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Sérgio Rubens
Licenciado Pleno em Educação Física pela UVV
RESUMO
Este artigo objetiva discutir os condicionantes culturais que contribuem no processo de
desenvolvimento da Síndrome de Adônis. Analisa o papel dos meios de comunicação nesse
processo e explicita os danos provocados na saúde dos indivíduos acometidos por essa
síndrome. Apresenta referenciais teóricos, pautados na matriz cultural, para subsidiar a
intervenção dos profissionais no contexto das academias, no intuito de prevenir o
surgimento de novos casos da Síndrome de Adônis.
INTRODUÇÃO
É no contexto das academias que a Síndrome de Adônis se manifesta. Por omissão ou por
apoio incondicional aos objetivos das pessoas que sofrem dessa síndrome, muitos
professores de academias reproduzem esse problema social e também muitos acabam se
tornando vitimas da obstinação pelo corpo perfeito. Compreendemos que a superação
desse problema social perpassa pela intervenção dos profissionais que atuam nas
academias. Para isso, é necessário que esses profissionais compreendam os condicionantes
sócio-culturais que desencadeiam a Síndrome de Adônis e busquem novos referenciais
teórico-metodológicos para lidar criticamente com fenômeno social que cresce no contexto
das academias.
A partir do quadro acima delineado é que se inserem os problemas que conduziram esta
pesquisa bibliográfica, quais sejam: a) quais são os fatores sócio-culturais que contribuem
para o desenvolvimento da Síndrome de Adônis? b) o que é possível analisar das
referências teórico-metodológicas que o professor de Educação Física pode recorrer para
atuar criticamente na prevenção da Síndrome de Adônis no contexto das academias?
Stoer, Rodrigues e Magalhães (2003), classificam o século XXI como o “século do corpo”,
pela importância e simbolismo que as práticas corporais assumiram. Trazemos inscritas no
nosso corpo as marcas do nosso tempo. Nele estão estampados os símbolos e signos que
nos rotulam e que definem os papeis sociais que devemos assumir. O corpo se tornou
objeto de prazer, de consumo e também de desprezo. Na sociedade das imagens, o parecer
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Estamos nos referindo a esteróides, anabolizantes etc...
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se tornou mais importante do que o ser. No tornamos corpos mutantes que se configuram
frente às pressões exercidas pela sociedade do consumo, que é mediada pelos meios de
comunicação. Contudo, para que não nos tornemos reféns da ditadura da beleza, é preciso
fazer uma crítica a esse padrão cultural. Como indica Ferreira (2005, p. 168):
Seria utópico falar de uma sociedade cuja cultura não se inscreva sobre o corpo,
mas é urgente pensar em uma sociedade com padrões corporais flexíveis, que
privilegie o corpo-real, corpo-possível, e que esse possa transitar de maneira
confortável e com vontade pela vida.
A alienação relacionada ao corpo perfeito tem início bem cedo e perpassa pela cultura
infantil. Há poucos anos atrás, os desenhos e filmes veiculados pela mídia e destinados ao
público infantil davam pouca importância às questões corporais. Os personagens eram
franzinos e cômicos. Hoje, esses filmes e desenhos tornaram-se violentos, apresentando
personagens com corpos bem definidos esteticamente, como demonstra a imagem do
desenho infantil “A liga da Justiça”:
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Esse quadro parece, acentuar-se nos últimos vinte anos, quando passamos a ser
bombardeados com imagens de corpos “abastecidos” com esteróides, homens
com corpos extremamente musculosos. Os vemos na televisão, na publicidade e
nos filmes
A mídia nos vende a idéia de corpos perfeitos esteticamente como sinônimo de saúde.
Porém, sabemos que por trás de muitos corpos esteticamente perfeitos, estão frustrações e
inúmeras patologias psíquicas e físicas, como a Síndrome de Adônis. Em nossa sociedade
machista e conservadora, espera-se do homem uma imagem máscula, que represente toda
sua força e poder. Homens fracos, franzinos e pequenos não representam os papeis sociais
culturalmente estabelecidos. Espera-se do macho moderno sua virilidade, sua capacidade
de resolver os problemas por meio da força. Diante desse fenômeno social, percebemos
homens cada vez mais fragilizados, que utilizam subterfúgios como anabolizantes,
cirurgias, implantes, dentre outros recursos, para se adaptarem ás imagens corporais
impostas pela sociedade do espetáculo. A felicidade, prometida pela aquisição do corpo
perfeito, torna-se um pesadelo, quando as conseqüências dos meios utilizados começam a
se manifestar. Depressão, isolamento, problemas físicos e mentais, são alguns problemas
recorrentes de quem busca o corpo perfeito de maneira frenética.
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O sujeito com Síndrome de Adônis é caracterizado por uma distorção da imagem corporal,
decorrente de um eterno conflito pessoal, em que o corpo apresenta-se como objeto de
fascínio e cuidado. Para ele o corpo é local de afeto mas também de repulsa, havendo uma
relação estreita de amor e ódio.
Essa síndrome se caracteriza por uma excessiva preocupação com a estética corporal. Os
portadores dessa síndrome dedicam-se a treinamentos extenuantes, a fim de atenuar a
vergonha que sentem do seu próprio corpo. Buscam uma solução rápida para o
fortalecimento corporal. Para tanto, fazem uso de substâncias perigosas e ilícitas, que
muitas vezes trazem danos irreversíveis à vida desses indivíduos (BALLONE, 2004).
Segundo Ballone (2004) e Rosenberg (2004), a faixa etária mais comum em que a
Síndrome de Adônis se manifesta é no final da adolescência e no início da idade adulta.
Para o ser humano, essa é uma faixa etária crítica, pois é o momento, no processo de
desenvolvimento e crescimento, que ocorrem transformações corporais significativas.
Nessa fase de auto-afirmação, os jovens buscam na imagem corporal a inclusão nos grupos
sociais que pertencem. Algumas características são marcantes nos indivíduos que
apresentam a Síndrome de Adônis, dentre elas podemos destacar:
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A título de exemplo ver: Adônis, jovem de grande beleza masculina, relacionada desde a antiguidade
clássica como modelo de beleza.
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Desproporção displásica
Lesões ósseas, articulares e musculares
Encurtamento de músculos e tendões
Tendência ao surgimento de tumores cancerígenos
O consumo indiscriminado de algumas substâncias pode aumentar o risco de
doenças cardiovasculares, lesões hepáticas, disfunções sexuais, diminuição do
tamanho dos testículos e maior propensão ao câncer da próstata
Foto 2: Foto 3:
Geralmente os sujeitos com esta síndrome “são pessoas capazes, inteligentes,
perfeccionistas, exigentes, sensíveis e afetuosas” (BALLONE, 2004 p. 18), que por algum
motivo, começam a repudiar a imagem refletida no espelho e assumem, gradativamente e
depois exageradamente, a obsessão por um novo perfil corporal.
Muitos jovens acometidos pela Síndrome de Adônis experimentam algo que até então não
tiveram: a atenção, os olhares, os comentários que estão ficando mais bonitos, fortes e
belos. Esses elogios são os combustíveis propulsores para que esses jovens queiram, cada
vez mais, “melhorar” sua imagem corporal. Para eles, não há limites.
Persistente em atingir seus ideais, o sujeito com essa síndrome lança seu olhar para tudo
que possa lhe render um corpo belo. Cego por um desejo absurdo e incontrolável de
conquistar num curto período de tempo o corpo idealizado, não percebe e ignora as pessoas
que de alguma forma tentam desviá-lo do seu objetivo. A vítima da Síndrome de Adônis
acredita estar mantendo o controle da situação em que se encontra..
Cada dia mais alienado, o portador dessa síndrome só tem olhos e o pensamento voltado
para o “mais”. Mais exercícios, mais suplementos, mais força, mais músculos, abstém-se
de fatores necessários para sua sobrevivência física e social. Determinação e obstinação
são palavras chaves para o seu pseudo-sucesso.
Aliás, o próprio professor de educação física que atua nas academias torna-se vítima da
sociedade do espetáculo. Muitos profissionais da área da Educação Física são selecionados
pelo seu corpo, a sua competência profissional é avaliada pelo “lay out” que apresentam.4
Um dos requisitos para ingresso nesse ramo profissional é a imagem, os conhecimentos
ficam em segundo plano. A aparência do profissional de Educação Física tem sido decisiva
no ato de contratação por parte das academias. Sua competência profissional está associada
a sua estética corporal, essa mesma estética que inclui ou exclui as pessoas dentro da
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Em estudo realizado nas academias de .....Mello et al (2007)
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sociedade. Torna-se cada vez maior o número de alunos que se matriculam na esperança de
parecerem fisicamente com a pessoa que vai instruí-los ou, ironicamente, destruí-los.
Algozes e vítimas: essa é a condição de muitos professores que atuam nas academias. Para
que haja mudanças, que viabilizem uma intervenção crítica dos professores, no sentido de
não reforçar os esteriótipos que influenciam na aquisição da Síndrome de Adônis, é preciso
romper com os paradigmas profissionais hegemônicos. Esse processo deve ser iniciado na
própria formação desses profissionais. Ainda é consenso que para atuar nas academias
basta ter somente o conhecimento de natureza biológica. Conhecer os ossos, os músculos e
sua biomecânica são os requisitos exigidos para atuar nas academias. É uma abordagem
reducionista que não contempla a dimensão cultural que incide sobre o corpo humano.
Daólio (2004, p. 6), afirma que:
Essa formação limitada acaba gerando uma atuação que entra em descompasso com que
preconiza o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF). Segundo o Código de Ética
do CONFEF/CREFs,5 relativo à atuação do profissional de Educação Física, é necessário
que o mesmo desempenhe suas funções como
[...] um interventor social, que age na promoção da saúde, e como tal deve
assumir compromisso ético para com a sociedade, colocando-se a seu serviço
primordialmente, independentemente de qualquer outro interesse, sobretudo de
natureza corporativista.
veiculadas pela mídia, conscientizando seus alunos dos efeitos prejudiciais que a obsessão
pelo corpo perfeito pode trazer para a dimensão psicológica e física, a partir de relatos de
pessoas que sofreram danos na saúde. Na própria academia, poderia ser instituído mural
que trouxesse informações sobre as mazelas causadas pelo uso de anabolizantes ou outras
substâncias ilícitas que afetam o organismo. Os professores também poderiam aproveitar
os avanços tecnológicos para ampliar os canais de comunicação com os alunos,
promovendo discussões pela internet sobre o tema em questão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obsessão pelo corpo perfeito traz uma série de conseqüências negativas para a saúde
física e mental dos portadores da Síndrome de Adônis, levando, em alguns casos, até a
morte das pessoas que são vítimas dessa síndrome. Entendemos que a superação desse
problema passa por uma abordagem multidisciplinar, em que profissionais de diversas
áreas, como educação física, medicina, psicologia e nutrição, precisam atuar de forma
articulada para ajudar os pacientes que sofrem da Síndrome de Adônis.
Os profissionais de educação física que atuam no contexto das academias têm uma função
importante para ajudar a combater essa síndrome, pois é, geralmente, nesse contexto que os
indivíduos buscam atingir o modelo de corpo propagado pelos meios de comunicação.
Entretanto, é preciso ampliar os referenciais que regem a atuação desses profissionais.
Além dos conhecimentos relacionados às dimensões biológicas e técnicas do movimento, é
necessário que os profissionais também abordem à dimensão cultural que incide sobre o
corpo, pois é justamente essa dimensão que afeta no desenvolvimento da Síndrome de
Adônis. Conscientizar os alunos sobre os fatores culturais, movidos pela indústria
midiática, que divulgam a ideologia do corpo perfeito se constituem como um objeto a ser
trabalhado pelos profissionais que lidam diretamente com a legitimação desse imaginário
social.
6 REFERÊNCIAS
FERREIRA, Maria Elisa Caputo. A obsessão masculina pelo corpo: malhado, forte e
sarado. Campinas (EDITORA?), 2005.