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olhar
os arqutipos em ideias.
A persistncia do mito na atualidade, e a mitologia prpria do texto literrio
passam a ser investigadas, a partir de reflexes de Donaldo Schler (1978, p.1116) na introduo de seu estudo sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Baseado em noes de Eliade, o autor esclarece que o mundo moderno
conserva resqucios do comportamoento mtico, ainda que esvaziados do seu
significado religioso. Isso se deve ao fato de o homem no poder abolir seu
passado, permanecendo, portanto, vinculado s realidades j superadas pela
nova maneira de conceber o Cosmo. A preservao pode ser observada, por
exemplo, na persistncia de tabus, nos rituais profanos de entrada de Ano Novo,
em inaugurao de casa nova, etc.
Enunciando subsdios fornecidos por Villegas, o autor destaca que o mito
concebido em vrios nveis, situados entre a alta sacralidade e estgios em que
ela no aparece. Da a necessidade de se admitir a existncia do mito
degradado, que o mito profanizado, isento de contedo religioso. Enquanto o
mito constitui a origem, a mitologia, ao invs disso, uma elaborao peculiar de
mitos, ou seja, sua concretizao num determinado sistema religioso. O mito
cosmognico, por exemplo, representado, com significativa semelhana, em
vrias mitologias, como a babilnica, a grega, a hindu, a hebraica, etc.
Tambm a obra literria elabora uma mitologia prpria, que envolve
diversos nveis de dessacralizao. Uma importante distino entre mitologia
artstica e mitologia antropolgica sublinhada por Schler nos seguintes termos:
O autor ator do discurso na mitologia antropolgica, porque
representa um papel que a cultura lhe impe. elo inconsciente
na cadeia da tradio. Na mitologia artstica, o autor sujeito do
discurso. No repete uma ordem pr-estabelecida, cria novas
relaes. (SCHLER, 1978, p.15)