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Realidade
pedrohmbt@hotmail.com
“Chegamos a saber que nenhum sintoma histérico pode advir de uma única
experiência real, mas que, em todos os casos, a lembrança de experiências
mais antigas despertadas em associação com ela atua de forma conjunta na
causação dos sintomas”1 (Idem, P.432, o grifo é meu)
1
“Wir haben erfahren, daß kein histerisches Symptom aus einem realen Erlebnis allein hervorgehen kann,
sondern daß alle Male die assoziativ geweckte Erinnerung an frühere Erlebnisse zur Verursachung des
Symptoms mitwikt.”
A concretização de uma mudança aparecerá somente em 21 de setembro,
em uma nova carta onde se encontra a célebre confidência “...agora quero confiar-
lhe, de imediato, o grande segreedo que foi despontado em mim nestes últimos
meses. Não creio mais em minha Neurótica.”(Idem, p.119)
2
“Puisque le réel, dans une de ses modalités, fait défaut et se révèle n’être que “fiction” , il faut chercher ailleurs
un réel qui fonde cette fiction”
3
“Metapsicologia: termo criado por Freud para designara Psicologia que fundou, considerada em sua dimensão
mais teórica. A metapsicologia elebora um conjunto de modelos conceituais mais ou menos distantes da
experiência, como a ficção de um aparelho psíquico dividido em instâncias, a teoria das pulsões
etc.”(LAPLANCHE & PONTALIS, 1967)
Este par de opostos (ficção e teoria) são ao longo da história da psicanálise
objeto de polêmica posto que levantam o debate sobre o caráter científico da
psicanálise. Sua Metapsicologia, tratando de objetos como o inconsciente, as
pulsões, o recalcamento, o eu, o isso, o narcisismo, não seria um conto de fadas
científico? Não seriam castelos construídos no ar? Não seria uma revalorização dos
saberes ocultos ou ocultistas? O método de instigação, especulação e construção
freudianos, seguindo o raciocínio de Roudinesco (1999), se colocam sim em ruptura
com o saber oficial da época no sentido de dar um estatuto racional a fenômenos
outrora marginalizados pela ciência oficial. Se os sonhos, os atos falhos, os delírios
eram excluídos do saber oficial pela ciência por seu caráter aparentemente
irracionais, Freud busca uma aproximação teórica destes, longe de qualquer
ocultismo, e sim pela via da razão. O mesmo acontece no campo da fantasia, termo
que não tem um tratamento unívoco ao longo de seu tratamento na teoria. Segundo
Mascarello (2002), faz-se necessãria sua aproximação em três níveis:
Ai cabe fazer uma ponte com o que Garcia-Roza, coloca como o enigma que
a psicanálise se coloca em sua busca da verdade, a verdade do desejo. “O enigma
se apresenta no fato de que somos dois sujeitos, um dos quais nos é inteiramente
desconhecido” (1990, Introd.) Em psicanálise portanto, a verdade desvelada à Édipo
e o engano manifesto por Hamlet, não são excludentes, são complementares. A
verdade deste sujeito do inconsciente, na clínica psicanalítica, se apresenta não nos
enunciados do discurso e sim em seus erros e tropeços. Quando o sujeito “se
engana”, a partir dos atos falhos, está na verdade se revelando ou des-velando. Os
atos falhos do consciente são portanto, como afirma Lacan (1954 p.302), atos bem
4
“Der Dichter mildert den Charakter des egoistischen Tagtraumes durch Abänderungen und Verhüllungen und
besticht uns durch rein formalen, d. h. ästhetischen Lustgewinn, den er uns in der Darstellung seiner Phantasien
bietet.”
5
“Cet homme tragique, on en trouve la structure dans Œdipe et Hamlet. Autant le tyran de Sophocle subit sa
destinée comme un fléau qui le fait autre que lui-même, autant le prince de Shakespeare l’intériorise comme une
fugure répétitive du même.”
sucedidos, “(...) nossas palavras que tropeçam, são palavras que confessam, Eles,
elas, revelam uma verdade de detrás”
Referências bibliográficas