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Daniel e Clara.

Após o acidente no parque, as crianças voltaram para o orfanato ainda com a cena da roda gigante em suas
mentes. Por sorte, nenhum órfão se feriu.

Ricardo se despediu de Daniel, agora o menino está por si só num novo mundo.

O garoto estava num quarto sozinho, olhando para janela onde uma chuva castigava quem quer que
estivesse fora de sua residência ou trabalho.

O barulho de uma porta abrindo ecoou pelo local. Clara adentrou o quarto.

- Daniel. Por que está aqui sozinho? – Perguntou a menina.

- Apenas pensando – Respondeu ele com a voz tímida.

- Porque não vai para a sala? Todo mundo está lá assistindo TV...

- Como se eu ainda pudesse ver algo a não ser algumas imagens sem foco.

- Como?

- Eu sou ‘parcialmente cego’ por enquanto...

- Então, como você soube onde estava a cadeira no parque e aquele homem em cima da montanha russa?

- Isso... Eu já não poso te falar, ainda. Você pode me perguntar tudo o que quiser, menos de como eu sabia
dos locais.

Com isso, a jovem chegou perto de seu colega, sentou-se numa cama e começou a entrevista-lo.

- O que aconteceu com seus pais?

- Não sei, eu não lembro deles.

- Como pode?

- Eu, infelizmente perdi parte da minha memória.

- Espera, como você sabe que perdeu a memória, mas não sabe quem são seus pais? – Clara pensou que o
garoto estivesse mentindo para ela, tudo aquilo soava falso.

- Simples, eu pedi que fizesse isso.

- Mas por quê?

- Isso também já não posso falar – Respondeu balançando a cabeça para a direita – Mas, quem sabe, um
dia eu não te fale.

A menina de cabelo longo ficou curiosa, mas não iria arrancar aquela informação de seu entrevistado tão
fácil, então abordou outro assunto.
- Tem irmãos?

- Sim – Um sorriso abriu entre os lábios dele – por incrível que pareça, eu sou um único homem entre três
mulheres.

Sua amiga levantou uma sobrancelha ao ouvir aquilo.

- Sabe onde elas estão?

- Sim, sei sim. Uma veio para cá.

- E agora, onde ela está?

- Não sei – E soltou uma gargalhada. Daniel já estava perdendo a timidez com Clara. - Ela é muito rebelde.

- Qual o nome dela?

- Marina. Ela é a única que não tem um segundo nome.

- Como!? – Clara não ouviu direito o que foi dito.

- Meus pais tiveram uma mania de colocar dois nomes em nós, com exceção da Marina.

- Espera só um pouco – a menina levantou – Tem coisa aqui que não está certa. Você mesmo disse que não
lembra dos seus pais e agora fala que eles tiveram a mania de colocar dois nomes nas suas irmãs e você com
exceção dessa Marina.

- Te falarei depois, só isso – Respondeu a criança com uma voz grossa e olhares sérios. – mas - sua voz
voltou ao normal – voltando ao assunto anterior. Qual era sua outra pergunta?

- Então qual é seu segundo nome?

- Primeiro me diga qual ser sobrenome.

- Clara Matias – Respondeu ela estranhando aquilo – Por quê?

- Curiosidade – Sorriu. Depois, sentou-se ao lado da garota e começou a tocar o rosto dela. Clara ficou
envergonhada com esse ato e perguntou timidamente.

- O que está fazendo?

- Apenas vendo seu rosto com as mãos, lembre-se, sou parcialmente cego. Só vejo alguns vultos e algumas
coisas, mas, nada me impede de andar por ai também. Mas, não se preocupe, minha visão voltará a 100%
logo.

- Ta bem... – Disse a tocada ainda tímida – Mas voltando ao que estávamos falando. Qual é seu
sobrenome.

- Não é sobrenome, é segundo nome. No caso ele é Daniel...


Antes que pudesse dizer algo, a porta foi aberta bruscamente e os garotos do cômodo entraram. Alguns
olharam para Clara e Daniel como se fossem namorados, outros simplesmente os ignoravam.

Os comentários fizeram ambos ficarem tímidos e até nervosos, os outros órfãos ficavam brincando com os
dois, até que se calaram ao ver um raio cair bem perto da janela do cômodo. Isso deu tempo para ambos os
recém amigos saírem.

Na sala, a criança de cabelos cacheados sentiu-se cansado demais, como se tivesse corrido numa
maratona.

- Clara, pegue água, por favor – Pediu como se estivesse quase morrendo.

Antes que ela pudesse correr para a cozinha, ouviu um outro estrondo de fora que fez as luzes do local
ligarem e desligarem rapidamente.

Com a calmaria entre os dois, agora na sala, Daniel decidiu novamente puxar conversa com sua amiga.

- Muito bem Clara, hora de te entrevistar.

Ela estreitou os olhos.

- Diga me, como foi que você chegou aqui e o que aconteceu com seus pais? – Perguntou ele apontando.

- Faz dois anos que vim para cá do Brasil. Ia tudo bem até meu pais morreram misteriosamente com...

- Misteriosamente?

- Só lembro que os vi com perfurações nos corpos deles.

- Aonde?

- Na rua... de tarde.

O entrevistador sentiu que era melhor para por ali, não queria saber do resto, foi até melhor para Clara não
continuar. Então, decidiram mudar de assunto.

Ambos ficaram conversando até mais tarde e foram pegos de surpresa pela diretora do orfanato..

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