You are on page 1of 27

Sannyasin

Março / Abril 2010


 Sannyasin 
"Todas as religiões são verdadeiras; são apenas diferentes caminhos que levam ao mesmo Deus"
Sri Ramakrishna
Número 01 MARÇO/ABRIL 2010
Elaborada por: Dario Djouki Contato: sannyasin-editorial@hotmail.com

Índice

Editorial................................................... Facetas da construção do caráter

Valores e Vedanta.................................. Swami Dayanada Saraswati

Assim falou Vivekananda...................... A necessidade da religião

Entendendo o Karma............................. Swamis Abhedananda & Vivekananda

Cada um tem seu ritmo certo............... OSHO

Que nos falta hoje?................................ Swami Vijoyananda

O que é Vedanta?................................... Swami Abhedananda

O privilégio de ser humano................... Hazrat Inayat Khan

Só o amor dado é amor Guardado....... Thomas Merton

A felicidade............................................. Swami Sunirmalananda

O ensinamento espiritual...................... Sri Ramakrishna

Preces Sufis........................................... Sufismo

Pensamentos......................................... Diversos pensadores


EDITORIAL

FACETAS DA CONSTRUÇÃO DO CARÁTER.


Parte do Editoral da revista “The Vedanta Kesari” – edição agosto/2008 – Ramakrishna Math –
Índia.

“Construa seu caráter”

Um grande número de pessoas no mundo de hoje não pensam que este é um grande aviso.
Para confirmar sua posição, eles citam exemplos de um grande número de pessoas,
moralmente corrompidas, e sem muito caráter genuíno, que “estão indo bem” na vida. Estas
pessoas sem caráter começam a se tornar seus modelos, e estes pensam que suas vidas
devem ser direcionadas nesta direção.

“Por que eu devo dançar uma melodia diferente se todo mundo está dançando a dança da
desonesta e hipócrita vida?” Eles continuam a argumentar esta linha de pensamento
enquanto eles encaram as conseqüências da falta de caráter ou queda moral de si mesmos.
Muito disto acontece.

Primeiro, quando seus pensamentos e ações moralmente errados retornam a eles de certa
forma (por exemplo, quando a ponte que estão atravessando cai, graças a engenheiros
desonestos ou a comida causa uma doença, por causa da injustiça do comerciante ou da
pessoa envolvida nesta produção ou preparação, ou quando o doutor prescreve um dos
testes aprovados pelo laboratório de diagnósticos em que este é associado, para ganhar
algum dinheiro, e outros inumeráveis casos de irresponsabilidade, desonestidade e injustiça
na esfera pública e privada; estes exemplos podem ser multiplicados por muitas vezes).

Segundo, quando eles têm que encarar estas questões de caráter com alguém da família ou
área imediata de trabalho ou vida, quando um filho trai o pai/mãe e vice-versa, um
empregado engana um empregador, ou vice-versa, um amigo calunia o amigo e por aí vai.
Em todas as instâncias em que eles sabem muito bem a frase “a cerca comendo o campo”
atuando, estão incluídos nisto. Sacudidos por estes ásperos fatos, eles se tornam humildes
e começam a procurar por respostas.

Eles logo aprendem se realmente forem sinceros, que um somente pode culpar os outros
por sua própria fraqueza. Alguns devem aceitar-se e tentar fazer melhor. Construção do
caráter, conseqüentemente, é um assunto profundamente pessoal e íntimo. Alguém não
pode sentar no canto com as mãos fechadas e dizer “ como meu caráter importa?” Ninguém
também escapa das conseqüências da necessidade da construção do caráter por muito
tempo. Caráter importa, em mais de uma maneira e a construção do caráter é o perpétuo
desafio que enfrenta a todos, individualmente e coletivamente.

A importância da construção do caráter.

A importância da construção do caráter ocupa um lugar vital e central na vida espiritual. Vida
espiritual sem construção do caráter é como construir uma casa sem qualquer argamassa
ou cimento. Embora todas as tradições místicas falem sobre moksha ou liberação espiritual,
a afirmação por detrás até da questão da construção do caráter, ninguém pode negar, é que
esta sozinha pode ser o princípio direcionador em todas as questões espirituais. Pelo rigor
da construção do caráter, a luz da espiritualidade brilha mais forte.
A palavra, no entanto, tem severas conotações. Um dos sentidos é o comportamento da
pessoa. Quando a pessoa viola ou deturpa algumas formas de práticas sociais ou morais,
ele é comumente acusado de ser um homem de caráter fraco ou perdedor. Outro significado
de caráter, em círculos literários, é simplesmente a forma da personalidade e vida da
pessoa, descritos em um livro de história ou artigo. Isto significa a mistura de seus bons e
maus traços de personalidade.

Isto é uma avaliação das qualidades morais do indivíduo através do que ele ou ela realizou
na história ou situação. A palavra caráter, portanto, pode significar ambos – boa ou má
qualidade. Um pode ser o homem (ou mulher) de bom ou mau caráter, ou, em um caso
geral, pode ser uma pessoa com caráter misto.

Ainda que isto seja verdade, a mais notável conotação de caráter, no entanto, está em um
interessante fato: é quase sempre utilizada para o significado de “bom”. Ao dizer que um
homem ou mulher é alguém de caráter, invariavelmente significa bom caráter. É tão
profunda esta identificação do termo “caráter” com algo bom que se alguém quer utilizar
com significado diferente, deve utilizar um adjetivo particular para especificá-lo (mau,
diabólico, significativo, etc.).

Swami Vivekananda, no entanto, foi um passo além e deu uma completa definição do termo.
Ele inclusive foi até a dinâmica da construção do caráter e disse:

“Cada trabalho que cumprimos cada movimento que realizamos, cada pensamento, deixa
uma impressão na substância mental, e mesmo que esta não seja visível na sua superfície,
age profundamente, isto é, subconscientemente. O que nós sabemos é determinado a cada
instante pela soma destas impressões mentais. O que eu sou neste momento é o resultado
das impressões de minha vida passada. A isto chamamos caráter; é o que está determinado
em cada homem pela soma total de suas impressões. Se prevalecem as boas, seu caráter
será bom; se o contrário, será mau.

Se um homem diz freqüentemente más palavras, tem maus pensamentos e executa más
ações, sua mente estará cheia de más impressões; estas influirão em seus pensamentos e
ações sem que ele seja consciente delas. Portanto, estas más impressões atuam
continuamente, e o resultado deve ser mau; esse homem tem que ser mau, e não
poderemos ajudá-lo. O produto dessas impressões desenvolverá nele um forte poder que
constituirá o motivo de suas más ações. Será como uma máquina em mãos daquelas
impressões, e estas o obrigarão a praticar o mal.

Da mesma forma, se um homem tem bons pensamentos e pratica boas ações, a soma total
dessas impressões será boa, e o levará a praticar boas ações, e assim, de maneira similar,
vai forçá-lo a praticar o bem, eliminando a maldade em si mesmo”.

Que quadro completo da construção do caráter! Repetição, ou o pensamento repetitivo de


uma idéia ou acontecimento de uma ação, cria o que nós chamamos de caráter. Isto é o
resultado da experiência, de pensamentos e ações; de reações e respostas – da vida em si.
Nas palavras perspicazes de Swamiji:

“Em seus efeitos sobre o caráter, o karma é o maior poder que o homem tem que enfrentar.
O homem é de certo modo um centro que atrai para si todos os poderes do universo. Bem e
mal, felicidade e miséria, tudo corre para ele e se reúne ao seu redor, e modela a poderosa
corrente das tendências que se chama caráter, e as atira para o exterior.
Valores e Vedanta Swami Dayananda Saraswati

N No décimo - terceiro capítulo do Bhagavad Gítá, existem alguns versos que


lidam com o que podemos chamar "valores". A Gítá denomina esses valores
jñánam, que significa conhecimento. Entretanto, jñánam, usado nesse
sentido, como valores, não significa o conhecimento do Ser que tanto é o
meio quanto o fim do ensinamento de Vedánta. Nesse uso, jñánam
representa as diversas qualidades da mente na presença das quais, em
medida relativa, o conhecimento do Ser pode ocorrer. E quando a ausência
dessas qualidades é significativa, o autoconhecimento
autoconhecimento não ocorre, ainda que
o professor seja qualificado e o ensinamento autêntico.

O conhecimento requer três fatores.

Para qualquer tipo de conhecimento, três fatores são necessários:


1) o conhecedor,
2) o objeto de conhecimento,
3) o meio de conhecimento.

Observando as experiências do dia-a-dia,


dia dia, percebemos que esses três fatores têm que estar
presentes para que qualquer conhecimento ocorra. Tomemos, por exemplo, o conhecimento
de um som:

1) Eu, o conhecedor, tenho que estar presente para


par ouvir o som;
2) o som, a ser conhecido, deve ocorrer;
3) meus ouvidos, o instrumento, devem ser capazes de ouvir.

Todos esses fatores são claros, mas o terceiro fator requer uma análise O fator número um
não apresenta problemas. Está claro, para mim, que se eu não estiver presente lá (ao
alcance do som), não o ouvirei. O fator número dois também é óbvio: se o som não ocorrer,
não o ouvirei.
O fator número três pode não ser tão simples: se eu estiver ao alcance do som e ele ocorrer
realmente (de acordo com declarações confiáveis de ouvintes próximos) e se, apesar disso,
eu não ouvir o som, tenho que examinar a capacidade do meu meio de conhecimento para
sons, ou seja, os meus ouvidos.

A mente deve respaldar os órgãos dos sentidos.

Quando eu falho em ouvir um determinado som e se todos os testes acústicos mostram que
os meus ouvidos são capazes de ouvir aquele som, então o problema deve estar em outro
lugar. Onde mais? Eu direi: talvez a minha atenção tenha divagado. lsso significa que
q minha
mente não estava atenta, respaldando meus ouvidos. Eu estava lá; o som ocorreu; meus
ouvidos estavam presentes; eles erarn capazes, mas a minha mente não estava por trás de
meus ouvidos, capacitando-osos a ouvir. Devo, então, acrescentar algo à minha
minh compreensão
do que constitui um meio adequado de conhecimento.

Para estar adequado para obter conhecimento de um determinado objeto, não somente
deve o órgão do sentido - apropriado e apto para determinada percepção - estar disponível
(olhos para a visão;
ão; ouvidos para o som; Iíngua para o paladar, etc.), mas também uma
mente atenta e capaz deve estar por trás daquele órgão. Assim, para o simples
conhecimento perceptivo, os órgãos dos sentidos em si não são o pramána, o meio do
conhecimento.

Os órgãos dos sentidos, em conjunto com a mente, são o pramána. Quando todos os
fatores, incluindo a mente, estão presentes, o conhecimento acontece.
A mente deve estar preparada.

O conhecimento sempre acontece quando todos os fatores, incluindo uma mente atenta,
estão presentes? E se eu estiver buscando o conhecimento de cálculo? Eu encontro um
professor de cálculo competente, que é um bom mestre - alguém que tem a habilidade de
comunicar o que sabe. Ele me fala sobre cálculo em português, a língua que conheço.

Eu reconheço as palavras. Para ilustrar a aula ele escreve números e letras no quadro-
negro. Eu conheço o posso identificar os números e as letras. Sou fisicamente capaz de ver
o que ele escreve no quadro. Sinceramente desejo aprender cálculo. Venho todos os dias.
O professor ensina. Eu ouço e olho. Minha mente está atrás dos meus olhos e ouvidos.
Mas, ai de mim, o conhecimento do cálculo não me ocorre! Por quê? Minha base de
matemática é fraca. De fato, eu não tenho certeza se 7 mais 4 é igual a 9 ou a 12! Está me
faltando o preparo necessário para o estudo de cálculo.

Logo, nós devemos acrescentar algo mais à nossa compreensão do que é um meio de
conhecimento adequado. Já vimos que um meio de conhecimento deve ser apropriado,
capaz e ter o respaldo de uma mente atenta. Outra qualificação deve ser agora
acrescentada: a mente, pelo menos em algumas situações, deve não só ser capaz e atenta,
mas também preparada. De modo a estar preparada para o conhecimento de cálculo, um
samskára, certo estudo de matemática deve estar presente. Somente, então, o
conhecimento de cálculo pode ser obtido.

Palavras como meio de conhecimento.

Para o simples conhecimento perceptivo, pode não ser necessária nenhuma preparação
especial, além de, talvez, a atenção da mente. Quando o objeto está presente, os olhos
estão abertos, a mente está por detrás dos olhos, o objeto é visto e esse conhecimento
visual do objeto é obtido sem nenhuma preparação especial. Entretanto, para um
conhecimento como o cálculo, que é obtido não apenas pela simples percepção, mas
através das palavras usadas por um professor competente, desdobrando certo raciocínio,
alguma preparação sempre é necessária. Para que as palavras do professor funcionem
como um pramána, um meio válido de conhecimento, as palavras devem ser
apropriadamente utilizadas pelo professor e a mente do aluno deve estar pronta.

Vedánta é um pramána, um sabda pramána, isto é, um meio verbal de conhecimento.


Vedánta é um pramána na forma de palavras e frases que, utilizadas por um professor
competente, tem a intenção de lançar luz no Ser. As palavras podem levar a conhecimento
direto ou indireto, dependendo do objeto envolvido. Se o objeto está fora da minha área de
experiência, as palavras apenas podem gerar conhecimento indireto. Se o objeto está
dentro da minha área de experiência, as palavras levam ao conhecimento direto. Vedánta é
sobre mim, sobre aquele que está indicado pela primeira pessoa do singular, "eu". Eu estou
sempre disponível para mim mesmo, logo as palavras podem dar conhecimento direto de
mim mesmo.

Para as palavras de qualquer ensinamento transmitirem conhecimento, devem ser


compreendidas pelos alunos da mesma maneira que pelo professor. Definições gerais não
são suficientes, porque carregam implicitamente, na sua generalidade, interpretações
subjetivas. Para que as palavras sirvam como um meio de conhecimento, seu significado
exato deve ser transmitido e os possíveis significados não-desejados devem ser negados.
Como um professor consegue isso? Ele estabelece um contexto no qual outros possíveis
significados das palavras são excluídos. Quando um professor falha em criar um contexto
para as palavras que usa, ele não consegue transmitir conhecimento através delas. As
palavras, então, tornam-se somente uma outra forma de condicionamento. Isso acontece
comumente quando o assunto é o Ser.
Freqüentemente, num ensinamento que tenta revelar o Ser, palavras tais como "infinito",
"Brahman" e "eterno" são usadas, mas não são desdobradas. Tais palavras assim usadas
somente se tornam um novo condicionamento, acrescentando mais confusão e falta de
clareza à mente do estudante. Entretanto, mesmo quando você tem ambos, um professor de
Vedánta quaIificado, que aprendeu a metodologia do ensino, que sabe como desdobrar o
significado preciso das palavras usadas, e um estudante dedicado, que está buscando o
conhecimento do Ser, o conhecimento, que é Vedánta, acontecerá somente se a mente do
estudante estiver preparada. Para quem tem a mente despreparada, Vedánta é como
cálculo para a pessoa que ainda está estudando tabuada. Isso não significa que cálculo ou
Vedánta não possam ser compreendidos. Simplesmente significa que a preparação da
mente é necessária. A mente é o lugar onde o conhecimento acontece. Se o conhecimento
não ocorre quando ambos, o objeto do conhecimento e um meio de conhecimento
apropriado, estão disponíveis para quem deseja o conhecimento, então deve existir algum
obstáculo responsável pela não ocorrência do conhecimento. O único obstáculo possível é a
falta de preparação da mente.

Jñánam prepara a mente para Vedanta.

O que prepara a mente para o conhecimento que é Vedánta? Práticas como pránáyámas
(exercícios respiratórios) e ásanas(posturas) podem ser úteis para aquietar uma mente
agitada, mas não preparam a mente para o autoconhecimento.

Jñánam, de acordo com a Gítá, prepara a mente para Vedánta. Esses valores apresentados
na Gítá podem ser definidos como um estado de mente que reflete certos valores universais
e atitudes éticas.

Outras práticas podem trazer uma quietude mental na qual os valores necessários são mais
profundamente estabelecidos, mas somente a descoberta e assimilação dos valores por
eles mesmos constituem a preparação da mente. Somente os valores preparam a mente.

Tudo o mais é secundário. Por isso, a Gítá eleva os valores apropriados à categoria de
conhecimento, denominando-os jñánam, que em sânscrito significa conhecimento.
Entretanto, o jñánam dos valores e o do autoconhecimento não devem ser confundidos.
Eles não são a mesma coisa. O jñánam dos valores é a preparação para a conquista do
autoconhecimento. Isso não quer dizer que o conhecimento do Ser ocorrerá se a mente tiver
os valores apropriados, mas que poderá ocorrer. Sem os valores apropriados, não ocorrerá.

Em síntese:

- valores apropriados presentes, autoconhecimento pode ou não estar presente;


- valores apropriados presentes, autoconhecimento pode ser obtido;
- valores apropriados ausentes, autoconhecimento não pode ser obtido.

Fonte: Vidya Mandir


Assim falou Vivekananda

Necessidade da religião
(conferência pronunciada em Londres)

Entre todas as forças que têm contribuído e que ainda contribuem para formar os destinos
da raça humana não há, certamente, nenhuma mais poderosa do que aquela a cuja
manifestação dá o nome de religião. Todas as organizações sociais têm como fundo, em
alguma parte, o jogo desta força particular. Dela se deriva o maior impulso coesivo que
jamais haja obrado nas agrupações humanas. É evidente, para todos nós, que em um
número muito grande de casos, os laços da religião têm se mostrado mais fortes que os
laços de raça, de clima e até de parentesco. É um fato bem conhecido que os indivíduos
que adoram ao mesmo Deus, que crêem na mesma religião, hão permanecido fiéis uns aos
outros, com maior força e constância que aqueles que só estão unidos por laços de família,
ainda que no caso de irmãos. Foram feitas diversas tentativas para determinar qual foi o
início da religião. Todas as religiões antigas que chegaram até nós reclamam ser
sobrenaturais e não haver sido produzidas, por assim dizer, pelo cérebro humano, senão
que tiveram origem em alguma fonte exterior a ele.

Duas teorias encontraram alguma aceitação por parte dos eruditos modernos. A religião tem
sua origem, segundo uns, no culto dos antepassados e, segundo outros, na evolução da
idéia do Infinito. Uns sustentam que o culto aos antepassados é o ponto de partida das
idéias religiosas; outros que a religião tem sua origem na personificação dos poderes da
natureza. O homem quer conservar a recordação de seus parentes mortos; pensa que eles
ainda vivem, mesmo depois que o corpo desapareceu; deseja deixar-lhes alimentos e, de
uma certa forma, render-lhes culto. Disto se desenvolveu o que chamamos religião.

Estudando as antigas religiões dos egípcios, babilônios, chineses e de muitas outras raças
na América e em outras partes, encontramos indícios muito claros de que este culto aos
antepassados foi o começo da religião. Nos antigos egípcios, a primeira idéia da alma foi de
que esta era um duplo. Todo corpo humano continha em si outro ser muito similar a este e,
quando um homem morria, este duplo saía do corpo e, no entanto, continuava vivendo.
Porém, a vida deste duplo só continuava enquanto o cadáver permanecia intacto; e é por
isso que vemos os egípcios tão preocupados por conservá-lo sem nenhuma ferida. E com
este fim é que há construído essas enormes pirâmides, nas quais conservavam os corpos.
Em efeito, se alguma parte do corpo exterior era lesionada, o duplo recebia a
correspondente ferida. Isto é, claramente, o culto aos antepassados. Nos antigos babilônios,
encontramos esta mesma noção de duplo, porém, com uma variante. O duplo perdeu toda
faculdade de amar; obriga os vivos, atemorizando-os, a dar-lhe de beber e comer e ajudá-lo
de diversas maneiras. Até perdeu todo afeto por seus filhos e esposa. Entre os antigos
hindus, encontramos, igualmente, rastro deste culto aos antepassados. De modo que, por
um lado, aparecem como estando bem posicionados aqueles que sustentam a teoria do
culto aos antepassados como o começo da religião. Enquanto aos chineses, pode-se dizer,
também, que a base de sua religião é este culto, que, todavia, impregna em toda sua
extensão esse vasto país. Em realidade, a única religião que pode dizer-se verdadeiramente
que floresce na China, é o culto aos antepassados.
Por outro lado, há sábios que, partindo da antiga literatura ária, demonstram que a religião
tem sua origem no culto à natureza. Na Índia, ainda que encontremos por todas as partes
testemunhos do culto aos antepassados, os textos mais antigos não contém nenhum
vestígio dele. No Rig-Veda Samhita, o mais antigo monumento da raça ária, não
encontramos nenhum. Os eruditos modernos estimam que o que ali se encontra é o culto à
natureza. A mente humana parece esforçar-se por obter um vislumbre do que se passa por
trás do véu.

A aurora, o crepúsculo, o furacão, as forças prodigiosas e titânicas da natureza, assim como


suas belezas, tudo fez o homem, cuja mente aspira por ir mais além, pensar e compreender
algo disso. Nessa luta, o homem dota esses fenômenos com atributos pessoais; dá-lhes
alma e corpo, às vezes belos, às vezes transcendentais. Cada tentativa conclui por resolver
esses fenômenos em abstrações, personificadas ou não. A mesma coisa se encontra entre
os antigos gregos. Toda sua mitologia é, simplesmente, este culto à natureza no abstrato. O
mesmo pode ser dito dos antigos germânicos, dos antigos escandinavos e de todas as
outras raças árias. Encontramos, aqui também, poderosos argumentos em favor da tese
segundo a qual a religião tem sua origem na personificação das forças da natureza.

Estes dois pontos de vista, por mais contraditórios que pareçam, podem ser conciliados
sobre uma terceira base, a que constitui segundo minha opinião, no germe real da religião e
que eu proponho chamar de luta para transcender as limitações dos sentidos. Ou bem o
homem busca os espíritos de seus antepassados, os espíritos dos mortos, isto é, deseja ter
um vislumbre do que há depois do desaparecimento do corpo; ou bem deseja compreender
o poder que está atuando por detrás dos fenômenos estupendos da natureza. Tanto em um
caso como noutro, uma coisa é certa e é que trata de transcender as limitações dos
sentidos. Não pode mais contentar-se com isto; quer ir mais além.

(...) Vemos, pois, que todas as religiões fazem esta formidável asserção: a mente humana,
em certos momentos, vai mais além, não somente das limitações dos sentidos, senão
também do poder de raciocínio. Encontra-se, então, cara a cara com fatos que jamais havia
podido sentir, que jamais havia podido encontrar pelo raciocínio. Estes fatos formam a base
de todas as religiões do mundo. Naturalmente temos o direito de recusarmos a admiti-los,
até que tenhamos uma prova disto e submetê-los à prova da razão. Não obstante, todas as
religiões existentes no mundo reivindicam, para a mente humana, este poder especial de
ultrapassar os limites dos sentidos e da razão. E este poder o anuncia como um fato.

(...) Assim, ademais das verdades e fatos substanciais que pode ensinar-nos e do conforto
que pode dar-nos, a religião, como ciência, como estudo, é o maior e o mais saudável dos
exercícios aos quais pode entregar-se a mente humana. Esta busca do Infinito, esta luta
pelo Infinito, este esforço para chegar mais além das limitações dos nossos sentidos, por
livrarmo-nos da matéria, por desenvolver o homem espiritual, este esforçar-se de dia e de
noite para fazer com que o Infinito seja um conosco, esta luta em si, é a mais magnífica e a
mais gloriosa que um homem pode realizar. Alguns encontram o maior prazer em comer.
Não temos direito de dizer que não deva ser assim. Outros acham o máximo prazer em
possuir determinados objetos. Não temos o direito de reprová-los. Porém, eles tampouco
têm direito de dizer “não” ao homem que encontra no pensamento espiritual seus mais
elevados prazeres.

Tradução: Carlos Goes


Entendendo o Karma

Por Swami Abhedananda: Por Swami Vivekananda:

A palavra Karma é um termo Sânscrito, O propósito do homem não é gozar, e sim


derivado da raiz verbal Kri, que quer dizer conhecer. A felicidade tem seu fim. É um
“agir”. Tomando em seu sentido literal, erro supor que o prazer é a meta. O
Karma significa ação, refere-se a todas as motivo das misérias do mundo está em o
ações tantos mentais como físicas. Onde homem pensar ingenuamente que o
houver atividade de qualquer espécie, prazer é a finalidade que ele deve buscar.
esta é Karma. Depois de algum tempo, ele descobre não
ser a felicidade, porém ao conhecimento
Neste sentido, a devoção, o amor, a que se dirige; compreende que tanto o
adoração, a meditação, a concentração e prazer como a dor são seus mestres e
o discernimento são todos Karma; assim que tanto aprende através do bem como
como, pela mesma razão, o comer, o do mal.
beber, o andar, o falar ou exercício de
qualquer função orgânica é Karma. O desfilar do prazer e da dor ante sua
alma lhe sulca diferentes traços, e estas
Ainda mais, toda ação , como sabemos, é impressões combinadas formam o seu
seguida de reação. Nenhuma ação pode caráter. Se considerarem o caráter de um
ser separada de seu resultado, porquanto homem, notarão que ele não é mais do
não há causa que possa ser que um agregado de suas tendências, a
absolutamente desligada de seus efeitos. soma das inclinações de sua mente;
Portanto, a segunda significação de acharão que a desgraça e a felicidade são
Karma inclui todas as reações ou fatores equivalentes na formação de seu
resultados das ações. A cadeia de causa caráter. O bem e o mal atuam de forma
e efeito, conhecida como Lei de Causa, semelhante na formação do caráter.
também é chamada Karma; e toda ação
física e mental é governada pela lei do Em certas ocasiões a desgraça é melhor
Karma ou ação e reação. Estando sujeitos mestra do que a felicidade. Se
a esta lei natural, estivemos trabalhando estudássemos os grandes caracteres,
neste mundo desde um passado sem chegaríamos a crer que na maioria dos
limites e colhendo os resultados de casos a desgraça lhes ensinou mais do
nossos esforços, ora agradáveis, ora que a felicidade; que a pobreza lhes
desagradáveis, ora bons, ora maus. ensinou mais do que riqueza; e que foram
os reveses mais do que os elogios o que
Prosseguindo ainda, se considerarmos lhes despertou o fogo interior. Sabemos,
que o efeito de cada ato deixa na porém, que este conhecimento é inato;
substância mental sua impressão, que por nada nos vem do exterior; tudo está no
sua vez se torna semente de uma nova interior. Quando dizemos que um homem
ação de natureza semelhante, “conhece”, deveríamos dizer que ele
compreenderemos a terceira significação “desconhece”; o que um homem
deste termo. Neste sentido, a palavra “aprende” é em realidade apenas aquilo
Karma inclui os resultados acumulados de que ele descobre ao tirar as envolturas de
ações passadas, que são as formas sua alma, a qual é um depósito
seminais de futuras atividades. Por isto, o inesgotável de conhecimentos.
caráter de um indivíduo, que é o resultado (...) O progresso no conhecimento é o
agregado de trabalhos de sua vida resultado do processo de descobrir. O
precedente pode ser chamado Karma. Da homem em que se vai levantando este
mesma forma, a vida futura será a soma véu, é o que mais conhece; naquele em
total dos resultados das ações mentais e que o véu se mantém caído, é ignorante,
físicas da existência atual. e quem conseguiu ergue-lo de todo,
chegou a onisciência.
Sempre existiram homens oniscientes
oni e movimentos sociais, tudo quanto nos
espero que haverá milhares deles nos rodeia, não representa nada mais do que
séculos futuros. O conhecimento está na o produto do pensamento, a manifestação
mente como o fogo está na pedra. É a da vontade do homem. Máquinas,
fricção que o faz brotar. O mesmo instrumentos, cidades, tudo é
acontece com os nossos sentimentos e manifestação da vontade humana; e a
ações: sorrisos e lágrimas, alegrias e vontade resulta do caráter,
aráter, e o caráter é
tristezas, gargalhadass e gemidos, ação do karma. Como é Karma, a
maldições e bênçãos, elogios ou manifestação da sua vontade.
censuras. Se nos estudássemos com
imparcialidade, veríamos que cada um (...) Tudo isto é produto do karma, isto é,
deles surgiu no nosso interior, por um ação. Ninguém pode obter coisa alguma,
impulso provocado por golpes exteriores. a não ser merecendo--a Esta é uma lei
O resultado é aquilo que somos. A reunião eterna. Um homem pode lutar toda a sua
de todos estes golpes
pes é o que chamamos vida para conseguir eguir riquezas, pode
de KARMA, ou ação. Cada impulso enganar a mil pessoas, porém no fim, se
mental ou físico dada à alma, através do não merecer ser rico, sua vida se torna
qual é provocada a chispa, e que se insuportável. Podemos acumular milhares
apresenta como poder e conhecimento, é de objetos para o nosso bem-estar
bem
karma; usando a palavra em seu sentido físico,porém só o que merecemos é
mais amplo, estamos sempre acumulando realmente nosso. Um néscio pode
karma. Quando
ndo estou falando, é karma; os comprar todos oss livros do mundo e
que me escutam, é karma. Respiramos ordená-los em sua biblioteca, porém só
karma; andamos karma. Tudo o que será capaz de ler aqueles que merece; e
fazemos física ou mentalmente e deixa este merecimento é resultado do karma.
suas marcas em cada um de nós , é Nosso karma determina o que merecemos
karma. e o que somos capazes de assimilar.

(...) Em seus efeitos sobre o caráter, o Somos responsáveis pelo que somos e
karma é o poder maior que o homem tem t podemos nos converter naquilo que
que enfrentar. O homem é de certo modo desejamos ser. O que somos agora é
um centro que atrai para si todos os resultante de nossas ações passadas.
poderes do universo, em sua vez Devemos atuar bem no presente, a fim de
reunidos, os emite novamente numa modelar resultados bons para o futuro que
poderosa corrente. Este centro é o ambicionamos.
homem real, o onipotente, o onisciente e
atrai a si todo o universo. Bem e mal, m (...) A maioria das pessoas não enxerga
felicidade e miséria, tudo corre para ele e além de alguns anos, como certos animais
se reúne ao seu redor, e modela a não vêem além de alguns passos. O
poderosa corrente de tendências que mundo é um círculo estreito. Não temos
formam o seu próprio caráter ,e as atira paciência de olhar um pouco além, e por
para o exterior. Assim como tem o poder isto nos tornamos perversos e imorais.
de atrair, tem também o poder de emitir. Esta é a nossa debilidade e impotência.
Todas as ações que vemos no mundo, os
Cada um tem seu ritmo certo

OSHO

Todos nós temos nossa própria velocidade. um amor, um carro ou ganhar na loteria!
Deveríamos nos mover de acordo com a Deve ser direcionada para a evolução do ser
nossa própria velocidade, com aquela que humano, para o caminho único e irrestrito
nos é natural. Uma vez encontrando seu que é a conexão com o divino, pois somos
ritmo certo, você será capaz de fazer muito divinos por natureza!
mais. Suas ações não serão agitadas,
correrão mais serenamente e você será A "meta" é a razão da espiritualidade, e a
capaz de fazer muito mais. Existem meta é Deus! É a evolução, o caminho reto,
trabalhadores lentos, mas a lentidão tem a consciência expandida. É o "norte" de
suas próprias qualidades. E, na verdade, nossa bússola interior, de nosso verdadeiro
essas são qualidades superiores. Um "eu". Não pode servir de placebo para os
trabalhador rápido pode ser problemas do cotidiano, onde se acredita
quantitativamente bom, pode produzir que uma vela ou um mantra resolverá o
quantitativamente mais, porém sofrimento da pessoa, sem que esta se
qualitativamente nunca pode ser muito esforce para isto, sem que busque isto! A
bom. Um trabalhador lento é busca é individual , e não coletiva! Não há
qualitativamente melhor. Toda a sua energia como transferir a sua busca para outra
se move em uma dimensão qualitativa. A pessoa, a sua evolução para outro indivíduo.
quantidade pode não ser muita, mas a Somente você encontra o caminho, por mais
quantidade não é realmente o ponto. pistas e direções que outros possam dar!

Se você puder fazer algumas coisas, mas Nosso ego é o grande empecilho! Nos faz
coisas belas realmente, praticamente acreditar que somos vítimas do mundo, que
perfeitas, você se sentirá muito feliz e devemos ser recompensados pelas nossas
satisfeito. Não há necessidade de fazer atitudes, quando na verdade nossas atitudes
muitas coisas. Se você puder fazer mesmo devem ser a recompensa maior! Ele nos diz
uma só coisa que lhe dê satisfação total, que um pastor, um médium, um padre deve
isso é suficiente; sua vida estará preenchida. nos salvar,quando na verdade a salvação já
Você pode seguir fazendo muitas coisas existe dentro de nós, pois somos um reflexo
sem que nada o satisfaça. Qual é o sentido? da divindade, da perfeição. Somos um balde
de água refletindo a luz da lua, e a lua é a
Alguns pontos básicos precisam ser perfeição.
entendidos. Não existe algo como a
natureza humana. Existem tantas naturezas Culpamos pelo amor não correspondido,
humanas quantos forem os seres humanos; pelo emprego perdido, pelo desgosto
assim, não há um critério único. pessoal ou baixa-estima, sem nunca olhar
para a direção verdadeira, o nosso norte, ou
Espiritualidade é uma via, e não uma seja, o nosso interior! Buscamos soluções
muleta . externas, nos "encostamos" nos outros
espiritualmente, criando dependência, como
A espiritualidade está no dia-a-dia das se a espiritualidade fosse uma droga ou uma
pessoas, sem que elas percebam! O ar que bebida alcoólica.
respiramos, o sorriso das pessoas, o abraço
fraternal, as piadas e risadas de alegria tudo Tudo é causa-efeito, tudo gira como uma
é divino e maravilhoso! A força interior, roda, a roda da vida. Somos guiados,
chamada de fé, independe de dogma ou sempre fomos, mas a direção final está
crença, porque é natural ao indivíduo! Tal dentro de nós.
crença não pode ser direcionada para obter
QUE NOS FALTA HOJE?
Swami Vijoyananda
Capitulo I do livro “A Religião do Homem” - 1960

Há, na história do mundo, épocas nas quais se torna imprescindível a intervenção direta da
Divindade nos assuntos humanos. Civilizações envelhecidas e gastas devem ser
rejuvenescidas com uma vida e uma visão novas, para que a humanidade, e seu turno,
sinta-se remoçada e prossiga modelando seu destino final, dando-lhe expressão mais digna.
As forças do mundo agitam-se e atuam, hoje, com tal rapidez que a necessidade de uma
intervenção Divina tornou-se imperativa para que a civilização, ou melhor, a totalidade da
raça humana, possa salvar-se do desmoronamento. Os signos precursores de tão iminente
catástrofe são tão visíveis que não os preciso assinalar; aqueles que vivem despertos, bem
os conhecem.

A necessidade máxima e mais angustiosa de nossa vida atual é a de um mensageiro direto


da Divindade. Mas, coisa curiosa: tal necessidade não é tão real quanto possa parecer-te, já
que O tens, ou pelo menos Ele veio ao mundo por ti; e se ainda não O reconheceste olha a
teu redor e verás que ante ti, ante todos, eleva-se Cristo, o mensageiro de Paz e Amor.

Deveríamos aprender a valorizar com exatidão o poder das forças que estão modelando
nosso destino. Atualmente, quase todas as forças vitais e mentais estão vigorosamente
ativas e a humanidade exibe toda sua destreza e engenho, tanto nas ciências como na
filosofia.Entretanto, a civilização oscila na balança. Com novos planos políticos e projetos
sociais, estamos buscando corrigir imperfeições do regime antigo. Apesar disto, em
nenhum lado vemos paz ou felicidade e cada um de nós está sentindo as amarguras da
vida.

A civilização européia com todas as magníficas e maravilhosas construções acha-se hoje no


crisol. Apesar de toda a cultura, a Europa é incapaz de abandonar sua prosperidade e
engrandecimento materialistas; eis a maldição que pesa sobre a civilização européia. A
Europa pretende ser cristã, mas excetuando a grandiosa organização eclesiástica em
comunhão com o estado, bem pouco demonstra que sabe apreciar a vida e os
ensinamentos do Divino Mensageiro de Paz e Amor, Cristo.

Em todo o Ocidente civilizado não existe hoje necessidade mais imperiosa que a
necessidade de Cristo, de Seus genuínos ensinamentos, sem adulterações e comentários.
Só o amor divino faz surgir as forças salvadoras. O mundo tornou-se a tal ponto intelectual
que parece haver-lhe secado o coração, e o amor e a força divinos tivessem sido
desterrados da vida humana. Hoje, Deus faz-nos mais falta que a ciência ou a metafísica. A
ciência pode nos dar longínquos vislumbres da arquitetura do universo; a metafísica pode
nos proporcionar uma compreensão serena e lógica da Sabedoria que rege o eterno plano
das coisas; mas quando reina a confusão na própria base, nos mais profundos cimentos do
ser, como ocorre hoje, o que pode nos salvar não é o conhecimento especulativo e teórico,
mas a visão e a compreensão divinas, capazes de discernir claramente o propósito e a meta
da vida humana tal qual é ou deve ser; divina por natureza em sua essência e transbordante
de amor divino. Nem a ciência pode nos dar esse anelo, nem a metafísica esta visão direta.
Não podemos fabricar, no coração mesmo de nosso ser, uma Luz que jamais se apague; o
que fazemos, em realidade, é descobri-la.

A chama que constantemente brilha em nosso interior, às vezes permanece oculta à nossa
vista, por causa da rudeza de nosso ser; mas existem na história do mundo, mestre cujo
exemplo e influência jamais cessam e, em tempos difíceis, nada melhor pode o ser humano
fazer senão recorrer a eles, em busca de inspiração. A situação atual do mundo me faz
recordar hoje o Príncipe dos Amantes, Cristo.
E o melhor que podemos fazer é pensar nele e nos sacrifícios que fez para enaltecer a raça
humana. Amigos queridos, eu vos suplico a todos, fervorosamente, se sois adeptos do
Cristo que não o seja tão só nominalmente. Sua mensagem de vida eterna tem profundo
significado; contém uma promessa certa – a derrota da morte e o triunfo da vida.

Pensar na eternidade da vida nos aumenta a fé e as nossas esperanças, permitindo nos


manter tranqüilos e serenos face às dificuldades. A realização última de Cristo simboliza a
continuidade da vida através de todas as mudanças e vicissitudes . Esta mensagem da
Imortalidade foi proclamada pelos filósofos, ainda que no campo das teorias; mas Cristo,
como os demais profetas e grandes homens de realização, demonstrou-a por Sua própria
experiência; e por Seu exemplo nos ensinou o princípio da Eterna Ressurreição da Vida.
Cristo é o profeta do Amor puro, da Vida Imortal. Essa eternidade da vida, sua frescura e
potencialidade, sua beleza e dignidade, só podem ser sentidas por quem assume atitude
semelhante a de Cristo, por quem está verdadeiramente em contato com o Princípio Divino
através de todos os seres e todas as coisas.

O amor é uma das maiores forças de coesão que existem. No universo físico manifesta-se
como atração e no reino animal aparece como poder de proteção e criação. Atualmente, a
grande maioria da humanidade vive a vida dos animais inferiores. Dói-me fazer semelhante
asseveração, mas ela é demasiado evidente para ser negada. Queridos irmãos e irmãs,
creio que é chegado o momento de que presteis séria atenção a este fato evidente e
procurem, com toda a vossa força, elevar-vos ao nível do Homem, o Filho da Divindade, o
transparente veículo da Luz Divina.

O homem não pode reconhecer ou compreender o amor divino, enquanto não alcançar o
cume da sua evolução e o demonstra, sacrificando-se para proteger e elevar a humanidade.
Essa paixão redentora só pode se concentrar em almas que são espiritualmente sensitivas;
e tais almas, como é natural, projetam um resplendor e uma influência divinos,
demonstrando assim ao homem suas imensas possibilidades como filho de Deus. Que
Cristo se sentisse Filho de Deus não era, de nenhum modo, assunto de compreensão
intelectual; era uma convicção nascida do conhecimento direto, da percepção direta. Cristo
podia falar de modo rotundamente afirmativo, porque era sua a convicção nascida da
sabedoria. O valor espiritual das Encarnações consiste em que unicamente de tais seres
logramos obter certos fulgores ou vislumbres divinos que de nenhum outro modo nos é dado
conseguir. A Encarnação indica o rumo da humana evolução. Demonstra que o homem, se
o anela ardentemente, pode se pôr em contato direto com Deus, convertendo-se afinal em
um meio de expressar a vida divina sobre esta terra.

Seja qual for nossa interpretação da doutrina das Encarnações e tanto crermos que é
ascensão da alma humana como se supormos que é o descenso do espírito divino no
homem, fica de pé a verdade que ela evidencia um estado superior e uma evolução sutil da
existência.

A doutrina das Encarnações é comum a todas as religiões. Não se pode por em dúvida o
fato de que o poder divino está potencialmente em nós, mas, enquanto não estiver em
estado ativo a natureza pura do homem, este não pode estabelecer uma conexão direta
com a Divindade. Quanto Sattwa, a essência pura do homem, se acha verdadeiramente
ativa, ele compreende que sua natureza superior é divina e então manifesta extraordinário
poder e inteligência. Talvez isto explique o segredo da personalidade de Cristo. Ele possuía
uma subjugadora personalidade, habituada a cativar, a inspirar, a dominar com suprema
autoridade. Ninguém o podia negar, não somente por causa de Seu amor, como também às
vezes por Seu poderoso caráter. É muito natural que semelhante personalidade nos resulte
indício seguro da natureza divina do homem.

A grandeza de Sua personalidade tem sido objeto de críticas. Poucos puderam


compreender tanta nobreza. Muitos vêem na predominante e poderosa personalidade de
Cristo certo defeito ou debilidade, e O compraram desfavoravelmente com Sócrates.
O chamado de Sócrates dirigia-se à razão do homem; o que ele dava era conhecimentos e
por isto era a sua linguagem a de uma filosofia que chegava aos mais profundos segredos
do pensamento. Mas Cristo inspirava os homens por meio de Sua vida. Só com Sua
presença, com apenas apoiar a mão, transformava os corações humanos e tirava a inércia e
a obscuridade acumuladas durante séculos. Irradiava um divino perfume de vida e
estabelecia ao Seu redor uma intensa atmosfera de amor e elevadíssima espiritualidade.
Iluminava o entendimento, fazendo surgir a visão interna e fazendo vibrar as cordas mais
sutis da vida.

Cristo foi o profeta da vida, e a sabedoria última nos chega quando nos abrimos à Vida
Eterna. Certas pessoas comparam a humildade de Cristo com a de Sócrates, mas a de
Cristo levava consigo algo de dignidade divina, pois que n’ele uniam-se,em bendita
harmonia, o humano e o divino. Sua convicção da presença latente de Deus no homem não
era só intelectual; era algo que Ele sentia e vivia. Sua fé provinha de Sua iluminação, de
Sua visão da vida como orientada, elevada e rejuvenescida pelo espírito. Nem sempre os
homens de conhecimento possuem este poder espiritual. A personalidade de Cristo possuía
altíssima espiritualidade e por isto Ele podia falar diretamente do Reino de Deus, da Divina
misericórdia e da eterna ressurreição da vida com acentos tão majestosos e que tão fundo
penetravam.

Mesmo o entendimento humano mais polido, de pouco serve nesta esfera da intuição;
mesmo as mentes maiores tropeçam ao chegar a este cume da existência; o que para elas
é assunto de percepção indireta e dedução, para Cristo era uma visão direta. O maior
problema da vida humana é o da completa aniquilação dos padecimentos e dores, que só se
consegue quando a busca de Deus termina na união com Ele. Os filósofos ocidentais, desde
Platão aos contemporâneos nos dão teorias e iluminam o entendimento, mas nenhum deles
pôde convencer alma humana que busca e investiga, nenhum deles pôde fortalecer o
coração; é que nesta questão de convicções espirituais necessita-se algo mais que a
compreensão racional. E podemos afirmar que nunca o amor a Deus surge de uma
argumentação lógica. O fervor religioso provém do chamado direto que faz ao coração
humano; depois de tudo, os homens jamais podem ficar satisfeitos com algo inferior a um
Deus que inspira a vida, dá a luz do conhecimento e dispersa as sombras da ignorância.

Para instalar Deus em nossa existência não deveríamos desterrar a religião de nossa vida
diária como fazem muitos se prejudicando a si mesmos. O amor a Deus não pode ficar
firmemente estabelecido em nosso coração enquanto não se purifique nosso amor pelos
objetos e pessoas deste mundo. Deveríamos buscá-lo aqui, sobre esta terra, através de
tudo que é mortal. Se conhecêssemos o segredo de deificar o mundo objetivo, se
tomássemos a moléstia e amar nosso próximo sem propósitos mundanos, poderíamos
então, seguindo estritamente os mandatos do grande Amante da humanidade,alcançar as
gloriosas alturas espirituais que Ele escalou e realizar em nosso coração o Reino dos Céus.

A lei do amor dá a nosso ser elasticidade e o faz responder às mais sutis correntes da alma;
ajuda-nos a sentir a vida vibrante e um carinho cálido através de todos os corações. Não
podemos alcançar o cume do amor enquanto não amarmos o homem em Deus e Deus no
homem. O Sermão da Montanha nos ensina claramente as condições da herança divina e a
vida divina sobre esta terra; a genialidade de Cristo revela-nos que em toda coisa essa lei
do amor é o laço fundamental que integra e une. O amor governa no céu. Cristo quer que
governe na terra. E a menos que compreendamos plenamente a dignidade do amor e sua
divina natureza, a menos que o estabeleçamos firmemente em nossa vida, a transformação
deste mundo em um céu é um sonho. Bem sabia Cristo, e o demonstrou com Sua vida, que
não só é possível essa transformação, mas que devemos estabelecer aqui neste plano
terrestre, a união com Deus.
Mas existem seres ignorantes que opinam que não deveríamos anelar tais coisas enquanto
vivemos, já que só são conseguidas depois da morte, e isto em certos casos apenas. Dirijo
minhas ferventes orações ao amoroso coração de Cristo para que ilumine estes ignorantes
irmãos e irmãs. O que necessitamos hoje, o que realmente falta à humana civilização é este
amor divino. Tantos os homens de ciência, como os filósofos falam desta força de coesão
que se manifesta no universo inteiro, cuja expressão mais refinada observamos na vida da
sociedade humana.

Mas os fatores separatistas continuam atuando e procuram formar distintas classes. A


evolução superior do homem deveria atirar a um lado tais fatores, alijar de toda essa palha o
laço universal do Amor Divino, e nos fazer gozar por antecipação, da vida divina. A tensão e
a resistência que, com tanta freqüência, sentimos em nossa vida e que parecem dar-lhe
este sabor amargo, são o fruto de nossos apegos egoístas; mas se divinizarmos nossa vida,
nos moveremos com mais liberdade; a consciência terrena será então substituída pela
consciência divina.

Termino com sincera e fervorosa oração a Deus, para que Ele Se revele a vós e vos ajude a
dedicar vossa vida à compreensão e a realização deste Amor Divino.

Swami Vijoyananda
O QUE É A VEDANTA
Swami Abhedananda

Muitos são os que têm a errônea idéia de os maometanos o adoram como Allah; os
que Filosofia Vedanta significa uma budistas como Buddha; os jainas como
filosofia limitada exclusivamente aos Jina e os hindus o denominaram
Vedas ou Sagradas Escrituras da Índia. Brahman. Sobre esta verdade
Mas, no presente caso, o termo “veda” fundamental descansa toda a estrutura
não quer dizer um livro, mas sim dos ensinamentos da Vedanta. Pode-se
SABEDORIA, enquanto “anta” significa dizer que a Vedanta estabelece uma
FIM. Portanto, Vedanta significa religião universal que abraça todas as
literalmente, “fim da sabedoria” e a religiões do mundo. A Vedanta é um
filosofia é chamada Vedanta porque sistema religioso e também um sistema
explica qual é este fim e como pode ser filosófico.
alcançado. Todo conhecimento relativo
termina na realização da unidade da alma Outro aspecto notável da Vedanta é que
individual com a Verdade essencial do não prescreve a todos um mesmo
universo. Essa realidade fundamental é o caminho para alcançar a meta final de
espírito universal, o infinito oceano de cada Religião. Pelo contrário reconhece a
sabedoria. variedade de tendências das diferentes
mentes e encaminha cada uma pelo
Assim como os rios percorrem, em sua caminho que lhe é mais apropriado.
marcha, milhares de quilômetros, Classifica das tendências humanas em
terminando, afinal, no oceano, assim quatro grandes divisões que unidas às
também os rios do conhecimento relativo suas subdivisões, abarca quase toda
seguem seu curso através das diversas espécie de indivíduo; e então estabelece
etapas do universo fenomenal e terminam os métodos que podem ajudar cada qual.
ultimamente no infinito oceano de Cada um destes métodos é chamado, em
existência, inteligência, felicidade e amor. sânscrito, YOGA.
Realizar esta unidade deve ser a meta de
toda verdadeira religião. Mas a história O primeiro é Karma Yoga. É para os
das religiões demonstra que nenhum povo homens ativos, para os que gostam de
jamais compreendeu, em qualquer trabalhar e estão sempre prontos a fazer
período, essa importante verdade, tão alguma coisa na ajuda de outros; é, enfim,
claramente, nem a predicou tão para os homens e mulheres que tem
categoricamente, como os sábios ocupações diárias. Karma Yoga ensina o
espirituais entre os antigos Ários que segredo da ação e nos diz como podemos
habitaram a Índia. Durante quase cinco transformar nossas tarefas diárias em atos
mil anos, a Índia conservou em seu seio a de adoração e alcançar, assim, a
sublime idéia: “A Verdade é uma, mas os perfeição nesta vida, mediante a ação e
meios de encontrá-la são muitos”. No Rig- só por ela.
Veda, a mais antiga de todas as O método seguinte é Bhakti Yoga. É para
Escrituras conhecidas, lê-se: “Aquilo que aqueles que tem natureza emocional.
existe é uno, os homens o chama com Esse método ensina como as emoções
nomes variados”. Os judeus o chamam comuns podem produzir um
Jeová; os cristãos Deus ou Pai Celestial;
desenvolvimento espiritual da mais espiritual do universo. Se injuriar outra
elevada ordem e levar à realização da pessoa, irá injuriar a si mesmo. Se é
meta final de todas as religiões. Em um malvado, não faz somente mal a si
apalavra, é o caminho da devoção e do mesmo, mas também aos outros. A
amor. Explica a natureza do amor divino e Vedanta explica também, mediante esta
nos ensina como transformar em divino o unidade espiritual, porque devemos amar
amor humano e assim cumprir o propósito nosso próximo como a nós mesmos, pois
da vida, aqui e no além. em espírito, já somos unos com estes
próximos.
O terceiro método é Raja Yoga, o caminho
da concentração e da meditação. O A ética da Vedanta leva paz e harmonia
campo abarcado pela Raja Yoga é muito ao mundo religioso. Onde quer que a
vasto. Compreende todo o plano psíquico Vedanta reine, prevalece a tolerância e a
e descreve o processo pelo qual são cooperação entre todos os credos e a
desenvolvidos os poderes psíquicos e perseguição religiosa cessa para sempre.
todos aqueles atos comumente chamados O estudante de Vedanta não pertence a
milagres. Seu principal propósito é levar o nenhuma seita, credo ou denominação.
estudante, mediante concentração e Não é cristão, maometano, budista, jaina
meditação, ao estado mais elevado da ou hindu; entretanto, em princípio, é uno
supra-consciência, onde a alma individual com todos. Pode ir tanto a uma igreja,
comunga com o Espírito Universal e como a uma mesquita, ou a um templo.
realiza a unidade da existência, paz Segue esta Religião Eterna sem forma e
eterna e felicidade. sem nome, que serve de base a todas as
religiões do mundo. E, à medida que vai
Jnana Yoga é o quarto método. É a senda alcançando uma compreensão mais
do reto conhecimento e discernimento. profunda dessa Religião Universal, só
Este método é para os que são de pode declarar como o professor Max
natureza intelectual, discriminativa e Müller: “Na Vedanta há lugar para quase
filosófica. A religião da Vedanta aceita os todas as religiões; mais ainda, ela abarca
ensinamentos de todos os grandes todas”. E assim é, porque todos os seus
mestres espirituais do mundo, reconhece- ensinamentos estão baseados nas
os como Encarnações do Espírito Divino e acolhedoras palavras do Bendito Senhor
deixa ainda lugar aos que ainda tem que Krishna, no Bhagavad-Gita:
vir para o bem da humanidade.
“Qualquer um que se dirige a Mim, por
A Vedanta explica a base da ética. Por qualquer caminho que seja, Eu chego a
que devemos ser morais? Não porque ele; todos os homens estão lutando nos
alguém disse isto ou aquilo; não porque caminhos que finalmente conduzem a
esteja escrito em certo capítulo de tal Mim, a Verdade Eterna”.
escritura, mas por causa da unidade
O PRIVILÉGIO DE SER HUMANO
HAZRAT INAYAT KHAN

A humanidade está tão absorvida pelos prazeres e dores da vida que uma pessoa
dificilmente dispõe de tempo para pensar no privilégio de ser humano. Sem dúvida alguma a
vida na terra tem ais dores do que prazeres. O que o homem considera prazer custa-lhe um
preço tão alto que, se for pesado com a dor, também se transforma em dor, porque o
homem fica tão absorvido com a vida mundana que não encontra senão dores e mágoas.
Enquanto o homem não mudar sua perspectiva, não lhe será possível compreender o que
representa o privilégio de ser humano.

No entanto, por mais infeliz que seja uma pessoa na vida, se lhe perguntarem se prefere ser
uma rocha ao invés de ser humano, responde que prefere sofrer como ser humano a ser
uma rocha. Qualquer que seja a situação de um homem na vida, se lhe for perguntado se
prefere ser uma árvore, responde que prefere ser um homem. Embora a vida dos pássaros
e animais seja de liberdade, estando eles livres de cuidados e aborrecimentos e vivem em
completa liberdade nas florestas, ainda que assim perguntarem a um homem se quer ser
um deles e viver na floresta, na certa dirá que prefere ser um homem. O que prova que,
quando a vida humana é comparada com os outros vários aspectos da vida, a vida humana
revela sua grandeza e privilégios. Quando não é comparada com essas formas de vida, faz
com que o homem se sinta descontente. Seus olhos se fecham e ele não vê o privilégio de
ser humano.

Além disso, na maioria das vezes, o homem é egoísta e seu interesse repousa somente no
que diz respeito à sua vida particular. Desconhece os aborrecimentos dos outros e sente o
peso de sua vida muito mais do que o peso da vida das outras pessoas que vivem sobre a
terra. Seria bom se um pobre pudesse compreender que há outros cujas dificuldades são
maiores que as suas, quando está no meio de suas atribulações. A pior pobreza é a
AUTOPIEDADE. Ela subjuga o homem e ele nada mais vê senão seus aborrecimentos e
dores. Acha que é a pessoa mais infeliz do mundo, muito mais infeliz do que qualquer outro.

Muitas vezes o homem sente satisfação com a autopiedade e o motivo é a natureza do ser
humano que deseja encontrar satisfação no amor. Quando o homem aprisiona o amor
dentro de si, começa a amar a sua pessoa e surge a autopiedade, porque passa a sentir a
sua limitação. O amor a própria pessoa sempre traz o descontentamento porque o “eu” não
foi criado para ser amado, o “eu” foi criado para amar. A primeira condição do amor é o
indivíduo esquecer-se de si. Ninguém pode amar a outro e ao mesmo tempo se amar.
Quando uma pessoa diz: “Se você me der alguma coisa eu lhe darei algo em troca”, é outro
tipo de amor, é algo parecido com uma transação comercial.

O ego do homem é o falso ego, o ego verdadeiro é o ego de Deus, mas o que é o ego? É a
parte de uma linha: numa extremidade da linha está o ego de Deus, na outra extremidade
está o ego do homem. O ego do homem é falso porque o homem o cobriu com ilusões,
chamando-o de “eu”.
Assim, quando esse ego se esfacela por força do amor, da sabedoria ou pela meditação, as
nuvens que cobrem o ego se dispersam e o ego verdadeiro, o ego de Deus, manifesta-se.
Ao falar de sua vida Sa’di disse: “Eu não tinha um par de sapatos e precisei andar descalço
sobre a areia escaldante. Pensei que não passava de um miserável. A seguir vi um aleijado
que tinha grande dificuldade de caminhar. Curvei a cabeça e agradeci aos céus por estar
em muito melhores condições do que aquele aleijado, que não tinha os pés e não podia
andar”. Isso prova que não é a situação do homem na vida que o torna feliz ou infeliz, é a
sua atitude em relação à vida. Essa atitude faz tanta diferença que um indivíduo pode se
sentir infeliz morando num palácio, enquanto outro se sente feliz morando num casebre
humilde. A diferença está apenas no horizonte diante de nossa visão. Um olha somente as
circunstâncias de sua vida, outro olha a vida de muitas outras pessoas. É, pois, uma
diferença de horizontes.

A confiança de quem confia noutra pessoa e não confia em si próprio é inútil, ao passo que
aquele que confia no outro porque confia em si próprio, possui a verdadeira confiança. Por
meio da autoconfiança pode tornar sua vida feliz, quaisquer que sejam as condições.

O maior privilégio do homem é ser um instrumento apropriado de Deus e até que se


compenetre disso, deixa de realizar o verdadeiro objetivo de sua vida. Toda a tragédia da
vida do homem está na ignorância desse fato. Do momento que o homem compreende isso,
começa a viver a verdadeira vida, a vida de harmonia entre Deus e o homem. Quando Jesus
Cristo disse: “Procurai primeiro o Reino de Deus e todas as outras coisas vos serão dadas
por acréscimo”, deu esse ensinamento atendendo ao clamor da humanidade. Alguns
homens gritavam: “Não tenho riqueza”, outros: “Não tenho descanso”, ou “Minha situação na
vida é difícil”, ou “Meus amigos me aborrecem”, ou ainda “Quero uma posição mais
elevada”. A resposta de Cristo a todos foi acima mencionada.

Há muitas coisas na vida que podemos chamar de boas e muitas coisas para admirar, se
quisermos adotar essa atitude positiva. É o que pode tornar um homem contente e dar-lhe
uma vida feliz. Deus é o pintor desta bela Criação. Se não nos ligarmos ao pintor não
podemos admirar sua pintura.

Extraído do livro: A mensagem Sufi de Hazrat Inayat Khan

Hazrat Inayat Kahn


Só o amor dado é amor Guardado
Thomas Merton
Extraído do livro: Homem algum é uma ilha

Uma felicidade que procuramos só por nossa causa nunca pode ser encontrada: pois a
felicidade que diminui ao ser partilhada não é suficientemente grande para fazer-nos felizes.
Existe uma falsa e momentânea felicidade na satisfação egoísta, mas ela no leva sempre à
tristeza, porque amesquinha e enfraquece o nosso espírito. A verdadeira felicidade
encontra-se no amor generoso, no amor que aumenta à medida que é repartido. Não há
limite na partilhabilidade do amor, e por isto a felicidade virtual desse amor é infinita. A lei da
vida íntima de Deus é a infinita doação. Ele estabeleceu como lei do nosso ser a
comunicação de nós mesmos, e assim é que o melhor modo de amar a si mesmo é amar os
outros. É na atividade desinteressada que melhor realizamos as nossas capacidades de ser
e de agir.

Mas não pode haver felicidade forçada. Ao amor não lhe basta dar-se: ele deve ser dado
livremente. É o mesmo que dizer que ele deve ser dado e não meramente tomado. Um amor
generoso, gasto com objetivo egoísta, não traz a felicidade perfeita. Não que o amor exija
retorno ou paga por amar, mas porque ele repousa na beatitude do amado. E, se o amado o
recebe com egoísmo, o amante não fica satisfeito. Ele vê que o seu amor falhou, não fez
feliz o seu amado. Não lhe despertou a capacidade de um amor desinteressado.

De onde este paradoxo, que o amor desinteressado não pode descansar perfeitamente a
não ser em um amor perfeitamente correspondido. É que ele sabe que a verdadeira paz só
se encontra no amor sem egoísmo. O amor generoso consente, por causa do amado, em
ser amado desinteressadamente. Assim fazendo, aperfeiçoa-se. O dom do amor é o dom do
poder e da capacidade de amar, e, por conseguinte, dar o amor plenamente é também
recebê-lo. Assim, só um amor que é repartido pode ser conservado, e ele só pode ser
perfeitamente dado quando é também recebido.

O amor não só prefere o bem do amado ao do que ama, mas nem mesmo chega a
comparar os dois. Ele só conhece um bem, o do amado, que é, ao mesmo tempo, o seu
próprio. Não é dividindo com o próximo o seu bem,, que o amor o reparte, mas identificando-
se a tal ponto com o outro que o bem deste se torna também seu. O mesmo bem é
desfrutado em sua integridade pelos dois em um só espírito, e não cortado ao meio e
dividido entre duas almas. Quando o amor é realmente desinteressado, aquele que ama
nem mesmo se detém para indagar se pode apropriar-se, a salvo, de alguma parte do bem
que ele quer para o amigo. O amor procura o seu bem integral no bem do amado; dividir
esse bem seria diminuir o amor.

Tal divisão não se reduziria a enfraquecer o feito do amor, mas também, diminuiria a sua
alegria. Pois o amor não busca uma alegria que seja conseqüência do seu efeito: a sua
alegria está no próprio efeito, que é o bem do amado. Por conseguinte, se o meu amor é
puro, eu não tenho sequer de procurar para mim mesmo a satisfação de amar. O amor só
busca uma coisa: o bem do amado. Ele deixa aos outros efeitos secundários o cuidado de si
mesmos. O amor, portanto, é a sua própria recompensa.
Amar o outro é querer o seu verdadeiro bem. Tal amor é fundado na verdade. Um amor que
não vê distinção entre o bem e o mal, que ama cegamente, só por amar, é mais ódio que
amor. Amar às cegas é amar de forma interesseira, porque o fim desse amor não é a
conveniência real do amado, mas só o prazer de amar em nossa alma. Tal amor nem pode
ter a aparência de amor, a menos que ele pretenda procurar o bem do amado. Mas, como
ele, de fato, não tem o menor zelo da verdade, nem jamais considera que pode estar errado,
demonstra ser só egoísmo. Não procura o verdadeiro bem do amado, nem mesmo o seu.
Não lhe importa a verdade, interessa-lhe só ele mesmo. Proclama-se satisfeito com um bem
aparente, que é o exercício do amor pelo amor mesmo, sem nenhuma consideração dos
seus bons ou maus efeitos.

Quando um amor desse gênero existe no nível da paixão corporal, é fácil reconhecê-lo. Ele
é egoísta, e, portanto, não é amor. Aqueles cujo amor não transcende os apetites do corpo,
nem se dão, geralmente, o trabalho de enganar-se com bons motivos, seguem
simplesmente as próprias paixões. Como não mentem a si mesmos, são mais honestos –
embora mais miseráveis do que aqueles que pretendem amar num plano todo espiritual,
sem considerar que o seu “desinteresse” não passa de mentira.

A caridade não é fraca nem cega. Ela é essencialmente prudente, justa, moderada e forte.
Somente quando todas as outras virtudes são conexas entre si na caridade, o nosso amor é
genuíno. Ninguém que sinceramente deseje amar o seu irmão consentirá em amá-lo
falsamente. Se vamos amar os outros, devemos decidir-nos a amá-los bem. De outra forma,
o nosso amor não passa de ilusão. O primeiro passo para o amor desinteressado consiste
em reconhecer que o nosso amor pode ser enganado. Temos, antes, de purificar o nosso
amor, renunciando ao prazer de amar como um fim em si. Enquanto o nosso fim for prazer,
seremos desonestos para conosco e para com aqueles que amamos. Procuramos não o
seu bem, mas o nosso prazer.

É claro, pois, que, para bem amarmos a outros, devemos primeiro amar a verdade. E como
o amor se traduz em relações humanas, práticas e concretas, a verdade que devemos amar
quando amamos os nossos irmãos, não é uma pura especulação abstrata: é a verdade
moral que nos incumbe a incorporar e vivificar em nosso destino e no seu. Essa verdade é
mais do que a fria percepção de um dever, emanada de preceitos morais. A verdade que
devemos amar ao amarmos nossos irmãos é o destino concreto e a santidade que o amor
de Deus quis para eles. Quem deveras ama o outro, não é movido apenas pelo desejo de
vê-lo contente, cheio de saúde e próspero neste mundo. O amor não pode contentar-se com
ideal tão incompleto. Se o meu dever é amar meu irmão, eu devo de algum modo, entrar a
fundo no mistério do amor de Deus por ele. Não é só a simpatia humana que deve, mover-
me, mas, também, esta divina simpatia que em Jesus se nos revela e enriquece a nossa
vida pela infusão o Espírito Santo.

THOMAS MERTON
A FELICIDADE




Swami Sunirmalananda.
Fonte: JB Online

O que é a felicidade? Felicidade é uma sensação agradável da mente. Por exemplo: eu


como um doce e isto me traz à mente uma sensação agradável. Ouço uma linda música, ela
gera a mesma sensação, e, a isso, chamo felicidade. Mas se eu comer novamente o mesmo
doce e ouvir a mesma música quando uma tragédia acontece, já não desfrutarei deles, não
mais me trarão alegria. Assim, a felicidade é algo pessoal, depende inteiramente de cada
um. Ou seja, é subjetiva.

A mesma pessoa, lugar ou objeto que trouxeram felicidade em uma ocasião podem trazer
sofrimento em outra. Por que isto acontece? Porque nós - e não as coisas do mundo
externo - somos os responsáveis por nossa felicidade. Pessoas, lugares e objetos são
apenas estímulos que afetam o cérebro, nos trazem sentimentos bons ou ruins e dependem
do nosso estado de espírito.

Onde encontramos a felicidade verdadeira? Ela é intrínseca a cada um de nós. Onde


está localizada? Não está propriamente localizada: nós mesmos somos a felicidade.
Sim, somos feitos da natureza da felicidade. Nossa natureza é felicidade imortal. O
problema é que nos esquecemos desta simples verdade.

Então, o que é esta experiência a que chamamos felicidade? É apenas um tênue reflexo,
uma pequena fagulha do brilhante sol da felicidade que está oculto dentro de nós. É apenas
uma sombra dessa felicidade eterna que aguarda para ser exposta. O que agora chamamos
felicidade e sofrimento nada mais é do que diferentes estados de espírito.

Assim, o mundo, com todo o seu brilho e esplendor, é só um salão de exposições


estimulando sensações em nossas mentes.

A verdadeira felicidade, chamada ananda, em sânscrito, é a meta de todos os seres. Todos


têm esta meta, alguns de forma consciente, com conhecimento, outros não.

De acordo com os Vedas, há um aumento gradual de felicidade à medida que evoluímos na


vida: felicidade mundana, felicidade mental e felicidade espiritual. A maior delas, a felicidade
espiritual, ocorre quando queremos conhecer Deus, ou quando queremos saber quem
somos.

Disse certa vez o sábio Swami Vivekananda: ''Nesta vida breve, se nós pudermos trazer,
mesmo que seja apenas um momento de felicidade, para alegrar o coração de alguém,
isto será religião de verdade. Todo o resto é disparate''.

Portanto, você der alegria aos outros, você terá alegria. Porque nós e os outros não somos
diferentes. Nós todos somos um. Para dar alegria aos outros, precisamos servi-los. Este é
um dos melhores modos de viver na felicidade.

Para concluir, uma mensagem de Sri Sarada Devi, a Santa Mãe : ''Quem tem mente pura vê
tudo puro. Se desejares paz mental, não busque faltas nos outros. Ao contrário, procure ver
tuas próprias faltas''.
O ENSINAMENTO ESPIRITUAL DE SRI RAMAKRISHNA

“Esse mundo é como uma rede de pescar. Os homens são os peixes e Deus, cuja maya
criou esse mundo, é o pescador. Quando os peixes são apanhados pela rede, alguns
tentam arrebentar as malhas para sair. São como os homens que lutam pela sua liberação,
mas não conseguem de jeito algum,
algum, escapar. Apenas uns poucos conseguem pular da rede,
fazendo um grande barulho lho e então, as pessoas dizem: ‘Ah! Lá vai um grande!’ Desta
maneira, três ou quatro atingem a liberação. Alguns peixes são tão cuidadosos por natureza
que jamais são apanhados pela rede: alguns seres pertencentes à classe dos sempre
perfeitos, como Narada;; jamais são apanhados pelas malhas do mundanismo.

A maioria dos peixes é fisgada, mas não são conscientes da rede e de sua morte iminente.
Ao serem apanhados,
nhados, começam a correr por toda a rede, tentando esconder-se
esconder na lama.
Não fazem o menor esforço parapar se libertar, ao contrário, afundam-se
se cada vez mais na
lama. Esses peixes são como homens apegados.
apegados. Ficam tranqüilos, dentro da rede porque
pensam que estão seguros aí. Uma pessoa ligada está imersa no mundanismo, em ‘mulher
e ouro’, tendo mergulhado fundo
fundo no lodo da degradação, mas mesmo assim, acredita que
está muito feliz e segura. Os liberados e os que buscam a liberação, consideram
consi o mundo
um poço fundo. Não gozam os prazeres dele, portanto, depois de alcançarem o Co- Co
nhecimento, a realização de Deus,
Deus, alguns deixam o corpo, mas certamente isso é raro.

“As pessoas ligadas, enredadas pelo mundanismo, não se apercebem de sua situação.
Sofrem tanta miséria e agonia, enfrentam tantos perigos, mas não acordam.



Um devoto: “Fico assustado só em ouvir falar em suicídio.”

Mestre: “O suicídio é sem dúvida, um pecado hediondo. Um homem que se mata, tem que
voltar
tar várias e várias vezes a esse mundo, para sofrer.

“Mas não considero suicídio o fato de uma pessoa deixar o corpo depois de ter tido a visão
de Deus. Não há nenhum mal em deixar o corpo dessa maneira. Depois de atingir
Conhecimento, certas pessoas abandonam o corpo. Depois que a imagem de ouro for
moldada na argila, pode-se
se guardar ou quebrá-la.
quebrá


Vijay (ao Mestre): “O senhor nos pede que renuncie ao ‘eu perverso’. Há algum mal no ‘eu
servo’?”

Mestre: “O ‘eu servo’- isto é, o sentimento de que ‘eu sou o servo de Deus, sou devoto de
Deus’- não causa mal a ninguém, muito pelo contrário, ajuda a realizar Deus.”

Vijay: “Bem, senhor, o que acontece com a luxúria, raiva e outras paixões se alguém
mantiver o ‘servo eu’?”
Mestre: “Se um homem realmente sente assim, então ele tem apenas a aparência da
luxúria, raiva e semelhantes. Se, depois dele atingir Deus considera-se como servo ou
devoto de Deus, não pode ferir ninguém. Ao tocar a pedra filosofal a espada transforma-se
em ouro. Conserva a aparência de espada, mas não pode mais ferir.

“Quando o galho seco de um coqueiro cai, deixa apenas uma marca no tronco indicando
que já houve um galho naquele lugar. Assim também, a pessoa que atingiu Deus mantém
somente a aparência do ego; permanece nele somente a semelhança de raiva e luxúria.
Torna-se como uma criança que não tem apego aos três gunas; sattva, rajas e tamas.
Torna-se desapegada de uma coisa tão rapidamente quanto se apega. Você pode tirar dela
uma roupa que vale cinco rupias ou uma boneca de uma anna, embora à primeira vista ela
diga com grande determinação: ‘Não, não vou lhe dar.

Meu pai a comprou para mim’. Assim também, para uma criança, todas as pessoas são
iguais. Não têm noção de alto ou baixo com relação às pessoas. Não faz distinção de casta.
Se a mãe lhe diz que um determinado homem deve ser considerado seu irmão mais velho, a
criança comerá do mesmo prato que ele, embora ele possa pertencer a uma casta inferior
como a dos ferreiros. A criança não conhece o ódio, nem sabe distinguir o que é santo ou
não.

“Mesmo depois de ter alcançado o samadhi, alguns retém o ‘ego servo’ ou o ‘ego devoto’. O
bhakta mantém esta ‘consciência do eu’ e diz: “Ó Deus, Tu és o Amo e eu, Teu servo; Tu és
o Senhor e eu, Teu devoto’. Sente-se dessa maneira, que mesmo depois da realização de
Deus, este ‘eu’ não fica completamente apagado. Novamente, pela prática constante desse
tipo de ‘consciência do eu’, atinge-se por fim, Deus. A isto chama-se Bhakti Yoga.


Vizinho: “Senhor, é possível se realizar Deus quando se leva a vida de um chefe de
família?”

Mestre: “Certamente, mas como acabei de falar, deve-se viver na companhia santa e orar
incessantemente. Deve-se chorar por Deus. Quando as impurezas da mente são lavadas
assim, Deus é realizado. A mente é como uma agulha coberta de lama e Deus é como um
ímã. A agulha não pode ficar presa no magneto, a não ser que esteja limpa da lama. As
lágrimas lavam a lama, que nada mais é do que a luxúria, raiva, ganância e outras
tendências más, bem como a inclinação para os prazeres do mundo. Logo que a lama for
lavada, o ímã atrai a agulha, quer dizer, a pessoa realiza Deus. Somente os puros de
coração vêem Deus. Um paciente com febre tem excesso de líquido em seu organismo. A
não ser que seja removido, o que o quinino pode fazer por ele? Por que uma pessoa não
pode realizar Deus enquanto viver no mundo? Mas, como já disse, deve-se viver em
companhia santa, orar a Deus, chorar por Sua graça e de vez em quando, ficar só. A não
ser que as plantas sejam no início protegidas com uma cerca , serão destruídas pelo gado.”

Vizinho: “Então os chefes de família, também, terão a visão de Deus, não é?”

Mestre: “Certamente todas as pessoas serão liberadas, mas a pessoa deverá seguir as
instruções do guru: se desviar-se do caminho, sofrerá por voltar a andar nas passadas já
dadas. Leva muito tempo para se conseguir a liberação. Um homem pode não conseguir
numa vida, talvez tenha que realizar depois de muitos nascimentos. Sábios como Janaka
cumpriram as obrigações do mundo. Executava--as, tendo Deus na mente, como as
dançarinas que equilibram jarros ou bandejas nas cabeças, enquanto dançam. Já viram
como as mulheres do noroeste da Índia andam, conversam e riem enquanto carregam os
jarros de água na cabeça?”
PRECES SUFIS
PRECES SUFIS
SAUM

Louvado sedes Vós, Deus Supremo,


Onipotente, Onipresente, que em tudo penetra,
O Único Ser.
Recebei-nos em Vossos braços paternais,
Erguei-nos acima da densidade da terra.
Adoramos Vossa Beleza,
A Vós nos submetemos de boa vontade.
Ó Deus Misericordioso e Compassivo,
Vós, Senhor; que sois o Ideal de toda a humanidade,
Nós Vos adoramos, sois a nossa única aspiração.
Abri nossos corações à Vossa Beleza,
Iluminai nossas almas coma Vossa Divina Luz,
Ó Vós que sois a Perfeição do Amor, da Harmonia e da Beleza!
Criador Todo-Poderoso, Provedor, Juiz e Perdoador de nossas faltas,
Senhor Deus do este e do oeste, dos mundos acima e abaixo de nós,
E dos seres visíveis e invisíveis.
Derramai sobre nós Vosso Amor e Vossa Luz,
Dai sustento aos nossos corpos, corações e almas,
Fazei uso de nós para os fins que Vossa Sabedoria escolher,
E guiai-nos no caminho de Vossa infinita bondade,
Atraindo-nos para mais perto de Vós a cada instante de nossas vidas,
Até que em nós se reflita Vossa Graça, Vossa Glória,
Vossa sabedoria, Vossa alegria e Vossa paz, AMÉM.

SALAT

Senhor de bondade, Mestre, Messias e Salvador da humanidade,


Saudamo-Vos com toda humildade.
Vós sois a Causa Primordial e Último Efeito,
A Luz Divina e o Espírito-Guia, Alfa e Ômega.
Vossa Luz está em todas as formas, Vosso Amor em todos os seres:
Numa mãe extremosa, num bondoso pai, numa criança inocente,
Num amigo fiel, num Mestre inspirado.
Permiti que Vos reconheçamos em todos os Vossos santos nomes e formas:
Em Rama, em Krishna, em Shiva , em Buddha.
Permiti que Vos reconheçamos em Abraão, em Salomão, em Zoroastro,
Em Moisés, em Jesus, em Maomé e muitos outros nomes e formas,
Conhecidos e desconhecidos da humanidade.
Adoramos Vosso passado, Vossa presença ilumina profundamente nosso ser,
E almejamos Vossa Benção no futuro, ó Mensageiro!
Cristo, Nabi, o Rasoul de Deus!
Vós, cujo coração está em perene procura das alturas,
Vós viestes à terra com uma Mensagem,
Tal como uma pomba que vem do alto quando declina o Dever,
E dizeis a Palavra colocada em Vossos lábios,
Como a luz enche o crescente da lua.
Fazei com que a estrela da Divina Luz que ilumina Vosso coração,
Se reflita no coração de Vossos seguidores,
Para que a Mensagem Divina se propague pelo mundo,
Iluminando e fazendo da Humanidade uma só Fraternidade
Na paternidade de Deus. AMÉM.
Pensamentos:

“ O senhor do universo não toma sobre si as culpas dos homens porque está acima de todas
as ações, perfeito em si mesmo. Erram os homens por sua própria ignorância, porque a luz da
Verdade está envolta nas trevas da ilusão”
(Krishna – Bhadavad Gita)

“Eu sou a luz, que está acima de todos. Eu sou o “Todo”. O Todo saiu de mim, e o Todo
voltou a mim! Rachai a madeira - lá estou eu. Erguei a pedra – lá me achareis.”
(Jesus de Nazaré – O Cristo)

"Não dependa de doutrinas, não dependa de dogmas, de seitas, de igrejas ou templos; elas
contam pouco comparadas com a essência da existência que reside no homem, e que é
divina; e quanto mais essa divindade se desenvolve numa pessoa, mais ela irá tender para o
bem. Conquiste esta espiritualidade em primeiro lugar, adquira-a e não critique nenhuma
outra, pois todas as doutrinas e crenças são detentoras de algum bem. Mostre através de
suas vidas que a religião não significa palavras, ou nomes, ou seitas, mas que significa, isto
sim, realização espiritual."
(Sri Ramakrishna)

"A diferença entre Cristo e os Seus Irmãos menos evoluídos é uma diferença em grau, não
em essência. Todos são essencialmente "unidos ao Pai", ainda que nem todos sejam como
Ele é, conscientemente unido ao Pai"
(Charles W. Leadbeater)

"A verdade é um espelho que caiu das mãos de Deus e se quebrou. Cada um recolhe o
pedaço e diz que toda a verdade está naquele caco."
(Provérbio Iraniano)

"O amor e a verdade estão unidos entre si, como as faces de uma moeda. É impossível
separá-los. São as forças mais abstratas e mais poderosas desse mundo."
(Mahatma Gandhi)

“Religião é o que fazemos conosco quando estamos a sós com nós mesmos”
(Radhakrishnan)

You might also like