No restam dvidas de que a profisso de um homem marca profundamente
sua existncia, especialmente quando ele se integra no trabalho com toda sua inteligncia e efetividade. O homem no pode agir como um autmato, sem intenes e sem interesses. A autenticidade ou inautenticidade de suas atitudes e do seu discurso tem uma ntima relao com o exerccio profissional. No possvel libertar-se dessa condio humana. Mesmo os profissionais que alegam agir independentemente do mundo pessoal e familiar acabam escolhendo este dualismo entre o trabalho e a vida particular. Mesmo na omisso, o homem continua escolhendo. Mesmo os que agem por simples hbito, mecanicamente sem assumir as exigncias da conscincia profissional optam pro uma atitude alienada e eticamente dbia. De qualquer maneira, separar a profisso da vida pessoal e social uma espcie de tentativa de negao do humano que somente se realiza e atinge seus fins na ao, na atividade ldica e produtiva. S o homem pode profissionalizar-se. A profisso, aqui, entendida como ato de professar, de exercer publicamente uma funo ou modo de ser habitual, torna efetiva e visvel a nossa condio social. Pois a profisso antes de ser um emprego, uma atividade especializada de carter permanente, implica um compromisso social e encerra vnculos tanto de aspecto jurdico como existencial. A profisso hoje, sem dvida, uma das modalidades importantes do existir humano. A relao entre o tico e a tica profissional remonta distino aristotlica que considerou como tico aquilo que relativo s virtudes prticas, ao comportamento do homem virtuoso, e tica, em conseqncia, a cincia que investiga os problemas ticos. Deste modo, a tica profissional, a partir de pressupostos ticos gerais e bsicos, tenta legitimar princpios morais aceitos em determinada comunidade como sendo de validade comum. A tica profissional estuda cdigos de tica especficos a cada rea de aplicao e que na realidade seriam mais cdigos morais, pois se limitam a normas que possibilitam um melhor relacionamento interpessoal. Mas, ao mesmo tempo que preciso reconhecer os limites de tais normas, dependentes de uma situao social e histrica, tambm preciso reconhecer o problema genuinamente filosfico presente na tentativa de fundamentar o tico e nele os sistemas sociais e polticos. Vivemos numa situao em que, tanto no plano do discurso como no plano da realidade, a tica est em crise. Em qualquer tipo de relao, os valores consagrados e os princpios norteadores da vida social e pessoal esto sendo superados por interesses que contradizem o bem comum e os direitos fundamentais do homem. Mas, se de um lado no possumos uma resposta definitiva pergunta sobre a natureza do bem e do mal, sobre o melhor modo de agir e sobre os valores que podem determinar um verdadeiro padro de comportamento etc., por outro lado, ainda tentamos buscar uma soluo para o problema tico, apesar de se perceber que ele consiste essencialmente numa experincia de ambigidade. Dito de outro modo, a crise tica e uma experincia universal, isto , de todos os homens, de todas as classes sociais e profisses, em todas as pocas. Ningum pode se livrar do tico, isto , da constante necessidade de escolher, de decidir, do deve ser, do agir ou do saber prudencial.
MALIK, Kenan. O espelho da raça: o pós-modernismo e a louvação da diferença. In: WOOD. Ellen e FOSTER. John Bellamy (orgs.) Em defesa da história: marxismo e pós-modernismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.