Gil Vicente critica os frades que pregaram que o terremoto de 1531 em Portugal foi um castigo divino pelos pecados do povo, especialmente dos judeus. Ele argumenta que terremotos são fenômenos naturais e que apontar culpados específicos pode causar pânico. Aconselha os frades a animarem em vez de condenarem aqueles de outras fés para não os afastarem da Igreja.
Original Description:
Carta de Gil Vicente ao Rei de Portugal, pedindo que intervisse contra a inquisição
Gil Vicente critica os frades que pregaram que o terremoto de 1531 em Portugal foi um castigo divino pelos pecados do povo, especialmente dos judeus. Ele argumenta que terremotos são fenômenos naturais e que apontar culpados específicos pode causar pânico. Aconselha os frades a animarem em vez de condenarem aqueles de outras fés para não os afastarem da Igreja.
Gil Vicente critica os frades que pregaram que o terremoto de 1531 em Portugal foi um castigo divino pelos pecados do povo, especialmente dos judeus. Ele argumenta que terremotos são fenômenos naturais e que apontar culpados específicos pode causar pânico. Aconselha os frades a animarem em vez de condenarem aqueles de outras fés para não os afastarem da Igreja.
INQUISIO EM PORTUGAL (Mrcio Ricardo Coelho Muniz Universidade Ibirapuera) 1) Carta que Gil Vicente mandou de Santarm a el rei dom Joo, o terceiro do nome, estando sua alteza em Palmela, sobre o tremor da terra que foi a 26 de janeiro de 1531 . 2) Senhor. Os frades de c nam me contentaram nem em plpito nem em prtica sobre esta tormenta da terra que ora passou, porque no a bastava o espanto da gente mas ainda eles lhe afirmavam duas cousas que os mais fazia esmorecer: A primeira que polos grandes pecados que em Portugal se faziam a ira de Deos fizera aquilo e nam que fosse curso natural, nomeando logo os pecados por que fora em que pareceu que estava neles mais soma de ignorncia que de graa do Sprito Santo. O segundo espantalho que gente puseram foi que quando aquele terremoto partiu ficava j outro de caminho senam quanto era maior e que seria com eles quinta feira ua hora depois do meo dia. Creo o povo nisto de feiam que logo o saram a receber por esses olivais e inda o l esperam. E juntos estes padres a meu rogo na crasta de so Francisco desta vila, sobre estas duas proposies lhe fiz ua fala da maneira seguinte: 3) O altssimo e soberano Deos nosso tem dous mundos: o primeiro foi de sempre e pera sempre que a sua resplandecente glria, repouso, permanecente, quieta paz, sossego sem contenda, prazer avondoso, concrdia triunfante, mundo primeiro. Este segundo em que vivemos a sabedoria imensa o edificou polo contrairo, scilicet, todo sem repouso, sem firmeza, sem prazer seguro, sem fausto permanecente, todo breve, todo fraco, todo falso, temeroso, avorrecido, cansado, imperfeito pera que por estes contrairos sejam conhecidas as perfeies
da glria do segre primeiro e pera que milhor sintam suas
pacficas concordanas." 4) estabeleceu na ordem do mundo que uas cousas dessem fim s outras e que todo gnero de cousa tivesse seu contrairo como vemos que contra a fermosura do vero o fogo do estio, e contra a vaidade humana a esperana da morte (...) e contra a firmeza dos fortes e altos arvoredos a te mpestade dos ventos, e contra os fermosos templos sumptuosos edifcios o tremor da terra que per muitas vezes em diversas partes tem posto por terra muitos e difcios e cidades. E por serem acontecimentos que procedem da natureza nam foram escritos, como escreveram todos aqueles que foram por milagre. 5) E porque nenhua cousa h i debaixo do sol sem tornar a ser o que foi e o que viram desta qualidade de tremor havia de tornar a ser per fora ou cedo ou tarde nam o escreveram. Concruo que nam foi este espantoso tremor ira Dei mas ainda quero que me queimem se nam fizer certo que tam evidente foi e manifesta a piedade do senhor Deos neste caso como a fria dos elementos e danos dos edefcios. 6) Digo que tanto que Deos fez o homem mandou deitar um prego no paraso terreal que nenhum serafim, nem anjo, nem arcanjo, nem homem, nem mulher, nem santo, nem santa, nem santificado no ventre de sua me, nam fosse tam ousado que se entremetesse nas cousas que esto por vir. 7) (...) nam menos me maravilho daqueles que nam tem ser senam no segredo da eternal sabedoria, que o tremor da terra ningum sabe como quanto mais quando ser e camanho ser. 8) Concruo virtuosos padres sob vossa emenda que nam de prudncia dizerem-se tais cousas pubricamente nem menos servio de Deos porque pregar nam h-de ser praguejar. As vilas e cidades dos reinos de Portugal principalmente Lisboa, se
i h muitos pecados, h infindas esmolas e romarias, muitas
missas e oraes e procisses, jejuns, disciplinas e infindas obras pias pbricas e secretas. E SE ALGUNS H QUE SO AINDA ESTRANGEIROS NA NOSSA F E SE CONSENTEM, devemos imaginar que se faz por ventura com tanto santo zelo que Deos disso muito servido e parece mais justa virtude aos servos de Deos e seus pregadores animar a estes e confesslos e provoc-los QUE ESCANDALIZ-LOS E CORR-LOS POR CONTENTAR A DESVAIRADA OPENIO DO VULGO.
Relação do formidavel, e lastimoso terremoto succedido no Reino de Valença
No dia 23 de Março deste presente anno de 1748 pelas 6.
horas, e tres quartos da manhã