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Exmo.

Senhor
Provedor de Justiça

…………………………….……………………………………………………..,
Estado Civil ………………, contribuinte fiscal nº ….……..…, portador
do BI nº …………..., residente em ………………….……..……………..
……………………………………………. vem, atento o disposto no n.º
3 do Artigo 20.º do Estatuto do Provedor de Justiça, aprovado pela Lei
9/91, de 09/04 alterada pela Lei 30/96, de 14/08, requerer a V. Exª se
digne suscitar junto do Tribunal Constitucional pedido de declaração da
inconstitucionalidade dos artigos 10.º e 88.º n.º 4 da Lei n.º 12-A/2008 de
27 de Fevereiro, o que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

1. O signatário é funcionário publico de nomeação definitiva desde ……………..…….


……………………..

2. A titulo de uma pseudo e infundamentada reforma da administração pública, ou


ainda qualquer explicação plausível e credível que justifique um qualquer benefício,
ou prejuízo evitado, ou ainda a indicação de uma qualquer vantagem para o Estado
ou para o serviço público prestado aos cidadãos, a lei 12-A/2008, no art. 10º
restringe o vínculo de nomeação definitiva em funções públicas, a um conjunto de
carreiras elencadas da alínea a) à alínea f) e,

3. no art. 88º nº 4 determina que os actuais funcionários públicos, portanto nomeados


definitivamente e a exercerem funções públicas mas cujas atribuições não estão
elencadas no art. 10.º transitam ope legis, sem outras formalidades, para a
modalidade de contrato em funções públicas por tempo indeterminado, abrangendo
assim milhares de funcionários públicos cujo legítimo direito adquirido de serem
possuidores da nomeação definitiva com as respectivas expectativas legítimas de
uma carreira estável e longe de quaisquer pressões.

4. Uma outra questão que aqui se coloca, e que decorre do art. 22º será a do
trabalhador que agora vai ter um CTFP, em que lhe estão reservadas as garantias

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actuais da cessação da relação jurídica de emprego público nos termos do nº 4 do
art. 88º, é a de extinção deste direito em função da contratação para um novo posto
de trabalho, a que corresponderá um novo contrato (o que até aqui não sucedia). As
questões que aqui se colocam e a que a actual lei não parece dar resposta, remetendo
estes trabalhadores para uma situação de clara exclusão do seu estatuto de
funcionário público e que nos atrevemos a classificar de perfeita
inconstitucionalidade – se é que se pode considerar tal no âmbito de uma perfeição,
levanta-nos os seguintes problemas:

5. Em primeiro lugar o que sucede ao trabalhador que celebra o contrato para uma
nova categoria e ou carreira? Este trabalhador mantém o regime anterior? Este
trabalhador pode ou não ser despedido pelos motivos objectivos e subjectivos que o
novo regime empresta aos trabalhadores admitidos ao abrigo do RCTFP. A lei
parece tratar estes trabalhadores como se estivessem a fazer um contrato ex novo
com a Administração Pública. E, sendo assim, como parece é, este trabalhador – ex
funcionário público, que pode muito bem ser o requerente – entra directamente no
campo do RCTFP, com um novo contrato e com todas as regras do regime e já não
com a protecção do nº 4 do art. 88º.

6. Em termos substantivos esta nova lei coloca o trabalhador numa situação em que
pode mesmo ser despedido por exemplo por inadaptação ao posto de trabalho. Sem
pretender aqui entrar na querela que está já lançada sobre o despedimento por
inadaptação ao posto de trabalho, quando briga com o período experimental, ou seja,
com a possibilidade deste se verificar depois de terminado o período experimental,
desde logo porque se considera aqui a existência duma clara violação do principio
da estabilidade (garantia da estabilidade) assegurada pelo art. 53º da CRP, na exacta
medida em que findo o período experimental o legislador prevê aqui a sua duração
ad eternum, na exacta medida em que a todo o momento o trabalhador pode ser
despedido, mesmo tendo dado provas claras de perfeita adaptação durante o período
experimental.

7. Com tal atitude, põe-se assim em causa e em claro prejuízo a sua isenção e
imparcialidade no exercício das suas funções, na exacta medida em que pode ser
posto em causa o seu posto de trabalho ao ser sujeito a uma situação laboral bem

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pior com contrato por tempo indeterminado – que como veremos será a termo de um
ano, sem em contrapartida ser adiantada qualquer vantagem da retirada dessa
modalidade de vinculo que constitui um legítimo direito já há muitos anos garantido
pelo Estado, que, antes demais, deveria ser pessoa de bem.

8. Esta situação implica para o signatário uma alteração radical dos pressupostos com
que aceitou integrar a função pública, a que se sujeitou ao longo de uma vida
profissional, com sacrifícios e salários mais baixos do que o verificado para igual
função no sector privado, com uma dedicação em exclusivo ao interesse público, o
que em boa verdade consubstancia uma clara violação do princípio da segurança no
emprego plasmado no art. 53º da Constituição da República Portuguesa.

9. Efectivamente, após a manutenção da forma de cessação da relação jurídica de


emprego, prevista no art. 88º, a lei 12-A/2008, é a mesma lei que nos art. 5º e 6º
prevê que o contrato por tempo indeterminado o seja apenas e só por um ano. I.é,

10. Na medida em que a administração pode e deve ajustar anualmente o mapa de


pessoal, o signatário pode, nessa mesma medida ver posto em causa o seu posto de
trabalho que pode terminar por extinção, ou outra medida, já que o nº 4 do art. 88º
apenas salvaguarda a situação decorrente da transição. Ora,

11. Nesta medida, a lei 12-A/2008, designadamente o nº 4 do art. 88º está


irremediavelmente ferido de inconstitucionalidade, por afronta ao supra enunciado
princípio e por

12. desrespeitar também aquilo que deveria garantir - a segurança jurídica relacionada
com a estabilidade das relações de trabalho constituídas ao abrigo das normas
anteriores, pelas quais os funcionários públicos foram nomeados definitivamente. O
Estado como entidade empregadora e no cumprimento do art. 53.º da C.R.P.
empregou o signatário e com este milhares de funcionários que lhe emprestaram o
melhor do seu esforço e anos de trabalho leal,

13. que apenas aceitaram integrar a Função Pública devido ao facto de existir o vínculo
da nomeação definitiva que ajudava a atenuar os factores negativos da admissão ao

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Estado como a menor remuneração face ao sector privado, a menor liberdade devido
a regras de exclusividade que no sector privado nem sempre existem e uma
submissão a uma maior disciplina que não permite comprometer a isenção,
imparcialidade ou obter benefícios próprios no exercício das suas funções, valores
estes «estranhos» ao sector privado devido à diferente natureza das funções pública
e privada, a que não será estranho o crime especifico dos funcionários públicos e a
forma especial como o código penal os trata – cfr., entre outros arts. 132º, 375º, 376º
e 386º. Ora,

14. Ao garantir este nível de segurança conferido pelo vínculo de nomeação definitiva, é
impensável que o Estado enquanto entidade legiferante, pode sem mais retirar, com
a justificação fútil que está em causa aproximar as regras do sector público ao sector
privado, mesmo sabendo-se que estamos perante realidades diversas e forçosamente
sujeitas a algumas regras próprias, principalmente assentes em princípios históricos
que se mantém ainda hoje.

15. Tudo visto, a nova lei é claramente demonstrativa de que apenas PREVÊ UMA
ESTABILIDADE DE EMPREGO DE APENAS UM ANO. Ou seja, os
trabalhadores ainda que contratados por tempo indeterminado, não passam de meros
contratados a prazo por um ano renovável, isto é, de revisão em revisão dos mapas
de pessoal. Dito de outra forma o contrato por tempo indeterminado na
Administração Pública é igual ao contrato a termo certo de um ano, ou ainda, se
quisermos, ACABOU DEFINITIVAMENTE A ESTABILIDADE de emprego na
administração pública. Ora, tal desiderato consubstancia, em nossa opinião, e temos
a certeza de não estarmos sós nesta interpretação, uma inconstitucionalidade por se
tratar de ataque directo ao direito fundamental à segurança e estabilidade no
emprego, dado que o absurdo é possível. Efectivamente será equacionável que num
ano o serviço apresente carência de pessoal e no ano seguinte tenha necessidade de
aumentar o número de trabalhadores do respectivo mapa, e como tal venha desta
sorte a orçamentar verba para contratação de novos trabalhadores, sendo que no
extremo diríamos estarem a ser substituídos trabalhadores com contrato por tempo
indeterminado por outros com contratos a termo resolutivo.

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16. Questiona-se ainda se à luz dos art. 59º e 13º da CRP, será constitucional a
possibilidade que o trabalhador admitido ex novo tem de passar à frente de um
trabalhador que já milita na Administração Pública há vários anos e a quem não foi
dada essa possibilidade de entrar pelo meio da tabela, mesmo que se admita a
liberdade contratual e o carácter bilateral do contrato. Em nosso entendimento para
que se não verificassem estas inconstitucionalidades, necessário seria que os
trabalhadores da Administração Pública tivessem tido a mesma oportunidade, o que
sabemos não foi de todo uma realidade. Ora, também por aqui se requer a V. Exª a
fiscalização da constitucionalidade do preceito da lei 12-A/2008, quando conjugada
com a respectiva norma do RCTFP.

Nestes termos, vem o requerente solicitar a V. Exª se digne, no âmbito


das competências que lhe são atribuídas pela Lei que requeira a
inconstitucionalidade das normas vindas de citar e de todas as demais
que, pertencentes a esta lei, não se encontrem em consonância com a
CRP, entre outros os art. 46º a 48º e 113º, por violação do princípio da
protecção da confiança, tudo em nome da Justiça e do Direito

Lisboa, ……………………………………….2009

Assinatura______________________________________________________________

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