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Disciplina de Microbiologia Clínica Veterinária

FAVET-UFRGS
40 Semestre 2009-2
Disciplina de Microbiologia Clínica Veterinária
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40 Semestre 2009-2
ENTEROBACTERIÁCEAS (Salmonella spp)
Prof. Marcos J.P. Gomes
INTRODUÇÃO
Os gêneros que compõem as enterobacteriáceas com importância com relação às
doenças animais são: Salmonella spp, Proteus spp e Yersinia spp.
Gênero Salmonella
O gênero Salmonella deve o seu nome a Daniel Elmer Salmon, bacteriologista
veterinário que junto com Theobald Smith isolaram e descreveram, pela primeira vez, o
que
chamavam de bacilo da peste suína, em 1885. Mais tarde, o organismo foi denominado
Salmonella chorelasuis e tornou-se a espécie típica.
Há mais de 2.300 diferentes sorovares no gênero Salmonella, produzindo muitas e
variadas enfermidades identificadas de um grande número de hospedeiros distribuídos
pelo
mundo.
A classificação baseada no estudo do DNA determina somente duas espécies:
Salmonella enterica e Salmonella bongori.
A espécie enterica possui seis subespécies (Enterica, Salamae, Arizonae,
Diarizonae, Houtenae e Indica).
A subespécie Enterica possui um grande número de sorovares (ParaTyphi A,
Typhimurium, Agona, Derby, Heidelberg, ParaTyphi B, Cholerasuis, Infantis, Virchow,
Dublin, Enteritidis, Typhi e Anatum).
O nome dos diferentes sorovares tem origem tanto no nome da doença ou do lugar
onde foram inicialmente isoladas como: S. Cholerasuis ou S. Dublin.
O uso dessa taxonomia não é correta, mas está muito difundida na literatura
veterinária, sendo bem provável que continue a ser usada.
O Subcomitê Internacional em Enterobacteriáceas tem recomendado que os novos
sorovares sejam designados por suas fórmulas antigênicas e não nomes.
MORFOLOGIA E COLORAÇÃO
As células são Gram negativas, não capsuladas, bastonetes curtos (2-4 X 0,5-1) μm.
Possuem flagelos peritríquios e freqüentemente possuem fímbrias. As S. Pullorum e a
S.
Gallinarum são imóveis.
CARACTERÍSCAS CULTURAIS E BIOQUÍMICAS
Salmonelas são aeróbias, facultativamente anaeróbicas, podendo crescer em meios
sem fatores de crescimento. Há inúmeros meios seletivos para o isolamento desses
agentes.
Os mais importantes são: o meio Verde brilhante, o MacConkey, o Agar Sulfito de
Bismuto
(ASB).
A maioria das salmonelas utiliza seletivamente o selenito de sódio e o tetrationato
de sódio e, desse modo, podemos recuperar um pequeno número de organismos em
amostras contaminadas.
Temperatura para ótimo crescimento é de 37ºC, mas pode também crescer a 43ºC;
característica freqüentemente utilizada para reduzir o crescimento de contaminantes.
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Salmonelas produzem gás da glicose, podendo utilizar o citrato como fonte de
carbono. Reduzem o nitrato a nitritos, mas não produzem indol ou urease. São reagentes
a
lisina e ornitina descarboxilase. Gás sulfídrico (H2S), geralmente é produzido pela
maioria
dos sorovares.
Lactose não é fermentada a menos que a cepa do hospedeiro possua um plasmídio
que codifique para a lactose como a S. arizonae. Algumas cepas de S. arizonae
fermentam,
a lactose lentamente, outras rápidas.
BIOTIPAGEM
Biotipos são diferentes padrões de fermentação apresentados por um único sorotipo.
As características utilizadas são geneticamente estáveis e incluem, no caso da S.
Typhimurium, a fermentação da ramnose de Bitter, meso inositol, L-ramnose , d-
tartarato, e
meso-tartarato. O mais antigo e difuso sorovar com o maior número de biotipos. A
perda de
biotipos variantes tem mostrado que a S. Agona quando comparado com a S.
Typhimurium
evidenciou que S. Typhimurium é de origem mais antiga.
A biotipagem, bem como a fagotipagem provou ser de grande valor em estudos
epidemiológicos, especialmente no estudo da S. Typhimurium nas populações animais e
humanas.
FAGOTIPAGEM
A fagotipagem está baseada na sensibilidade da cepa a uma série de bacteriófagos
em apropriadas diluições. A técnica foi utilizada, pela primeira vez, com a S. Typhi e
tem
sido aplicada a S. Typhimurium e em outras salmonelas. Ela possui grande valor em
estudos
epidemiológicos. Há diferentes esquemas de fagotipagem desenvolvidos em muitos
anos de
estudos e que foram revisados pelo trabalho de Guinee e van Leeuwen (1978). A
fagotipagem da S. Typhimurium tem sido aplicada no Reino Unido. Recentemente, uma
modificação do método original desenvolvido na Inglaterra desenvolvido por Feliz
(1956)
tornou-se disponível, e assim, aquelas cepas da América do Norte podem ser
fagotipadas e
comparadas com cepas isoladas de todos os lugares.
Plasmídios podem alterar a fagotipagem de cepas das salmonelas por alterar os
receptores da superfície celular ou por codificar endonucleases de restrição.
ANTÍGENOS
Há 3 espécies de antígenos utilizados na identificação de salmonelas. Eles são: o
antígeno somático (O); o antígeno flagelar (F) e o antígeno da Virulência (Vi).
A especificidade do antígeno O é determinada pela estrutura e composição do
lipopolissacarídeo (LPS) da parede celular e os diferentes antígenos são denominados
por
números arábicos, como por exemplo, 4, 12.
Os antígenos O podem variar pela lisogenia e isso pode resultar na mudança do
sorovar. Outra variação no antígeno O pode resultar na mudança da aparência colonial
da
cepa na forma lisa e na forma rugosa. Essa mudança é acompanhada pela perda de
antígenos O e, algumas vezes, pela virulência.
O antígeno H ao contrario do antígeno O são lábeis ao calor e composto de
proteínas. Podem existir tanto na forma simples (monomérica) ou em 2 formas
separadas
(difásica), somente um dos quais é expresso a um dado momento. Este fenômeno é
conhecido como variação de fase de Andrewes.
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Antígenos da fase 1 são assinalados com letras minúsculas (exemplo a, b) e aqueles
de fase 2 são dados em números arábicos ou letras minúsculas. Os antígenos flagelares
da
fase 1 e fase 2 são determinados por 2 genes, H1 e H2 que codificam para a proteína
denominada Flagelina.
A síntese da flagelina H2 é controlada pelo evento recombinante que inverte a seção
do cromossomo contendo o gene H2. Quando o gene H2 é ativado, um outro gene
próximo
sintetiza uma substancia repressora que inibe a expressão do gene H1.
O antígeno Vi é encontrado somente na S. Typhi a qual causa a febre tifóide no
homem. A formula antigênica (sorotipo ou sorovar) de algumas salmonelas comuns
estão
listadas abaixo
Tabela 1 Fórmula antigênica de alguns sorotipos de salmonela.
Sorotipo Fórmula antigênica
______________________________________________________________________
___
S. Abortus ovis 4,12:c-1,6
S. Choleraesuis 6,7:c-1,5 (difásica)
S. Dublin 9,12:g,p- (monofásica)
S. Pullorum 9,12:- (imóvel)
S. Typhimurium 1,4,5,12:i-1,2 (difásica)
Os antígenos protéicos da parede celular das salmonelas não foram tão estudados
como os antígenos somáticos flagelares ou de virulência. As proteínas da membrana
externa variam de peso molecular desde 12.000 a 120.000 e têm sido observadas nas S.
Anatum, S. Enteritidis, S. Infantis e a S. Typhimurium. Os perfis protéicos de cada
sorotipo
variam muito embora algumas proteínas quando arranjadas com o LPS possam ser
capaz de
produzir resposta imune em camundongos. As porinas (proteínas) da S. Typhimurium
mostram causar uma resposta imune protetora em camundongos.
EPIZOOTIOLOGIA
Embora a via oral-fecal seja a mais importante forma de transmissão das salmonelas
para os animais, o ciclo de infecção pode ser mais complexo em algumas populações
animais.
Nas aves, por exemplo, a fonte primária de infecção pode ser o alimento
contaminado e subseqüentemente se difunde por meio da rota fecal-oral ou do ovo para
os
pintos na estufa. Um percentual variável de animais, uma vez infectado, permanece
portadores, eliminando o organismo intermitentemente nas fezes ou algumas vezes,
através
do leite. A distribuição dos sorotipos varia de uma área geográfica para outra. A S.
Typhimurium é universalmente distribuída.
Os sorovares são classificados como adaptados ao hospedeiro e como não adaptados
ao hospedeiro. O sorovar adaptado ao hospedeiro raramente causa doença em outros
hospedeiros que não seja aquele em que esteja adaptado. S. Dublin é tradicionalmente
adaptado aos bovinos, mas em algumas áreas tem mostrado uma tendência de se
espalhar
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nos suínos. Animais jovens são mais susceptíveis a salmonelose do que animais mais
velhos.
Falta de higiene, aumento de concentração tempo inclemente estresse de
hospitalização e cirurgias, parto, parasitismo transporte excesso de exercício e doenças
virais concorrentes são todos fatores predisponentes para a salmonelose clínica. Muitos
animais particularmente os suínos e aves alimentam-se com ração contaminada sofrem
de
infecções inaparentes durante toda a sua vida.
A ração animal é freqüentemente contaminada por uma variedade de sorovares, os
quais entram na mistura, através de suplementos protéicos como farinha de carne,
farinha
de ossos, farinha de peixe e proteína de soja. A salmonela entra nesses materiais durante
ou
após o processamento. No caso da farinha de ossos e de carne a fase de percolagem
remove
a gordura que após o cozimento é um estágio de contaminação importante; os
organismos
são mantidos e se multiplicam no material quando ela esfria.
Pássaros silvestres e roedores podem também ser a fonte de infecção para os
animais domésticos pela contaminação do alimento ou construções por suas fezes.
Salmonelas com exceção de algumas linhagens termorresistentes (tais como a S.
Senftenberg) são mortas a 56ºC em 10-20 minutos. Sobrevivem ou pouco mais nas fezes
e
em sedimentos de lagos e riachos
Salmonelose geralmente começa com infecção entérica que pode subseqüentemente
generalizar após a entrada do organismo na circulação sanguínea.
O animal pode desenvolver septicemia, meningite, artrite, pneumonia, aborto, ou
uma combinação desses quadros.
A Patogenia da enterite por salmonela segue 3 fases:
Fase 1 - A colonização;
Fase 2 - A invasão do epitélio intestinal e
Fase 3 – A diarréia ou estímulo a exsorção de fluido.
FASE 1: COLONIZAÇÃO DO INTESTINO
A colonização da porção distal do intestino delgado e do colon é passo inicial e
necessário na patogenia da salmonelose entérica. Bactérias fusiformes nativas que
ocupam
a mucosa do epitélio intestinal geralmente inibe o crescimento das salmonelas pela
produção de ácidos orgânicos voláteis. A flora normal também bloqueia o acesso aos
sítios
de ligação necessários pelas salmonelas. Fatores que rompam a flora normal tais como
terapia com antimicrobianos; dietas e privação de água aumenta a susceptibilidade do
hospedeiro a salmonela entérica e septicêmica A importância das fímbrias na ligação e
colonização das salmonelas durante a fase inicial da patogênese da enterite tem sido
demonstrada em camundongos. A fímbria adere melhor na mucosa do íleo do que as
cepas
isogênicas sem fímbrias e, portanto mais infectantes.
Pintos recém nascidos cuja flora intestinal não está estabelecida são mais suscetíveis
a colonização por salmonelas do que pintos em que foi dado conteúdo cecal para o
estabelecimento de flora intestina.
Peristaltismo reduzido também predispõe a colonização por salmonela por que ela
permite um supercrescimento temporário, especialmente no intestino delgado. O
peristaltismo é estimulado por uma microflora ativa nativa e a supressão destas aumenta
a
susceptibilidade à colonização.
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Suínos estressados pelo transporte evidenciam aumento na taxa de colonização para
um grande número de salmonelas. A base fisiológica deste fenômeno é pouco
compreendida
FASE 2 INVASÃO DO EPITÉLIO INTESTINAL
A fase de invasão do epitélio intestinal envolve as extremidades superiores das
vilosidades do íleo e colon. A salmonella penetra na célula intestinal sem aparentemente
causar a sua morte uma vez que não há mudanças morfológicas até mais tarde no
processo
normal da enfermidade. Os organismos podem multiplicar e infectar as células
adjacentes
ou passar até a lâmina própria ou delas continuam a se multiplicar, são fagocitadas e
seqüestradas nos linfonodos regionais. Após a invasão, as extremidades das vilosidades
contraem e são invadidas por neutrófilos.
Tem sido demonstrado que a capacidade de invasão aumentada de algumas cepas de
S. Typhimurium seria devido a gene codificado por plasmídio de 6—70 megadalton. A
base
biológica da virulência aumentada é desconhecida. Gene que codificam aumento de
virulência também tem sido verificado na S. Dublin.
A invasão das salmonelas é também, em parte, determinado pelo número e tipo de
monossacarídio especiais na cadeia de polissacarídio.
O 3,6-dideoxihexose são encontrados somente nas salmonelas virulentas e invasivas
como a S. Dublin, S. Typhi e S. Typhimurium. Tem sido sugerido que o 3,6-
dideoxihexose,
de algum modo, mascara determinantes na superfície da célula que se ligam ao
complemento e a ativam por meio da via alternativa. A falha na ativação do
complemento
seria claramente uma forma de sobrevivência das salmonelas, uma vez que reduz a
chance
de fagocitose.
FASE 3: ESTÍMULO A EXSORÇÃO DE FLUIDOS
A resposta inflamatória na mucosa intestinal é importante fator no extravasamento
de fluido intestinal. Prostaglandinas são liberadas como resultado a essa resposta ativa a
adenilatociclase que resulta na grande secreção de água, bicarbonatos e cloretos no
lúmen
intestinal. A resposta inflamatória também dispara a liberação de substâncias vaso ativas
que por sua vez, aumentam a permeabilidade dos vasos da mucosa intestinal levando-os
a
exsorção de fluido.
Há evidencias de que um enterotoxina semelhante a enterotoxina LT da E. coli é
produzida por algumas cepas de Salmonella spp Tanto a enterotoxinas LT e a ST tem
sido
observadas em extratos livres de células de S. Enteritidis. Na S. Typhimurium as
quantidades de enterotoxina LT parece ser muito baixa, requerendo indução pela
mitomicina C. O gene da toxina, por si só, não é codificado por fago. Outros
pesquisadores
falharam em detectar enterotoxinas em vários sorovares de pacientes com salmonelose
entérica caracterizada por diarréia aquosa. Entretanto, parece que pequena quantidade
de
enterotoxina LT associada às células pode estar presente em cepas de salmonela, mas
provavelmente sem importância para a exsorção de fluido e observados na enterite
causada
por salmonelas.
Exsorção de fluido é acompanhado por grande invasão de neutrófilos das
vilosidades com ileíte aguda e colite. Os neutrófilos são também eliminados pelas fezes
ea
sua presença possui valor diagnóstico.
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A patogenia da septicemia pela salmonela está intimamente relacionada ao efeito da
endotoxina liberada da parede celular bacteriana. A atividade endotóxica está associada
com o componente do lipídio A do LPS da parede celular. Muitos sinais da septicemia
(por
salmonelas) são similares àquelas produzidas pela inoculação experimental de
endotoxinas
purificada. Esses efeitos incluem: febre, hemorragias associadas ao consumo dos fatores
de
coagulação leucopenia seguida de leucocitose, depleção do glicogênio hepático com
hipoglicemia, hipotensão e choque que são freqüentemente fatais.
DOENÇA NOS BOVINOS
Os 2 sorovares de maior importância na salmonelose bovina são: S. Dublin e S.
Typhimurium. Surtos ocasionais são causados por outros sorovares, principalmente pela
contaminação do alimento. A S. Dublin está adaptada aos bovinos e ocorre na Europa,
no
oeste dos EUA e África do Sul.
A S. Typhimurium é encontrada em todo o mundo e infecta o homem e uma ampla
variedade de animais domésticos e silvestres.
Animais carreadores são os principais reservatórios da S. Dublin. Vacas adultas
clinicamente normais servem como fonte de infecção para os seus terneiros ou bezerros.
Se
a imunidade passiva do bezerro for pequena, a doença clinica pode se estabelecer.
Portadores adultos podem excretar o organismo por um tempo prolongado. Infecção
concorrente causada pela Fasciola hepatica aumenta a susceptibilidade de bovinos para
a S.
Dublin e aumenta a freqüência de animais portadores.
Portadores latentes adultos da S. Dublin são também comuns. Esses animais podem
excretar os organismos quando estressados, especialmente pelo parto ou doenças
concorrentes.
A maioria das infecções por S. Dublin ocorre quando os animais pastejam. Animais
mantidos em estábulos ou confinados possuem uma vizinhança menor tornam-se muito
menos infectado. Mais tarde, a infecção é mantida e a maioria dos animais
eventualmente
tornam-se tanto ativamente ou passivamente infectados. Riachos e rios podem tornar-se
contaminados servindo para disseminar os organismos nos bebedouros. A S. Dublin
pode
sobreviver nas fezes por pelo menos 4 meses e no ambiente por mais de 1 ano.
Doença entérica causada pela S. Dublin é geralmente observada em terneiros entre
3-6 meses. A doença em bezerros é caracterizada por diarréia mal cheirosa depressão
anorexia, febre, fraqueza e morte em 1 a 2 dias. As fezes podem ser tingidas por sangue
e
conter muco e partes da mucosa.
O exame “pos-mortem” revela petéquias no peritônio e áreas hemorrágicas de
inflamação no colon e a porção distal do intestino delgado. Os linfonodos mesentéricos
estão também hemorrágicos e edematosos. Pode haver necrose no fígado.
Terneiros que não morrem na fase aguda da doença podem desenvolver mais tarde
sinais de envolvimento articular e, raramente necrose isquêmica na ponta das orelhas, da
cauda e dos pés. A mortalidade pode ser tão altas quanto 75% mas as perdas são
geralmente
na ordem de 5-10%. Perdas são geralmente muito mais altas entre os compradores do
que
animais nativos.
A doença no adulto pode ser muito severa com começo repentino de febre,
depressão anorexia ou galáxia seguido de diarréia severa com presença de sangue ou
muco
nas fezes.
A morte pode ocorrer em substancial proporção desses animais se não são tratados.
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Animais que sobrevivem geralmente demoram 2-3 meses para retornar a condição
original.
A forma aguda da doença é observada em rebanho no qual não há prévio histórico
de infecção causada por S. Dublin e as quais são totalmente susceptíveis.
A forma subaguda ocorre em rebanhos nos quais a infecção é enzoótica e
caracterizada, mas em grau bem menos severo ao curso clínico de diarréia febre
moderada
e diminuição da produção leiteira. Vacas podem apresentar infecção clinica inaparente
da
glândula mamária e eliminar o agente através do leite.
O aborto é outra seqüela da infecção que pode ser precedida ou não de outros sinais
clínicos da doença. Febre pode preceder a ocorrência de aborto, mas raramente relatado.
A
S. Dublin são mais comuns de agosto a novembro na Europa. As salmonelas
aparentemente
infectam o feto, através da circulação da mãe via placenta, causando septicemia e morte
do
feto. Não há evidencias da transmissão venérea. O feto abortado mostra sinais de edema
subcutâneo e fluido serosanguinolento na cavidade peritonial. Aborto ocorre em média
com
o feto de 200 dias após a concepção.
A infecção aguda da S. Dublin nos bovinos, geralmente inclui: enterite
mucóidenecrótica
e petéquias na superfície das mucosas. Mudanças degenerativas podem estar
presentes no fígado e parede da vesícula biliar inflamada.
A epizootiologia e patogenia da infecção da S. Typhimurium difere sob vários
aspectos da infecção causada pela S. Dublin. A S. Typhimurium é geralmente mais
comum
sorovar isolado de surtos de salmonelose em bovinos. Embora esteja amplamente
distribuída no ambiente e numa grande variedade de hospedeiros silvestres.
A fonte de infecção para bovinos é outros bovinos. Clones específicos de S.
Typhimurium reconhecíveis por pela presença de fagos e plasmídios dominam as
populações de bovinos por períodos extensos e em seguida substituídos por um novo
clone.
Este fenômeno é mais aparente na população de bezerros, segundo muitos relatos do
Reino
Unido e, em menor extensão, no Norte dos EUA. As feiras de bezerros e as práticas de
distribuição nas quais os terneiros de diversas origens são agrupados e redistribuídos em
uma grande área geográfica assegura a distribuição de clones específicos. A pressão de
antimicrobianos posterior impõe-se para minimizar as perdas com a doença,
assegurando a
manutenção e persistência do clone enzoótico da S. Typhimurium. Alem disso, o fator R
do
plasmídio, atuando no clone enzoótico codifica o aumento da persistência no intestino,
contribuindo com epidemicidade do clone.
Casos de salmonelose em criações intensas de terneiros, geralmente aparece há
poucos dias da entrada dos bezerros infectados dentro da unidade, ocorrendo o pique em
cerca de 3 semanas. A difusão da infecção é maior em terneiros criados soltos, mas
capazes
de entrar em contato com outros animais criados em baias individuais; uma das razões
para
isso é que terneiros com salmonelose excretam o organismo na saliva e assim passam a
infecção para outros pela lambedura ou pela contaminação de baldes. Entretanto a
transferência oro-fecal entre terneiros é o modo de transmissão mais importante.
Animais persistentemente infectados são raros, a doença em bovinos jovens e
adultos tende a ser autolimitante. A infecção, entretanto freqüentemente desaparece no
grupo ou rebanho quando mantidas as condições de higiene ou estão livres da exposição
das fontes de infecção exógenas. Outras possíveis fontes de infecção para bovinos
incluem:
alimento contaminado, roedores, aves silvestres, lixo, cama de aviário e cursos da água.
S. Typhimurium causa enterite e septicemia em bezerros suscetíveis. A mortalidade
pode ser alta e a mortalidade de 50% ou mais alta. Salmonelas que possuem clones
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carregando o plasmídio com genes para a fermentação da lactose são altamente
virulentas e
causam uma mortalidade muito alta
As lesões nos terneiros e animais mais velhos são semelhantes àquelas descritas
para a S. Dublin, embora a S. Typhimurium não causa gangrena das extremidades ou
meningite, raramente está associada ao aborto.
Sorovares de outras Salmonelas podem também causar salmonelose entérica ou
invasiva em bovinos. Muitos desses sorovares são decorrentes do alimento e fezes de
aves
silvestres, ou contaminação do pasto por esgoto ou cursos de água. Outros exemplos de
outros sorovares alem do S.Dublin e S. Typhimurium são: S. Anatum, S. Montevideo, S.
Newport e S. Saint-Paul. A doença e lesões produzidas por esses sorovares geralmente
assemelham-se aquelas descritas para S. Typhimurium.
DOENÇA NOS CAPRINOS E OVINOS
A salmonelose nos ovinos está associada com adaptação do sorovar S. Abortus ovis,
S. Dublin. S. Montevideo e S. Typhimurium e ocasionalmente com outros sorovares
incomuns.
A S. abortus ovis ocorre na Europa e Oriente Médio, sendo uma causa de aborto em
ovinos nos últimos 2 meses de gestação. Ela é geralmente introduzida dentro do
rebanho
por meio de um ovino infectado. Os animais tornam-se infectados pela ingestão de
organismos que provocam uma bacteremia que pode ou não ser acompanhada por febre
baixa. O organismo invade a placenta e atinge o feto resultando em aborto. A placenta e
o
feto não demonstram nenhuma evidencia visível de infecção.
Aborto por S. Montevideo é comum na Escócia, sendo semelhante aquela causada
pela S. abortus-ovis. Ovelhas infectadas com 16 semanas ou mais de prenhez não são
acometidas e produzem cordeiros normais. Animais que são infectados mais cedo
abortam
poucas semanas depois. A placenta contaminada torna-se fonte de infecção para outros
animais.
S. Dublin e S. Typhimurium causam enterites, septicemias e abortos que é
semelhante na maioria dos aspectos do que descritos para bovinos. Bovinos são fontes
de S.
Dublin para ovinos e caprinos enquanto que a S. Typhimurium pode ser origem de uma
variedade de animais e fontes ambientais. Doença causada pela S. Typhimurium ou S.
Dublin é geralmente vista em situações de erro no manejo ou de rebanho.
A DOENÇA NOS EQUINOS
A salmonelose equina foi estimada em 5-10% dos eqüinos dos EUA. A S.
Typhimurium é de longe o sorovar mais comum e isolado, mas outros sorovares como a
S.
Enteritidis, S. Heidelberg, S. Newport e outros sorovares silvestres são ocasionalmente
isolados. A S. abortus equi ocorre em eqüinos na Europa, África do Sul e América do
Sul,
mas aparentemente desapareceu nos EUA, onde era uma das causas mais comuns de
aborto.
Fatores predisponentes afetam a susceptibilidade de eqüinos as salmoneloses.
Infecções latentes podem ser ativadas pelo transporte, pelo exercício excessivo, pela
verminose, pelo desmame, pelo calor, pela hospitalização e pela administração de
antimicrobianos.
Potros podem infectar-se de suas mães das fezes de aves silvestres e contato
diretamente com outros animais infectados. Salmonelose aguda é caracterizada por
febre
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anorexia, depressão e diarréia com sinais de dor severa abdominal. A animal torna-se
rapidamente desidratado, entrando em choque e morte dentro de poucos dias.
Em potros, a forma septicêmica é uma infecção altamente fatal e muito observada. A
endotoxina da parede celular da Salmonella spp é responsável pela pirexia, hipotensão e
neutropenia que é observada.
Animais que sobrevivem à fase aguda da doença, freqüentemente passam para a
forma crônica, a qual é caracterizada por diarréia que persiste por meses. As fezes
podem
ter a consistência de “cow pie”. Potros que se recuperaram podem adquirir poliartrite.
Alguns eqüinos com salmonelose entérica crônica facilmente perdem condição corporal
e
eventualmente são incapazes de levantar-se.
A S. abortus equi se difunde, principalmente durante o pastejo. As descargas
uterinas depois do aborto contaminam a grama que é comida por outros do grupo. A
égua
geralmente pouco antes do aborto tem febre e outros sinais de reação sistêmica que
sugerem a presença de bacteremia. As membranas fetais estão edematosas e mostram
hemorragias e áreas de necrose.
A DOENÇA NOS SUÍNOS
Os sorovares mais freqüentemente implicados em suínos são é o S. Cholerasuis e S.
Typhimurium. Outros sorovares podem ser carreados para o ceco e linfonodos
intestinais de
muitos suínos normais, refletindo a importância do alimento para os animais. Alguns
desses
sorovares tais como: S. Anatum. S. Derby, S. Heidelberg, S. Newport, S. Panama e S.
Saint-
Paul podem causar salmonelose em leitões susceptíveis ou suínos mais velhos
estressados
por outros fatores.
A S. Cholerasuis é mantida no intestino e tecido linfóide do suíno portador. O
organismo é eliminado pela maioria dos suínos por cerca de 3 meses, seguindo a
recuperação clínica ou indefinitivamente por poucos suínos. Ela sobrevive bem nas
fezes,
persistindo por mais de 20 semanas em dejetos. A contaminação da baia é importante na
epizootiologia da doença causada por esse e outros sorovares. O alimento é fonte
primária
da infecção por S. Typhimurium.
A doença causada pela S. Cholerasuis é conhecida como paratifóide ou paratifo. A
maioria dos casos no EUA e Europa, sendo causada pela variedade monofásica (6,7: -
1,5).
Outros sorovares, S. Typhisuis e S. Cholerasuis (difásica) são raramente isolados. O
paratifo ocorre em suínos de todas as idades, mas mais comum na fase de engorda, após
o
desmame. Vários fatores predispõem os animais a infecção. O organismo foi chamado o
bacilo da “hog cholera” por Salmon & Smith (1885) por causa do vírus da peste suína
que
invariavelmente acompanhava a S. Cholerasuis.
A doença aguda é caracterizada por áreas púrpura nas orelhas, ancas e abdômen,
febre alta conjuntivite, anorexia e morte em 1-3 dias. A necropsia detecta petéquias e
outros
sinais de septicemia. Pneumonia pode também ser observada. A forma menos aguda é
caracterizada por diarréia fétida que eventualmente pode resultar em morte ou extrema
perda de condição. Animais com a forma crônica apresentam espessamento da mucosa
intestinal, necrose da mucosa causada por infecções secundárias (espécies do gênero
Fusobacterium spp e Bacterioides spp).
A salmonelose causada pela S. Dublin é caracterizada por enterite e
meningoencefalite. A doença causada pela S. Typhimurium e por outros sorovares é
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geralmente entérica, septicêmica ou ambas. A S. Heidelberg produz uma enterocolite
catarral severa seguido de um estado de portador.
DOENÇA NOS CÃES E GATOS
A salmonelose clinica é incomum em cães e gatos embora muitos sorovares possam
ser carreados por animais aparentemente normais.
Surtos hospitalares causados pela S. Typhimurium associados a gastrenterites e
septicemia com uma mortalidade de mais de 60% dos gatos jovens em um hospital
veterinário. A administração de ampicilina nos doentes foi um fator de aumento dos
sinais
clínicos, visto que a amostra de S. Typhimurium era resistente a ampicilina, permitindo
o
estabelecimento do clone resistente na mucosa intestinal.
A salmonelose é uma complicação da quimioterapia em cães. Cães com
linfossarcoma desenvolveram salmonelose entérica e septicêmica após 3 dias do inicio
da
quimioterapia.
Abortos e morte perinatal em canis tem sido atribuídos a S. Panama.
DOENÇA NAS AVES
A S. Pullorum e a S. Gallinarum causam a diarréia branca bacilar e tifo aviário
respectivamente. A S. Typhimurium e outros sorovares não adaptados, a maioria é
transmitida pelo alimento também causam infecções e doença nas aves. A infecção nas
granjas de criação de frangos é comum, mas inaparente clinicamente, sendo de
importância somente do ponto de vista de contaminação da carcaça para consumo
humano. A S. Pullorum tem sido isolada de perus, galinhas, faisões, canários,
papagaios, bezerros, suínos, cães, raposa, lontras, gatos, chinchilas e homem. Ela ocorre
mais freqüentemente em galinhas criadas em galpão e menos comum em perus. Os
programas de erradicação tem tido sucesso nos EUA, Europa e a S. Pullorum é
raramente isolada nessas regiões. A S. Pullorum é altamente fatal para pintos, durante
os poucos dias de vida e particularmente se os pintos são estressados pelo frio. Pintos
mais velhos são mais resistentes.
O organismo é mantido no ovário das aves adultas e a infecção transmitida
transovaricamente. Alguns ovos infectados podem não eclodir, outros produzem pintos
infectados que se estressados tornam-se doentes, apresentando diarréia e septicemia. As
fezes contem grande número de organismos que rapidamente servem como fonte de
infecção para os outros na incubadora. O chão contaminado é uma importante fonte de
infecção para outros pintos. Eles podem infectar-se via aérea pela inalação de
organismos
Os pintos infectados amontoam-se perto da fonte de calor, não comem, aparentam
sonolentos, podem apresentar diarréia, morrendo em poucas horas. Meningoencefalite
pode
ser vista em alguns pintos infectados.
As lesões variam de acordo com o método de infecção. Pintos infectados por via
respiratória geralmente apresentam áreas caseosas nos pulmões. Áreas caseosas
semelhantes são observadas nas paredes da moela e músculo cardíaco. As perdas variam
como os pintos são manejados. O estresse provocado pelo resfriamento, manipulação ou
transporte pode aumentar, em muito, as perdas. Surtos em faisões tem sido descritos e
relatados. A S. Gallinarum causa o tifo em perus e galinhas. Sua distribuição é quase
inteiramente limitada àquelas aves e sua ocorrência é consideravelmente menor do que a
S.
Agona, S. Bareilly, S. Hadar, S. Oranienburg, S. Pullorum, S. Typhimurium, e outros
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sorovares transmitidos pelo alimento em regiões onde a avicultura é intensa. Por ser
uma
infecção tradicionalmente de criações de fundo de quintal a sua incidência tem sido
muito
reduzida pelas mudanças nas práticas de manejo e pela erradicação da S. Pullorum que
por
causa dos antígenos em comum permite a reação cruzada com antígenos da S.
Gallinarum
no teste em lâmina.
O organismo é mantido no ovário de aves portadoras e transmitido verticalmente
para a gema. É também transmitida horizontalmente, através das fezes e ovos quebrados
e
pelo carrapato das aves Argas persicus. O tifo aviário afeta aves adultas. Os sinais
clínicos
são da doença septicêmica aguda, tais como: fraqueza, asas caídas, hiperexcitabilidade,
paresia e diarréia. Anemia e leucocitose se instalam rapidamente.
Em muitos casos, as aves são encontradas mortas antes que quaisquer sinais tenham
sido observados. As lesões consistem em hemorragias no tecido subcutâneo e órgãos
parenquimatosos, pequenas áreas de necrose múltiplas no fígado, coração e no baço
aumentado.
A carcaça da ave morta por tifo aviário produz bactérias viáveis no fígado por até 11
dias e na medula por mais de 25 dias, após a morte. Os organismos também têm sido
obtidos de larvas de insetos que se alimentam da carcaça.
A S. Typhimurium é causa comum de salmonelose severa nas aves jovens,
especialmente em regiões onde a pulorose foi controlada. A doença é denominada de
paratifo e manifesta por enterite, diarréia e septicemia nos casos graves. Artrite em
patos
tem sido relatada. O agente pode localizar-se no ovário e transmitido para o ovo,
embora
muitas infecções são derivadas do alimento.
Nos pombos, as perdas causadas pela S. Typhimurium são muito grandes. A doença
é observada em pombais que tanto morrem logo após o nascimento ou desenvolvem
artrites
que os impossibilitam de voar. O edema articular é causado pela infecção e pela
formação
de exsudato gelatinoso na cápsula articular. Os pombos adultos não evidenciam a
doença,
mas podem possuir a infecção no ovário. O agente pode ser encontrado na gema em
desenvolvimento e transmitido verticalmente para o embrião em desenvolvimento
Sorovares exóticos que são transmitidos pelo alimento são freqüentemente isolados
de frangos e de ovos, embora a contaminação por salmonelas tenha declinado muito. A
contaminação de carne de frango e transmissão de salmonelas pelo alimento é de grande
interesse público, pois muitos casos de infecção humana são derivados dessa origem no
mundo todo.
O grupo da S. Arizonae contem 2 sorovares (18:Z4 , Z23 e 18:Z4, Z23-) que causa
enterite ou septicemia in perus. Esses sorovares são freqüentemente designados Arizona
7:1,2,6 e 7:1,7,8 respectivamente. Elas diferem das outras salmonelas, principalmente
por
ser fermentadora de lactose (lenta). A doença que elas causam é de importância
econômica,
sendo conhecida como arizonose e bem semelhante àquelas causadas por outras
salmonelas. Por poder se localizar no ovário, ela pode ser verticalmente transmitida. A
forma crônica da doença é caracterizada por sinais nervosos e por formação de catarata.
IMUNIDADE
Há uma crença geral de que a imunidade celular é mais importante que a humoral na
resistência da salmonelose sistêmica. Salmonelas são parasitos intracelulares
facultativos
que possuem uma sobrevivência aumentada dentro de fagócitos. Elas são resistentes à
degradação pelas enzimas lisossomiais, podendo sobreviver e multiplicar-se no
ambiente
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ácido dos fagos-lisossomos. A imunidade celular dos macrófagos do hospedeiro para o
patógeno não é sorovar específico.
Vacinas vivas são mais efetivas do que bacterinas na simulação da resposta imune
celular. Vacinas vivas podem persistir nos tecido, após a resposta protetora celular ter
acontecido.
Sorovares como a S. Dublin que prontamente estão aptas a estabelecer o estado de
portador ao mesmo tempo estão associadas com altos níveis de imunidade protetora.
Essa imunidade protetora pode ser comprometida se o animal está estressado ou
imunossuprimido.
Terneiros vacinados com cepa atenuada (S. Typhimurium) desenvolvem (DHT)
hipersensibilidade retardada e grande inibição da migração de macrófagos. Ambos
fenômenos estão correlacionados com a imunidade celular, estando associados a
aumentada
proteção contra o desafio experimental.
O LPS mostrou ser capaz de elicitar uma resposta de hipersensibilidade retardada
semelhante aquela elicitada pela imunização com doses subletais de organismos vivos.
Entretanto o antígeno deve ser incorporado em lipossomas para efeito de
hipersensibilidade
retardada ocorrer.
Estudos da principal proteína da membrana externa da S. Typhimurium mostrou que
ela deve ser misturada com o LPS para induzir a síntese de anticorpos protetores.
Anticorpos humorais são direcionados contra o antígeno da cadeia O do LPS e
contra a proteína da membrana externa. Anticorpos O são aglutinantes se eles são do
isotipo IgM. Eles podem instigar bacteriólise pela fixação do complemento.
Anticorpos para a proteína de membrana embora não sorovar específico podem
atuar como opsoninas (ação protetora).
Anticorpos para o core do glicolipidio (2 ceto-3 deoxioctonato-lipidio A) do LPS
são efetivos na neutralização do efeito endotóxico do LPS da salmonela. Este efeito
pode
ser expresso em todas as infecções por bactérias Gram negativas no qual o mesmo core
glicolipídio esteja envolvido.
A resposta imune local da mucosa entérica aos antígenos de salmonela tem sido
observada, mas a natureza e o papel dessas respostas na proteção local da mucosa
requer
muito mais estudo. Anticorpos têm sido detectados nas secreções jejunais seguindo a
administração oral de S. Typhimurium inativadas pelo calor. Bezerros vacinados
eliminam
poucas S. Typhimurium em comparação ao desafio com os animais-controle.
Uma grande variedade de vacinas contra a S. abortusovis tem sido descritas.
Vacinas inativadas parecem dar proteção limitada, pois falham em estimular uma
adequada
resposta celular. Entretanto, a via intradérmica pode ser utilizada para estimular a
resposta
celular protetora com bacterina. Ao contrário, a bacterina da S. abortus-equi tem sido
usada
com sucesso e permitindo o desaparecimento da doença dos EUA e muitas outras partes
do
mundo.
Vacinas vivas de S. cholerasuis têm sido utilizadas com sucesso na população suína
na qual a imunidade protetora aparece 2 semanas após a vacinação. A administração
concomitante de antimicrobianos pode inativar a vacina e os animais falham em montar
resposta protetora.
Vacina viva para S. Gallinarum estimula uma proteção melhor que uma bacterina e
a proteção não é dependente da resposta humoral. A imunização de galinhas com a cepa
atenuada 9R não protegeram contra a colonização da S. Typhimurium ou S. Infantis.
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A imunização de bezerros com linhagem rugosa de S. Dublin resultou numa forte
imunidade celular e uma pobre resposta humoral. A imunização de vacas prenhes
poucas
semanas antes do parto, com bacterina formolizada de S. Dublin resultou na proteção
passiva de bezerros na qual uma imunidade ativa pode mais tarde ser estimulada (6
semanas mais tarde) pela administração oral de uma cepa mutante viva estreptomicina
dependente.
A cepa rugosa mutante da S. Dublin amplamente utilizada como vacina no Reino
Unido também protege contra a doença causada pela S. Typhimurium. Entretanto, a
proteção contra o sorovar é modesta, podendo ser ultrapassada quando há excessiva
exposição à cepa virulenta. As vacinas de S. Typhimurium são bem mais variadas do
que os
outros sorovares.
Vacinas vivas estão sujeitas a inativação pelos antimicrobianos ingeridos com os
alimentos em sua dieta. Outra desvantagem é que apesar das vacinas vivas serem
avirulentas para bezerros normais, elas são patogênicas para bezerros privados de
colostro
ou animais imunodeprimidos.
SOROLOGIA
A resposta dos anticorpos à infecção por Salmonella spp pode ser medida, através
do teste de aglutinação, teste da antiglobulina e ELISA. O uso dos anticorpos em
bovinos é
impraticável na detecção de indivíduos infectados pela S. Dublin, mas são de grande
valor
na detecção da infecção de rebanhos. Tanto títulos para antígenos somáticos e flagelares
podem ser mensurados. Muitos animais infectados não possuem títulos positivos, pois o
soro foi colhido muito cedo ou a infecção não foi severa o suficiente para estimular uma
resposta imune ou o animal não respondeu. Isto também é possível quando os animais
transferem passivamente os organismos ao longo do intestino sem desenvolver resposta
imune. O estímulo antigênico associado com a salmonelose clinica é geralmente efetiva
em
desenvolver resposta com anticorpos e a recuperação de animais ou vacas que
abortaram
embora possuam títulos positivos.
Bezerros respondem melhor aos antígenos H do que o antígeno O das Salmonellas
spp. Os títulos para antígeno H devem ser mensurados nesses animais. O ideal seria a
coleta
de amostras pareadas. Os anticorpos contra a S. Typhimurium no fluido intestinal de
bezerros tem sido medidas pelo ELISA. O ELISA tem sido considerado uma técnica
efetiva
na mensuração de anticorpos para antígenos O da S. Typhimurium no colostro de vacas
vacinadas com bacterina e no soro de seus bezerros.
O soro de eqüinos infectados pela S. abortus-equi geralmente aglutina títulos entre
1:500 e 1: 5000. Animais normalmente possuem títulos de 1:200. As aglutininas H estão
presentes antes das aglutininas O que são indicativas de infecção recente.
O controle da doença causada pela S. Pullorum depende grandemente da
identificação sorológica e eliminação das galinhas portadoras. As soroaglutininas são
detectadas tanto em tubo quanto em lâmina ou pela aglutinação de sangue total em
lâmina.
O teste de lâmina positivo nos dá a mesma interpretação. O antígeno nesse teste é uma
suspensão pesada e corada de S. Pullorum. A microaglutinação é mais eficaz na
detecção
de títulos baixos de anticorpos. Anticorpos podem ser detectados na gema do ovo das
aves
infectadas.
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Anticorpos para S. Gallinarum podem ser detectados do mesmo modo e com o
mesmo antígeno de S. Pullorum. Outros testes sorológicos incluem: hemaglutinação,
antiglobulina, teste opsonofágico, citofílico e anticorpos bactericidas.
Títulos de aglutininas de 1: 25 para os antígenos O e H de S. Typhimurium são
sugestivos de infecção em perus, mas muitas aves infectadas podem ser
sorologicamente
negativas, mas é o mais útil quando aplicados a todo grupo.
Soraglutinação e Fixação do Complemento para os antígenos H e O da S. abortusovis
aparecem cerca de uma semana após a infecção. O título atinge o pico após 15 dias
depois
da inoculação oral e persiste por mais de 16 semanas. Testes sorológicos não são
rotineiramente utilizados na detecção de ovinos portadores e pouca informação existe
sobre
o valor de tais determinações.
A resposta aos anticorpos para a S. Cholerasuis não são consistentes o suficiente
para serem úteis no diagnóstico de portadores.
DIAGNÓSTICO
A salmonelose entérica pode ser diagnosticada pela inoculação direta das fezes ou
raspado intestinal em placas de meio de cultivo ou seletivo tais como o meio de
MacConkey, Verde Brilhante, SS agar, Xilose-lisina, Deoxicolato, Hektoen e Agar
Sulfeto
de Bismuto (ASB).
As características das colônias de salmonela nesses meios estão contidas na Tabela
1 abaixo.
Salmonelas fermentadoras de lactose podem ser reconhecidas no meio de agar
sulfito de bismuto. Algumas salmonelas, tais como: S. Dublin e a S. Abortus-ovis
produzem
colônias muito pequenas.
Amostra (10% volume) deve ser inoculada em meio de enriquecimento como
selenito ou caldo tetrationato; incubadas a 43ºC; e após 24 horas no meio de
enriquecimento as amostras são inoculadas no agar. A S. Cholerasuis não pode ser
isolada
no meio que contem selenito; ao invés disso deve ser isolada no meio de Rappaport.
Esfregaços de fezes de animais, corados pelo Giemsa, geralmente contem grande
número de neutrófilos polimorfos nucleares os quais são úteis no diagnóstico. O LPS de
salmonela (sorogrupo B e C2) pode ser detectado pelo teste de ELISA nas fezes de
aves,
cama ou na carcaça.
Os organismos, no caso de aborto podem ser observados em esfregaços do abomaso
e tecido palcentário. O teste de imunoperoxidade tem sido aplicado no reconhecimento
de
S. Cholerasuis, S. Dublin, e S. Typhimurium nos tecidos.
As técnicas sorológicas de diagnóstico são de maior valor quando aplicadas em todo
o rebanho ou quando amostras pareadas na fase aguda e convalescente são colhidas para
comparação. A resposta com anticorpos são mais consistentemente presentes em
animais
recuperados de infecção severa.
Bovinos que se recuperaram da infecção pela S. Dublin desenvolveram títulos para
antígeno O que variaram de 1: 80 a 1:320 e antígeno H de 1: 640 a 1: 5120, após 3-4
semanas da doença. Alguns animais latentemente infectados são sorologicamente
negativos.
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SENSIBILIDADE ANTIMICROBIANA
As salmonelas são sensíveis a amicacina, ampicilina, apramicina, cefalotina,
cloranfenicol, furazolidona, gentamicina, canamicina, estreptomicina,
trimetoprimasulfametoxazol
e tetraciclina.Embora somente ampicilina e cloranfenicol e trimetoprimasulfametoxazol
possua eficácia validada na terapia de infecções invasinas. Há evidencias
que a apramicina possa ser útil na terapia da salmonelose sistêmica em bezerros.
A S. Typhimurium e, outra em menor extensão, mostra resistência a múltiplos
antimicrobianos. A seleção de um antimicrobiano deve está baseada no teste de
sensibilidade aos antimicrobianos. A administração de um antimicrobiano a um animal
infectado e que apresenta resistência, aumenta a severidade da infecção e converte uma
infecção local em septicêmica. Nos animais tratados, a destruição da flora permite a
rápida
colonização pela amostra resistente. Alem do mais, o número de animais eliminadores e
a
duração da eliminação aumentam, em muito, após a terapia antimicrobiana. A pressão
de
seleção antimicrobiana aplicada nas criações intensivas de bezerros resultou em
emergência
da multirresistência às cepas de S. Typhimurium com plasmídio que codifica a
fermentação
a lactose ou persistência da cepa no intestino. Essas características aumentam a
epidemicidade, aumenta o potencial patogênico e confunde o laboratorista veterinário.
Muitos clínicos utilizam antimicrobianos pela via parenteral somente para o
tratamento da salmonelose sistêmica ou invasiva evitando assim o uso de
antimicrobianos
via oral.
DOENÇA NO HOMEM
As salmonelas causam gastrenterite febril acompanhada, algumas vezes, por
bacteremia. A doença é autolimitante, mas pode ser severa nas crianças e nas pessoas
mais
velhas. Nos países desenvolvidos as infecções humanas resultam da ingestão de
produtos
de origem animal incluindo ovos, carne de frango, de carne suína e de carne bovina.
Há um grupo de bactérias chamadas Enterobacteriáceas porque vivem no intestino
(entero = relativo ao intestino), principalmente no cólon, embora possam também
colonizar
outros habitats. No grupo estão bactérias muito patogênicas como as Salmonella spp, as
Shigellas spp, a Edwardsiella spp, o Citrobacter spp e a Yersinia spp.
Têm a forma de bacilos (bastonetes), vivem em ambiente com oxigênio (aeróbias)
ou sem ele (anaeróbias), fermentam a glicose produzindo ácidos e gases, algumas
possuem
flagelos que facilitam a movimentação e possuem cromossomo com duas hélices de
DNA.
Resistem ao ambiente ácido do estômago e ao ambiente alcalino, detergente
(determinado
pelos sais biliares) e rico em enzimas do intestino delgado.
Algumas vivem como simples comensais no intestino e outras podem ser
extremamente patogênicas.
São resistentes a muitos agentes físicos, mas podem ser mortas pelo calor de 54,5
graus centígrados por uma hora ou 60 graus centígrados durante 15 minutos.
Permanecem viáveis alguns dias na temperatura ambiente ou nas baixas
temperaturas e durante semanas no esgoto, alimentos secos, agentes farmacêuticos e
material fecal.
São bactérias de grande plasticidade genética que permite viverem numa grande
variedade de habitat. Há salmonelas altamente adaptadas ao homem, outras altamente
adaptadas aos animais que geralmente não causam problemas para os humanos e outras
não
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adaptadas a hospedeiros e que podem determinar doenças tanto no homem quanto nos
animais.
Na superfície contêm três antígenos: o somático (O), o flagelar (H) e o capsular (K)
que servem para os testes sorológicos para a identificação.
As Enterobacteriáceas, como as salmonelas que nos interessam no momento, são
consideradas os mais importantes patógenos intestinais das aves. As espécies aviárias
que
não possuem ceco (porção inicial e ampolar do intestino grosso), ou ele é rudimentar,
são
mais suscetíveis às Salmonellas spp do que as que possuem o ceco funcionando
normalmente.
Embora a transmissão mais comum seja a fecal-oral, pode acontecer a transmissão
por via respiratória pela inalação de bactérias contidas na poeira contaminada por penas
ou
fezes. O embrião pode ser contaminado por bactérias possuidoras de membranas ou sem
elas (formas L) que penetram pelos poros da casca do ovo. Um número muito pequeno
de
bactérias, maior do que 9 ou 10, pode matar o embrião. Quando o número e a virulência
da
salmonela não são capazes de matar o embrião, o filhote nasce contaminado e capaz de
disseminar a bactéria por toda a ninhada.
As aves livres, como os pardais e as rolinhas, também podem ser portadores sãos
das salmonelas e, assim, serem fontes de contaminação de aviários.
Há outra forma de contaminação vertical do filhote quando ele é alimentado por
conteúdo contaminado do papo da mãe ou do pai. Um dado preocupante: normalmente
o
intestino do filhote recém-nascido é estéril e, aos poucos, vai sendo colonizado por
bactérias acidófilas não patogênicas. Mas, na contaminação do embrião, a colonização
inicial do intestino do filhote pode ser pela salmonela.
A infecção ovariana pode contaminar a gema ainda no próprio ovário. O ovo pode
ser contaminado durante qualquer fase da postura e durante o choco. Algumas vezes,
pode
haver aves com a doença de forma crônica, com períodos de septicemia (presença da
bactéria no sangue) e sinais clínicos.
Atualmente, os quadros epidêmicos podem ser acompanhados e controlados por
técnicas muito refinadas como a análise dos plasmídios e a digestão dos genes
cromossômicos pelas endonucleases, capazes de diferenciar mínimas diferenças nas
estruturas cromossômicas das bactérias.
Há um grande interesse nas salmonelas chamadas não tifóides, ficando de lado os
quadros sistêmicos graves conhecidos por febre tifóide ou febre entérica determinada
pela
S. Typhi, cujo único hospedeiro é o homem.
Acomete milhões de pessoas anualmente, sendo a metade de jovens abaixo de 20
anos de idade e um terço de crianças abaixo dos quatro anos. A maioria dos casos surge
nos
meses quentes. Os principais reservatórios dessas salmonelas são o frango, os perus, os
patos, as ovelhas, os porcos, o gado bovino, os pássaros e os animais de estimação,
inclusive o gato.
O uso de pequenas doses de antimicrobianos em animais facilita a emergência de
cepas de bactérias resistentes aos mesmos no intestino dos animais; no ato da matança
essas
bactérias podem contaminar a carne.
Geralmente ocorre em surtos causados por alimentos, ou mais raramente, por água
contaminada.
As carnes de aves domésticas ou os seus produtos, principalmente os ovos são
fontes importantes de infecção humana.
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Os ovos podem ser contaminados por salmonellas que penetram pela casca ou
diretamente por bactérias existentes nos ovários das aves e que infectam as gemas.
Muito
cuidado com o consumo de ovos crus ou mal cozidos diretamente ou contidos em
maioneses, saladas, etc. O ovo da pata (a mulher do pato) criada nos quintais
contamina-se
facilmente na cloaca da ave ou pelo péssimo costume da postura no chão.
Cuidado com as carnes de animais cruas ou mal passadas dos quibes, churrascos,
bifes, etc. Um churrasquinho mal passado pode acabar com uma festa de casamento ou
de
aniversário. E encontro de passarinheiro que se preza termina, ou começa, sempre em
volta
de uma mesa ou de uma churrasqueira. Não seria de bom tom o pássaro voltar para casa
são
e o dono contaminado.
Cuidado redobrado com animais de estimação, especialmente com as tartaruguinhas
de aquário e iguanas. Os passarinheiros devem ter cuidado especial com alimentos
derivados de peixes e ossos fornecidos aos pássaros.
Outras fontes são o leite ou seus produtos não pasteurizados, instrumentais médicos
e medicamentos feitos com produtos animais contaminados. No passado aconteceram
vários surtos de salmonelose dentro de hospitais e determinados pela Salmonella
cubana,
contaminante do corante carmim usado nos laboratórios; esse corante tem como matéria
prima o inseto Dactylopius coccus costa, hospedeiro da S. cubana, encontrada
originariamente no México e América Central.
As frutas e verduras podem ser facilmente contaminadas pela água, devendo ser
rigorosamente lavadas se forem consumidas com a casca ou cruas. Cuidado com a
qualidade, o prazo de validade e a estocagem das rações dos animais. Já foi descrita a
infecção da criança durante parto vaginal de mãe infectada.
O estado de portador crônico das salmonelas não Typhi é raro entre pessoas sadias.
Após uma infecção, o animal pode eliminar as salmonelas por até 5 semanas. Na parede
intestinal são notadas inflamações difusas com edema, algumas vezes erosões e
microabscessos. Apesar da capacidade do organismo em penetrar a parede intestinal,
raramente são observadas ulcerações ou destruição do epitélio. A acidez do estômago,
principalmente quando chega próximo ao pH 2, elimina um grande número de bactérias,
mas os recém-nascidos e crianças, possivelmente os filhotes de pássaros, que têm acidez
menor e o estômago é esvaziado mais rapidamente, são mais vulneráveis a salmonelose
sintomática. A passagem estomacal mais rápida para os líquidos do que para os sólidos
explica porque um número pequeno de bactérias pode provocar doença nos surtos
determinados por água contaminada.
No intestino, as salmonelas competem com as bactérias da flora normal para o
crescimento; esse equilíbrio pode ser quebrado, em favor das salmonelas,
principalmente se
forem resistentes, pelo uso inadequado de antimicrobianos. O uso de medicamentos que
diminuem a motilidade intestinal, favorecendo o maior tempo de contato da bactéria
com a
parede, como os antiespasmódicos, favorece a atividade da bactéria. Após a
multiplicação
na luz intestinal, as Salmonellas aderem-se à parede da célula e penetram sem ocasionar
lesões ou ulcerações. Embora muitas bactérias produzam citotoxina capaz de facilitar a
penetração, o seu papel ainda não é muito claro. Alguma salmonela pode produzir
enterotoxina semelhante a da cólera, determinando efluxo de água e eletrólitos para a
luz
intestinal, mecanismo principal da diarréia aquosa.
A infecção pelas salmonelas não tifóides caracteriza-se pelo início súbito com febre,
náuseas e vômitos, cólicas abdominais, inicialmente na região do umbigo e no
quadrante
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inferior do abdome, diarréia com fezes aquosas, algumas vezes, com aspecto disentérico
com sangue e catarro mostrando que o cólon foi atingido. A incubação é curta, em
média
24 a 48 horas. Outros sinais são dor de cabeça, tonteiras, confusão mental e distensão
abdominal. Algumas vezes, surgem sinais de meningismo e convulsões. Embora a
salmonelose não tifóide se restrinja à parede intestinal, em condições especiais as
bactérias
podem invadir a corrente sangüínea (bacteremia) e chegar a qualquer órgão, sendo os
preferidos às meninges, os pulmões e os ossos.
Nos pássaros podem também chamar a atenção a sede intensa, o aumento do
volume urinário, a falta de ar (algumas vezes pode não significar acometimento
pulmonar e
sim cardíaco), algumas vezes sinais articulares e a secreção ocular que caracteriza a
conjuntivite.
A possibilidade das salmonelas poderem provocar infecções nos ovários e testículos
é de importância prática para o criador preocupado com a fertilidade dos seus pássaros. .
O diagnóstico laboratorial pode ser feito pela cultura das fezes ou de outros líquidos
orgânicos, como o líquor, o líquido sinovial e a urina. Se houver possibilidade de colher
material de supurações, a coloração pela técnica de Gram é de valia. As bactérias
crescem
bem em meios de cultura não seletivos como o agar-sangue ou o agar chocolate.
Quando há
possibilidade da presença de bactérias da flora, como nas fezes, podem ser usados meios
seletivos como o MacConkey, XLD e “bismuth sulfite” (BBL). A identificação pode ser
feita pelos testes bioquímicos e sorológicos, utilizando anti-soros específicos. O uso do
ADN para identificação das salmonelas é possível em laboratórios experimentais.
No homem não há, a não ser em casos especiais, determinados pelo médico,
indicação para o uso de antimicrobianos nas gastrenterites determinadas pelas
salmonelas.
Os cuidados gerais com a hidratação são suficientes. Além desses casos especiais de
gastrenterites, os antimicrobianos estão indicados nos casos em que há a bacteremia ou
focos fora do intestino.
A dúvida de usar ou não antimicrobianos também é válido para as aves, mas, pela
possibilidade da disseminação vertical ou horizontal da doença para um grande número
de
aves, o uso de antimicrobianos parece que deve ser mais liberal. Existem vários
antimicrobianos que podem ser usados como a ampicilina, a associação
sulfametoxazoltrimetoprima
(na realidade um quimioterápico e não um antibiótico), cefalosporinas de
terceira geração e as quinolonas. Volto a afirmar, o tratamento dos animais é
prerrogativa
do veterinário. Os criadores devem restringir a sua atuação aos cuidados profiláticos.
Afinal, mais vale prevenir do que remediar.
Aos governantes, à comunidade e às pessoas cabe procurar os meios para evitar o
contágio pelas Enterobacteriáceas:
Tratamento da água e fornecimento a toda a população em quantidade suficiente.
Construção de sanitários públicos limpos, cuidados com o lixo e construção de esgotos
são
também atos governamentais essenciais.
Construção de sanitários nas residências, evitando fossas e a eliminação dos dejetos
no meio ambiente. Os canis devem ser mantidos escrupulosamente limpos, devendo as
fezes ser encaminhada para a rede de esgotos tão logo sejam eliminadas pelos animais.
As
botas usadas durante a limpeza dos canis não devem ser usadas em outros
compartimentos,
assim como outros utensílios como vassouras, rodos, mangueiras de água, etc. Não
esguichar a água diretamente no bolo fecal para não disseminar possíveis parasitos;
recolhe-las com uma pazinha e somente depois lavar o chão.
Disciplina de Microbiologia Clínica Veterinária
FAVET-UFRGS
40 Semestre 2009-2
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Evitar nadar em águas também freqüentadas por animais. É comum a natação em
rios que são contaminados a jusante por excrementos de animais de fazendas, sítios e
chácaras.
Ficar atento ao tratamento dos animais domésticos, algumas vezes contaminantes do
meio ambiente familiar. Animais domésticos não devem ficar dentro de casa,
principalmente se houver crianças. Evitar que crianças brinquem nos locais destinados
aos
animais. Deixar o cão freqüentar a piscina é um risco que deve ser bem calculado.
Lavar as mãos das crianças antes das refeições e após as evacuações usando sabão e
uma
escovinha para limpar as unhas. Lavar as mãos adequadamente é uma das ações mais
importantes no controle das infecções, tanto por sua eficiência como pela facilidade de
execução. Infelizmente, é muito negligenciada pelas pessoas. Se o criador conseguir
lavar
as patas dos filhotes, pelo menos uma vez por dia, usando água e sabão, evitaria
algumas
dores de cabeça.
Isolar o animal doente e procurar detectar os parasitas em outros animais do canil.
Enfim, como as salmonelas atuam como verdadeiras zoonoses, capazes da transmissão
animal-homem, e também homem-animal para não ser injusto, os cuidados sempre
devem
envolver os dois elos. Nunca esquecer que o criador também tem família. E daí, devem
estar perguntando os passarinheiros, o que temos a ver com isso? Tudo.
Como zoonoses, as salmonelas podem atingir o homem vindo dos animais e viceversa.
Portanto, além da importância do controle da salmonelose no plantel, as suas atitudes
passam a ter um sentido social mais amplo.
O controle é relativamente fácil. O principal modo de transmissão é o fecal-oral:
saída do agente pelas fezes, contaminação do meio-ambiente e entrada pela boca. O
conhecimento básico é importante. Lavar rigorosamente as mãos com água e sabão,
sabão
mesmo, esfregando as unhas com uma escovinha antes de manusear as frutas, as
hortaliças
e a água que serão fornecidos aos pássaros. As mãos devem ser lavadas, sempre com
água e
sabão, antes e depois de manusear pássaros ou os utensílios.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
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Disciplina de Microbiologia Clínica Veterinária
FAVET-UFRGS
40 Semestre 2009-2
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