APELAÇÃO CÍVEL Nº 0377316-8, DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU - 1ª VARA CÍVEL.
Apelante: TIM SUL S/A Apelado: FLORI OLIVEIRA E OUTRO Relator: DES. NILSON MIZUTA
RESPONSABILIDADE CIVIL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. TELEFONIA CELULAR. BLOQU
EIO DA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. FATURA PAGA. DANOS MORAIS CARACTERIZADO. VALOR AR BITRADO PROPORCIONALMENTE. DANO QUE INDEPENDE DE PROVA DO PREJUÍZO. TERMO INICIA L DOS JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA. DATA DO EVENTO. HONORÁRIOS DISTRIBUÍDO S DE FORMA PROPORCIONAL (ART. 21, CAPUT, CPC). 1. A condição de consumidor dos serviços de telefonia, como destinatário final, autoriza a aplicação do código de defesa do consumidor. 2. Comprovado o bloqueio dos serviços de telefonia, em decorrência de fatura qui tada pelo consumidor, caracteriza dano moral independentemente da prova do preju ízo. 3. O valor arbitrado a título de dano moral deve ser justo e proporcional ao dan o moral sofrido. 4. Na responsabilidade extracontratual os juros de mora fluem a partir do evento danoso (Súmula 54 do STJ) e a correção monetária a partir da data da fixação do valor da indenização. 5. As despesas e os honorários são distribuídos de forma eqüitativa, de acordo c om a sucumbência de cada uma das partes, conforme preceitua o artigo 21 do Códig o de Processo Civil. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Apelação Cível nº 0377316-8
, da Comarca de Foz do Iguaçu, 1ª Vara Cível, em que são apelante TIM SUL S/A e apelado FLORI OLIVEIRA E OUTRO. RELATÓRIO Alega o autor que está vinculado a ré mediante contrato de prestação de serviço de telefonia móvel nº 9975-6033. Em janeiro de 2005, sem motivo algum, o telefon e foi bloqueado, como se o autor estivesse inadimplente. Em contato com a ré foi informado que não constava pagamento da fatura vencida no dia 7 de novembro de 2004, referente ao mês de outubro. O autor enviou cópia das faturas pagas, mas s ua linha permaneceu com gravação de que o número chamado estava programado para não receber chamadas. Em decorrência do evento alega que passou por constrangimentos e deixou de reali zar vendas aos seus clientes, uma vez que o rendimento de sua empresa decaiu no mês de janeiro de 2005. Busca a concessão da tutela antecipada para determinar a ligação imediata da linha, sob pena de aplicação de multa diária; a inversão do ônus da prova; a condenação ao pagamento de indenização por danos morais; lucro s cessantes; o pagamento em dobro do valor da fatura indevidamente cobrada; cust as e honorários advocatícios. A liminar foi deferida para determinar o imediato restabelecimento dos serviços, cominando multa de R$ 500,00 por dia de atraso. Foi desde logo anunciada a inve rsão do ônus da prova (fl. 52). Na contestação a ré argúi a nulidade de rito. Defende a inaplicabilidade do Códi go de Defesa do Consumidor. No mérito admite o bloqueio parcial da linha celular do autor, que ocorreu em razão do pagamento incorreto, em local não autorizado. Esclarece que há dois tipos de tecnologia - TDMA e GSM. Para cada sistema exist e um sistema distinto de emissão das faturas, que são realizadas pela empresa In ter Change. A linha do autor é de tecnologia GSM, mas foi paga em estabelecimento que não ha via convênio para receber este tipo de fatura. Afirma que até a data do ajuizame nto desta demanda aguarda a prova do pagamento da fatura, que não foi enviada pe lo cliente. Destaca a ausência do dever de indenizar em face da inexistência dos requisitos da responsabilidade civil. Impugna o pedido de repetição do indébito e do dano moral, ressaltando a impossibilidade da inversão do ônus da prova e d o cumprimento da tutela. A r. sentença confirmou a antecipação dos efeitos da tutela, julgando parcialmen te procedentes os pedidos para condenar a ré ao pagamento de indenização por dan os morais no valor de R$ 8.500,00, corrigido monetariamente pelo INPC e acrescid o de juros de mora de 1% ao mês, a partir da data do evento. Condenou a ré ao pa gamento das custas e honorários fixados em 15% sobre o valor da condenação. Não conformado o autor apela da decisão destacando a ausência de aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor; a ausência do dever de indenizar, uma vez que o local de pagamento não era autorizado ao recebimento de faturas de tecnologia GSM e a ausência do dano. Impugna o valor da condenação, o termo inicial da cor reção monetária e dos juros de mora. Busca a correta distribuição da sucumbência . Nas contra razões a apelada busca o não conhecimento do recurso por intempestivi dade. No mérito pugna pelo não provimento das razões. VOTO Inicialmente, conheço do recurso porque tempestivo. A certidão da fl. 181-verso informa a ocorrência de erro material na data de publicação da r. sentença, que ocorreu em 7 de março e não 7 de fevereiro de 2006. O prazo iniciou em 13 de mar ço de 2006 (INCLUSIVE) (fl. 138). As razões do recurso foram interpostas em 21 d e março de 2006 (fl. 139/140), portanto, dentro do prazo legal para a interposiç ão deste recurso. No mérito não procede a alegação do apelante quanto a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao presente caso. A relação existente entre Flori Olive ira e a TIM é de consumo: de um lado o autor na condição de consumidor dos servi ços de telefonia, como destinatário final, e do outro lado a ré na condição de f ornecedora desses serviços. O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor estabelece: "Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza pro dutos ou serviço como destinatário final". Quanto ao conceito de consumidor o art. 3º do mesmo código preceitua: Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada naciona l ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade s de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exporta ção, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (...) § 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante rem uneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitári a, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista." No caso, a condição de consumidor final, ficou por demais evidenciada, quando a sentença recorrida afastou o lucro cessante. Na inicial, alegou o autor que o te lefone era utilizado para fazer contato com os clientes de sua empresa. Na falta do telefone houve a interrupção no contato com os clientes. O juiz, todavia, en tendeu que o telefone não era utilizado na empresa. Com esse argumento afastou o lucro cessante. Via inversa, ficou patente que o telefone não tinha finalidade comercial. Daí ser o autor consumidor final. Quanto ao dever de indenizar também não merece provimento o recurso. O pagamento da fatura correspondente ao mês de outubro de 2004, com vencimento n o dia 7 de novembro de 2004, foi paga no dia 8 de novembro de 2004 (fl. 40). Est e documento comprova, de forma inequívoca, o pagamento da fatura no valor de R$ 289,73. A apelante não nega o bloqueio da linha celular de FLORI, mas defende-se alegand o que o pagamento foi efetuado em local não autorizado para o recebimento de fat uras correspondente à tecnologia GSM (fl. 69). Também confirma que a Lotérica In terchange, onde foi efetuado o pagamento, é conveniada e está apta ao recebiment o dos valores correspondentes aos telefones com tecnologia TSMA, mas não os GSM - tecnologia do aparelho do apelado. Ocorre que a lotérica aceitou a pagamento, gerando ao cliente a expectativa de q ue a conta estava paga. As falhas posteriores na identificação do documento não podem ser imputadas ao consumidor. A relação entre a TIM e a lotérica - que era devidamente conveniada - são de responsabilidade da apelante, decorrente da culp a in eligendo. O art. 932, inciso III, com o art. 933 do Código Civil preceituam: "Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil: (...) III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele" "Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda q ue não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiro s ali referidos". A parte mais fraca desta relação de consumo não pode ser prejudicada pela ausênc ia de quitação de uma fatura que foi paga e aceita em local autorizado pela TIM. Se este local era ou não autorizado ao recebimento da tecnologia correspondente ao aparelho do apelado era de responsabilidade de quem o recebeu. Quando aceito u o pagamento presume-se que não houve a quitação, não remanescendo qualquer res ponsabilidade ou obrigação ao consumidor. Também comprova-se que o serviço foi bloqueado totalmente pela falta de pagament o da fatura de outubro de 2004, conforme correspondência enviada a FLORI OLIVEIR A em 23 de janeiro de 2005 (fl. 38). A falha decorrente do recebimento da fatura pela lotérica, de tecnologia diversa do aparelho do autor, não se mostra sufici ente para afastar a responsabilidade da apelante. Tal fato, evidente, que gera o dano moral passível de reparação, nos termos do art. 927 do Código Civil. "Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo". Ressalte-se que independe de comprovação de forma efetiva da ofensa ao dano mora l, já que o ato culposo resultou conseqüências evidentes, correspondente ao bloq ueio total dos serviços pela falta de pagamento, quando a fatura reclamada havia sido corretamente paga pela parte lesada. Para o colendo Superior Tribunal de J ustiça, esse fato independe da demonstração de efetivo prejuízo: "Dispensa-se a prova de prejuízo para demonstrar a ofensa ao moral humano, já qu e o dano moral, tido como lesão à personalidade, ao âmago e à honra da pessoa, p or vezes é de difícil constatação, haja vista os reflexos atingirem parte muito própria do indivíduo - o seu interior". (REsp. nº 85.019-RJ, 4ª Turma, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU 18.12.98, p. 358). Também o Código de Defesa do Consumidor, no artigo 6º, inciso VI, inclui entre o s direitos básicos do consumidor "a efetiva prevenção e reparação de danos patri moniais e morais, individuais, coletivos e difusos". Portanto, verificado o evento danoso, surge a necessidade da reparação, não have ndo que se cogitar da prova do prejuízo, uma vez que se encontram presentes os p ressupostos legais para que haja a responsabilidade civil. De igual forma não procede o apelo para reduzir a quantia arbitrada. A apreciação do valor devido a título de dano moral tem caráter subjetivo. A sua fixação fica sujeita ao arbítrio do julgador, que deverá avaliar e sopesar a ne cessidade de quem os postula, e a possibilidade de quem os pagará, não devendo s er exagerada, de forma a proporcionar enriquecimento ilícito. Analisa-se a repercussão que o fato gerou; a situação econômica das partes e os prejuízos suportados. Não há critério científico a ser seguido para fixação do v alor da indenização por danos morais, apenas deverá ser arbitrado um valor que r epare o autor pelo dano causado, para que a conversão da ofensa moral ocorra em compensação pecuniária e desestímulo. A apelante possui condições financeiras para reparar o dano sofrido pela parte l esada. Tal fato, porém, não deve ser considerado de forma isolada, mas com funda mento nas demais situações do caso examinado. Deve ser considerado, também, que os serviços foram totalmente bloqueados depois de o autor já haver comunicado o pagamento da fatura (fl. 18). RUI STOCO ensina: "tratando-se de dano moral, nas hipóteses em que a lei não est abelece os critérios de reparação, impõe-se, obediência ao que podemos chamar de "binômio do equilíbrio", de sorte que a compensação pela ofensa irrogada não de ve ser fonte de enriquecimento para quem recebe, nem causa da ruína para quem dá . Mas também não pode ser tão apequenada, que não sirva de desestímulo ao ofenso r, ou tão insignificante que não compense e satisfaça o ofendido, nem o console e contribua para a superação do agravo recebido". (Tratado de Responsabilidade C ivil, 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 1709). Acrescenta: "Assim, tal paga em dinheiro deve representar para a vítima uma sati sfação, igualmente moral, ou seja, psicológica, capaz de neutralizar ou "anestes iar" em alguma parte o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniá ria está na aptidão para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo qu e tampouco signifique um enriquecimento sem causa da vítima, mas está também em produzir no causador do mal impacto bastante para dissuadi-lo de igual e novo at entado". (op. cit. p. 1683). Assim, analisando os requisitos acima descritos, a quantia fixada na r. sentença foi arbitrada de com razoabilidade não merecendo redução. Quanto à fixação do termo inicial dos juros o recurso não merece provimento. A incidência dos juros justifica-se desde a data do fato que gerou o dano, pois, nas ações de indenização por ato ilícito extracontratual são devidos a partir d a data do evento danoso, quando se constitui em mora o devedor pelo descumprimen to de uma obrigação. Essa questão está pacificada pela Súmula 54 do Superior Tri bunal de Justiça, verbis: "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso em caso de responsabilidade extracontratual". Valendo-se de brilhante síntese de SERPA LOPES, CAIO MÁRIO apresenta rol que det ermina o início da fluência dos juros, nos seguintes termos: "... d) se a obriga ção provém de um delito, os juros são devidos desde quando foi perpetrado, porqu e a lei considera automática a incidência da mora". (Instituições de Direito Civ il. Vol. II. 6ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p. 115). O Superior Tribunal de Justiça consolida esse entendimento: "(...) Na responsabilidade extracontratual, os juros moratórios incidem a partir do evento danoso, inclusive sobre o valor correspondente ao dano moral e ao pen sionamento, ao teor da Súmula 54 do STJ. Recurso provido". (STJ - REsp 663520 / MG - Terceira Turma - Relª. Ministra NANCY ANDRIGHI - DJ 05.09.2005). Quanto à correção monetária o recurso merece provimento para aplicá-la a partir da data da fixação do valor da indenização por danos morais. Também procede o apelo quanto à correta distribuição da sucumbência. Na inicial o autor busca a condenação da apelante ao pagamento de lucros cessant es; danos morais e repetição do indébito. Foi vencedor quanto a um dos três pedi dos - o dano moral. Dessa forma, o pagamento das custas e honorários devem ser a rbitrados de forma proporcional à sucumbência. O art. 21 do Código Processual Ci vil dispõe: "Art. 21 - Se cada litigante for em parte vencedor e vencido, serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles os honorários e as despe sas". Assim, condeno as partes ao pagamento das custas processuais que fixo na proporç ão de 70% ao autor e 40% à ré, ora apelante. Ainda, condeno o autor ao pagamento dos honorários advocatícios arbitrados no valor de R$ 1.500,00, com fundamento no §4º do art. 20 do Código de Processo Civil e condeno a ré ao pagamento de hon orários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação, com fundamento no §3º do art. 20 do Código de Processo Civil. Nesse sentido: "Cada parte deve suportar a verba advocatícia na proporção de sua derrota, bem c omo recebê-la na medida de sua vitória".(...) "Afirmando o julgado que um dos li tigantes foi vencido em parcela menor que a outra, mas não que houvesse decaído em parte mínima, a ele também deve ser imposta condenação em honorários, proporc ionalmente à sua sucumbência, procedendo-se a compensação" (THEOTONIO NEGRÃO Cód igo de Processo Civil, 34ªed., São Paulo: Saraiva, 2002, art. 21, nota 21:1a, p. 135). "(...) II. Quando ocorrer sucumbência parcial na ação, impõem-se a distribuição e compensação de forma recíproca e proporcional dos honorários advocatícios, nos termos do art. 21, caput, da lei processual". (STJ - AgRg no REsp 828276 / MS - QUARTA TURMA - Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR - DJ 21.08.2006). Ante ao exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso de Apelaçã o Cível interposto pela TIM SUL S/A para fixar o termo inicial da correção monet ária desde a data do arbítrio do valor da indenização e distribuir de forma prop orcional as verbas de sucumbências, conforme fundamentação acima consignada. ACORDAM os Senhores Desembargadores integrantes da Décima Câmara Cível do Tribun al de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos dar parcial provimen to ao recurso de Apelação Cível interposto pela TIM SUL S/A, nos termos do voto do Des. Relator. A sessão foi presidida pelo Desembargador RONALD SCHULMAN, com voto, e participo u do julgamento a Senhora Juíza Convocada ASTRID MARANHÃO DE CARVALHO RUTHES. Curitiba, 21 de junho de 2007. NILSON MIZUTA Relator