Encontre o George! Desliga e senta-
se por um momento, tentando recompor-se. Bom, onde é que nós estávamos?
Ele pula do banquinho, de repente. Doze!?
MARTHA: É, Abby pensa que nós temos que contar o primeiro e assim dá doze.
Vai para o aparador.
ABBY: Indo de trás da mesa para Mortimer. O Sr. Midgely. Ele era um batista.
MARTHA: Eu ainda acho que não podemos incluí-lo porque ele só morreu.
ABBY: Martha quer dizer que morreu sem a nossa colaboração. O Sr. Midgely
veio aqui procurando um quarto...
MARTHA: Foi logo depois que você mudou para Nova York...
ABBY: E achamos que não tinha sentido desperdiçar um quarto tão lindo, quando
havia tantas pessoas precisando dele...
ABBY: Todos os amigos e parentes dele tinham morrido e ele ficou tão
desamparado e infeliz...
ABBY: E então, quando ele teve um ataque do coração e ficou sentadinho nessa
cadeira – apontando a cadeira de braço – parecendo tão em paz, lembra
Martha, decidimos, ali mesmo, naquele momento, que se pudéssemos,
ajudaríamos outros velhinhos solitários a encontrar a mesma paz – nós
ajudaríamos!
MORTIMER: Todo ouvidos. Ele caiu morto nesta cadeira! Que horror para vocês!
22
MARTHA: Não, querido. Foi como nos velhos tempos. Seu avô sempre tinha um
cadáver ou dois pela casa. Teddy estava cavando no Panamá e pensou que o Sr.
Midgely era uma vítima de Febre Amarela.
ABBY: E isto significava que ele tinha que ser enterrado imediatamente.
MORTIMER: E foi assim que tudo começou – aquele homem entrando aqui e
caindo morto.
ABBY: Claro que nós vimos que não podíamos esperar que isso acontecesse de
novo. Então...
MARTHA: Vai para Mortimer. Você se lembra daqueles vidros de veneno que
ficaram todos estes anos na estante do laboratório do vovô?
ABBY: Você conhece o jeito da tia Martha para misturar as coisas. Você já comeu
bastante do picles que ela faz.
MARTHA: Indo para trás. Bem, tenho que começar a fazer o jantar venha Abby.
Vou experimentar uma nova receita. Martha sai para a cozinha.
23
MORTIMER: Ah, é você. Ele vai para a frente.
ELAINE: Vai até ele e segura sua mão. Não fique zangado, meu bem. Mamãe
viu que eu estava agitada e então contei a ele sobre nós e isto atrasou minha
saída. Mas, escute, meu bem – ela não vai me esperar esta noite.
ELAINE: Amanhã?
MORTIMER: Não, não, não perdi o emprego. Só não vou poder assistir aquela
peça hoje. Empurrando-a para a porta de entrada. Agora, vá para casa, Elaine.
ELAINE: Mas eu tenho que saber o que aconteceu. Você tem que me contar.
MORTIMER: Casar?
MORTIMER: Vagamente. Pedi? Ah, sim. Por mim ainda está de pé. Agora quer
fazer o favor de ir embora daqui?
ELAINE: Escute aqui, você não pode me pedir em casamento num minuto e me
botar para fora da casa no minuto seguinte.
MORTIMER: Implorando. Eu não estou lhe botando para fora da casa, querida.
Quer fazer o favor de ir embora daqui?
ELAINE: Não, eu não vou embora daqui. Mortimer vai em direção à cozinha.
Elaine atravessa por baixo, para a arca. Não vou embora enquanto você não
24
me der uma explicação. Vai sentando-se na arca. Mortimer a agarra pela mão.
O telefone toca.
MORTIMER: Elaine! Vai para o telefone, arrastando Elaine com ele. Alô! Ah,
alô, Al, espere um minuto, sim? Está bem, é importante! Mas pode esperar um
minuto, não pode? Aguarde! Bota o fone na escrivaninha. Pega a bolsa de
Elaine e dá a ela. Pega Elaine pela mão e a dirige até a porta de entrada,
abrindo-a Olhe, Elaine, você é um amor e eu te adoro, mas estou preocupado
com uma coisa e quero que você vá para casa e espere até eu lhe telefonar.
ELAINE: E quando estivermos casados, se nos casarmos, espero que você não
seja tão inconveniente. Sai.
ABBY: Sou, sou a Sta. Brewster e esta é minha irmã, outra Sta. Brewster.
25
MORTIMER: No telefone. Alô. Deixe-me falar com Al, novamente. Redação.
Falando alto. Al!! RE-DA-ÇÃO! O QUÊ? Desculpe, é um engano.
Ele desliga e começa a discar novamente enquanto Gibbs olha para ele.
GIBBS: É
ABBY: Bem, Martha. Martha vai feliz para o aparador, pega a garrafa de vinho
do armário esquerdo e um cálice e os coloca na mesa. Abby conduz Gibbs
para a cadeira à direita da mesa e continua a falar com ele e pára à frente da
mesa. A senhora bateu na porta certa. Sente-se.
MORTIMER: No telefone. Alô, Al? É Mort. Fomos interrompidos. Al, eu não estou
em condições de assistir à peça hoje. É tudo que posso dizer – não estou em
condições.
26
MARTHA: Oh, ele não mora conosco.
Abby senta-se atrás da mesa.
MORTIMER: No telefone. Mas tem que ter alguém aí. Ei, Al, e o boy? Você sabe,
aquele espertinho – aquele que a gente não gosta. Procure por aí. Eu espero.
MORTIMER: No telefone. Tem que ter algum tipógrafo aí. Olhe, Al, aquele que
compõe o meu texto. Ele há de saber o que eu escreveria. Seu nome é Joe. A
terceira máquina à esquerda. Mas, Al, ele pode vir a ser um grande crítico de
teatro.
MORTIMER: Erguendo-se. Não, não estou bebendo, mas vou começar agora.
ABBY: Podemos servir, mas primeiro veja se a senhora gosta do nosso vinho.
MARTHA: Vendo Mortimer se servindo de vinho. Mortimer, êi, êi, êi, êi...
Gibbs pára e olha para ela. Mortimer não presta atenção. Êi, êi, êi, êi...
ABBY: Alcançando Mortimer e puxando sua mão para baixo quando ele leva
o cálice aos lábios com a mão esquerda. Mortimer. Este não.
Mortimer, ainda embotado, coloca seu copo na mesa. Subitamente ele vê
Gibbs que levou seu copo aos lábios e vai beber. Aponta para Gibbs e dá um
grito selvagem. Gibbs olha para ele, abaixando o copo. Mortimer, ainda
27
apontando para Gibbs, passa por trás da mesa em direção a ele. Gibbs,
vendo um louco, levanta-se devagar e recua para o centro. Então volta-se e
corre para a porta de entrada. Mortimer segue-o. Gibbs abre a porta e
Mortimer o empurra para fora fechando a porta. Ele se vira e encosta na
porta, exausto mas aliviado. Enquanto isto, Martha se levantou e foi para a
cadeira de braço e Abby foi para a frente, no centro.
MORTIMER: Durante a saída de Gibbs, fala: Saia daqui – Você quer ser
envenenada? Quer ser morta? Quer ser assassinada?
ABBY: Muito desapontada. Você estragou tudo. Vai para o sofá e senta-se.
Martha senta-se na cadeira de braço. Mortimer vai para o centro e olha de
uma para outra.
MORTIMER: falando para Abby. Vocês não podem fazer uma coisa dessas. Não
sei como explicar a vocês, mas não é que seja somente contra a lei. É errado!
Agora para Martha. Não é uma coisa boa. Martha vira-lhe as costas como
Abby o fez quando Mortimer falou com ela. As pessoas não entenderiam.
Aponta para porta por onde saiu Gibbs. Ela não entenderia.
MORTIMER: O que quero dizer... é que isto se transformou num péssimo hábito.
ABBY: Levantando. Mortimer, nós não tentamos impedir você de fazer as coisas
que gosta de fazer. Não vejo porque você tem que interferir conosco. Vai para
frente da mesa. O telefone toca.
MORTIMER: Não façam nada. Por favor, não façam nada. Não deixem ninguém
entrar nesta casa – e deixem o Sr. Hoskins exatamente onde está.
MORTIMER: Preciso de tempo para pensar. E tenho muita coisa para pensar.
Vocês sabem que eu não quero que aconteça nada a vocês.
28
MORTIMER: Fora de si. De qualquer modo, vocês fazem isto por mim, não
fazem?
MORTIMER: Cultos?
MARTHA: Meio indignada. É claro! Você acha que seríamos capazes de enterrar
o Sr. Hoskins, sem um culto metodista completo? Ele era um metodista.
ABBY: Ah, Mortimer, você vai gostar dos cultos, principalmente dos hinos. Para
Martha. Lembra como Mortimer cantava bem no coro, antes da sua voz mudar?
MARTHA: Bem...
ABBY: Ah, Martha, podemos prometer, agora que Mortimer está cooperando
conosco. Para Mortimer. Bem, está bem, Mortimer.
MORTIMER: Suspira com alívio. Vai para o sofá e pega seu chapéu. Indo
para a porta de entrada. Vocês têm algum papel? Volto assim que puder. Tira os
formulários do bolso do casaco enquanto anda. Tenho que ver uma pessoa.
ABBY: Indo à escrivaninha pegar papel de carta. Tenho papel de carta. Serve?
Dá para ele.
As tias o acompanham com o olhar. Martha vai fechar a porta. Abby vai ao
aparador e traz dois castiçais para a mesa. Pega fósforos no aparador.
Acende as velas durante as falas.
29
ABBY: Ele acabou de ficar noivo. Acho que isto sempre deixa um homem
nervoso.
MARTHA: No centro. Ah, Abby, se Mortimer vai voltar para o culto do Sr. Hoskins
vamos precisar de outro hinário. Tem um no meu quarto. Ela começa a subir
para o primeiro patamar.
ABBY: Você sabe, querida, na verdade é minha vez de ler o culto, mas como
você não estava aqui quando o senhor Hoskins chegou, eu quero que você leia.
MARTHA: Acho que vou usar minha roupa de bombazina preta e o broche da
mamãe. Volta a subir quando a campainha toca.
ABBY: Tentando ver através das cortinas dos painéis da porta. Quem será?
ABBY: Deixa eu ver. Corre para cima. Batem na porta. Abby olha pelas
cortinas.
30
fosse familiar. Olha em todas as direções menos a da escada. Há algo de
sinistro nele – alguma coisa que dá um ligeiro arrepio em sua presença. E
está na sua maneira de andar, no seu comportamento e na sua estranha
semelhança com Boris Karloff. Do patamar, Abby e Martha o observam,
quase com medo de falar. Depois de examinar a sala, o homem vira e se
dirige a alguém fora.
O Dr. Einstein entra. Ele tem uma aparência desagradável. Sua cara traz o
sorriso benevolente de um homem que vive mergulhando numa agradável
névoa de álcool. Algo nele sugere um padre que largou a batina. Ele para na
porta, tímido mas esperançoso.
JONATHAN: Esta é a casa da minha juventude. Quando era menino não via a
hora de fugir daqui. Agora estou contente de fugir para cá.
EINSTEIN: Ja, estou com fome. Subitamente vendo o bezerro gordo na forma
dos dois copos de vinho na mesa. Olhe, Chonny! Bebida! Corre para a frente
da mesa, Jonathan para trás.
JONATHAN: Parece até que estavam nos esperando. Bom sinal. Levam os
copos aos lábios enquanto Abby desce alguns degraus e fala.
Os dois baixam os copos. Einstein pega seu chapéu na cadeira, pronto para
correr.
JONATHAN: Virando-se para Abby. Tia Abby! Tia Martha! Sou eu, Jonathan.
ABBY: Não, não é não. Você não tem nada do Jonathan, portanto não finja que é
ele. Saiam daqui.
31
JONATHAN: Chegando mais perto. Mas eu sou Jonathan. Indicando Einstein.
E este é o Dr. Einstein.
ABBY: Desce mais um degrau. Quem é você? Você não é o nosso sobrinho
Jonathan.
JONATHAN: Dando uma olhada na mão esticada de Abby. Vejo que você
ainda usa o lindo anel de granada que vovô Brewster comprou na Inglaterra.
Abby engole em seco, olha o anel. E a senhora, tia Martha, ainda usa a gola
alta, para esconder a cicatriz onde o ácido do vovô lhe queimou. Martha leva a
mão à garganta. As tias olham para Jonathan. Martha desce alguns degraus
ficando atrás de Abby. Einstein vai para o centro.
JONATHAN: Com a mão do lado da cara. Não – fechando a cara – Minha cara
– o Dr. Einstein é responsável por isto. Ele é um cirurgião plástico. Ele muda a
cara das pessoas.
MARTHA: Desce até Abby. Mas eu já vi esta cara antes. Para Abby. Abby,
lembra quando nós levamos o pequeno Schultz ao cinema e morremos de medo?
Era esta cara!
EINSTEIN: Vai para o centro e dirige-se às tias. Calma, Chonny, calma. Não se
preocupem, senhoras. Nos últimos cinco anos eu dei a Chonny três caras novas.
Vou dar outra imediatamente. Está última – bem, eu vi o filme também – logo
antes de operar. E eu tinha bebido um pouco.
32
ABBY: Bem, Jonathan – faz muito tempo – o que você fez todos estes anos?
MARTHA: Foi para a frente direita, bem no canto. É Jonathan, onde você tem
estado?
MARTHA: Para dizer alguma coisa. Nós achamos Chicago muito quente.
EINSTEIN: Que passou por trás, à esquerda e para a frente da mesa. Ja,
também ficou muito quente para nós.
ABBY: Oh! Teddy está bem! Muito bem! E Mortimer também está bem.
ABBY: Bem, Martha, não podemos deixar queimar a comida no fogão. Começa a
andar para a cozinha e então vê que Martha não está indo. Ela volta e dá um
puxão em Martha e aí vai de novo para a cozinha.
MARTHA: Segue até o centro e fala com Jonathan. Vocês nos desculpem um
minuto, Jonathan. A não ser que estejam com pressa de ir a algum lugar.
33
Jonathan olha para ela com ar maligno. Martha passa por trás da mesa, pega
a garrafa de vinho e coloca de volta no aparador, e então sai com Abby.
Esta, que estava esperando por Martha na porta da cozinha, fecha a porta
depois de passarem.
EINSTEIN: Mas você não pode deixar um cadáver no banco de trás do carro.
Você não devia tê-lo assassinado. Ele era um sujeito legal – dá uma carona para
nós – e o que acontece?
EINSTEIN: Chonny – eu antes tenho que comer. Estou com fome. Estou fraco.
As tias entram da cozinha. Abby vai até Jonathan no centro. Martha fica na
porta da cozinha.
ABBY: Jonathan estamos contentes que você tenha lembrado de nós e tenha se
dado ao trabalho de vir aqui para nos ver. Mas você nunca foi feliz nesta casa e
nós nunca fomos felizes enquanto você estava aqui. Por isso nós só queremos lhe
dizer adeus.
JONATHAN - Mas fico desapontado pelo meu amigo Dr. Einstein. Einstein fica
meio surpreso. Eu prometi a ele, que mesmo que a gente estivesse passando
pelo Brooklyn rapidamente, eu arranjaria um tempinho para trazê-lo aqui para um
dos jantares caseiros de tia Martha.
ABBY: Recuando para a esquerda, ao fundo. Sinto muito. Acho que não dá
para todos.
34
MARTHA: Abby, é uma carne assada bem grande.
ABBY: Recuando para a porta da cozinha, nem um pouco satisfeita. Bem, nós
vamos apressá-lo.
ABBY: Existe. Exatamente como ele deixou. Bem, vou ajudar Martha a preparar
as coisas. Já que todos estamos com pressa. Sai para a cozinha.
EINSTEIN: Indo para o fundo. Bem, pelo menos já garantimos uma refeição.
JONATHAN: Depois que o senhor resolver meu caso, podemos fazer uma fortuna
aqui. O laboratório – uma grande enfermaria no sótão - dez camas, doutor. E
Brooklyn esta implorando pelo seu talento.
JONATHAN: Você não conhece esta cidade, doutor. Praticamente todo mundo no
Brooklyn precisa de uma cara nova.
EINSTEIN: Devagar, Chonny. Suas tias – elas não querem a gente aqui.
35
EINSTEIN: Ja – mas, e depois do jantar?
JONATHAN: Indo para o sofá. Deixe comigo, doutor. Eu cuido disso. Esta casa
será nosso quartel-general por muito tempo.
EINSTEIN: Achando boa idéia. Seria ótimo, Chonny. Esta casa quieta e
simpática. E essas suas tias - que senhoras amáveis. Eu já gosto delas. Vou
pegar as malas, Ja.
EINSTEIN: Tira uma garrafa do bolso da calça, abre, enquanto vai para arca.
É como tornar realidade um lindo sonho. Só espero que você não esteja
sonhando. Estende-se na arca, tomando um trago. É tão cheio de paz.
JONATHAN: Estirado no sofá. Isso é o que faz esta casa perfeita para nós – é
cheia de paz.
36
SEGUNDO ATO
JONATHAN: É tias, estes cinco anos em Chicago foram dos mais trabalhosos e
felizes da minha vida. Mas foi meu encontro com o Dr. Einstein, em Londres, que
mudou completamente minha vida. Você se lembra que eu estive na África do Sul,
trabalhando com diamantes – depois em Amsterdam, para vendê-los. Eu queria
voltar à África do Sul – e o Dr. Einstein tornou possível o meu desejo.
EINSTEIN: Foi mesmo um belo trabalho, hein Chonny? Para as tias. Quando
tiramos as ataduras, o rosto dele estava tão diferente, que a enfermeira teve que
me apresentá-lo.
ABBY: É mais parecido com o que você era, mas ainda assim eu não o
reconheceria.
ABBY: Levantando-se. Bem, eu sei que vocês dois querem ir... seja lá onde for.
JONATHAN: Relaxando mais ainda. Minhas queridas tias – estou tão cheio
daquele delicioso jantar que sou incapaz de mexer um dedo.
37
TEDDY: A história da minha vida – minha biografia. Atravessa para trás, à
esquerda de Einstein. Olha aqui a foto de que eu lhe falei, General. Coloca o
livro aberto sobre a mesa, mostrando a foto a Einstein. Aqui estamos, nós
dois. “Presidente Roosevelt e General Goethals no Passo de Culebra”. Este sou
eu, General, e este é o senhor.
JONATHAN: No porão?
TEDDY: Não – você não é Wilson. Mas seu rosto me é familiar. Deixa ver – você
não é ninguém que eu já conheça. Talvez mais tarde, na minha caçada pela África
– sim, você parece alguém que eu possa encontrar na selva. Jonathan se
contrai.
ABBY: Passa pela frente de Teddy, ficando entre ele e Jonathan. É seu irmão
Jonathan, querido.
38
ABBY: E talvez seja melhor você ir para a cama, Teddy. Jonathan e o amigo dele
têm que ir para o hotel.
EINSTEIN: Bota o chapéu que é muito grande para ele. Vai até a porta do
porão onde para e fala. Bem – “bon voyage”. Sai, fechando a porta.
JONATHAN: Tia Abby, tenho que corrigi-la. A senhora entendeu mal. Nós não
estamos em nenhum hotel. Nós viemos direto para cá.
ABBY: Mas, Jonathan, você não pode ficar aqui. Nós precisamos dos quartos.
ABBY: Não, Jonathan, eu acho que você não pode ficar aqui.
39
primeiro. Jonathan dá meia volta e atravessa pela frente da mesa até Abby,
no centro.
Dr. Einstein e eu precisamos de um lugar para dormir. Vocês lembraram, esta
tarde, que eu sabia ser muito desagradável quando era menino. Não seria nada
bom para nenhum de nós se...
ABBY: Nós o conservamos arrumado para mostrar aos inquilinos. Acho que você
e o Dr. Einstein vão achá-lo confortável. Jonathan acompanha-as ao primeiro
andar e se debruça no corrimão. As tias estão no balcão.
ABBY: Jonathan, nós não vamos deixar você transformar esta casa num hospital.
JONATHAN: Dr. Einstein – minhas queridas tias nos convidaram para morar com
elas.
MARTHA: Bem...
ABBY: Só esta noite. Elas saem, passando pelo arco. Jonathan vem até o pé
da escada.
40
JONATHAN: O quê?
EINSTEIN: Dá certinho para o Sr. Spenalzo. É um buraco que Teddy cavou. Dois
metros de comprimento por um de largura.
EINSTEIN: Parece até que eles sabiam que nós estávamos trazendo o Sr.
Spenalzo. Isto é que é hospitalidade!
JONATHAN: Vai para frente. É... não podemos simplesmente entrar com ele pela
porta. Ele vê a janela na parede esquerda. Vamos colocar o carro entre a casa e
o cemitério – aí, quando eles tiverem ido para a cama, trazemos o Sr. Spenalzo
pela janela.
EINSTEIN: Tirando a garrafa do bolso. Cama! Pense nisso, temos uma cama
esta noite! Começa a beber sofregamente.
JONATHAN: Segurando seu braço. Calma, doutor. Lembre-se que o senhor vai
operar amanhã. E desta vez é melhor estar sóbrio.
ABBY: Ela e Martha entram no balcão. Jonathan! Seu quarto está pronto.
JONATHAN: Então podem ir dormir. Vamos trazer o carro para trás da casa.
JONATHAN: Einstein abriu a porta. Não quero deixá-lo na rua – pode ser contra
a lei. Einstein o segue. Abby e Martha descem e vão para a frente da mesa.
41
ABBY: Bom, para começar, não vamos deixar que fiquem mais do que esta noite.
O que é que os vizinhos iriam pensar? Gente entrando aqui com uma cara e
saindo com outra. Ela chegou à mesa. Martha está à sua direita.
ABBY: Vai até a arca. Martha a segue. Ah. O Sr. Hoskins. Não deve estar muito
confortável para ele ali dentro. E tem sido tão paciente, pobrezinho. Acho que é
melhor Teddy levá-lo para o porão imediatamente.
ABBY: Ah, não, de jeito nenhum. Vamos esperar até eles irem dormir e aí, então,
descemos para o culto.
TEDDY: Vem do porão, pega o livro da mesa e se dirige para a direita. Abby
o faz parar no centro. O general Goethals ficou muito satisfeito. Disse que o
canal é do tamanho exato.
ABBY: Chega para o centro. Teddy! Teddy! Há mais uma vítima de febre
amarela.
TEDDY: Tira o pince-nez. Meu Deus, vai ser um choque para o General.
ABBY: Não, nós não podemos contar para ele. Seria um aborrecimento para ele e
não se faz isso com uma visita.
TEDDY: Desculpe, tia Abby. Mas não posso agir de outra maneira. Ele vai ter que
saber. Regulamento do Exército, a senhora sabe.
MARTHA: Promete?
TEDDY: Que pedido tolo. Vocês têm a palavra do Presidente dos Estados
Unidos. Por tudo que há de mais sagrado. Gesto relativo ao juramento. Bom,
vamos ver... Põe o pince-nez e abraça as duas tias. Como é que nós vamos
manter o segredo?
42
ABBY: Bem, Teddy, você vai para o porão e quando eu apagar as luzes – quando
estiver tudo escuro – você volta e leva o pobre homem para o canal.
Empurrando-o em direção à porta do porão, que ele abre. Agora vai, Teddy.
MARTHA: Seguindo-os. E nós vamos descer mais tarde para celebrar o culto.
TEDDY: Na porta. Vocês podem anunciar que o Presidente vai dizer algumas
palavras. Começa a sair e volta. Onde está o pobre coitado?
MARTHA: Na arca.
TEDDY: Parece que ela está se alastrando. Nunca tivemos febre amarela na arca
antes. Sai, fechando a porta.
MARTHA: Sim. Aí, quando estiverem dormindo, estaremos prontas para o culto.
Lembrando-se subitamente. Abby, eu nunca vi o Sr. Hoskins.
ABBY: Oh, meu Deus, é verdade – você não estava em casa. Bem, venha até
aqui e dê uma olhada nele. Vão até a arca. Abby primeiro. Para um metodista,
até que ele é bem bonito! Quando vão abrir a arca, Jonathan abre a janela por
fora fazendo um barulhão. As tias gritam e se afastam. Jonathan põe a cara
na janela.
ABBY: Agora no centro. Jonathan, seu quarto espera por você. Pode subir já.
Einstein faz entrar pela janela duas malas empoeiradas e uma maleta de
instrumentos cirúrgicos. Jonathan pega-as e coloca-as no chão.
ABBY: Bem, vocês devem estar muito cansados – nós não costumamos dormir
assim tão cedo.
JONATHAN: Bem, mas deveriam. Já era tempo de eu vir para casa tomar conta
de vocês.
JONATHAN: Autoritário. Tia Martha, eu disse para irem dormir. Martha começa
a subir enquanto Einstein entra pela janela e pega as duas malas. Jonathan
pega a maleta de instrumentos e coloca-a em cima da arca. Os instrumentos
podem ir para o laboratório amanhã de manhã. Einstein começa a subir.
43
Jonathan fecha a janela. Martha está no meio da escada quando Einstein
passa por ela. Abby está no centro à direita.
Agora, então, vamos todos para a cama. Ele se dirige para o centro.
ABBY: Vai para frente à direita, junto ao comutador de luz. Quando vocês
chegarem lá em cima, eu apago as luzes.
Abby Apaga a luz, deixando o palco escuro, exceto por um spot iluminando
a escada a partir do arco. Abby sobe até sua porta onde Martha a espera. Ela
dá um último olhar amedrontado para Jonathan e sai. Martha fecha a porta.
Jonathan passa pelo arco, fechando a porta, apagando o spot. Uma luz da
rua brilha através da porta principal à direita do palco. Teddy abre a porta do
porão, acende a luz do porão, desenhando sua silhueta no umbral da porta.
Dirige-se à arca e abre-a – a tampa da arca range, como de costume. Retira o
Sr. Hoskins e o coloca sobre os ombros, deixando a arca aberta. Dirige-se
para a porta do porão descendo com o cadáver. Fecha a porta. Jonathan e
Einstein passam pelo arco. A sala está às escuras. Acendem fósforos e
param junto à porta das tias para ver se há ruído.
EINSTEIN: Nein, é muito pesado para mim. Você vai lá fora e empurra – eu fico
aqui e puxo. Depois nós dois juntos o levamos para o Panamá.
EINSTEIN: Certo.
44
exclamações e barulho. Einstein caiu dentro da arca. Acende outro fósforo e
bem devagar se põe sentado e olha em torno. Apaga o fósforo com um
sopro e, com esforço sai de dentro da arca. Quem deixou isto aberto?
Dummkopf!
Ouve-se o rangido da tampa quando ela fecha. No escuro ouve-se uma
batida na janela à esquerda. Einstein abre-a e fala, sussurrando.
Chonny? O.K. Vamos lá. Uuup. Espere... espere um minuto... Falta uma perna...
Achrr... agora eu peguei... Vem... hããã. Ele cai no chão e ouve-se o barulho de
um corpo e o som de um “ ssshhhiu” vindo de fora.
Fui eu, Chonny. Eu escorreguei.
Pausa
EINSTEIN: Ih, o sapato dele caiu. Pausa. Pronto, Chonny. Já apanhei. Batem na
porta de entrada. Chonny! Alguém está batendo. Vá rápido. Não. Eu dou um jeito
aqui – vá rápido.
45
Você escolheu uma hora um tanto estranha para uma visita.
Ele se dirige à arca, buscar Spenalzo, mas não o vê. Olha para trás da mesa.
Olha para fora, pela janela e volta para a sala.
ELAINE: Vocês não moram aqui. Eu venho aqui todos os dias e nunca vi vocês.
Assustada. Onde estão D. Abby e D. Martha? O que vocês fizeram com elas?
JONATHAN: Dando um passo para frente da mesa. Acho que é melhor nós nos
apresentarmos. Este... indicando ... é o Dr. Einstein.
ELAINE: Olha para Einstein. Dr. Einstein? Vira-se de novo para Jonathan.
Einstein, atrás dela, gesticula para Jonathan indicando onde está Spenalzo.
ELAINE: Afastando-se para trás, quase com pavor. Ah, você é Jonathan!
ELAINE: Disseram apenas que havia outro irmão chamado Jonathan. Foi só.
Acalmando-se. Isto explica tudo. Agora que sei que você é... Corre para a porta
de entrada. Vou embora para casa. A porta está trancada. Ela se volta para
Jonathan. Se você, por favor, abrir a porta.
46
ELAINE: Pensei ter visto alguém rondando a casa. Devia ser você.
ELAINE: Vi. Vocês não estavam lá fora? Aquele carro não é de vocês?
ELAINE: Vi.
ELAINE: Só vi isso... só isso. Então eu vim aqui. Queria avisar D. Abby para que
ela chamasse a polícia. Mas se era você, e se aquele é o seu carro, não preciso
incomodar D. Abby. Já vou indo. Dá um passo em direção à porta por trás de
Jonathan.
EINSTEIN: Indo para trás, no centro, à direita. Acho que ela está falando a
verdade, Chonny. Vamos deixá-la ir agora, hein?
JONATHAN: Doutor...
Enquanto Einstein vai para a esquerda, Teddy sai do porão, batendo a porta.
Olha para Jonathan à esquerda e fala para Einstein à direita.
47
TEDDY: Inocentemente. Vai ser um funeral particular. Sobe ao primeiro
patamar. Elaine vai até a escrivaninha, arrastando Jonathan com ela.
TEDDY: Volta-se e olha para ela. Esta é minha filha – Alice. Grita “Atacar!” Sobe
as escadas correndo e sai.
JONATHAN: Torce o braço de Elaine para trás. Sua outra mão lhe tapa a
boca. Doutor! Seu lenço!
Quando Einstein lhe estende o lenço, Jonathan tira a mão da boca de Elaine.
Ela grita. Ele tapa-lhe a boca de novo. Olha a porta do porão e diz a Einstein.
O porão!
Einstein corre e abre a porta do porão. Aí volta e apaga a luz, deixando o
palco às escuras. Jonathan empurra Elaine através da porta do porão.
Einstein volta e desce as escadas do porão com Elaine. Jonathan fecha a
porta, ficando no palco ao mesmo tempo em que as tias surgem no balcão
superior com seus trajes para os funerais. Está completamente escuro a não
ser pela luz da rua.
JONATHAN: Nós já chamamos. E vamos cuidar disso. Volte para o seu quarto.
Entendeu?
48
MORTIMER: No teatro. E devia ter pensado duas vezes antes de ir. Vê Jonathan.
Meu Deus! Ainda estou lá!
MORTIMER: Observando as tias todas vestidas de preto. Eu sei que não estou
tendo um pesadelo, mas o que é isto, então?
MORTIMER: Olhando para ele e depois para Abby. Quem você disse que ele
era?
ABBY: Seu irmão Jonathan. Mudou de rosto. O Dr. Einstein fez a operação.
JONATHAN: Mortimer, você se esqueceu das coisas que eu fazia com você
quando nós éramos meninos? Lembra-se de quando você ficou amarrado no pé
da cama? – as agulhas enfiadas embaixo das suas unhas?
Jonathan está cada vez mais tenso. Abby se coloca entre os dois.
ABBY: Meninos, não comecem a brigar de novo quando ainda mal acabaram de
se encontrar.
MORTIMER: Dirige-se a porta e abre-a. Não vai haver briga nenhuma, tia Abby.
Jonathan, ninguém te quer aqui. Dê o fora!
49
ABBY: Mas nós o convidamos para ficar esta noite e não podemos voltar atrás.
MORTIMER: Contra a vontade. Está bem, esta noite. Mas amanhã de manhã, a
primeira coisa é... fora! Pega a mala. Onde eles vão dormir?
JONATHAN: Por falar nisso, doutor, perdi o Sr. Spenalzo de vista completamente.
50
EINSTEIN: Do patamar. Um amigo nosso que Chonny está procurando.
ABBY: Indo para frente. Mortimer, você não precisa dormir aqui embaixo. Eu
posso ir dormir com Martha e você fica no meu quarto.
MORTIMER: Vai até o sofá. Martha vai atrás da cadeira de braços à esquerda
da mesa e enquanto Mortimer fala, ela pega o sapato de Spenalzo que
Einstein colocou ali enquanto estava tudo escuro, sem que ninguém
notasse. Ela finge ajeitar a barra do vestido. Você está perdendo seu tempo –
eu lhe disse que vou dormir aqui.
MORTIMER: Você quase foi... Olha rápido para as tias. Abby! Martha!
ELAINE: Não, foi pior do que isso. Ele é um louco. Mortimer, estou com medo
dele.
MORTIMER: Querida, você está tremendo. Senta-a no sofá. Para as tias. Vocês
não têm aí alguns sais?
51
ABBY: Tira o chapéu e as luvas e coloca-os sobre o armário, enquanto fala
com Martha ao mesmo tempo. Martha, podemos deixar nossos chapéus aqui
embaixo, agora.
MORTIMER: Vocês não iam sair, iam? Sabem que horas são? Já passa da meia-
noite. A palavra meia-noite o alerta. “Meia-noite!” Ele se volta para Elaine.
Elaine, você tem que ir para casa.
ELAINE: O quê?
ABBY: Ora, vocês queriam sanduíche. Não vai levar nenhum minuto. Sai para a
cozinha.
MARTHA: Passa por ele com o sapato na mão. Mas vocês não se lembram...
que queríamos celebrar o noivado de vocês? Ela acentua a palavra “noivado”
apontando com o sapato para as costas de Mortimer. Ela olha aturdida para
o sapato, imaginando como aquele sapato foi parar na mão dela. Observa-o
por um momento. Os outros dois nada percebem, é claro. Então o coloca
sobre a mesa. Finalmente, desistindo de compreender o fato, volta-se de
novo para Mortimer. É isto que vamos fazer, querido. Vamos fazer uma boa ceia
para vocês dois. Dirige-se para a porta da cozinha e se volta. E vamos celebrar
com um copo de vinho. Sai pela porta da cozinha.
MORTIMER: Desconfiado. O que você que dizer com... “o que está acontecendo
nesta casa”?
ELAINE: Você tinha combinado de me levar para jantar, e ao teatro, esta noite...
você cancelou. Me pediu em casamento – eu aceitei – e cinco minutos depois
você me pôs para fora daqui. E agora, logo depois de seu irmão ter tentado me
estrangular, você quer me mandar para casa. Ouça, Sr. Brewster – antes de ir
para casa, eu quero saber como é que eu fico, afinal. Você me ama?
52
MORTIMER: Acho que não, mas é só uma questão de tempo. Sentam-se no
sofá enquanto Mortimer começa a explicar. Olha, a loucura reina em minha
família. Olha para cima e em direção à cozinha. É a rainha absoluta. É por isso
que eu não posso casar com você, querida.
MORTIMER: Não, meu bem – há uma mancha no sangue dos Brewster. Se você
realmente conhecesse minha família...
MORTIMER: Não, isto vai mais longe. O primeiro Brewster... o que veio com o
Mayflower. Você sabe que naquela época os índios escalpelavam os
colonizadores... pois ele escalpelava os índios.
ELAINE: Ele não era tão louco assim. Ele ganhou um milhão de dólares.
MORTIMER: E também há Jonathan. Você acabou de dizer que ele era um louco
– ele tentou matá-la.
ELAINE: Levanta-se e vai até ele. Mas ele é seu irmão, não é você. E eu amo
você.
MORTIMER: E tem Teddy também. Você conhece Teddy. Ele pensa que é
Roosevelt. Não, querida, nenhum Brewster devia se casar. Vejo agora que se
tivesse encontrado meu pai a tempo, eu o teria impedido de se casar.
ELAINE: Bom, querido, mas tudo isto não prova que você é louco. Olhe suas tias
– elas são Brewster, não são? – e são as pessoas mais saudáveis e delicadas que
eu conheço.
MORTIMER: Vendo que Elaine está de costas para ele, levanta a tampa da
arca para dar uma olhada e vê Spenalzo no lugar de Hoskins. Fecha a arca
53
de novo. Apoia-se na mesa e debruça-se sobre ela e diz para si mesmo. Tem
outro!
ELAINE: Voltando-se para ele. Oh, Mortimer, você não pode falar nada das suas
tias.
MORTIMER: Não, não vou falar. Indo para ela. Olha, Elaine, você tem que ir para
casa. Uma coisa muito importante acaba de acontecer.
MORTIMER: Sei que estou agindo de maneira irracional, mas considere o fato de
que eu sou um Brewster louco.
ELAINE: Se você pensa que vai se sair desta fingindo que é louco – você está
louco. Pode ser que você não case comigo, mas eu vou casar com você. Eu te
amo, seu idiota.
ELAINE: Bem, pelo menos me acompanhe até em casa, sim?Estou com medo.
MORTIMER: Olha para a porta sem saber o que fazer. Volta-se e aproxima-se
silenciosamente da porta da cozinha. Tia Abby! Tia Martha! Venham cá!
ABBY: Vindo da cozinha. Pronto, querido. O que foi? Onde está Elaine?
MORTIMER: Pensei que vocês tinham me prometido não deixar ninguém entrar
aqui na minha ausência.
54
As próximas falas se sobrepõem.
MORTIMER: Não estou falando do Dr. Einstein. Quem é aquele que está na arca?
MORTIMER: Abre a arca e dá um passo para trás, para a esquerda. Este não é
o Sr. Hoskins.
ABBY: Meio confusa, vai até a arca e olha para dentro, falando muito calma.
Quem pode ser?
MORTIMER: À direita de Abby. Você vai me dizer que nunca viu este homem?
ABBY: É! Que maneira de sermos apresentados! A coisa está de tal maneira que
todo mundo pensa que pode ir entrando porta adentro sem pedir licença.
MORTIMER: Tia Abby, não tente tirar o corpo fora. Este é mais um de seus
cavalheiros.
ABBY: Mortimer, como é que você diz uma coisa destas? Aquele homem é um
impostor. E se ele pensa que vai ser enterrado em nosso porão, está muito
enganado.
MORTIMER: Tia Abby, a senhora me disse que tinha posto o Sr. Hoskins na arca.
ABBY: Sim.
MORTIMER: Ora, este homem não pode simplesmente ter imitado o Sr. Hoskins.
Aliás... onde está ele? Olha em direção à porta do porão.
ABBY: Passa por trás da mesa para o centro. Ele deve ter ido para o Panamá.
ABBY: Não, ainda não. Ele está lá embaixo esperando o culto, coitado. Não
tivemos um minuto de folga com Jonathan em casa. Ao ouvir o nome de
Jonathan, Mortimer fecha a arca.
Oh, meu Deus, nós sempre quisemos ter um funeral duplo. Dirigindo-se para a
porta da cozinha. Mas eu não vou ler as orações para um estranho.
55
MORTIMER: Indo até ela. Um estranho! Como é que eu posso acreditar nisto, tia
Abby? Existem doze homens no porão e a senhora admite tê-los envenenado!
ABBY: É, eu envenenei. Mas não pense que eu vou me rebaixar dizendo uma
mentira. Vai para a cozinha. Martha!
MORTIMER: De pé diante dele. Você só terá mesmo tempo para uma palavrinha,
Jonathan, porque eu decidi que você e o seu amigo doutor vão ter que sair daqui o
mais rápido possível.
JONATHAN: Docemente. Estou contente de ver que você reconhece que nós
dois não podemos viver sob o mesmo teto... mas acho que você chegou a pior
solução. Pegue sua mala e caia fora!
MORTIMER: Indo até ele. Se pensa que eu estou com medo... se você pensa
que eu tenho medo de alguma coisa...
ABBY: Vindo da cozinha seguida por Martha. Martha, dê uma olhada e veja o
que está na arca.
56
Jonathan, você é meu irmão. Você é um Brewster. Vou te dar uma chance de
fugir, levando a prova do crime – você não pode exigir mais do que isto.
Jonathan não se mexe. Então terei que chamar a polícia. Vai até o telefone e
tira-o do gancho.
JONATHAN: Largue este telefone. Vai até a esquerda de Mortimer. Você ainda
me dá ordens, depois de ter visto o que aconteceu com o Sr. Spenalzo?
JONATHAN: Lembre-se de que o que houve com o Sr. Spenalzo pode acontecer
com você também.
Mortimer larga o telefone e vai para perto de O’Hara. Jonathan se vira para a
esquerda.
Mortimer dá alguns passos com O’Hara e fecha a porta. Abby vai para trás,
no centro. Martha está perto da escrivaninha. Jonathan está em frente do
sofá, à direita de Abby.
57
O’HARA: Passa na frente de Mortimer e faz um gesto para Jonathan com seu
cassetete. Prazer em conhecê-lo. Jonathan o ignora. O’Hara diz às tias.
Deve ser ótimo para as senhoras receberem a visita dos sobrinhos. Eles vão ficar
aqui algum tempo?
MORTIMER: Eu vou. Meu irmão Jonathan já está indo embora. Jonathan faz
menção de ir até a escada.
O’HARA: Seu rosto me é familiar. Talvez tenha visto uma foto sua em algum
lugar.
MORTIMER: Que pressa é esta? Gostaria que ficasse por aqui até o meu irmão
sair.
O’HARA: Vai até o centro da sala. Não se incomode. Tenho que me comunicar
com a delegacia daqui a pouco.
MORTIMER: Tome uma xícara de café conosco. Meu irmão não demora a ir
embora. Leva O’Hara para a frente da mesa até a cadeira de braço. Sente-se.
O’HARA: Me diga uma coisa... eu não vi uma foto de seu irmão em algum lugar?
MORTIMER: Pode ser que se pareça com alguém que você viu no cinema.
58
O’HARA: Eu nunca vou ao cinema. Detesto. Minha mãe diz que cinema é a arte
do demônio.
O’HARA: Sim. Minha mãe foi atriz – uma atriz de teatro. Talvez você tenha ouvido
falar nela – Peaches Latour.
MORTIMER: Me parece ter visto este nome num programa. O que ela
representou?
O’HARA: Bom, o grande sucesso dela foi “Mutt e Jeff”. Ficou três anos em
cartaz. Eu nasci numa tournée – na terceira temporada.
MORTIMER: É mesmo?
MORTIMER: Isto é que é ser atriz! Sua mãe deve dar uma história – eu escrevo
sobre teatro, sabe?
O’HARA: Ah, é? Não diga que você é Mortimer Brewster, o crítico teatral!
O’HARA: Bom, tem que ser. Com todos os dramas que eu vejo como guarda. Sr.
Brewster, o senhor não faz idéia das coisas que acontecem no Brooklyn.
59
MORTIMER: Acho que faço. Põe o sapato embaixo da cadeira, vê as horas e
olha em direção ao balcão.
Neste momento Jonathan entra no balcão, seguido pelo Dr. Einstein, cada
um traz uma mala. No mesmo instante Abby vem da cozinha. Embora o
guarda tenha sido útil, Mortimer não quer ouvir a história dele. Querendo
escapar, fala com Jonathan enquanto ele e Einstein descem as escadas.
MORTIMER: Ah, vocês já estão indo, não é? Ótimo. Vocês não têm muito tempo,
sabem?
O’HARA: Se recusando a sair. Mas eu ainda não estou saindo, Sr. Brewster.
MORTIMER: Não posso fazer isso, O’Hara. Não sou escritor de ficção.
60
O’HARA: Não senhor, Sr. Brewster. Não saio desta casa sem lhe contar a
história. Ele vai se sentar na arca.
MORTIMER: Nada disto. Você não pode sair ainda. Você sabe muito bem que
tem que levar tudo que é seu. Vira-se e vê O’Hara sentado na arca e corre para
ele. Olha, O’Hara, você vai saindo agora, sim? Meu irmão está...
MORTIMER: Não traga isto para cá. O’Hara, você nos acompanha para um
lanche na cozinha?
MARTHA: Na cozinha?
MARTHA: Que ótimo! Venha, sargento O’Hara. Sai para a cozinha. O’Hara
chega à porta da cozinha enquanto Abby fala.
ABBY: Adeus, Jonathan, foi ótimo revê-lo. O’Hara vai para a cozinha seguido
de Abby.
MORTIMER: Vai até a porta da cozinha, fecha-a e vira-se para Jonathan. Foi
bom você ter voltado ao Brooklyn, Jonathan, porque me dá a oportunidade de pô-
lo para fora – e o primeiro a sair é seu amiguinho, Sr. Spenalzo. Ele levanta a
tampa da arca. Quando faz isto, O’Hara, com um sanduíche na mão, vem da
cozinha. Mortimer larga a tampa.
61
JONATHAN: Põe a mala no chão e vai até a arca. Doutor, este negócio entre
meu irmão e eu tem que ser resolvido.
JONATHAN: Você não entende. Abre a arca. Isto vem de muito tempo.
JONATHAN: Irritado. Nós não vamos. Vamos dormir aqui esta noite.
JONATHAN: O cadáver é tudo que ele tem contra nós. Fecha a arca. Vamos
levar o Spenalzo lá para baixo e joga-lo na baía, e voltar logo – aí, se ele tentar
interferir... Vai para o centro, Einstein vai para a esquerda dele e o encara.
EINSTEIN: O.K.. Temos que ficar juntos. Vai até as malas. Vamos acabar na
cadeia juntos. Já que vamos voltar, temos que levar isto conosco?
JONATHAN: Não. Deixe-as aqui. Esconda no porão. Anda rápido! Ele leva as
malas para a esquerda do sofá enquanto Einstein vai ao porão com a maleta
de instrumentos. Spenalzo pode sair do mesmo jeito que entrou! Ajoelha-se na
arca e olha para fora. Quando vai abrir a arca, Einstein vem do porão meio
excitado.
JONATHAN: Sei.
62
EINSTEIN: Tem um presunto no buraco. Venha cá que eu te mostro. Os dois
descem para o porão. Jonathan fecha a porta.
MORTIMER: Jonathan !
MORTIMER: Não? Pensa que estou brincando? Quer que eu diga a O’Hara o que
tem dentro daquela arca?
JONATHAN: Se você disser a O’Hara o que tem naquela arca, conto para ele o
que tem no porão.
O’HARA: Voz em off. Não, obrigada, Sra. Brewster. Estavam deliciosos. Já comi
demais.
O’HARA: Vindo da cozinha. Olha, Sr. Brewster, suas tias também querem ouvir.
Posso chamá-las para cá?
MORTIMER: Puxando-o para a direita. Não O’Hara, agora não dá. Você tem que
contatar a delegacia.
63
O’HARA: Para no centro enquanto Mortimer abre a porta. Que se dane a base!
Vou chamar suas tias e contar a história para vocês. Dirige-se à porta da
cozinha.
MORTIMER: Agarrando-o. Não, O’Hara, na frente dessa gente toda não. Porque
não mais tarde? Porque não nos encontramos mais tarde em algum lugar?
MORTIMER: Passando O’Hara para a direita, por sua frente. Ótimo! Você vai
contatar a delegacia e eu te encontro no Kelly!
JONATHAN: Na arca. Por que vocês dois não vão para o porão?
O’HARA: Por mim tudo bem. Dirige-se à porta do porão. É aqui o porão?
O’HARA: Enquanto sai pela porta de entrada. Está bem, isto não leva nem dois
minutos. Sai.
JONATHAN: Vamos esperar por ele, doutor. Esperei muito tempo por uma
oportunidade dessas.
JONATHAN: Indo para a direita, no centro. Foi Mortimer, mas ele já volta.
Sobrou alguma coisa na cozinha? O Dr. Einstein e eu gostaríamos de beliscar
qualquer coisa.
ABBY: No centro. É, Mortimer não vai gostar se ainda encontrar vocês aqui.
64
EINSTEIN: Vindo para a frente, à direita. Ele vai gostar sim.. Ele tem que gostar.
JONATHAN: Arranjem alguma coisa pra gente comer enquanto enterramos o Sr.
Spenalzo no porão.
ABBY: Ele não pode ficar no nosso porão. Não, Jonathan, você tem que levá-lo
com você.
JONATHAN: Ele e o Sr. Spenalzo vão se entender muito bem. Os dois estão
mortos.
ABBY: Claro que sabemos. E ele não é amigo de Mortimer. Ele é um de nossos
cavalheiros.
ABBY: Além do mais não há lugar para o Sr. Spenalzo. O porão já está cheio.
JONATHAN: Doze?
ABBY: Assim sobra muito pouco espaço e nós vamos precisar de espaço.
65
ABBY: Apontando para fora. Portanto, podem ir tirando o Sr. Spenalzo daqui.
EINSTEIN: Chonny – nós fomos perseguidos no mundo inteiro – elas ficaram aqui
no Brooklyn e trabalham tão bem quanto você.
JONATHAN: Treze! Contando nos dedos. Tem o Sr. Spenalzo. O primeiro foi
em Londres – dois em Johannesburgo – um em Sidney – um em Melbourne – dois
em São Francisco – um em Fênix, no Arizona.
EINSTEIN: Fênix?
EINSTEIN: Mas você não pode contar o de South Bend. Ele morreu de
pneumonia.
JONATHAN: Ele não teria apanhado pneumonia se eu não tivesse dado um tiro
nele.
EINSTEIN: Não, Chonny. Você matou doze e elas mataram doze. Dirigindo-se
para as tias. As duas senhoras são tão eficientes quanto você.
As duas sorriem uma para outra, felizes.
JONATHAN: Vira-se, olhando para os três e fala ameaçador. Ah, é? Isto é fácil
de resolver. Só preciso de mais um, só isso, só mais um.
66
TERCEIRO ATO
Cena I
A mesma cena, mais tarde. A cortina se ergue e o palco está vazio. A arca
está aberta e vê-se que está vazia. A cadeira de braço foi levada para a
direita da mesa. Os reposteiros e cortinas estão fechados. Todas as portas,
exceto a do porão, estão fechadas. O hinário e as luvas pretas de Abby
estão no aparador, os de Martha em cima da mesa. A não ser isto, a sala é a
mesma. Enquanto a cortina sobe ouve-se uma barulhada vindo do porão
através da porta. Fala-se ao mesmo tempo, com excitação e raiva, até que as
tias aparecem no palco, vindas do porão.
ABBY: Esta é a nossa casa e este é o nosso porão! Você não pode fazer isto!
MARTHA: Não adianta fazer o que você está fazendo, porque vai ter de ser
desfeito.
ABBY: Nós não vamos aceitar isto e é melhor você parar imediatamente.
MARTHA: Vindo do porão. Está bem! Você vai ver! Você vai ver de quem é esta
casa. Vai até a porta de entrada e olha para fora. Fecha a porta.
ABBY: Que coisa horrível! Enterrar um bom metodista junto com um estrangeiro.
Vai para a arca.
MARTHA: Indo em direção à porta do porão. Não vou deixar que profanem o
nosso porão!
67
ABBY: Pára em frente da mesa. Andar por aí para conseguir assinaturas numa
hora destas!
MORTIMER: Para a porta do porão. Ah, está? Muito bem. Fecha a porta. Teddy
está no quarto dele?
MORTIMER: Vocês não deveriam Ter falado com Jonathan sobre as doze covas.
Se eu conseguir que Teddy fique responsável por elas, posso proteger vocês,
entendem?
ABBY: Não, não entendo. Nós pagamos impostos para ter a proteção da polícia
ABBY: Mortimer. Nós conhecemos a polícia melhor que você. Acho que se nós
pedirmos a eles, eles não vão se intrometer em nossos negócios particulares.
MORTIMER: Mas se eles acharem os outros doze, eles vão ter que fazer um
relatório para a delegacia.
68
MARTHA: Colocando as luvas. Eu não acho que eles vão se incomodar com
isto. Terão que fazer um relatório enorme, e se tem alguma coisa que um policial
detesta, é escrever.
MORTIMER: Vocês não podem contar muito com isto. A coisa pode transpirar – e
vocês não podem esperar que o juiz e o júri entendam!
MARTHA: Oh, Abby, nós temos que convidá-lo de novo. Para Mortimer. A
senhora dele morreu há alguns anos e ele ficou muito sozinho.
MORTIMER: Chega antes dela à porta. Não, vocês não podem fazer isto. Eu não
vou deixar. Vocês não vão sair desta casa nem trazer o juiz Gullman para o chá.
ABBY: Se você não fizer alguma coisa sobre o Sr. Spenalzo – nós vamos.
MORTIMER: Vou fazer alguma coisa. Podemos ter que chamar a polícia, mais
tarde, mas quando chamarmos quero estar pronto para eles.
ABBY: Olhando para Mortimer. Se pela manhã, eles não tiverem saído daqui,
nós vamos chamar a polícia, Mortimer.
MORTIMER: Do balcão. Eles vão sair! Eu prometo! Vão para cama, está bem? E
pelo amor de Deus, tirem essas roupas. Vocês parece atrizes de tragédia grega.
Sai fechando a porta. As tias o vêem sair.
ABBY: Se Mortimer vai mesmo fazer alguma coisa, isto significa que Jonathan
esta tendo um trabalho danado para nada. É melhor a gente dizer a ele. Abby vai
69
para a porta do porão e Jonathan aparece. Eles se encontram no fundo, no
centro, em frente ao sofá. As roupas dele estão sujas. Jonathan, é melhor
você parar com o que está fazendo.
ABBY: Bem, tudo vai ter que ser desfeito. Vocês vão sair desta casa até amanhã
de manhã, Mortimer prometeu.
JONATHAN: Ah, vamos? Neste caso, você e tia Martha podem ir para cama e
dormir sossegadas.
MARTHA: Sempre com medo de Jonathan, começa a subir. Sim, vamos, Abby.
Abby segue Martha, escada acima.
ABBY: Boa noite, não, Jonathan. Adeus. Quando nós acordarmos, você já terá
ido embora. Mortimer prometeu.
EINSTEIN: Bem! Tudo arrumado. Ninguém vai saber que eles estão lá em baixo.
Jonathan ainda está sentado sem se mover. Já estou sonhando com uma
cama. Faz 48 horas que não dormimos. Vai para a segunda cadeira. Vamos,
Chonny, vamos subir, está bem?
EINSTEIN: O que?
70
JONATHAN: Do meu irmão Mortimer.
JONATHAN: Amanhã você pode operar, mas hoje vamos cuidar de Mortimer.
JONATHAN: Doutor, olhe para mim. Dá para ver o que vai acontecer, não dá?
EINSTEIN: Recuando. Ach, Chonny, eu posso ver. Eu conheço este seu olhar!
EINSTEIN: O.K., vamos, então. Mas do modo rápido. Uma torcidinha rápida, como
em Londres. Ele “torce” o pescoço da vítima com suas mãos e faz barulho
sugerindo estrangulamento.
JONATHAN- Não, doutor. Eu acho que desta vez é um caso especial. Anda em
direção a Einstein, que escapa para o fundo do palco. Jonathan tem o olhar
de quem está antecipando um prazer. Acho que o melhor é o método de
Melbourne.
EINSTEIN: Chonny, isso não. Duas horas. E quando acabou, o que? O homem de
Londres estava tão morto quanto o de Melbourne.
JONATHAN: Em Londres nós tivemos que trabalhar depressa demais. Não deu
para sentir nenhum prazer estético. Mas Melbourne – Ah, este foi um momento
inesquecível!
71
EINSTEIN: Não, Chonny!
JONATHAN: Indo para a porta do porão. Pois vou encontrar, doutor. Sai para o
porão, fechando a porta. Teddy entra no balcão e levanta a corneta para
tocar, Mortimer corre e segura seu braço. Einstein corre para a porta do
porão. Fica lá enquanto Teddy e Mortimer falam.
TEDDY: Não posso assinar nenhuma proclamação sem consultar meu ministério.
TEDDY: Espere aqui. Uma proclamação secreta tem que ser assinada em
segredo.
TEDDY: Eu tenho que por a minha roupa de assinar proclamações. Sai. Mortimer
desce.
MORTIMER: Indo para o centro. Está bem, depois não diga que eu não avisei.
72
MORTIMER: As coisas vão começar a explodir aqui, a qualquer momento.
EINSTEIN: No fundo, à direita. Escute. Chonny está de mau humor! Quando ele
está assim, ele fica louco – coisas horríveis acontecem.
EINSTEIN: Ach, Himmel. As peças que você vê não lhe ensinam nada?
MORTIMER: Ele não tinha suficiente sensibilidade nem para ficar assustado, para
ficar em guarda. Por exemplo, os assassinos o convidam a sentar.
EINSTEIN: O quê?
73
EINSTEIN: Bem, porque não? Uma boa idéia. Muito lógica.
MORTIMER: Ver? Estava lá, sentado de costas. Esta é o tipo de asneira que
temos que agüentar todas as noites. Depois dizem que os críticos estão
assassinando o teatro – são os autores que estão acabando com ele. E ele fica
sentado lá, o imbecil completo – ele, que devia ser inteligente – esperando ser
amarrado e amordaçado.
Jonathan joga um laço feito com um dos cordões sobre o ombro de
Mortimer e amarra bem apertado. Ao mesmo tempo, joga o outro laço no
chão perto de Einstein. Simultaneamente, Einstein salta para Mortimer e o
amordaça com um lenço e então pega o cordão e amarra os pés de Mortimer
na cadeira.
EINSTEIN: Acabando de amarrar. Você tem razão sobre aquele sujeito – ele não
era muito esperto.
JONATHAN: Agora Mortimer, se você não se incomodar, nós vamos acabar com
a história. Vai ao aparador, pega os dois castiçais e os traz para a mesa. Fala,
enquanto acende as velas. Einstein fica ajoelhado, perto de Mortimer.
Jonathan acabou de acender as velas. Vai a direita e apaga a luz,
escurecendo o palco. Enquanto ele faz isto, Einstein levanta e vai até a arca.
Jonathan pega a maleta de instrumentos na porta do porão e a coloca na
mesa, abrindo-a e revelando vários instrumentos cirúrgicos, dentro e na
tampa. Agora, doutor, temos que trabalhar.
JONATHAN: Doutor! Isto deve ser uma realização artística. Afinal de contas,
estamos nos apresentando perante um crítico muito ilustre.
EINSTEIN: Chonny!
EINSTEIN: Vencido. Está bem. Vamos acabar com isto. Fecha o reposteiro
totalmente e senta na arca. Jonathan pega mais 4 ou 5 instrumentos e os
74
manuseia. Finalmente, tendo o equipamento necessário arrumado na toalha,
começa a colocar luvas de borracha.
EINSTEIN: Tenho que tomar um trago. Não posso fazer isto sem beber. Pega a
garrafa do bolso. Procura beber. Está vazia. Ergue-se.
EINSTEIN: Tenho que tomar um trago. Quando nós entramos aqui hoje, tinha
vinho aqui, lembra? Onde é que ela pôs? Olha para o aparador e lembra. Vai
até lá, abre o armário da esquerda e traz a garrafa e dois cálices para a frente
da mesa.
Olha, Chonny temos o que beber. Serve o vinho nos dois cálices, esvaziando a
garrafa. Mortimer assiste. É tudo que tem. Eu divido com você. Nós dois
precisamos de um trago. Dá um cálice a Jonathan e leva o seu aos lábios.
Jonathan faz com que pare.
JONATHAN: Um minuto, doutor. Onde estão suas boas maneiras? Vai para a
frente, à direita de Mortimer e olha para ele. É. Mortimer, agora é que eu vejo
que foi você que me trouxe de volta ao Brooklyn.
Ele olha para o vinho e passa o cálice de um lado para outro, cheirando.
Aparentemente decide que está tudo bem, pois levanta o copo.
Doutor, à saúde do meu querido irmãozinho morto.
Enquanto eles levam os cálices aos lábios, Teddy aparece no balcão e dá
um toque de corneta aterrorizante, Einstein e Jonathan deixam cair os
copos, derramando o vinho. Teddy vira-se e sai.
75
JONATHAN: Sim, doutor, a maneira rápida. Puxa um grande lenço de seda do
bolso e bota em volta do pescoço de Mortimer. Neste momento a porta se
abre e O’Hara entra, muito agitada.
O’HARA: Vai ser um inferno, amanhã de manhã. Prometemos aos vizinhos que
ele não faria mais isso!
O’HARA: É melhor eu mesma falar com ele. Onde é que acende a luz? Acende a
luz e sobe até o patamar e aí vê Mortimer. Ei! Você me deu o bolo! Esperei uma
hora no bar do Kelly por você.
Desce, vai até Mortimer e olha para ele. Fala com Jonathan e Einstein. O que
aconteceu com ele?
EINSTEIN: Raciocinando rápido. Ele estava explicando sobre a peça que viu
esta noite – o que aconteceu com o sujeito da peça.
O’HARA: Isto acontece na peça que você viu esta noite? Mortimer balança a
cabeça afirmativamente. Bolas, eles praticamente roubaram todo o 2º ato da
minha peça. Começa a explicar. Bem, no 2º ato, logo antes de...Vira de costas
para Mortimer. É melhor eu começar do começo. Começa no quarto de minha
mãe onde nasci – só que não nasci ainda.
Mortimer esfrega um sapato no outro para chamar a atenção de O’Hara.
Ahn? Ah, sim! Começa a tirar a mordaça de Mortimer e então decide não fazê-
lo.
Não, você tem que ouvir o enredo. Pega o banquinho e senta à direita de
Mortimer, continuando com seu enredo enquanto desce a cortina.
Mamãe está sentada lá se pintando e de repente entra um homem com um bigode
negro, vira para ela e diz “Srta. Latour, você se casaria comigo”? Ele não sabe que
ela está grávida.
CORTINA
Cena II
A mesma cena. Cedo no dia seguinte. Quando a cortina sobe, a luz do dia
está se infiltrando pelas janelas. Todas as portas estão fechadas. Todas as
cortinas abertas. Mortimer ainda está amarrado na cadeira e parece estar
semi-inconsciente. Jonathan está dormindo no sofá. Einstein,
agradavelmente bêbado, está sentado à esquerda da mesa com a cabeça
76
descansando nela. O’Hara, sem casaco e com o colarinho desabotoado está
em pé atrás do banquinho, que se encontra entre ele e Mortimer. Ele está na
cena mais excitante de sua peça. Tem uma garrafa de whisky e uma jarra
d’água na mesa junto de um prato cheio de pontas de cigarro.
O’HARA: Aí está ela, de camisola, caída na mesa, sem sentidos – O China está
por cima dela com uma machadinha... Faz a pose... eu estou amarrado numa
cadeira, exatamente como você – o lugar é um inferno de chamas – está pegando
fogo – quando de repente, pela janela, entra o Prefeito La Guardia...Einstein
levanta a cabeça e olha pela janela. Não vendo ninguém, pega a garrafa e
serve mais uma dose. O’Hara vai por trás dele e pega a garrafa.
77
O’HARA: Indo para Brophy. Hey, Pat, você nem imagina! Este aqui é Mortimer
Brewster! Ele vai escrever minha peça comigo! Eu estou contando a história para
ele.
KLEIN: Indo até Mortimer e desamarrando-o Você teve que amarrá-lo para que
ele escutasse?
BROPHY: Viemos avisar as velhinhas que tem um bolo formado. O coronel tocou
aquela corneta outra vez no meio da noite.
KLEIN: Do jeito que os vizinhos estão falando, parece até que os alemães
soltaram uma bomba na Avenida Central. Acabou de desamarrar Mortimer e
coloca as cordas no aparador.
BROPHY: A tenente está uma fera. Diz que o coronel tem que ser levado para
algum lugar.
O’HARA: Indo para Mortimer. Ih! Sr. Brewster, eu tenho que ir embora; então,
vamos dar uma passarinha rápida pelo 3º ato.
KLEIN: Vocês sabem que horas são? Já passa das oito da manhã.
O’HARA: É? Segue Mortimer pela escada. Puxa, Sr. Mortimer, os dois primeiros
atos são meio longos, mas eu não vejo nada que a gente possa cortar.
78
BROPHY: No telefone. Aqui é Brophy. Chame Mac. Para O’Hara, sentado na
escada. É melhor dizer a eles que a gente encontrou você, Jeannie. No telefone.
Mac? Diga ao tenente que a caçada acabou. Nós a encontramos na casa dos
Brewster.
Jonathan ouve isto e subitamente fica bem acordado, olhando para cima e
vendo Klein à sua esquerda e Brophy à sua direita. Você quer que a gente a
leve pra aí? Está bem. Nós vamos segura-la aqui. Desliga. O tenente está vindo
para cá.
KLEIN: Recompensa?
Instintivamente Klein e Brophy agarram Jonathan pelos braços.
BROPHY: É melhor ter cuidado com que você diz de suas tias. Elas são nossas
amigas.
79
Não sei se quero ir ao porão com ele. Olha a cara dele parece o Boris Karloff.
Jonathan, ao ouvir isto, agarra Klein pela garganta e começa a estrangulá-lo.
Ei, que diabo! Ei, Pat! Tire-o daqui!
ROONEY: Que diabo vocês estão arrumando? Eu falei que deixassem comigo.
KLEIN: Bem, tenente, nós íamos...Klein olha para Jonathan e Rooney o vê.
BROPHY: Não é esse que toca corneta. Esse é o irmão dele. Tentou matar Klein.
ROONEY: Ah, vocês acham? Se vocês não lêem as ordens do dia penduradas na
delegacia, ao menos poderiam ler “O Manual de Detetive”. É claro que está sendo
procurado. Fugiu do manicômio judiciário, em Indiana. Foi condenado à prisão
perpétua. Pois olha, foi exatamente assim que ele foi descrito - disseram que se
parecia com Boris Karloff!
80
ROONEY: Desconfiado. Treze cadáveres enterrados no porão? Decidindo que
aquilo era ridículo. E nem com isso vocês desconfiaram que ele tinha fugido do
hospício?
O’HARA: Eu estava achando o tempo todo que ele falava de maneira meio
maluca.
ROONEY: Vendo O’Hara pela primeira vez, vira-se para ele. Ah! O nosso
Shakespeare! Indo até ele. Onde é que você passou a noite? E não se dê ao
trabalho de me dizer.
O’HARA: Eu estava aqui, tenente. Escrevendo uma peça com Mortimer Brewster.
ROONEY: Duro. Ah, é? Pois vai ter bastante tempo para escrever aquela peça.
Você está suspensa! Agora volte e apresente-se na delegacia.
ROONEY: Não!! Saia daqui. O’Hara corre para fora. Rooney fecha a porta e
vira-se para os guardas. Teddy entra pelo balcão, desce sem ser notado e
fica atrás de Rooney à sua direita. Rooney fala para os guardas. Levem este
sujeito daqui e acordem ele. Os guardas abaixam-se para pegar Jonathan.
Vejam se conseguem apurar alguma coisa sobre o cúmplice dele. Os guardas
olham sem entender. Rooney explica. O sujeito que o ajudou a escapar também
está sendo procurado. Não admira que Brooklyn esteja do jeito que está, com uma
guarnição policial cheia de cretinas como vocês, que acreditam em qualquer
estória – treze cadáveres no porão!
ROONEY: Ao ouvir isto vai para o fundo e volta-se. Que diabo é isso?
ROONEY: Bem, Coronel, você tocou sua corneta pela última vez.
81
TEDDY: Vendo Jonathan desmaiado. Meu Deus! Outra vítima de febre amarela?
ROONEY: O quê?
ROONEY: Apontando para Jonathan. Você duas! Tirem este homem daqui!
MORTIMER: Eu gostaria de falar com você sobre o meu irmão Teddy - o que toca
a corneta.
ROONEY: Sr. Brewster, nós não temos mais nada que discutir sobre este assunto
- ele tem que ser internado.
ROONEY: Está bem! Não me importo para onde ele vai, contanto que vá!
82
MORTIMER: Ele vai. Mas quero que o senhor saiba que Teddy é responsável por
tudo que aconteceu aqui. Agora, sobre os treze cadáveres no porão...
ROONEY: É difícil dizer. Tem gente bastante estúpida. Às vezes você não sabe
em que acreditar. Há um ano atrás, um maluco lançou um boato de assassinato
em Greenpoint e eu tive que cavar um terreno inteiro só para provar que...
Batem na porta de entrada.
ROONEY: Tenente Rooney. Acho bom que a senhora esteja aqui, Super, porque
vai levá-lo ainda hoje.
MORTIMER: Olhe Elaine, tenho muita coisa para resolver, portanto vá para casa
que depois te telefono.
83
ROONEY: Os papéis estão todos assinados. Ele vai hoje!
MORTIMER: Um minuto! Vai para Teddy e fala com ele como a uma criança.
Sr. Presidente, tenho boas novas. Seu mandato terminou.
MORTIMER: Praticamente.
TEDDY: Pensando. Deixe-me ver. Ah! Agora vou para minha caçada na África!
Preciso partir imediatamente. Atravessa a sala e quase dá de encontro com
Witherspoon, no centro. Olha para ele e recua até Mortimer. Quem é ela?
ABBY: Aperta a mão do tenente. Como vai, tenente? A senhora não parece ser
tão chata como as meninas dizem.
MORTIMER: A tenente está aqui porque - bem, vocês sabem que ontem à noite
Teddy tocou a corneta de novo.
84
ROONEY: É um pouco mais sério de que isto, Srta. Brewster.
ROONEY: Sinto muito, Srta. Brewster, mas tem que ser feito. Os papéis estão
todos assinados e ele vai embora com a Superintendente.
ROONEY: Sinto muito, minhas senhoras. Mas lei é lei! Ele se entregou
voluntariamente, agora ele vai!
MORTIMER: Tem uma idéia. Vai para Witherspoon. Por que não?
85
ROONEY: Vamos ser razoáveis, minhas senhoras. Eu, por exemplo, estou aqui
desperdiçando minha manhã quando tenho coisa mais séria para fazer. Ainda
existem casos de assassinato para serem apurados no Brooklyn.
ROONEY: Não é apenas toque de corneta e vizinhos com medo dele. As coisas
podem piorar. Mais cedo ou mais tarde acabaríamos tendo de escavar o seu
porão.
ROONEY: É... seu sobrinho tem dito por aí que existem treze cadáveres no porão.
MARTHA: Se é por isso que o senhor acha que Teddy tem que ir embora – venha
ao porão conosco e a senhora verá. Vai para o fundo.
ABBY: Um deles – Sr. Spenalzo – não tinha nada que estar aqui – e tem que ir
embora – mas os outros doze são nossos cavalheiros – Vai para trás.
MORTIMER: Não acho que a tenente queira ir ao porão. Ela mesma estava me
dizendo que o ano passado teve que escavar um terreno enorme – não foi,
tenente?
ABBY: Para Rooney. Ah, a senhora não teria que cavar aqui. Os túmulos estão
todos marcados. Nós colocamos flores neles todos os domingos.
86
MORTIMER: Teddy se internou voluntariamente. Elas não podem também? Elas
não podem assinar os papéis?
WITHERSPOON: Certamente.
ABBY: Sentada à direita da mesa. Mortimer puxa a cadeira para ela. É, onde
estão?
MORTIMER: O quê?
87
MORTIMER: Vê Einstein prestes a sair pela porta. Dr. Einstein ...venha cá.
Gostaríamos que o senhor assinasse alguns papéis.
MORTIMER: Vai até ele. Venha cá, doutor! Ontem à noite, por um momento, eu
pensei que o doutor fosse me operar...Einstein deixa a mala e o chapéu perto
da porta. Venha cá só um minutinho, doutor.
Einstein vai até a mesa à esquerda de Abby.
Assine aqui doutor. Einstein assina os papéis de Martha e Abby.
Rooney e Klein vêm da cozinha. Rooney vai ao telefone e disca. Klein fica
perto da porta da cozinha.
MORTIMER: Vendo Elaine sentada na arca e indo até ela. Alô Elaine! Estou
contente de te ver. Fique por aqui, está bem?
ROONEY: Alô, Mac? Rooney. Nós pegamos aquele sujeito que estava sendo
procurado em Indiana. Aí tem uma descrição do cúmplice dele. Está na minha
mesa. Leia para mim.
Einstein vê Rooney no telefone, vai para a cozinha e vê Klein na porta. Volta
à direita da mesa e fica lá, desanimado, esperando ser preso. Rooney repete
a descrição que está ouvindo no telefone, com um olhar vago para Einstein
enquanto escuta.
ROONEY: Ahh! Um metro e... Mais ou menos 34 anos. Sessenta quilos. Olhos
Azuis e fala com sotaque alemão e tem ar de médico. Obrigado, Mac.
ROONEY: Indo até Einstein e apertando sua mão. Obrigado, doutor. O senhor
fez um favor ao Brooklyn. Rooney e Klein vão para a cozinha. Einstein fica
surpreso por um momento, depois agarra a mala e o chapéu e desaparece
88
porta afora. As tias se levantam e o seguem com o olhar. Abby fecha a porta
e elas ficam na frente, à direita.
WITHERSPOON: Atrás da mesa. Sr. Brewster, assine aqui, como parente mais
próximo.
As tias cochicham enquanto Mortimer assina.
ABBY: Indo para a esquerda. Bem, Sra. Witherspoon, por que a senhora não vai
lá em cima e diz a Teddy o que é que ele pode levar?
WITHERSPOON: Lá em cima?
ABBY: Fazendo Mortimer parar. Não, Mortimer, você fica aqui. Queremos falar
com você. Para Witherspoon. Isso mesmo, Sra. Witherspoon, é só subir e virar à
esquerda.
Witherspoon deixa sua pasta no sofá e sobe. As tias o observam enquanto
falam com Mortimer.
MARTHA: Bem, Mortimer, agora que vamos nos mudar, esta casa é sua.
MORTIMER: Na frente da mesa. Não tia Martha. Esta casa está muito cheia de
recordações.
MARTHA: Mas vai precisar de uma casa quando você e Elaine se casarem.
89
ABBY: Mortimer. Mortimer. Estamos muito preocupadas com uma coisa.
MARTHA: Ah, sim, estamos muito contentes. Mas é exatamente por isso que não
queremos que nada dê errado.
MARTHA: Bem, querido. É uma coisa que nunca quisemos contar para você. Mas
agora que você é um homem – e é uma coisa que Elaine também deve saber.
Sabe, querido, você não é realmente um Brewster.
Mortimer e Elaine ficam espantados.
ABBY: Sua mãe veio ser nossa cozinheira e você nasceu três meses depois. Mas
ela era uma moça tão gentil e uma cozinheira tão boa, que não quisemos perdê-la.
E então nosso irmão se casou com ela.
ABBY: Neste caso, acho que o que você gostaria era de ir para a cama.
90
MORTIMER: Dando uma olhadinha para Elaine. É isso aí. Eles saem fechando
a porta. Witherspoon aparece no balcão carregando dois cantis. Começa a
descer, quando Teddy entra carregando em enorme remo. Usa uma roupa de
Panamá com uma mochila nas costas.
ROONEY: É. Ele está voltando para Indiana. Tem umas pessoas lá que querem
tomar conta dele para o resto da vida. Vamos. Abre a porta enquanto os dois
guardas e Jonathan vão para o centro, à direita. Abby vai para a frente,
depois que eles passam.
ABBY: Bem, Jonathan. É bom saber que você tem para onde ir.
JONATHAN: Eu tenho uma sugestão a dar. Por quê vocês não doam esta
propriedade para a igreja?
JONATHAN: Insistindo em ter a última palavra. Adeus, tias! Bem, eu não posso
melhorar o meu escore, mas vocês também não podem. Ao menos tenho esta
satisfação – o resultado ficou empatado – 12 a 12.
Jonathan e os guardas saem, enquanto as tias os acompanham com o olhar.
Witherspoon vai para a arca e fica olhando para fora da janela quietamente.
91
MARTHA: Vai à porta de entrada para fechá-la. Jonathan sempre foi um mau
menino. Nunca suportou que alguém fosse melhor do que ele. Fecha a porta.
ABBY: Ah...
MARTHA: Vindo para a sala. Bem, vai ver que a senhora considera todos do Lar
Feliz a sua família.
MARTHA: Entregando o cálice. Não, aqui está ele. Witherspoon faz um brinde
às senhoras e leva o copo aos lábios, mas o pano cai antes que ele beba...
CORTINA
92