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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL | 681

ENSAIO | ESSAY

Educação alimentar e nutricional no contexto


da promoção de práticas alimentares saudáveis

Food and nutrition education in the context


of promoting healthy food practices

Ligia Amparo da Silva SANTOS1

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre a educação alimentar e nutricional no contexto da
promoção das práticas alimentares saudáveis, apontada como importante estratégia para enfrentar os novos
desafios no campo da saúde, alimentação e nutrição. O ponto de partida é a análise de publicações oficiais e
documentos recentes do governo brasileiro que norteiam as políticas nesse campo. Embora a relevância da
educação alimentar e nutricional seja reconhecida nesse contexto, poucas referências são feitas a ela no que
tange à delimitação dos seus limites e possibilidades, como também sobre os elementos que norteiam a sua
prática. Os documentos indicam que o objetivo das propostas educativas em alimentação e nutrição é mais
subsidiar os indíviduos com informações adequadas, corretas e consistentes sobre alimentos, alimentação e
prevenção de problemas nutricionais do que os auxiliar na tomada de decisões. Dessa forma, cresce a importância
dos campos da informação e da comunicação, nos quais se enfatizam as estratégias de produção, circulação
e controle das informações referentes à alimentação e nutrição, em detrimento das estratégias da educação
alimentar e nutricional. Os dois campos parecem se confundir. Argumenta-se, no entanto, que embora os
campos do acesso à informação e à comunicação sejam de extrema relevância, eles não são suficientes para a
construção de práticas alimentares saudáveis. Assim, urge uma reflexão sobre as bases da educação alimentar
e nutricional no contexto que se configura e as possibilidades de sua contribuição.
Termos de indexação: alimentação, conduta na alimentação, educação nutricional, nutrição, nutricionista,
promoção da saúde.

ABSTRACT

This article deals with food and nutrition education in the context of promoting healthy food practices,
considered as an important strategy to face the challenges of health, food and nutrition problems. An analysis

1
Departamento das Ciências da Nutrição, Escola de Nutrição, Universidade Federal da Bahia. Rua Araujo Pinho, 32, Canela,
40110-150, Salvador, BA, Brasil. E-mail: <amparo@ufba.br>.

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of official publications about food and nutrition policies was the starting point. It concluded that food and
nutrition education was recognised as important in this context, but there were few references to the delimitation
of its limits and possibilities or to the elements directing such practices. The documents indicated that the aim
of the proposals for education in food and nutrition were centred more on giving adequate information
about food, nutrition and prevention of nutrition problems than on helping people take decisions. Thus there
has been an increase in the importance of the information and communication fields with respect to strategies
for the production, circulation and control of information about food and nutrition, in detriment of food and
nutrition education. In fact, the two fields appear to be mixed. It is argued that although the access to
information and communication is very relevant, this is not enough to construct healthy food practices.
Therefore, it is essential to reflect on the bases of food and nutrition education in this context as well as the
possibilities for its contribution.
Indexing terms: feeding, feeding behavior, nutrition education, nutrition, nutritionist, health promotion.

INTRODUÇÃO alimentos de baixo valor nutricional1-3. Assim, as


estratégias de suplementação alimentar passaram
A história da educação alimentar e a ser o eixo norteador das políticas.
nutricional no Brasil e o seu estreito vínculo com
Importante contribuição para a discussão
as políticas de alimentação e nutrição em vigência
sobre novas perspectivas da educação alimentar
têm sido abordados por diferentes autores1-3.
e nutricional se consolidou em meados de 1980,
De 1940 a 1960, a educação alimentar e com a educação nutricional crítica. Tal concepção
nutricional esteve vinculada às campanhas de identificava haver uma incapacidade da educação
introdução de novos alimentos e às práticas alimentar e nutricional em, de forma isolada,
educativas que se tornaram um dos pilares das promover alterações em práticas alimentares.
políticas de alimentação e nutrição do período1. A educação nutricional crítica baseiava-se nos
Lima3 ressalta que esse momento da educação princípios da pedagogia crítica dos conteúdos, de
alimentar e nutricional se fundamentou no mito orientação marxista, considerando que a educação
da ignorância, fator considerado como nutricional não é neutra, como também não pode
determinante da fome e da desnutrição na seguir uma metodologia prefixada. Nessa
população de baixa renda, o grupo destinatário perspectiva, essa vertente da educação nutricional
dessas ações educativas. Assim, o desenvolvi- pressupunha assumir o compromisso político de
mento de instrumentos adequados, que ensi- colocar nossa produção técnica e científica a
nassem o pobre a comer, a fim de corrigir hábitos serviço do fortalecimento das classes populares
errôneos nessas populações foi uma prioridade que em sua luta contra a exploração que gera a fome
caracterizava uma concepção de educação e a desnutrição.
centrada na mudança do comportamento
Vale ressaltar que a educação nutricional
alimentar2-4.
crítica influenciou os conteúdos da disciplina
A partir de meados de 1970, o binômio
educação nutricional, integrante dos currículos
alimentação-educação prevalecente começou a
para formação de nutricionistas, fortalecendo a
ceder espaço para o binômio alimentação-renda,
discussão sobre a determinação social da fome e
resultado dos redirecionamentos das políticas de
da desnutrição e a relação desses fenômenos com
alimentação e nutrição traçadas no país, as quais,
a partir de então, se pautavam no reconhecimento o modelo de organização capitalista, em
da renda como principal obstáculo para se obter detrimento do enfoque biológico e técnico, como
uma alimentação saudável1. Como decorrência, também dos métodos e técnicas educativas1.
intensas críticas foram feitas à educação alimentar Como consequência, passa-se a discutir a fome e
e nutricional que vinha sendo desenvolvida, não apenas a desnutrição, e a educação alimentar
avaliada como meio de ensinar ao pobre a comer passa a contemplar não somente as práticas

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alimentares, pressupondo, também, a tarefa de política vigente, orientada pelo Programa Fome
esclarecer a população sobre os direitos de Zero, e o relatório produzido pela II Conferência
cidadania4. Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
Lima et al.4 destacam que tal ênfase se ocorrida em março de 2004, apontada como
projetou nos Congressos Nacionais de Nutrição central na construção da política de segurança
de 1987 e de 1989, nos quais o predomínio da alimentar e nutricional para o país.
discussão política parece ter esvaziado a discussão
da educação nutricional que não apareceu no
A EDUCAÇÃO ALIMENTAR E
temários desses congressos. Apenas no congresso
NUTRICIONAL NO CONTEXTO
realizado em 1996 a temática da educação DAPROMOÇÃO DAS PRÁTICAS
nutricional retorna ao cenário, dessa feita enfati- ALIMENTARES SAUDÁVEIS
zando a questão do sujeito, a democratização do
saber, a cultura, a ética e a cidadania. A difusão da noção de promoção das
Essa perspectiva resultou em parte das práticas alimentares saudáveis pode ser observada
discussões sobre segurança alimentar que nas mais diversas ações políticas e estratégias
integraram o cenário internacional e nacional nos relacionadas com alimentação e nutrição. Pode-
anos 1990, concebendo a alimentação como um -se afirmar que essa noção é resultante do
direito humano. As concepções de segurança cruzamento entre o conceito de promoção da
alimentar têm sido muito mais abrangentes do segurança alimentar e o da promoção da saúde.
que as ações de combate à fome e à desnutrição, O papel da promoção da saúde cresce em
como também têm impactado a formulação das sua importância como uma estratégia fundamental
políticas públicas em alimentação e nutrição no para o enfrentamento dos problemas do processo
país. saúde-doença-cuidado e da sua determinação.
É nesse contexto que também emerge a A direção, nesse caso, é o fortalecimento do
concepção da promoção das práticas alimentares caráter promocional e preventivo, contemplando
saudáveis, na qual a alimentação tem sido o diagnóstico e a detecção precoce das doenças
colocada como uma das estratégias para a crônico-degenerativas e aumentando a comple-
promoção da saúde. Não parece haver dúvidas xidade do primeiro nível de atenção, elementos
sobre a importância da educação alimentar e que ainda são considerados como desafios para o
nutricional na promoção de práticas alimentares sistema de saúde5.
saudáveis. No entanto, as reflexões sobre suas Dessa forma, Buss5 assinala a (re)constru-
possibilidades e limites, como também o modo ção do conceito de promoção da saúde a partir
como ela é concebida, ainda são escassas. de meados de 1970, destacando a importância
O presente artigo faz uma reflexão sobre das conferências internacionais sobre promoção
tais aspectos. Para tanto, parte da discussão dos da saúde. Para o autor, a promoção da saúde
aspectos referentes às atividades educativas representa uma reação à acentuada medicalização
contidas nos documentos da Política Nacional de da vida social, que tem tido um baixo impacto
Alimentação e Nutrição, instituída em 1999. Esse sobre as condições de vida. Promoção da saúde
documento é considerado uma importante não é mais interpretada como apenas uma
expressão política do conceito de segurança caracterização de um nível de atenção da
alimentar produzido a partir da I Conferência medicina preventiva (o modelo da promoção,
Nacional de Alimentação e Nutrição, em 1986, e prevenção e recuperação da saúde construído
consolidado na I Conferência Nacional de por Leavel & Clark, em 1965). Trata-se de um
Segurança Alimentar, em 1994. Os argumentos enfoque político e técnico em torno do processo
do artigo consideram também alguns aspectos da saúde-doença-cuidado5.

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Existem múltiplas conceituações de recursos e indicadores para esse fim6. Embora os


promoção da saúde, dentre as quais Buss5 ressalta documentos não deixem claro o que seria o seu
dois grandes grupos; no primeiro, a promoção da conceito, a perspectiva apontada pelas Nações
saúde “consiste nas atividades dirigidas Unidas é que parece nortear as políticas no
centralmente à transformação dos comporta- campo.
mentos dos indivíduos, focando os seus estilos de A instituição da Política Nacional de
vida e localizando-os no seio das famílias e, no Alimentação e Nutrição (PNAN) pode ser
máximo, no ambiente das ‘culturas’ da considerada como uma das expressões que
comunidade em que se encontram” (p.179). Essa oficializam a busca de uma nova direção das
concepção, segundo o autor, tende a se centrar políticas de alimentação e nutrição no final da
nos componentes educativos. década de 1990. A PNAN pressupõe contrapor o
Uma segunda concepção, e mais moderna, modelo de atenção prevalecente no campo da
da promoção da saúde é caracterizada pela alimentação e nutrição a partir de 1970, marcado
“constatação de que a saúde é produto de um por uma intervenção centrada no assistencialismo,
amplo espectro de fatores relacionados com a voltada para os trabalhadores e para os chamados
qualidade de vida, incluindo um padrão adequado grupos de risco7.
de alimentação e nutrição, de habitação e O propósito da PNAN é “a garantia da
saneamento, boas condições de trabalho e renda, qualidade dos alimentos colocados para consumo
oportunidades de educação ao longo de toda a no País, a promoção das práticas alimentares
vida dos indivíduos e das comunidades saudáveis e a prevenção dos distúrbios nutricionais,
(empowerment)”5. bem como o estímulo às ações intersetoriais que
A promoção da saúde é definida pela Carta propiciem o acesso universal aos alimentos”
de Ottawa dentro dessa última concepção como (p.17)8. A perspectiva da promoção da saúde se
“o processo de capacitação da comunidade para apresenta e é apontada como uma das diretrizes
atuar na melhoria da sua qualidade de vida e da política: “promoção das práticas alimentares
saúde, incluindo uma maior participação no e estilos de vida saudáveis”, cuja ênfase está na
controle deste processo” 5 . A elaboração e “socialização do conhecimento sobre alimentos
implementação de políticas públicas saudáveis, a e o processo de alimentação bem como acerca
criação de ambientes favoráveis à saúde, o reforço da prevenção dos problemas nutricionais, desde
da ação comunitária, o desenvolvimento de a desnutrição - incluindo as carências específi-
habilidades pessoais e a reorientação do sistema cas - até a obesidade” (p.22) 8.
de saúde são os cinco principais campos de ações O texto ainda afirma que a diretriz acima
definidos na Carta de Ottawa5. indicada deve estar integrada às medidas
A partir do final dos anos 1990, o termo decorrentes das demais diretrizes definidas. Isso
“promoção de práticas alimentares saudáveis” indica uma valoração dessa estratégia que
começa a marcar presença nos documentos oficiais perpassa por todas as esferas dessa política.
brasileiros. Aliada à promoção de estilos de vida Percebe-se que essa perspectiva se situa dentro
saudáveis, a promoção de práticas alimentares de uma concepção ampliada de promoção à
saudáveis se constitui uma estratégia de vital saúde, conforme apontado na Carta de Ottawa.
importância para o enfrentamento dos problemas Observa-se também na PNAN que há uma
alimentares e nutricionais do contexto atual. maior abrangência no enfoque dos problemas
Segundo as Nações Unidas, promover exige que nutricionais, passando a considerar a obesidade
o Estado implemente políticas, programas e ações como alvo das políticas, ao lado do combate à
que possibilitem a progressiva realização do direito fome e à desnutrição. Isso corresponde ao quadro
à alimentação, definindo, com isso, metas, alimentar-nutricional vigente, caracterizado por

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uma expressiva redução da desnutrição ener- No que tange à capacitação do profissional


gético-protéica, concomitante a um aumento do previsto na PNAN, a centralidade parece estar no
sobrepeso e obesidade em todas as classes seu papel como disseminador de informações, em
sociais7,9,10. detrimento do seu papel como educador. Perpassa
A PNAN, para alcance de seus propósitos, a idéia de que ampliando o acervo de informações
destaca que atenção especial deve ser dada ao dos profissionais de saúde, em todos os níveis,
“desenvolvimento do processo educativo por meio das capacitações, se tornaria possível o
permanente acerca das questões atinentes à seu repasse para os grupos populacionais e
alimentação e à nutrição, bem como à promoção indivíduos. Não se faz alusão à importância da
de campanhas de comunicação social siste- capacitação em educação, em abordagens
máticas” (p.22)8. No entanto, o documento não educativas apropriadas, apenas em conteúdos
delimita claramente uma concepção de educação técnicos de alimentação e nutrição.
alimentar e nutricional no que se refere aos seus Vale lembrar que, dentro da discussão
limites e possibilidades, como também não indica sobre promoção da saúde, também há conflitos
diretrizes para a sua prática. Todavia, mais sobre o lugar da educação em saúde. Buss5 traz
adiante, o referido documento alude que a em sua discussão sobre promoção da saúde uma
educação alimentar e nutricional contém definição de educação em saúde elaborada por
“elementos complexos e até conflituosos”, Tones & Tilford, em 1994, que a entende como:
preconizando que “deverão ser buscados “qualquer atividade, relacionada com aprendi-
consensos sobre conteúdos, métodos e técnicas zagem, desenhada para alcançar saúde”. Consi-
do processo educativo, considerando os diferentes dera, então, que a educação em saúde é uma
espaços geográficos, econômicos e culturais” parte estratégica de promoção da saúde global.
(p.22)8. Pode-se argumentar, dessa forma, que a No entanto, não parece haver consenso
lacuna antes registrada reflete a tensão que sobre tal compreensão da educação em saúde.
persiste em torno dos objetivos e da prática da
Schall & Streechiner11 entendem que a educação
educação alimentar e nutricional, ainda que sua
em saúde é um campo multifacetado cujo conceito
relevância seja reconhecida no contexto da
se sobrepõe ao de promoção da saúde. Para eles,
promoção de práticas alimentares saudáveis.
a educação em saúde inclui
Pode-se afirmar que, em relação às
[...] políticas públicas, ambientes
propostas educativas da PNAN quanto à promoção
apropriados e reorientação dos serviços
das práticas alimentares saudáveis, o foco central de saúde para além dos tratamentos
esteja na disseminação de informações, valori- clínicos e curativos, assim como propostas
zando a importância dos meios de comunicação pedagógicas libertadoras, comprome-
nesse processo, seja estimulando a produção de tidas com o desenvolvimento da solida-
campanhas educativas, seja controlando as riedade e da cidadania, orientando-se
informações - como também o marketing - refe- para ações cuja essência está na melhoria
rentes à alimentação e aos alimentos. da qualidade de vida e na promoção do
homem (p.4).
O fortalecimento do campo da informação
e da comunicação em alimentação e nutrição se Já Candeias12 compreende haver uma
faz necessário. No entanto, o seu fortalecimento distinção entre promoção da saúde e educação
parece ofuscar do cenário da formulação das em saúde. Considera a primeira como “combi-
políticas a discussão dos “aspectos complexos”, nação de apoios educacionais e ambientais que
“conflituosos” e até “conflitantes” da educação visa atingir ações e condições de vida conducentes
alimentar e nutricional a que o documento se à saúde” (p.210); enquanto a segunda seria
refere. “quaisquer combinações de experiências de

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aprendizagem delineadas com vistas a facilitar das informações sobre alimentação saudável ao
ações voluntárias conducentes à saúde” (p.210). público, desde a própria produção da informção
Desse modo, de forma similar à compreensão de até sua distribuição e o controle, como também
Buss 5 supracitada, a educação em saúde é a formação e capacitação de recursos humanos13.
considerada uma fração das atividades técnicas O PFZ reforça o papel do Estado na questão
voltadas para a saúde, sendo considerada mais educacional e na estratégia das campanhas e do
uma atividade-meio. controle das informações, além da atuação na
Na PNAN parece que os conceitos de normatização da comercialização dos alimentos,
promoção de práticas alimentares saudáveis e explicitando a busca de um maior compro-
educação alimentar e nutricional estão mais metimento ético da publicidade e da propaganda.
próximos da superposição dos mesmos. Há um Contudo, traz um conceito novo, além de utilizar
paradoxo: ao mesmo tempo que a educação o termo educação alimentar no lugar de educação
alimentar e nutricional é valorizada, ela se dilui alimentar e nutricional: a educação para o
no conjunto de propostas na medida em que consumo, conceito que emerge das discussões
não estão estabelecidas claramente as bases sobre o direito do consumidor. Trata-se de uma
teórico-conceituais e operacionais que a funda- das políticas específicas que prevê “uma série de
mentam. ações que buscam informar e orientar a população
Todavia, pode-se perceber que, em termos em geral via os meios de comunicação, escolas,
de abordagens educacionais, a lógica da empresas e na família para que o brasileiro passe
transmissão se faz presente. A perspectiva a ter mais consciência na hora de escolher o que
educacional se limita a subsidiar os indivíduos com levar à mesa” (p.93)13.
informações, utilizando ao máximo os recursos Até o presente momento, o PFZ em
tecnológicos da comunicação como um meca- vigência está ainda mais voltado para os
nismo que facilita o acesso e a democratização programas emergenciais, cujas atividades
da informação. Estratégias como as campanhas, educativas estão também previstas como suporte
elaboração de material educativo e instrucional das ações. Por exemplo, o Programa Bolsa
são enfatizadas. Alimentação, cujos processos de gestão e
A proposta do Programa Fome Zero (PFZ), execução foram unificados dentro do Programa
elaborado pelo Instituto da Cidadania13, em 2001, Bolsa Família, objetivava aprimorar as ações de
corrobora as proposições da promoção de práticas combate às carências nutricionais e contribuir para
alimentares saudáveis da PNAN. O documento redução da alta prevalência de desnutrição e
contempla a importância da educação alimentar mortalidade infantil em todo o território nacional.
na prevenção tanto da desnutrição como da O programa também concebia as atividades
obesidade, ressaltando que a mesma “é, educativas em saúde e nutrição dentro da agenda
geralmente, negligenciada como política de compromissos a serem estabelecidos com os
alimentar devido à priorização do ataque à causa beneficiários. No entanto, a concepção dessas
principal da fome - a renda” (p.92). ações educativas e a forma como elas se dão na
prática cotidiana demandam estudos14.
No âmbito do Fome Zero, propõe-se “uma
posição ativa do poder público no estabelecimento O governo atual prevê a construção
de campanhas publicitárias e palestras sobre participativa de uma Politica Nacional de Segu-
educação alimentar e educação para o consumo, rança Alimentar, o que culminou na II Conferência
devendo esse aspecto da educação ser um dever Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
do Estado, incluido como obrigatório no currículo (CNSAN), ocorrida em março 2004. A II CNSAN
escolar de primeiro grau” (p.92). Também ao apontou que “tanto a desnutrição como a
poder público cabe a responsabilidade pelo zelo obesidade são expressões de insegurança

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alimentar e que as agendas de combate à pobreza saudáveis, direito do consumidor, ética e cidadania,
e à fome e promoção da alimentação saudável aleitamento materno, agroecologia, economia
devem ser articuladas e implementadas em familiar, associativismo, práticas agrícolas e de
conjunto”15. O reconhecimento da necessidade de aquicultura e pesca, reaproveitamento de alimen-
trabalhar concomitantemente essas duas tos, entre outros.
perspectivas fundamenta-se no fato de as mesmas As proposições apresentadas no relatório
não serem excludentes, considerando ainda que, referendam as propostas já apontadas nos
cada vez mais, esses problemas atingem as documentos anteriores. No entanto, destaca-se a
famílias. criação de um Programa Nacional de Alimentação
O relatório final da II CNSAN traz no seu Saudável, assim como o apoio à Estratégia Global
bojo avanços na consolidação de políticas de para a Promoção da Alimentação Saudável,
promoção da segurança alimentar no Brasil. Atividade Física e Saúde da Organização Mundial
Chamam a atenção as questões institucionais que da Saúde (OMS), na perspectiva da elaboração
prevêem a criação imediata da Lei Orgânica de de uma estratégia brasileira, aprovando a moção
Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), que que solicita que o governo brasileiro vote a favor
deverá estabelecer os princípios, a estrutura e a da Estratégia.
gestão do Sistema Nacional de SAN. Esse sistema, A Estratégia Global para a Promoção da
por sua vez, procurará garantir a regulamentação Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde
das políticas de SAN como uma política pública foi lançada em 2003 pela OMS, sob a forma de
integral com orçamento próprio, contemplando um documento preliminar, e prevê o estímulo a
ainda uma gestão participativa. Tal proposição práticas alimentares saudáveis aliadas à prática
pode representar um avanço na articulação das de atividade física, juntamente ao controle do
políticas dentro do âmbito oficial16. tabaco, como estratégias efetivas para reduzir
O relatório contempla propostas relaciona- substancialmente as doenças e as mortes no
das às “ações de promoção de modos de vida e mundo17.
alimentação saudável no qual a educação A proposta objetiva assegurar o forneci-
alimentar e nutricional se apresenta: “promover mento de informações corretas para permitir a
ações educativas e de difusão de informação com facilitação de decisões por escolhas saudáveis e
apoio dos meios de comunicação e campanhas assegurar programas adequados de educação e
publicitárias na perspectiva de orientar a população promoção de saúde. Essa adequação se refere
quanto ao uso integral dos alimentos; ao resgate a informações apropriadas em termos de escola-
e incentivo ao consumo regionais brasileiros de ridade e cultura local, como também implica levar
alto valor nutritivo, […]; à importância da educação em conta as possibilidades de comunicação das
nutricional como forma de prevenção de doenças comunidades. Para tanto, refere ainda o
e deficiências relacionadas à alimentação e à documento, os governos devem selecionar políticas
nutrição - tanto desnutrição quanto as Doenças e programas que estejam de acordo com as
Crônicas NãoTransmissíveis (DCNT) como sobrepe- necessidades nacionais e com o perfil epide-
so e obesidade -; e à garantia higiênico-sanitária miológico, incluindo as áreas de: educação,
dos alimentos, bem como da sua origem genética comunicação e conhecimento público; marketing,
e procedência” (p.18)16. propaganda, patrocínio e promoção; rotulagem e
Engloba também a inserção nos projetos declaração de propriedades relacionadas à
político-pedagógicos e nos currículos de saúde17.
Graduação e Pós-Graduação de temas sobre SAN, Na filosofia dessa estratégia, há um
como, por exemplo, direito humano à alimentação, predomínio de ações que promovam uma maior
alimentação e cultura, hábitos alimentares informação sobre alimentação e nutrição por meio

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da elaboração de material educativo, como O papel da educação alimentar e


também uma intervenção através dos meios de nutricional está vinculado à produção de
comunicação. Em termos de capacitação dos informações que sirvam como subsídios para
profissionais de saúde, centra-se em capacitá-los auxiliar a tomada de decisões dos indivíduos que
em temas de alimentação e nutrição. O pro- outrora foram culpabilizados pela sua ignorância,
fissional também é visto como um disseminador sendo posteriormente vítimas da organização social
de informações, dividindo o seu papel com outros capitalista, e se tornam agora providos de direitos
agentes do discurso da alimentação e nutrição, e são convocados a ampliar o seu poder de escolha
deixando à margem o potencial educativo das e decisão.
práticas de saúde. Reforça-se, dessa forma, a lógica Sobre as decisões individuais, as políticas
da educação baseada na transmissão, centrada têm buscado a sua ampliação à medida que se
nos conteúdos, e construindo mensagens coerentes fortalecem as políticas de promoção dos direitos
e apropriadas. humanos, ocupando um lugar que elas não tive-
ram na história. Se, por um lado, isso representa
avanços na direção da alimentação como direito,
O PAPEL DA EDUCAÇÃO
por outro, emergem questões que precisam ser
ALIMENTAR E NUTRICIONAL
consideradas.
Diferentes estudos têm apontado o O poder de decisão e de escolha encon-
histórico vínculo da educação alimentar e tra-se no seio da sociedade contemporânea,
nutricional com o contexto político e social, pautada no individualismo baseado na raciona-
particularmente com o das políticas de lidade. É interessante a discussão sobre a
alimentação e nutrição. Tais políticas redefinem construção da auto-identidade no mundo
constantemente as prioridades em relação aos contemporâneo, em que a primazia do individual
problemas nutricionais, as interpretações das suas se faz cada vez mais presente e a autonomia é
principais causas, como também a população-alvo um traço marcante no mundo ocidental. Nessa
a ser trabalhada. Como conseqüência, a perspectiva as decisões vitais estão nas mãos dos
importância estratégica da educação alimentar e indivíduos, alimentados pela hiperinformação,
nutricional no bojo dessas políticas também sofre outro marco do mundo atual18. No entanto, Castiel
interferências, redefinindo, por sua vez, seus & Vasconcelos-Silva18 destacam que oferecer
objetivos, e as abordagens educacionais informações é uma condição necessária, porém
prioritárias (Anexo). não suficiente, se levarmos em consideração as
dimensões não racionais e inconscientes que
No atual contexto, em que a promoção
habitam a volição humana.
das práticas alimentares saudáveis prevalece, a
educação alimentar e nutricional também está Além disso, reforça-se a responsabilização
sendo um reflexo das políticas. Analisando os dos indivíduos no seu processo saúde-doença,
documentos apresentados, identificou-se a reduzindo o seu estado de saúde a uma questão
existência de um suposto paradoxo: ao mesmo de decisão individual e de escolhas. Corre-se o
tempo em que é apontada sua importância risco de haver uma reconstrução do mito da
estratégica, o seu espaço não se apresenta ignorância.
claramente definido. A educação alimentar e É preciso também avaliar o estatuto do
nutricional está em todos os lugares e, ao mesmo discurso científico na contemporaneidade e a sua
tempo, não está em lugar nenhum. Está sendo legitimidade no seio da sociedade moderna.
pouco citada nos documentos oficiais e a PNAN a A ciência aposta na sua autoridade e capacidade
reconhece como tendo “elementos complexos e de produzir um discurso legítimo, racional,
até conflituosos” que precisam ser resolvidos. baseado na sua incontestável verdade. Dessa

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forma, acredita-se que, democratizando esse elementos do que apenas a informação para
discurso, ele poderá influenciar de forma decisiva subsidiar os indivíduos nas escolhas e decisões do
na decisão e nas escolhas dos sujeitos. É impor- que é mais significativo para as suas vidas.
tante que a área de alimentação e nutrição avalie
O Relatório para a UNESCO, da Comissão
outras experiências de campanhas utilizando a
Internacional sobre Educação para o século XXI20,
comunicação midiática como um dos instru-
aponta uma preocupação com a relação entre a
mentos fundamentais, tais como as campanhas
educação para o presente século e a circulação e
relativas à AIDS, aos acidentes de trânsito e ao
armazenamento de informações, e ainda a
controle do tabaco, nas quais o discurso científico
não tem provocado as mudanças de comporta- comunicação, nunca antes tão disponíveis na
mento dos indivíduos da forma esperada. história. O relatório aponta que:

Assim, pode-se afirmar que a centralidade […] cabe à educação simultaneamente


encontrar e assinalar as referências que
das práticas educativas está na transmissão de
impeçam as pessoas de ficarem submer-
mensagens consistentes, coerentes e claras,
gidas nas ondas de informações, mais ou
utilizando ao máximo os recursos tecnológicos de
menos efêmeras, que invadem os espaços
comunicação, garantindo o direito ao acesso à públicos e privados e as levem a orientar-
informação. Sendo assim, caberia questionar qual se para projetos de desenvolvimento
seria o lugar do profissional de saúde, em individuais e coletivos. À educação cabe
particular do nutricionista, nesse contexto. As habi- fornecer, de algum modo, os mapas de
lidades e competências requeridas são mais de um mundo complexo e constantemente
comunicadores do que de educadores, cujas bases agitado e, ao mesmo tempo, a bússola
teórico-científicas guardam particularidades que permita navegar através dele (p.89).
próprias em cada campo. Os profissionais são vistos As propostas de inclusão dos temas de
como veiculadores de informações, mais do que segurança alimentar nos projetos pedagógicos
como sujeitos das ações educativas na promoção escolares, nos diferentes níveis de ensino, podem
das práticas alimentares saudáveis. A centralidade
contribuir para a instrumentalização dos indiví-
da produção da mensagem sobrepõe a relação
duos, permitindo aos sujeitos “navegarem” nesse
dela com o indivíduo e com o profissional mediador
mar de informações. No entanto, é necessário
dessa relação, que é, sobretudo, uma relação
aprofundar o “como” tais “inclusões” se concre-
dialógica. A relação dialógica, por outro lado, não
tizariam. Seria importante considerá-las dentro
se pode conceber no momento em que os sujeitos
das discussões político-filosóficas do ensino
não se apresentam no cenário da ação educativa,
brasileiro, não reduzindo o tema à mera inclusão
restando apenas a supremacia da mensagem.
de conteúdos.
Ressalta-se aqui o crescente papel da
comunicação, outra importante marca do mundo Assim, corre-se o risco da finalidade
contemporâneo. O seu principal fundamento é o educacional ser secundarizada, frente à relevância
princípio da publicização, do tornar público, de da intermediação tecnológica. O silêncio (ou, até
tornar compartilhado na contemporaneidade19. No se poderia afirmar, o afastamento) existente nos
entanto, a comunicação não pode ser vista como documentos sobre a discussão da educação e as
um mero potencializador da comunicação abordagens pedagógicas deixa margens para o
interpessoal. Na primeira não há um intercâmbio que Luckesi21 denominaria de “senso comum
de mensagens, o diálogo conforme referido. É pedagógico”, que é compreendido pelo caráter
ainda importante marcar que publicizar espontâneo pelo qual adquirimos conceitos,
informações, dar visibilidade aos fatos, não é significados e valores no ambiente em que
necessariamente educar. São necessários mais vivemos. É dessa forma que a lógica da transmissão

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de informações prepondera frente à construção dológicas utilizadas nas práticas educativas em


de conhecimentos. alimentação e nutrição, o que não significaria um
Quanto ao processo de formação do retorno a uma perspectiva instrumental da
profissional nutricionista no que tange aos educação alimentar e nutricional, mas sim uma
conteúdos abordados, esse silêncio também se tentativa de restabelecer novas relações entre o
apresenta. Os conteúdos abordados nas disciplinas técnico e o político, pois eles se exigem entre si e
de educação nutricional fluem ao sabor do o momento demanda uma perspectiva educa-
momento (Anexo): da prioridade dos métodos e cional que coadune as duas dimensões.
técnicas educativas migra para a temática da É necessário aprofundar a discussão sobre
determinação sociopolítica da fome e desnutrição o papel da educação alimentar e nutricional dentro
e dos hábitos alimentares a partir dos anos de do contexto atual, e qual seria a sua real
1980, esvaziando a discussão pedagógica. contribuição para as novas demandas apontadas
Atualmente, cresce a importância do estudo sobre na promoção das práticas alimentares saudáveis.
as práticas alimentares sob o enfoque socioantro- As tecnologias da informação e comunicação são
pológico. No entanto, a socioantropologia da
de extremas relevâncias na garantia do direito ao
alimentação e nutrição, que vem se conformando
acesso à informação. No entanto, tais tecnologias
em um campo específico do saber ao longo dos
não podem substituir a educação, que tem no
últimos tempos, não necessariamente faz interface
diálogo um dos elementos centrais. Esse diálogo,
com a educação. A importância dessa temática
mesmo intermediado pelas tecnologias, é que
demanda um espaço específico na formação
frente à sua importância. Assim, persiste o vazio oferece sentido para as ações educativas e para
das abordagens educativas no campo da educação o processo de mudanças das práticas alimentares
alimentar e nutricional. das populações.

Parece haver um preconceito em discutir


a dimensão pedagógica no processo de formação, AGRADECIMENTOS
sob o risco de ser considerado “tecnicista” ou
“alienado” dos reais problemas nutricionais da À Profa. Dra. Sandra Maria Chaves dos Santos
população brasileira, especialmente após as pelas sugestões.
severas críticas levantadas na década de 1980.
No entanto, o mesmo preconceito não parece
residir sobre a discussão em relação aos recursos REFERÊNCIAS
de comunicação e saúde, que aponta o mesmo
1. Boog MCF. Educação nutricional: passado,
perigo. presente e futuro. Rev Nutr. 1997; 10(1):5-19.
Não se pode deixar de ressaltar as múltiplas 2. Valente F. Em busca de um educação nutricional
denominações que os documentos utilizam: crítica. In: Valente F. Fome e desnutrição:
educação nutricional, educação alimentar e, determinantes sociais. São Paulo: Cortez; 1986.
por fim, educação alimentar e nutricional. Os 3. Lima ES. Mal de fome e não de raça: gênese,
constituição e ação política da educação alimentar,
documentos utilizam as diferentes denominações
1934-1946. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2000.
não esclarecendo os motivos das mudanças. Tais
4. Lima ES, Oliveira CS, Gomes MCR. Educação
termos demandam um aprofundamento sobre os nutricional: da ignorância alimentar à represen-
seus reais significados e sentidos. tação social na pós-graduação do Rio de Janeiro,
1980-1998. Hist Ciênc Saúde Manguinhos. 2003;
10(2):604-35.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. Buss PM. Promoção e educação em saúde no
âmbito da Escola de Governo em Saúde da Escola
Diante do exposto, considera-se funda- Nacional de Saúde Pública. Cad Saúde Pública.
mental discutir as abordagens teórico-meto- 1999; 15(2):177-85.

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EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL | 691

6. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 14. Brasil. Programa Fome Zero. Principais ações
Secretaria de Estado de Direitos Humanos. A implementadas pelo Programa Fome Zero. São
Segurança alimentar e nutricional e o direito Paulo; 2004.
humano à alimentação no Brasil, Brasil. 15. Brasil. Ministério da Saúde. Segurança Alimentar
Documento elaborado em março 2002 para a e Nutricional e Alimentação Saudável. [Internet].
visita, no Brasil, do Relator Especial da Comissão Brasília; 2004. [acessado em 2004 abr 12].
de Direitos Humanos da ONU sobre Direito à Disponível em: http://www.fomezero.gov.br
Alimentação, Brasília: Ministério das Relações
16. Brasil. II Conferência Nacional de Segurança
Exteriores; 2002. 65p.
Alimentar e Nutricional: A construção da Política
7. Assis AMO, Santos SMC, Freitas MCS, Santos JM, Nacional de Segurança Alimentar. Relatório final.
Silva MCM. O Programa Saúde da Família: maio 2004. [citado em 2004 maio 17]. Disponível
contribuições para uma reflexão sobre a inserção em http://www.fomezero.gov.br
do nutricionista na equipe multidisciplinar. Rev
17. Organização Mundial da Saúde. Documento
Nutr. 2002; 15(3):273-82. preliminar para a “Estratégia Global em Dieta,
8. Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de Atividade Física e Saúde. In: Prevenção Integrada
alimentação e nutrição. Brasília: Ministério da de Doenças Não Comunicáveis, Genebra,
Saúde; 2000. novembro 2003 [acessado em 2004 Abr 2].
Disponível em http://www.fomezero.gov.br
9. Monteiro CA, organizador. Velhos e novos males
da saúde no Brasil: a evolução do país e suas 18. Castiel D, Vasconcelos-Silva R. Internet e auto-
doenças. São Paulo: Hucitec; 1995. -cuidado em saúde: como juntar trapinhos? Hist,
Ciênc Saúde - Manguinhos. 2002; 9(2)291-314.
10. Batista Filho M, Rissin A. A transição nutricional
no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad 19. Rubim AAC. Comunicação e comtemporaneidade:
Saúde Pública. 2003; 19(1):181-91. aspectos conceituais. In: REDE IDA/Brasil,
Informação e comunicação em saúde. Brasília:
11. Schall VT, Struchiner M. Educação em Saúde: Fundação Kellogg; 1995.
novas perspectivas. Cad Saúde Pública. 1999;
15(2):4-6. 20. Delors, J Educação. Um tesouro a descobrir.
Relatório para Unesco da Comissão Internacional
12. Candeias NMF. Conceitos de educação e de sobre Educação para o século XXI. Brasília: Unesco;
promoção em saúde: mudanças individuais e 1999.
mudanças organizacionais. Rev Saúde Pública.
21. Luckesi CC. Filosofia da Educação. São Paulo:
1997; 31(2):209-13.
Cortez; 1994.
13. Instituto da Cidadania. Projeto Fome Zero: uma
proposta de política de segurança alimentar para Recebido para publicação em 24 de setembro de 2003 e
o Brasil. São Paulo; 2001. aceito em 15 de fevereiro de 2005.

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ANEXO

Revista de Nutrição
CARACTERIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL NOS DIFERENTES PERÍODOS

Aspectos Anos 1940-1960 Anos 1970-1980 Anos 1990-2000

Políticas de alimentação e nu- A criação do SAPS, na década anterior ao Da criação do INAN e do PRONAN com a ênfase Do Programa de Combate a Fome e à Miséria e pela Cidada-
trição prioritárias período e a ênfase na educação alimentar. na suplementação alimentar para a alimentação nia ao Programa Nacional de Alimentação e Nutrição, com
enquanto direito, no bojo da redemocratização ênfase na promoção da segurança alimentar e de práticas
do País. alimentares saudáveis.

Problemas nutricionais priori- Desnutrição. Desnutrição - fome. Da desnutrição à obesidade.


tários Prevenção das doenças crônico não transmissíveis.

Causas dos problemas nutri- A falta de informação. O reconhecimento da renda como principal obs- Da questão do acesso, tanto à alimentação devido ao baixo
cionais “Mito da ignorância”. táculo para o acesso à alimentação. poder aquisitivo, como à informação apropriada sobre ali-
mentação, os alimentos e as doenças associadas.

Modelo de atenção à saúde Ênfase na recuperação, atenção tardia, Ênfase na recuperação, atenção tardia, Busca a ênfase na promoção da saúde.
hospitalocêntrico. hospitalocêntrico.

População-alvo Populações de baixa renda. Populações de baixa renda, organizados em gru- Toda a sociedade.
pos biologicamente vulneráveis.

Contexto educacional Escola nova e a influência da visão compor- Pedagogia crítico-social dos conteúdos e a peda- Construtivismo e a influência das tecnologias nas
tamentalista. gogia libertadora a serviço das transformações metodologias de ensino. Frente à disponibilidade sem pre-
sociais, econômicas e políticas tendo em vista su- cedentes de meios para a circulação e, armazenamento das
perar as desigualdades. informações e para a comunicação, há uma tendência dos
sistemas educativos formais, privilegiar o acesso ao conheci-
mento em detrimento de outras formas de aprendizagem,
importa conceber a educação como um todo. Impulsionar
reformas educativas que incluam a definição de novas políti-
cas pedagógicas.

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Objetivos da educação alimen- Correção dos hábitos alimentares errôneos. Superação das causas básicas da problemática Subsidiar os indivíduos com informações sobre alimentos,
tar e nutricional nutricional, instrumento de fortalecimento das clas- alimentação e prevenção de problemas nutricionais que au-
ses populares na luta contra a exploração. Propo- xiliem na tomada de decisões.
sição que emerge no período que não substitui a
perspectiva anterior.

Conhecimentos prioritários Métodos e técnicas educativas. Determinação social e econômica da fome e des- Conhecimento das práticas alimentares e a sua determina-
para a formação e capacitação Princípios da alimentação correta. nutrição e dos hábitos alimentares. ção. Alimentação e cultura, informação, comunicação e
profissional Hábitos alimentares e cultura alimentar. mídia.Segurança alimentar e direito à alimentação
Promoção da saúde.

Método de ensino que tem Ênfase na dimensão técnica. Ênfase na dimensão política. A busca da relação Enfoque na transmissão, porém demanda articulação da
influenciado a educação ali- dialógica entre os atores da aprendizagem. dimensão técnica e política, aliando as intervenções indivi-
mentar e nutricional duais e coletivas.

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