EXPEDIENTE:
Márcio A. Gualberto
CEN Brasil informa
A N O 1 , N Ú M E R O 5 D E Z E M B R O
Yoná Valentim
Ações futuras para o Povo de Axé
Da idéia do Babalorixá Sivanilton (Pecê) do Ilê Axé
Oxumarê, acolhida pelo Coletivo de Entidade
Negras/CEN surgiu em novembro de 2005 a
Caminhada Pela Vida e Liberdade Religiosa. Foram
anos de muita fé e luta para montar uma atividade
política do Povo de Axé que não ganhasse o caráter
lúdico. Todo este esforço foi recompensado este ano
com dois gestos significativos e que demonstram
amor e respeito de todo o povo do candomblé.
De um lado o CEN despe-se de vaidades e monta a
Comissão Pela Vida e Liberdade Religiosa, abrindo
mão do controle da Caminhada para todas as
entidades nacionais que tratam da cultura religiosa
afro-brasileira. Ao seu tempo, estas entidades
reconhecem a importância da atividade para o povo
de axé do país e a consolidam em âmbito nacional a
partir do ano de 2009.
Também foi criado um documento que entra para os
anais das Religiões de Matrizes Africanas intitulado
Carta de Salvador e que é composto de quatro
parágrafos. Sendo os iniciais copiados abaixo:
“Nós sacerdotisas, sacerdotes, vivenciadores e
simpatizantes da tradição de matriz africana, reunidos
nesta cidade entre os dias 20, 21, 22 e 23 de
novembro de 2008, para participar da IV Caminhada
pela Vida e Liberdade Religiosa e do Seminário
LEIA MAIS Liberdade Religiosa uma Questão de Direitos
Humanos, sobre as bençãos de Olorum, Nzambi,
Mawu Lisa, Deus vimos de público afirmar que:
- Devido à importância político-social que hoje
4ªCaminhada 2
representa a Caminhada pela Vida e Liberdade
Religiosa e sua confluência na proposição organizativa
Intolerância 3 das comunidades tradicionais de norte a sul, leste a
oeste do país, decidimos por maioria torná-la
oficialmente a “Caminhada Nacional pela Vida e
Juventude 3 Liberdade Religiosa”, podendo a mesma abrigar
todos os segmentos da tradição de matriz africana no
território nacional, passando sua organização para o
Última 4 coletivo de entidades signatárias desta carta;”
Palavra A partir de então, o documento pontua uma agenda
nacional para as religiões de matrizes africanas
durante o biênio de 2009/10. Conforme transcrito
abaixo:
- Devido à importância político-social do
recenseamento a ser realizado em território nacional
pelo IBGE em 2010 e ao fato de nunca ter sido dada
a devida importância ao segmento afro-brasileiro,
buscando de fato o estabelecimento do perfil
2 0 0 8
qualitativo e quantitativo da nossa população, definimos
pela realização de uma campanha de ação afirmativa
nacional protagonizada pelas entidades negras
representativas da tradição de matriz africana em
parceria com as demais entidades do movimento social
negro, elaborada e criada a partir da realidade vivenciada
nas comunidades de tradição. Para esta campanha buscar
-se-ão as necessárias parcerias com os órgãos
governamentais em todas as instâncias.
- Que as organizações signatárias desta carta aberta, têm
em comum a luta contra toda e qualquer forma de
discriminação, de intolerância religiosa e pressuposto do
reconhecimento da humanidade do outro e de seus
direitos civis e sociais; estando as mesmas, unidas pelo
mesmo objetivo em todo território nacional, exigindo do
estado o cumprimento do seu papel, em relação aos
seus direitos.”
A Carta de Salvador foi assinada pelo CEN, CETRAB,
INTECAB, MONABANTU, FENACAB, CENARAB,
AFA, CEDRAB, CIAFRO, ABAM, ACOMA, Rede
Religiões Afro–Brasileiras e Saúde e por mais de 400
autoridades religiosas de terreiros de candomblé de mais
de 10 estados do Brasil que participaram do encontro.
Ela é fruto da unidade interna.
A Carta surge no momento em que a Intolerância
Religiosa ronda a sociedade brasileira e os terreiros e
que a busca de afirmação dos religiosos de matrizes
africanas tornam-se nítidos através de uma série de
parcerias com o Estado. Notamos que o axé, o nguzu, a
força vital necessita jorrar em abundância e
compreendemos o momento que vivemos.
Os terreiros são os maiores centros irradiadores dos
anseios políticos do povo negro em sua essência mais
ancestre. São o ponto focal da resistência com suas
raízes fortes e vibrantes de onde brotaram os elementos
mais significativos das tradições africanas e sua
diversidade no Brasil.
Agora, continuamos a pedir bênçãos aos ancestrais e
às divindades, arregaçar as mangas
e trabalhar, pois este é apenas o
começo.
Que os Orixás, Inquisses, voduns
e Encantados para sempre sejam
louvados.
Marcos Rezende.
Coordenador Geral do CEN.
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4ª Caminhada pela Vida e Liberdade Religiosa
Realizada em Salvador, no dia 23 de Novembro de
2008 , a Caminhada teve como objetivo principal
manifestar a "resistência" do povo do
santo contra a Intolerância Religiosa, na
cidade-mãe, dos cultos africanos no Brasil.
As atividades referentes à Caminhada pela
Vida e Liberdade Religiosa tiveram inicio
no 20 de novembro, Dia da Consciência
Negra, com uma Sessão Especial,
promovida pelo Deputado Bira Coroa, em
homenagem ao Povo de Candomblé e aos
100 anos de Umbanda, na Assembléia
Legislativa. Nos dias 21 e 22 de
Novembro foi realizado o Seminário Liberdade
Religiosa, uma Questão de Direitos Humanos , que
abordou temas diversos, dentre eles Racismo,
Violência, Intolerância Religiosa, Direitos Humanos,
Juventude e Políticas Públicas. Um momento marcante
“Toda pessoa tem foi o lançamento do documentário Até Oxalá vai a
direito à liberdade de Guerra, no dia 21 de novembro, uma platéia lotada, de
axé, assistiu registro de ações violentas executadas
pensamento,
pela Prefeitura de Salvador através da demolição do
consciência e religião; Terreiro Oyá Onipo Neto
este direito inclui a conduzido por Mãe Rosa. No
23 de novembro,
liberdade de mudar de
representantes de terreiros
religião ou crença e a
das diversas nações do
liberdade de Candomblé, de vários cantos
manifestar essa religião do Brasil, caminharam,
ou crença, pelo ensino, vestidos de branco, em
direção ao Dique do
pela prática, pelo culto
Tororó , acompanhados
e pela observância, pelos os agogôs dos Filhos de
isolada ou Ghandi e os tambores do Cortejo Afro, empunhando
coletivamente, em como principal bandeira o respeito à livre expressão
público ou em da fé nos Orixás, Voduns, Inquices e Caboclos.
No encerramento, após abraço simbólico no Dique do
particular.”
Tororó, houve shows de músicas e mais cânticos aos
Orixás com pedidos de paz e respeito ao povo do
Candomblé.
A JUSTIFICATIVA E OS ORGANIZADORES
O CEN – Coletivo de Entidades Negras, há 4 anos
consecutivos, vem renovando a proposição da
Caminhada do Povo de Santo, por entender que a
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA está
amparada em alicerces racistas, sendo
portanto criminosa. Sob a coordenação do
Ogán do Ilê Axé Oxumarê, Marcos
Rezende, com muito esforço, resignação é
fé, o CEN vem lutando para montar uma
atividade política do Povo de Axé,
entretanto a IV Caminhada Pela Vida e
Liberdade Religiosa ficará marcada na
história da luta do povo de Santo pelo
pacto firmado entre as Entidades
envolvidas: CEN, MONABANTU, ABAM, INTECAB,
CEDRAB, CENARAB, CIAFRO, FENACAB, CETRAB,
NAFRO-PM, ACOMA, Rede de Religiões Afro-
CEN BRASIL INFORMA
Brasileira e Saúde, Instituto Pedra de Raio,
Associação Comunitária Alzira do Conforto
adjunto aos Terreiros de Candomblés e Centros
de Umbandas dos diversos Estados que se fizeram
presentes decidindo por uma comissão formada
que a caminhada tomaria proporção de cunho
Nacional, por entender que os ataques de
intolerância e as demais mazelas sofridas pelo povo
de santo não se restringe ao estado da Bahia,
sobretudo á todos os Estados Brasileiros.
Traçando assim para esta caminhada um grande
ganho religioso e político com articulações
nacionais na empreitada de combate as
discriminações e afirmação á nossa ancestralidade e
o nosso compromisso com o legado deixado pelos
nossos antecessores no resgate e preservação da
nossa religiosidade, a fé nos nossos Orixás, Inkices,
Voduns, Caboclos e encantados aos nossos guias.
A CAMINHADA E O PODER PÚBLICO
A Prefeitura de Salvador pouco fez para contribuir
com a 4ª Caminhada pela Vida
e pela Liberdade Religiosa, que
mesmo assim foi um sucesso,
tivemos o apoio da população
que compareceu em massa!
Para a realização dessa
Caminhada foi possível contar
com apoio logístico da SEMUR
(Secretaria Municipal de
Reparação), SETUR, Governo
do Estado da Bahia, Deputado
Bira Coroa e SEPPIR; a indiferença da
Superintendência de Engenharia de Trânsito - SET
com a falta de organização do tráfego, a proibição
de última hora, da ANAC (Agência Nacional de
Aviação Civil) com a não autorização do
helicóptero da PM em jogar pétalas de rosas sobre
o Dique de Tororó, conforme havia sido
previamente combinado com a PMBA.
REIVINDICAÇÕES
Como toda manifestação pública, reivindicações
foram apresentadas:
- Que as ruas que tivessem os nomes dos Orixás
não tivessem seus nomes alterados;
- Que independente da religião, houvesse um
compromisso com a história do acarajé, por parte
das vendedoras. Nunca na história foi mencionado
que Jesus comeu Acarajé para que fosse atribuído a
iguaria o nome de “bolinho de Jesus”. É preciso
preservar a cultura independente de religião!
- Que os terreiros de Salvador, de toda Bahia e do
Brasil tivessem seus espaços sagrados e seus
direitos respeitados;
- Abertura de CPI da Intolerância Religiosa no
Congresso nacional ;
ANO1, NÚMERO 5 PÁGINA
Mais um episódio de Intolerância Religiosa
Logo na saída da Caminhada, no
Busto de Mãe Runhô (fim de linha no
Engenho Velho da Federação) uma
Juventude de Terreiro, uma presença marcante!
O ciclo de atividade que culminaram
na IV Caminhada começou com uma
Sessão Solene na Assembléia
Legislativa-BA no dia 20 de
Novembro data de comemoração á
Consciência Negra, em Homenagem
as religiões de Matrizes Africanas e
aos 100 anos de Umbanda, tendo uma
mesa composta por zeladores das
variadas nações existentes em nosso
País, findando com uma grande
homenagem as representações e
personalidades na nossa religião, na
nossa cultura, no nosso poder. Na
sexta-feira e no sábado houveram
seminários com mesas composta de
temas como políticas públicas, e a
Juventude de Terreiros tiveram uma
participação marcante na preposição
de propostas e relatos do cotidiano
dessas juventudes dentro desses
espaços hierárquico/religioso.
A mesa fora composta por Samoury
Mugabe jovem militante do
Movimento Negro de São Paulo que
trouxe toda sua articulação e atuação
dentro do Movimento Negro. Ele fez
um retrato preciso das diversas ações
promovidas pelo Conselho Nacional
de Juventude e em tempo nos
informou que o Conselho está aberto
para auxiliar na construção positiva de
espaços como este que está fora
desse sistema porém ele entende a
diversidade existente, e o grande
intuito é emponderar a juventude
negra nos seus diversos segmentos, o
religioso não pode ficar de fora".
senhora jogou água nos participantes
da Caminhada e teve que ser contida
por parentes para que religiosos e
simpatizantes pudessem continuar
seguindo, pedindo a paz, respeito e
tolerância para as religiões de matriz
africana.
Essa atitude, e muitas outras estão
relacionadas com todas as formas de
preconceito que o povo negro, o
povo de santo vem sofrendo ao longo
da história, por todos os segmentos
da sociedade .
Samoury acrescenta que muitos de
nós continuam a serem guiados por
estereótipos representativos, que faz
parte, mais está deva estar abaixo dos
seres humanos, nossa luta se constitui
em não se abater tão pouco aceitar as
ações duras vinda contra nós, temos
que enfrentar, revolucionar e para
que isto aconteça é necessário nos
unirmos sem perdemos que a nossa
luta é coletiva.
Rebeca, Makota do Ilê Asé Babá Oké
que esta localizado, em Bom Jesus dos
Pobres falou enquanto jovem makota
abordando o respeito às diversas
posições no Axé, ela traz a atuação da
juventude de terreiros fora dos
templos como importantíssima e
cuidadosa, pois nossa postura será
exemplo diferencial para os/as nossos/
as irmãos, uma forma de agregar os/as
que estão de fora, pois nosso dever é
resgatar os nossos/ as nossas.
Luis Paulo do Terreiro Ibirinã de
Santo Amaro e militante da Juventude
do Coletivo de Entidades Negra
trouxe em sua estória o reflexo diário
da maioria das juventudes que fazem
partes dos Terreiros, sua fala
emocionou a platéia pelo seu
convertimento "Fui salvo pelas graças
dos Orixás", ele foi nascido e criado
num espaço cristão em que era
ensinado a negar a si mesmo e a sua
cultura, mais as raízes falaram mais
alto e de uma forma e de outra ele
i r i a s e de p a r a r c o m a s u a
ancestralidade. Assim ele adentrou
3
É importante salientar que na
Constituição Federal de 1988, no seu
artigo 5º parágrafo VI expressa que:
É inviolável a liberdade de consciência
e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção
aos locais de culto e à suas liturgias
(BRASIL, 1988).
CEN Brasil Comunicação
www.cenbrasil.org.br
no candomblé e hoje é uma referência
de juventude religiosa.
Mediada por Rebeca Tárique do
Terreiro Ilê Asé Zambi Funan de
Terra Nova e Diretora Nacional da
Juventude do CEN que em momentos
oportunos levantou a importância e “Fui salvo
valorização da própria juventude em
falar para os anciões, sendo um pelas graças
momento valoroso. "Esta mesa foi a
legitima afirmação que nós juventudes
dos Orixás!”
somos a continuação viva de que Luis Paulo do
nosso legado religioso não se perderá.
"Devemos levar as demandas do povo Terreiro Ibirinã
de santo para dentro do MN, pois
sabemos que a militância se inicia nos
Terreiros de Candomblés e toda a
nossa forma de vida se dá pelo viés
religioso, nosso falar, nosso vestir, a
forma de se portar, não podemos
negar isso" finda em uma de suas
intervenções.
A juventude tem um olhar
sobre a IV Caminhada Pela
Vida e Liberdade Religiosa,
como uma caminhada de
afirmação, fortalecimento,
iteração nos diálogos
políticos/religioso traçado
pela iniciativa da
caminhada. Nossa
perspectiva se da através
da articulação e fortalecimento da
própria juventude de Terreiros nesses
espaços num intuito de atuação direta
na construção de ações e propostas
como estas. por Rebeca Tárique.
Diretora Nacional de Juventude CEN

Rua das Laranjeiras, 14 / 1 andar
Pelourinho - Salvador / BA
E-mail: cenbrasil@cenbrasil.org.br
URL: www.cenbrasil.org.br
Última palavra!
COORDENAÇÃO DO CEN
Coordenador Geral
Marcos Rezende
Coordenador Nacional de Política Institucional
Marcio Alexandre M. Gualberto
Coordenadora Nacional de Formação
Lindinalva de Paula
Coordenador Nacional de Saúde
Ademir dos Santos
Coordenadora CEN/PE
Lindacy Assis
Coordenadora CEN/MA
Cristina Miranda
Coordenadora CEN/SP
Latoya Guimarães
Coordenador CEN/DF
Francisco Nguzentala
Coordenadora CEN/MG
Makota Djanganga Kiamaza
Coordenadora CEN/RJ
Aduni Benton
Coordenadora CEN/AP
Swane Brasão
Coordenador CEN/PB
Paulo Nóbrega
Coordenador CEN/AL
Olegário Vencesllau
Coordenador CEN/PR
Márcio Marins
Diretoria Nacional GLBTT
Renildo Santanna
Diretoria Nacional de Juventude
Rebeca Tárique (interina)