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Daniel, o Dani como era chamado, era calado. Não era antipático, mas era
calado. Ninguém sabia muita coisa da vida dele, fora o necessário, ou seja,
onde ele fez faculdade e cosias assim. Mas era um ótimo funcionário, e era
isso que importava.
Marcos abriu a porta do carro simples que tinha. Não fazia questao de ter
mais do que necessitava. Daniel entrou no banco do carona, colocou a
mochila nos pés e uxou o cinto. Marcos ainda estava sem graça de
conversar com o menino calado. Para melhorar o ambiente ligou o ipod no
som do carro. E começou com Beatles. Estava no shuffle, mas bom gosto
musical era o forte de Marcos. De canto de olho viu Daniel cantarolar a
música conhecida e bater com os dedos o ritmo da música. Era a desculpa
perfeita pra puxar assunto. E foi assim que começou, o gosto musical era o
tema principal, e por incrível que pareça eram muito parecidos nas opniões.
Não gostavam dessas novas bandas que achavam que faziam rock, mas
sabiam reconhecer uma boa música independente da banda.
-x-
A carona foi estranha mas ao mesmo tempo boa. Marcos deixou Dani em
casa, e foi pra casa ouvir música e tocar guitarra. Tinha ficado feliz com a
aproximação com o seu funcionario mais calado. Gostava desse bom
contato.
Nada como um noite de rock, cerveja e bom papo para tirar o estresse de
um dia pesado de trabalho. Marcos estava tonto, rindo a toa, e com uma
enorme vontade de dançar.
-x-
Eram 7:30. Sabia que tinha que levantar e se arrumar para chegar no
horário de sempre. Mas não queria chegar no horário de sempre. Não queria
chegar hoje. Não queria chegar nunca mais.
Lembrou aos poucos dos detalhes da noite. Do beijo, dos cheiros, dos
toques. Se sentou novamente no sofá e dessa vez teve vontade de chorar.
Deixou uma lágrima solitária escorrer por seu rosto. Não sabia o que fazer,
o que pensar e muito menos o que sentir. Tinha agido por impulso, estava
bebado. Mas tinha gostado, queria mais.
Dentro do carro não colocou o ipod. O silencio estava mais atraente naquela
manha ensolarada. O verão carioca estava fazendo os corpos suarem mais
rapidos e os pensamentos correrem mais lentos.
Entrou no escritório, sabia que a primeira mesa era a de Dani, não poderia
nem passar despercebido. Fechou a porta, raspirou fundo mais uma vez e
continuou andando em uma velocidade que parecia eterna. Sabia que a
primeira pessoa que iria ver assim que virasse no canto da parede era o
Dani e Marcos não sabia o que sentir quanto a isso. Queria muito
reencontrá-lo. Mas não sabia o que dizer, o que falar, como sorrir, ou não
sorrir. Estava nervoso e suando.
Marcos seguiu calado até sua mesa, fechou a porta. Deixou a chave a
carteira em cima da mesa e sentou em sua cadeira, ainda no automático
ligou o computador, rodou a cadeira e olhou a praia pela janela. Ao mesmo
tempo que passou uma sensacao de alívio por dentro dele estava com
medo de não ver mais o Dani. Estava com medo de o ter assustado. Foi uma
terça feira diferente e estranha.
-x-
Chegou em sua sala e deu de cara com um papel em cima da mesa. Levou
um susto, reconheceu a letra e não entendeu como foi parar ali. Lembrou
que Dani tinha a chave do escritório, deve ter passado lá antes do
expediente começar.
“Não consegui ficar pra trabalhar mas quero conversar com voce. Me liga.”
Marcos não esperava ouvir isso, mas não foi tao chocante assim. Dani
continuou
“Eu me envolvi com voce, eu gosto de voce e eu quero voce. Mas não sei o
que voce quer, não sei o que voce pensa sobre tudo isso que aconteceu.
Estou pronto para qualquer reacao, só peco que não misture o profissional,
preciso desse emprego.”
Marcos levantou, foi até a janela, olhou o sol se pondo, respirou fundo,
voltou, parou em frente a Dani que estava de pé ao lado do balcao da
cozinha e sem medo e sem receio, o beijou carinhosamente. Estava selado
um sentimento novo, estranho, diferente, mas gostoso de se sentir. Foi
exatamente assim que Marcos estava se sentindo, novo, estranho, diferente
e bem.