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TEMPO PASCAL. OITAVA DA PÁSCOA.

SÁBADO

53. IDE POR TODO O MUNDO


– O Senhor envia-nos ao mundo para que anunciemos a sua doutrina.

– Como os Apóstolos, encontraremos obstáculos. Remar contra a corrente. A reevangelização


do mundo.

– “Tratar as almas uma a uma”. Optimismo sobrenatural.

I. A RESSURREIÇÃO DO SENHOR é um apelo ao apostolado até o fim dos


tempos. Cada uma das aparições de Cristo ressuscitado termina com a
atribuição de uma tarefa apostólica. Jesus diz a Maria Madalena: ...Vai aos
meus irmãos e diz-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai 1; e às outras mulheres:
Ide e dizei aos meus irmãos que se dirijam à Galileia, pois é lá que me verão 2.
Os próprios discípulos de Emaús sentem a necessidade de comunicar aos
demais, naquela mesma noite, que Cristo vive3. No Evangelho da Missa de
hoje, São Marcos relata-nos a grande missão que Cristo confia aos Apóstolos e
que permanecerá vigente para sempre: Por fim apareceu aos onze, quando
estavam sentados à mesa [...]. E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a todas as criaturas4.

A partir de então, os Apóstolos começaram a dar testemunho do que viram e


ouviram, e a pregar no nome de Jesus a penitência e a remissão dos pecados
a todas as nações, começando por Jerusalém5. Não pregam nem certificam
especulações, mas fatos salvíficos de que foram testemunhas. Quando Judas
morreu e foi necessário substituí-lo para completar o número dos Apóstolos,
exigiu-se como condição que o escolhido tivesse testemunhado a
Ressurreição6.

A Igreja inteira estava representada naqueles Onze. Neles, todos os cristãos


de todos os tempos receberam a feliz missão de comunicar aos que
encontrassem no seu caminho que Cristo vive, que n’Ele foram vencidos o
pecado e a morte, que Ele nos convida a partilhar da vida divina, que todos os
nossos males têm solução... Foi o próprio Cristo que nos deu esse direito e
esse dever. “A vocação cristã é, pela sua própria natureza, vocação
apostólica”7, e “todos os fiéis, do Papa até o último baptizado, participam da
mesma vocação, da mesma fé, do mesmo Espírito, da mesma graça [...].
Todos participam activa e co-responsavelmente [...] da única missão de Cristo
e da Igreja”8.

Ninguém nos deve impedir o exercício deste direito e o cumprimento deste


dever. A primeira leitura da Missa de hoje relata-nos a reacção dos Apóstolos
quando os sumos sacerdotes e os doutores os proibiram terminantemente de
pregar e ensinar no nome de Jesus. Pedro e João replicaram: Julgai vós
mesmos se é justo diante de Deus obedecermos a vós mais do que a Deus.
Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos9.

Nós também não podemos ficar calados. A ignorância à nossa volta é muito
grande, como é grande também o erro e incontáveis os que andam perdidos e
desorientados por não conhecerem o Senhor. Devemos comunicar a todas as
pessoas do nosso meio a fé e a doutrina que recebemos. “Não se acende a luz
para colocá-la debaixo de um alqueire, mas sobre um candeeiro, a fim de que
alumie todos os da casa; assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de
maneira que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está
nos céus. E, no final da sua passagem pela terra, Ele ordena: Euntes docete –
ide e ensinai. Quer que a sua luz brilhe na conduta e na palavra dos seus
discípulos – nas tuas também”10.

II. QUANDO, CHEIOS DE VALENTIA, os Apóstolos começaram a ensinar a


verdade sobre Cristo, começaram também os obstáculos, e mais tarde a
perseguição e o martírio. Mas em pouco tempo a fé em Cristo ultrapassaria as
fronteiras da Palestina e alcançaria a Ásia Menor, a Grécia e a Itália, chegando
a homens de todas as culturas, posições sociais e raças.

Nós também devemos contar com as incompreensões, que são sinal certo
de predilecção divina e de que seguimos os passos do Senhor, pois não é o
discípulo mais do que o Mestre11. Recebê-las-emos com alegria, como algo
permitido por Deus; acolhê-las-emos como oportunidades de actualizar a fé, a
esperança e o amor; ajudar-nos-ão a intensificar a oração e a mortificação,
persuadidos de que a oração e o sacrifício sempre dão fruto12, pois os eleitos
do Senhor não trabalharão em vão13. E sempre trataremos bem os outros, com
compreensão, afogando o mal em abundância de bem14.

Não devemos estranhar que em muitas ocasiões tenhamos que remar


contra a corrente num mundo que parece afastar-se cada vez mais de Deus,
que tem como fim o bem-estar material e que desconhece ou relega para
segundo plano os valores espirituais; num mundo que alguns querem construir
completamente de costas para Deus. À profunda e desmedida atracção que os
bens materiais exercem sobre os que perderam todo o contacto com Deus,
acrescenta-se o mau exemplo de alguns cristãos que, “por negligência na sua
educação religiosa, ou por uma exposição falaz da doutrina, ou mesmo pelas
faltas que cometem na sua vida religiosa, moral e social, se poderia dizer que
mais velam do que revelam a face genuína de Deus e da religião”15.

O campo em que os Apóstolos e os primeiros cristãos tinham que lançar a


semente era um terreno duro, com abrolhos, cardos e espinhos. Não obstante,
a semente que espalharam frutificou abundantemente. Numas terras deu cem,
noutras sessenta, noutras trinta. Basta que haja uma pequena
correspondência, por menor que seja, para que o fruto não se faça esperar,
pois a semente é de Deus, e é Ele quem faz crescer a vida divina nas almas 16.
Cabe-nos o trabalho apostólico de preparar essas almas: em primeiro lugar,
mediante a oração, a mortificação e as obras de misericórdia, que sempre
atraem o favor divino; depois, pela amizade, pela compreensão e pelo
exemplo.

O Senhor espera que estejamos dispostos a recristianizar o mundo, na


família, na Universidade, na fábrica, nas mais diversas associações: Ide por
todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura, continua a dizer-nos o
Senhor. Estamos numa época em que Cristo necessita de homens e mulheres
que saibam estar junto da Cruz, que sejam fortes, audazes, trabalhadores, sem
respeitos humanos à hora de fazer o bem, alegres, que tenham como alicerce
das suas vidas a oração, um trato cheio de amizade com Cristo.

O Senhor conta com os nossos propósitos de sermos melhores, de lutar


mais contra os defeitos e contra tudo aquilo que, por ínfimo que seja, nos
separe d’Ele; conta com um apostolado intenso entre as pessoas com quem
nos relacionamos mais frequentemente. Devemos pensar agora se à nossa
volta, como acontecia com os primeiros cristãos, há um bom grupo de pessoas
que se estão aproximando mais firmemente de Deus. Devemos perguntar-nos
se a nossa vida influi – para bem – naqueles que estão ligados a nós por laços
de amizade, de trabalho, de parentesco.

III. A IGREJA NASCE do mistério pascal de Cristo e apresenta-se aos


homens do seu tempo com uma aparência pequena, à semelhança do
fermento, mas dotada de uma força divina capaz de transformar o mundo e
torná-lo mais humano e mais próximo do seu Criador. Nos nossos dias,
também há muitos homens de boa vontade que têm correspondido às
frequentes chamadas do sucessor de Pedro para darem luz a tantas
consciências que caminham na escuridão em terras onde em outros tempos se
amava a Cristo e hoje apenas se traz o seu nome.

Como fizeram os primeiros cristãos, “o que verdadeiramente importa é


procurar as almas uma a uma, para aproximá-las de Deus”17. Para isso, nós
mesmos devemos estar muito perto do Senhor, unidos a Ele como o sarmento
à videira18. Sem santidade pessoal, não é possível nenhuma acção apostólica,
e o fermento vivo converte-se em massa inerte; seríamos absorvidos pelo
ambiente de absoluta indiferença que com frequência encontramos naqueles
que talvez em outros tempos tenham sido bons cristãos.

A primeira leitura da Missa diz-nos que os sumos sacerdotes, os anciãos e


os escribas estavam surpreendidos vendo a coragem de Pedro e de João, pois
sabiam que eram homens sem estudos e sem instrução. Descobriram que eles
tinham sido companheiros de Jesus19. Vemos os Apóstolos mostrarem-se
seguros, sem complexos, optimistas, com o optimismo que decorria de serem
amigos de Cristo.

Se estiver unido ao Senhor, o cristão será sempre optimista, “com um


optimismo sobrenatural que se enraíza na fé, que se alimenta da esperança e a
que o amor empresta asas [...]. Fé: evitai o derrotismo e as lamentações
estéreis sobre a situação religiosa dos vossos países, e aplicai-vos a trabalhar
com empenho, arrastando [...] muitas outras pessoas. Esperança: Deus não
perde batalhas (São Josemaría Escrivá, passim) [...]. Se os obstáculos são
grandes, também é mais abundante a graça divina: Ele os removerá, servindo-
se de cada um de vós como de uma alavanca. Caridade: trabalhai com muita
rectidão, por amor a Deus e às almas. Tende carinho e paciência com o
próximo, procurai novos modos de actuar, iniciativas novas: o amor aguça o
engenho. Aproveitai todos os meios [...] para esta tarefa de edificar uma
sociedade mais cristã e mais humana”20.

Santa Maria, Rainha dos Apóstolos, acender-nos-á na fé, na esperança e no


amor do seu Filho para que colaboremos eficazmente, no nosso próprio
ambiente e com base nele, na tarefa de recristianizar o mundo de hoje, tal
como o Papa nos pede. Continuam a ecoar nos nossos ouvidos as palavras do
Senhor: Ide por todo o mundo... Naquele tempo, eram somente onze homens;
agora somos muitos mais... Peçamos a fé e o amor daqueles Onze.

(1) Jo 20, 17; (2) Mt 28, 10; (3) cfr. Lc 24, 35; (4) Mc 14, 15-16; (5) cfr. Lc 24, 44-47; (6) cfr. At
1, 21-22; (7) Conc. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 2; (8) A. del Portillo, Fieles y laicos
en la Iglesia, EUNSA, Pamplona, 1969, pág. 38; (9) At 4, 20; (10) São Josemaría Escrivá,
Sulco, n. 930; (11) Mt 10, 24; (12) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 694-697; (13) Is 65,
23; (14) cfr. Rom 12, 21; (15) cfr. Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 19; (16) cfr. 1 Cor 3, 6;
(17) A. del Portillo, Carta pastoral, 25-XII-1985, n. 9; (18) cfr. Jo 15, 5; (19) At 4, 13; (20) A. del
Portillo, ib., n. 10.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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