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Como interlocutor privilegiado deste diálogo intercultural, por definição e opção, o Instituto
Camões, ao marcar presença na Expo' 98, concebeu este espaço como uma amostra de culturas
que se cruzam no território da Língua portuguesa.
É uma viagem pelo mar que aqui propomos, tal como o sentem ou sentiram os autores africanos,
brasileiros e portugueses representados.
Viagem em que se cruzam, nos textos, sensibilidades e vivências, expressas nas metáforas, na
simbologia e nas imagens, reveladoras da riqueza e da multiplicidade da Língua Portuguesa, um
verdadeiro Oceano de Culturas.
O Instituto Camões pretende, desta forma, prestar homenagem a todos os autores que, em
português, contribuem com a sua obra para ampliar o nosso olhar, criando um lugar comum no
projecto de interculturalidade lusófona.
É uma ponte que se constrói, uma ponte que une as margens distintas das identidades culturais de
cada um dos países de língua oficial portuguesa, uma ponte que pretendemos inscrever no nosso
imaginário colectivo, num encontro cultural único, que amplie o nosso olhar sobre os outros e sobre
nós próprios, fortalecendo indelevelmente os laços que nos unem e a nossa forma de estar no
mundo.
Jorge Couto
1926
Nasceu em S. Tomé. Estudou em Portugal.
Professora. Foi Ministra da Informação e
Cultura e Ministra da Educação e Cultura de
S. Tomé e Príncipe. Colaborou em diversas
publicações literárias. Poeta
1939
Nasceu em Canchungo (Guiné-Bissau).
Licenciado em Medicina pela
Universidade de Lausana. Colaborou em
diversas publicações. Poeta
O Mar
1924
Nasceu em Faro. Esteve ligado às revistas
Cadernos do Meio-Dia, Árvore e
Cassiopeia. Tradutor, crítico literário,
ensaísta e poeta. Além de uma grande
depuração da palavra, reflecte sobre o
fenómeno poético
Na Igualdade da Torrente
Acordes
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1927-1996
Nasceu em Lisboa. Licenciado em Filologia Românica
pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi professor.
Dirigiu a revista Colóquio-Letras. Tradutor, crítico
literário, ensaísta, ficcionista e poeta. Foi uma presença
marcante do mundo literário da sua época
Jogos de Água
1
Corpo meu que no Mar de repente retomas
ao rebentar da onda a posição do feto
Surpreende a matriz de onde partem as ordens
2
A sôfrega aventura A ligação mais firme
A flor de uma só noite A que se crê eterna
Não há forma de amor em que a água não vibre
3
Entranham-se na terra os arames da chuva
para apertar melhor as tábuas dos caixões
Ou para transmitir notícias de uma nuvem
Do Tempo ao Coração
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1922
Nasceu em Matosinhos. Esteve ligado às
revistas Távola Redonda, Árvore, Notícias
do Bloqueio e Limiar, entre outras. Tradutor
e poeta
1923
Nasceu em Póvoa da Atalaia (Fundão).
Funcionário público. No Porto existe uma
Fundação com o seu nome. Tradutor,
organizador de antologias, ficcionista e
poeta. Nada melhor que as suas palavras
para definir a sua obra: «(...) desde
pequeno, de abundante só conheci o sol e a
água... aprendi que poucas coisas há
absolutamente necessárias. São essas
coisas que os meus versos amam e
exaltam. A terra e a água, a luz e o vento
(...)
Véspera de Água
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1861-1930
Nasceu na Brava (Cabo Verde).
Autodidacta, funcionário publico, jornalista
e polemista. Dramaturgo, ficcionista e
poeta. Paradigma da crioulidade, autor de
inúmeras mornas
Canção ao Mar
(Mar Eterno)
Mornas
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Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1888-1935
Nasceu em Lisboa. Entre 1895 e 1905, viveu na
África do Sul. Escreveu quer sob os heterónimos
Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis,
quer sob o semi-heterónimo Bernardo Soares e
Pessoa ortónimo. É considerado um dos maiores
poetas portugueses de todos os tempos. Poeta e
prosador. Apesar de muito conhecido, Pessoa
continua ainda por conhecer. É, decerto, o mais
complexo e diversificado dos escritores portugueses
Chuva Oblíqua
1917-1993
Nasceu em Díli (Timor-Leste).
Pseudónimo de Abílio Leopoldo
Motta-Ferreira. Foi presidente da
Sociedade de Língua Portuguesa.
Participante activo da Resistência
Maubere. Poeta, prosador,
dramaturgo e ensaísta
Infância
1930
Nasceu no Funchal (Madeira). Frequentou a Faculdade
de Letras de Lisboa. Colaborou em diversas revistas de
poesia. Tradutor, poeta e ficcionista. Indiscutivelmente,
um dos grandes poetas portugueses, com um exímio
domínio da linguagem
As barcas gritam sobre as águas.
Eu respiro nas quilhas.
Atravesso o amor, respirando.
Como se o pensamento se rompesse com as estrelas
brutas. Encosto a cara às barcas doces.
Barcas maciças que gemem
com as pontas da água.
Encosto-me à dureza geral.
Ao sofrimento, à ideia geral das barcas.
Encosto a cara para atravessar o amor.
Faço tudo como quem desejasse cantar,
colocado nas palavras.
Respirando o casco das palavras.
Sua esteira embatente.
Com a cara para o ar nas gotas, nas estrelas.
Colocado no ranger doloroso dos remos,
Dos lemes das palavras.
Poemacto
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Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1920
Nasceu no Recife (Brasil). Ingressou na carreira
diplomática, tendo estado colocado em Barcelona,
Londres, Sevilha, Dacar e Porto. Foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras em 1968. Poeta.
Prémio Camões. Incontestavelmente, uma das
maiores figuras da produção literária brasileira
O mar soprava sinos,
Os sinos secavam as flores,
As flores eram cabeças de santos.
Pedra do Sono
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1922
Nasceu em Lourenço Marques (actual Maputo),
Moçambique. Funcionário público, atleta, cronista
desportivo, jornalista.
Primeiro Presidente da Associação de Escritores
Moçambicanos. Poeta e contista. Prémio Camões. Ele é
hoje uma figura incontornável e de referência da escrita
em língua portuguesa
Canto do Nosso Amor sem Fronteira
Estamos juntos.
E moçambicanas mãos nossas
dão-se
e olhamos a paisagem e sorrimos.
Ou
com os olhos incendiados
nos poentes do Mediterrâneo
recordamos as noites mornas da praia da Polana
e a beijos sorvo a tua boca no Senegal
e depois tingimos mutuamente
os lábios com as negras amoras de Jerusalém
ambos entristecidos ao galope dos pés humanos
sem ferraduras mas puxando riquexós.
Karingana ua Karingana
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
c. 1524-1580
Pouco se sabe sobre a sua vida agitada. Considerado o maior
vulto das letras portuguesas. Autor da epopeia Os Lusíadas.
Poeta e dramaturgo. A influência da sua obra foi marcante na
produção literária portuguesa. «Camões assumiu e meditou a
experiência de toda uma civilização cujas contradições viveu na
sua carne e procurou superar pela criação artística
Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se
alongavam;
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E, já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.
1950
Nasceu em Idanha-a-Nova. Licenciado
em Direito pela Universidade de Lisboa.
Diplomata.
Poeta e ficcionista
Outras Canções
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1936
Nasceu em Águeda. Estudou Direito na Universidade
de Coimbra, onde esteve ligado aos grupos de teatro
CITAC e TEUC. Poeta e ficcionista. A sua poesia está
eivada de uma grande musicalidade e por ela perpassa
a sua atitude socialmente interventiva
Coração Polar
1.
Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Há um eu errante e mareante
não mais que um signo
um batimento
um coração polar
algo que tem a cor do gelo e do antárctico
e sabe a sul a medo a tentação
uma irremediável navegação interior
um navio fantasma amor fantástico.
1941
Nasceu em Nova Lisboa (Angola).
Licenciado em Direito pela Universidade de
Coimbra. Desempenhou diversos cargos
oficiais. Colaborou em publicações várias.
Poeta, ficcionista e ensaísta. Figura de
relevo nacional e internacional
Uma Onda e África
1
Uma onda
é amar-te e medo
ciúme deste mar
tan-tan do meu naufrágio
numa canoa de pétala
de acácia
2
Uma jangada
que me tragas feita
de troncos de palmeira
ou de um barco de negreiros
afundado
e dentro de uma concha
uma notícia
3
Amar-te é esta distância
e junto ao mar
senti-lo viajado
azul e com estrondo
4
Amar-te é uma fogueira
sobre a onda
sítio de uma lavra
de milho ou mandioca
na areia que me foge
sob a espuma
UNIVERSIDAD DE CHILE
Vicerrectoría de Asuntos Académicos
Unidad de Formación General, Básica y Especializada
La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
5
Amar-te é isto
com o teu perdão
não agarrar a onda
e mastigar-lhe o sal
que apenas sei
ter já beijado
a tua praia
6
Uma onda
que penso.
Outra em que reparo.
A mesma em que pensei
e que retorna ao mar.
7
Porque ficar a onda
— o impossível
(dizem que não havia
mar
remos de sol
nem barcos afundados).
A Onda
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1907-1995
Nasceu em São Martinho de Anta (Vila Real). Pseudónimo de Adolfo
Correia da Rocha. Licenciado em Medicina pela Universidade de
Coimbra em 1937. Poeta, romancista, novelista, dramaturgo,
memorialista e ensaísta. Prémio Camões. Ele é a «reencarnação de
um poeta mítico por excelência - daqueles que vive na intimidade das
forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las
com o seu canto» (David Mourão-Ferreira)
Mar
Mar!
E é um aberto poema que ressoa
No búzio do areal...
Ah, quem pudesse ouvi-lo sem mais
versos!
Assim puro,
Assim azul,
Assim salgado...
Milagre horizontal
Universal,
Numa palavra só realizado.
Diário XI
UNIVERSIDAD DE CHILE
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1934
Nasceu em Lisboa. Licenciado em Direito pela
Universidade de Lisboa. Dirigiu a revista Anteu –
Cadernos de Cultura. Actualmente é administrador
da Fundação Calouste Gulbenkian. Tradutor e
poeta
Os Nautas
Depois de Ver
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1919
Nasceu no Porto. Cursou Clássicas na
Universidade de Lisboa. Colaborou em diversas
revistas de poesia. Autora de obras de literatura
infantil. Poeta, contista e ensaísta. Na limpidez e
sensibilidade fina da sua poesia, o mar é
presença assídu
Mar
I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais
profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exalação das ondas
Subindo para os astros como um grito
puro.
Poesia I
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1937
Nasceu em Faro. Licenciada em Filologia
Românica pela Faculdade de Letras de
Lisboa. Professora Catedrática da
Universidade Nova de Lisboa. Ensaísta,
ficcionista e poeta
Onda a onda
ser a ser
a Vida
vai
e vem
mar
sem fim
de vidas
Cicatrizes
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Vicerrectoría de Asuntos Académicos
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1942
Nasceu no Porto. Licenciado em Direito
pela Universidade de Lisboa. Ocupa
actualmente um cargo directivo na
Fundação Gulbenkian. Tradutor, ensaísta,
poeta e romancista
Crónica
1916-1996
Nasceu em Melo (Gouveia). Licenciado em
Filologia Clássica pela Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra em
1940. Professor de liceu. Romancista e
ensaísta. Prémio Camões.
É um dos mais significativos ficcionistas
portugueses contemporâneos
Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em
que
se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da
minha
língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu
rumor,
como da de outros se ouvirá o da floresta ou o
silêncio do
deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa
inquietação.
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1913-1980
Nasceu no Rio de Janeiro (Brasil). Fez da sua poesia
«um espanto permanente com tudo» (Antônio
Cândido). Poeta e músico. O que é simples e
quotidiano, mas essencial, transparece quer nos seus
escritos, quer nas suas canções
O Encontro do Cotidiano
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
1901-1978
Nasceu na Praia da Vitória, ilha Terceira (Açores).
Professor da Faculdade de Letras de Lisboa. Revelou
dotes de grande comunicador na rádio, na televisão e
como professor. Poeta, romancista e ensaísta. A sua
obra reflecte a temática da insularidade, estando a
realidade açoriana nela patent
(...)
Esta saudade é uma maré que eu sou;
Esta tristeza é já meu mar rolando,
Meu vento levantando-se na voz,
Minha contiguidade separando
Seus bocados inermes e sem área,
Seu percorrido igual em todos os navios,
Seu movente e parado eirado frio
Que se aquece nos reinos de coral
E quer quebrar-se em praias — mas que é delas,
Se não são minhas secas desistências
No inútil desenho de alguns passos?
De onde em onde uma luz — mas nem parece,
De apagada e perdida nos socorros,
De intermitente ao vento que já sou...
(...)
Áspera Vida
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Vicerrectoría de Asuntos Académicos
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La Península Ibérica Contemporánea: Miradas Cruzadas
Primer Semestre 2010
Exposição
Coordenação operacional
João Ribeiro
Fotografia digital
O Laboratório
Montagem
Sinalética
Design gráfico
atelier Nuno Vale Cardoso
Fotografia de mar
PH3