O documento apresenta uma análise da obra "Estudo do retrato do Papa Inocêncio X", de 1953, do artista Francis Bacon. A análise descreve a obra, interpretando elementos como a distorção da figura, o uso de cores e luz, e como isso expressa sentimentos como tensão e medo. A obra é analisada à luz das teorias fenomenológica e formalista, mostrando como Bacon quebrou convenções da arte clássica para transmitir angústia da sociedade pós-guerra.
Original Description:
Dentre os muitos conceitos elaborados sobre o que é arte, podemos considerar o pensamento de que se trata de uma experiência humana e de conhecimento que transmite e expressa ideias e sensações. Por isso, para a apreciação da própria se faz necessário aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões.
O documento apresenta uma análise da obra "Estudo do retrato do Papa Inocêncio X", de 1953, do artista Francis Bacon. A análise descreve a obra, interpretando elementos como a distorção da figura, o uso de cores e luz, e como isso expressa sentimentos como tensão e medo. A obra é analisada à luz das teorias fenomenológica e formalista, mostrando como Bacon quebrou convenções da arte clássica para transmitir angústia da sociedade pós-guerra.
O documento apresenta uma análise da obra "Estudo do retrato do Papa Inocêncio X", de 1953, do artista Francis Bacon. A análise descreve a obra, interpretando elementos como a distorção da figura, o uso de cores e luz, e como isso expressa sentimentos como tensão e medo. A obra é analisada à luz das teorias fenomenológica e formalista, mostrando como Bacon quebrou convenções da arte clássica para transmitir angústia da sociedade pós-guerra.
DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS TEORIA E CRTICA DA ARTE PROF DR. VIVIANE MOURA DA ROCHA
LEITURA DA O OBRA DE ARTE: DESCRIO, ANLISE E INTERPRETAO DA
OBRA DE FRANCIS BACON, ESTUDO DO RETRATO DO PAPA INOCNCIO X, 1953
JOS LUIZ FERREIRA CAVALCANTI
Dezembro/2015
Dentre os muitos conceitos elaborados sobre o que arte, podemos
considerar o pensamento de que se trata de uma experincia humana e de conhecimento que transmite e expressa ideias e sensaes. Por isso, para a apreciao da prpria se faz necessrio aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opinies. Prtica esta, diretamente relacionada experincia esttica que nos remete a um conjunto organizado de princpios que buscam a explicao de diferentes fenmenos recorrentes na natureza e na cultura das mais diversas sociedades. No contexto da arte existem diversas teorias que contribuem para o entendimento de tais fenmenos provenientes da relao entre o individuo e a obra de arte. Este ensaio utiliza-se como fundamentao de anlise, descrio e interpretao, a teoria da Fenomenologia que descreve aquilo que est latente, invisvel, mas que se manifesta na obra de arte. Ressalta de que maneira a conscincia humana percebe e interpreta as imagens seja do ponto de vista do espectador ou dos processos de criao do artista. E tambm a luz da teoria Formalista que atribui arte uma organizao, que valoriza a importncia e a maneira de como os elementos da linguagem visual se relacionam no processo de construo e compreenso da obra de arte. As formas possuem um contedo significativo prprio, que nada tem a ver com o tema histrico, mitolgico ou religioso que cada obra de arte esteja buscando transmitir mais especificamente. A obra escolhida o Estudo do retrato do Papa Inocncio X, produzida em 1953 por Francis Bacon, sob a tcnica leo sobre tela, com as dimenses de 153 x 118 cm, sistema de representao figurativo no naturalista e a faz a utilizao das seguintes cores: amarelo, branco, cinza, marrom, preto e roxo. Na tela podemos observar a presena de um individuo sentado em uma cadeira, apresentando indumentria que nos remete a uma autoridade religiosa e a cena acontece aparentemente em recinto fechado, de fundo escuro e desprovido de outros objetos. A criao imagtica de Bacon vislumbra traos de linguagem que nos remetem ao movimento Expressionista, amplamente difundido na primeira metade do sculo XX. A figura humana era um tema recorrente na obra do artista em que ele retratava de forma dramtica e distorcida com o intuito de expressar a angstia e as aflies da nova sociedade, da qual tambm fazia parte, que acabara de experimentar o terror de duas guerras mundiais.
A deformao do personagem representado por Bacon j nos evidencia
caractersticas que rompem com arte considerada clssica. A combinao de cores reverenciada pelo artista, sobretudo na indumentria do pontfice, na presena do amarelo e do roxo atraem imediatamente o olhar por serem cores complementares e estas quando dispostas uma do lado da outra se tornam mais vivas. Em relao s cores complementares Pedrosa afirma que toda cor se destaca mais ao lado de sua cor contrria: azul-avioletado ao lado do amarelo-dourado [...] (PEDROSA, Israel. Contrastes simultneos de valores de tons. In: Universo da Cor. 2003). A dramaticidade da pintura conferida na utilizao de iluminao unidirecional que produz um forte contraste entre e o branco da tnica do papa e fundo escuro que se apresenta por pinceladas vigorosas em linhas verticais que sugerem movimento e velocidade. H uma desvalorizao da linha, como recurso demarcador, em relao ao contorno das formas o que favorece a ligao entre os objetos representados proporcionando a obra de Bacon um carter pictrico. Heinrich Wllflin no livro Conceitos Fundamentais da Histria da Arte comenta: As possibilidades da arte pictrica comeam no momento em que a linha desvalorizada enquanto elemento delimitador. como se todos os pontos fossem animados por um movimento misterioso. A essncia da representao pictrica confere a linha um carter indeterminado que busca aquele movimento que ultrapassa o conjunto dos objetos. (Wllflin, 2006, p. 26-27)
A sensao de profundidade presente na composio de Bacon se d pela
sobreposio de formas onde os planos so desconsiderados como recursos de organizao espacial entre elementos que compem a pintura. O carter expressivo da obra valorizado atravs da oposio entre luz e sombra. Aspectos estes que Heinrich Wllflin classifica como evoluo do plano a profundidade e ainda no mesmo livro afirma: [...] que nas obras de carter pictrico manifesta-se a tendncia a subtrair os planos aos olhos, a desvaloriz-los e torn-los insignificantes, a medida em que so enfatizadas a relao entre os elementos que se dispem a frente e os que se apresentam atrs; o observador se v obrigado a penetrar at o fundo do quadro. (Wllflin, 2006, p.99).
Na tela de Bacon observa-se a dinmica de diagonais que parecem sublinhar
a expresso do papa. Na metade superior do quadro existem duas diagonais formadas pelos ombros e pelos braos que nos levam a cabea do pontifcio carregada de significados que sugerem uma multiplicidade de interpretaes. As linhas que cruzam a obra de Bacon convergem para o centro e atravessa o Papa, e atravs da desconfigurao corpo do mesmo verificamos a presena de sentimentos que personificam a prpria existncia do artista por ter visto de perto a hecatombe que foi a Segunda Guerra Mundial.
Para Ponty a corporeidade
entendida como sentir, como experincia do irrefletido, o filsofo celebra o papel do
corpo na expresso e em sua anlise existencial nos revela: O corpo como condio de possibilidade de qualquer experincia. A percepo implica a significao do percebido. A sensao espontaneamente interpretada. (MERLEAU-PONTY, Fenomenologia da Percepo, 1994)
A imagem revelada pelo artista fruto de sua conscincia imaginativa que se
manifesta na expressividade emanante na representao da figura do chefe supremo da igreja catlica, que de forma simblica tambm representa a toda a desumanidade produzida pelo cristianismo durante toda a Idade Mdia. A partir deste universo observamos a expresso fsica da pintura de Bacon que nos remete a sentimentos como tenso, pavor, raiva, dor, medo, pela humanizao de signos que se apresentam em detalhes para observador da obra. No quadro visualizamos o papa com os braos tensos e as mos crispadas na cadeira em pnico e desespero. O trono dourado sugere a presentificao de uma cadeira eltrica onde o personagem sacode de volta a vida pela ultima vez, o papa de Bacon estimula nosso olhar e tambm nosso ouvido pelo seu grito, levando-nos para perto de um universo transcendental. Os traos violentos que representam o papa Inocncio X projetam o espectador numa atmosfera onde domina a sensao da morte causada pela apreenso de ser engolido pelo buraco escuro da boca do papa. O que podemos observar aqui um dilogo entre dois pintores separados por 300 anos. Enquanto Diego Velzquez nos encanta com o naturalismo de seu quadro, esbanjando suavidade com uma imagem quase real, Francis Bacon oferece uma realidade ressaltada e suja pela provocao da morte e da decomposio. No
que se refere no dilogo entre os autores satisfatrio notar aqui a potencialidade
retratstica de cada um deles em sua poca.
REFERNCIAS
BERRETT, Terry. A crtica da arte: Como entender o contemporneo. Traduo:
Alexandre Salvaterra.. Porto Alegre, 3 Ed, AMGH, 2014. GRAHAM-DIXON, Andrew. O guia visual definitivo da arte: da pr-histria ao sculo XXI. So Paulo. Publifolha, 2011. PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. So Paulo: Ed. Perspectiva, 1976. PERAZZO, Luiz Fernando; Ana Beatriz Fares Racy; Denise Alvarez. Elementos da cor. Rio de Janeiro, Ed. Senac Nacional, 1999. PILLAR, Analice Dutra. A educao do olhar no ensino das artes/ Organizadora. Porto Alegre, Ed. Mediao, 1999. ROCHA, Viviane. Fundamentos de anlise da obra de arte. Slides da disciplinaTeoria e Critica da Arte. Curso de licenciatura em artes visuais. UFMA, 2015.2. WLLFLIN, Heinrich. Conceitos Fundamentais da Histria da Arte. 4 ed. So Paulo: Martins Pontes, 2000.