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História da Presença Portuguesa no Mundo

Recensão da obra: “O Impacto Português na Civilização


Japonesa” de Armando Martins Janeira.

Universidade Católica Portuguesa

Faculdade de Ciências Humanas – Comunicação Social e Cultural

Carlos Afonso Monteiro – 130305026


Introdução

Antes de mais gostava de sublinhar que a minha aproximação a este livro não se
efectuou como meramente académica; O Japão assim como a sua história e cultura
sempre foram temas do meu interesse e que como tal tive oportunidade de desenvolver,
pelo que este livro veio em muito satisfazer a minha sede de conhecimento
especialmente no que diz respeito as fontes históricas desta época.

O autor assim como a obra situam-se numa esfera intra-japonesa esclarecendo-nos por
vezes mais da historia do Japão do que do missionarismo, não só pelos temas abordados
mas também pela predominância de fontes escritas japonesas (sendo estas aquilo que se
pode considerar mais próprio e único da obra).

Contextualização

Sengoku

A chegada dos três portugueses liderados por Fernão Mendes Pinto ao Japão dá-se no
período dos Sengoku, ou Estados Guerreiros, uma época de guerra civil e governação
dispersa do Japão conotada entre os anos 1478 e 1605. Esta falta de estabilidade devia-
se a uma falta de confiança no xogunato regente sendo que vários daimios
independentes (entre os quais podemos realçar os clãs de Takeda e Imagawa, detentores
de um enorme poderio económico e militar) não eram leais para com o xogunato,
levando assim a que no Japão reinasse a ambição desmesurada.

Azuchi-Momoyama

O final do período Sengoku é conhecido pelos nomes de dois castelos, o de Azuchi


(construído por Nobunaga) e o de Momoyama (construído por Toyotomi), é
especificamente neste período que os portugueses e demais ocidentais vão chegar ao
Japão, trazendo consigo conhecimento e inovações que vão estimular ventos de
mudança já presentes no Japão e que levarão à queda da sua antiga ordem assim como à
primeira unificação política de todo o arquipélago.

Namban

A chegada ao Japão dos portugueses e o começo das trocas comerciais e culturais entre
eles vai também por sua vez dar inicio ao sub período histórico de Namban (que
significa bárbaros do sul e estava inicialmente mais ligado a povos como os da
Indonésia e Taiwan), caracterizado pelo crescimento das trocas entre japoneses
orientais, uma prática que mais tarde em muito foi reforçada por Oda Nobunaga.
Os caracteres japoneses correspondentes a Namban

Os três unificadores

Este ponto de contacto entre o Japão e o Ocidente é por muitos considerado um ponto
fulcral para a unificação do Japão, e na verdade não é à face das evidências difícil de
perceber que o contacto com o exterior dotou o Japão de um maior sentido de
nacionalismo fazendo assim emerger a necessidade da unificação, de resto temos as
evidencias históricas das vitórias de Nobunaga, obtidas não por ele ser o primeiro
daimio a empregar armas de fogo nos seus exércitos mas sim combina-las com tácticas
Ocidentais para delas extrair maior eficácia. E foi o poder adquirido com estas vitórias
que permitiu a Oda Nobunaga e os seus sucessores, Hideyoshi Toyotomi e Ieyasu
Tokugawa, unificarem o Japão.

Teppo-ki: Crónica das espingardas

A fonte mais precisa que temos daquilo que muitos consideram ser o primeiro encontro
“oficial” entre portugueses e japoneses está relatado na Teppo-ki ou “Crónica das
Espingardas” documento cujo nome realça a importância que estes artigos tiveram para
os japoneses. O documento relata que o encontro se deu conta nas praias de
Tanegashima, local onde a arma de fogo começou a ser estudada e produzida
instantaneamente.
O documento relata também opiniões dos junqueiros chineses sobre os portugueses,
opiniões que os classificam como bárbaros e sem maneiras mas também como
inofensivos, fosse isto um insulto ou elogio.

Estava consumada a chegada do Ocidente ao Japão, e com ela seguiram os jesuítas


(sobre a forma de Francisco Xavier) e mais tarde os franciscanos, fortalecendo a ideia
que Portugal assim como os demais Ocidentais tencionavam fazer mais no Japão do que
simplesmente comércio.
O choque de culturas e religiões foi atribulado e instável e chegou mesmo a levar à
perseguições aos cristãos e na ultima instancia e expulsão semi-total dos Ocidentais
(com excepção dos holandeses numa ilha apenas). A situação do cristianismo no Japão
dependia muito do seu relacionamento com os governantes ou homens de grande poder
da sua época.

Oda Nobunaga
Nobunaga nasceu um daimio de pequeno porte na província de Owari, no entanto
conseguiu no decurso da sua vida atingir o lugar de homem mais poderoso do Japão, e é
pessoalmente responsável pela união politica da ilha de nippon, a maior e principal do
arquipélago japonês. A sua utilização de tácticas ocidentais e o uso extensivo dos
aclamados mosquetes de Tanegashima vão ser cruciais em diversas das suas campanhas,
entre as quais sobresai a batalha de Nagashimo, onde a coligação entre Oda Nobunaga e
Ieyasu Tokugawa aniquilou a tradicional cavalaria do clã Takeda recorrendo não apenas
à inovação dos mosquetes mas também às correspondentes tácticas bélicas ocidentais,
dando assim fim a uma era da história militar japonesa. Nobunaga morreu no templo de
Honno-ji nos subúrbios de Kyoto, forçado a cometer suicídio por um dos seus mais
confiados vassalos, Akechi Mitsuhide, que aproveitou a confiança e falta de guardas de
Nobunaga para o trair e assim forçar ao seu suicídio, criando assim também um vácuo
de poder que levantaria o caos no Japão.

Nobunaga e o Cristianismo:
É curioso que uma das personagens mais brutais da história militar japonesa tenha sido
o primeiro patrono dos jesuítas e do cristianismo, sendo que ele próprio se considerava
um homem sem crenças religiosas. Esta proximidade deve-se provavelmente à
vantagem reconhecida por Nobunaga no conhecimento e meios ocidentais, meios esses
que lhe proporcionaram o poder para alterar a face da sua nação, como as tácticas que o
ajudaram a dizimar a cavalaria dos Takeda com apenas 3000 armas de fogo.
Há também quem diga que a benevolência do reinado de Oda para com os Ocidentais
residia na benesse que Nobunaga aí via para a generalidade do povo, a verdade é
durante os reinados que se sucederam as posições face ao cristianismo e aos ocidentais
se foram extremando quase que de forma progressiva.

Toyotomi Hideyoshi

Toyotomi nasceu com o nome de Kinoshita Tōkichirō, um guerreiro de baixa classe que
foi recrutado por Oda Nobunaga como seu portador de sandálias. Hideyoshi irá então
começar um percurso de sucesso inigualável na história japonesa, acabando por se
tornar não só o homem mais poderoso do Japão como o derradeiro unificador do
arquipélago japonês.
Após a morte de Nobunaga, Hideyoshi sucedeu-lhe por conseguir ser o primeiro de
entre os seus vassalos a vingá-lo, assumindo assim o seu lugar e dando continuaidade ao
seu legado e terminando assim o período Azuchi-Momoyama e a Era dos Sengoku.
É também conhecida uma campanha posterior ao fim dos Sengoku em que Hideyoshi
tentou, sem sucesso, criar um grande império pan-asiático tendo como primeiro
objectivo conquistas na Coreia.
Hideyoshi e o Cristianismo

Ao contrário de Nobunaga, Hideyoshi extremou a sua posição para com os cristãos e


chegou mesmo a publicar o “Édito de Expulsão” que em teoria não permitia a estadia
indefinida de ocidentais no Japão mas acabou por se tornar num mero aviso sem
grandes efeitos práticos. A verdade é que com o sistema político japonês estabilizado
surgiam vozes de protesto tradicionalistas mas antagonistas não dos ocidentais e do
cristianismo e da evangelização, assim sendo foram progressivamente tomadas medidas
para impedir a evangelização dos japoneses, mas os ocidentais (especialmente os
comerciantes) continuavam a ser bem-vindos.
Mas se nesta altura ainda não havia grandes represálias para os ocidentais, o mesmo não
era verdade para os cristãos nativos os quais eram mesmo perseguidos e assassinados se
não renunciassem ao cristianismo.
Tokugawa Ieyasu

Ieyasu é o último dos três unificadores mas aquele que mais consagrou o sei poder
como governante do Japão, especialmente com o título de Xogum. O Xogunato
Tokugawa fundado por Ieyasu é inclusive e mais longo da história do Japão, assim
como o último, tendo reinado desde a batalha de Sekigahara em 1600 até à Revolução
de Meiji em 1868.
Nascido com o nome Matsudaira Takechiyo, Ieyasu era um daimio destinado a ser
refém do clã Imagawa até que o seu amigo de infância Nobunaga derrotou os Imagawa
libertando-o assim da servidão. Nessa altura adoptou o nome de Ieyasu Tokugawa e
acompanhou Nobunaga assim como o seu sucessor Hideyoshi e após a morte deste
sucedeu-lhe e estabeleceu sobre o Japão um reinado tradicionalista que levaria
eventualmente a que o país se fechasse completamente ao exterior.

Ieyasu e o Cristianismo

Ieyasu foi o ultimo governante japonês a assumir uma posição moderada quanto aos
ocidentais e ao cristianismo, isto porque a brutalidade que tinha sido levada a cabo
duranto o reinado de Toyotomi desapareceu neste período. Isto sucedeu porque fazia
parte da personalidade de Ieyasu a diplomacia e esta foi o que dominou este período de
interacção entre ocidentais e japoneses. Ieyasu chegou a escrever cartas a dirigentes
ocidentais (nomeadamente o vice rei do México) em que afirmava que as crenças e
modos de vida ocidentais não se aplicavam as populações do Japão e assim sendo ele
pedia aos ocidentais que se limitassem ao comércio e abandonassem a evangelização do
Japão, contudo nesta época este aviso não foi socorrido da força.
Com os sucessores de Ieyasu, o seu terceiro filho Hidetada Tokugawa e o seu neto
Iemitsu Tokugawa a posição extremizou-se bastante e acabou mesmo por levar a
perseguição aberta e brutal do cristianismo assim como ao fechar das fronteiras
japonesas a todos os estrangeiros (à excepção dos holandeses que eram recebidos numa
pequena ilha mercante), começando assim o período do País Fechado que durou até à
revolução imperialista de Meiji, no século XIX.

O período de Edo e o País Fechado

O período em que reinaram Tokugawa e ois seus descendentes chamou-se de o Período


de Edo pois eles alteraram a capital da tradicional Kyoto para a moderna Edo (que hoje
conhecemos como Tokyo), esta mudança era ser tão significativa que mesmo após a
queda do Xogunato Tokugawa Edo será mantida como capital levando inclusive *a
deslocação do imperador.
A partir do reinado do terceiro Xogum Tokugawa, Iemitsu, o país será fechado a toda a
indesejada influência exterior criando assim um período de semi estagnação na qual
floreceram nas as inovações mas sim o tradicionalismo. Os muito conhecidos samurai,
agora remetidos para a paz e tarefas administrativas tiveram neste período o seu apogeu
artístico, com a ascensão de obras como “O Caminho do Samurai” ou “Bushido” e
também através da criação de lendas populares como a dos 47 Ronins.
Eventualmente este sistema acabou por ruir, quer interiormente quer através de
humalhaçoes sofridas pelo Xogunato face à Marinha Norte Americana e assim sendo o
Xogunato Tokugawa acabou por cair para dar lugar ao preestabelecido poder imperial.
Restauração de Meiji

A restauração de Meiji marca o regresso ao imperialismo político no Japão. Meiji é na


realidade o título do Imperador que reinou nesta época e significa “poder iluminado”,
isto pois nesta altura se acreditava que um Japão forte não poderia ser um Japão fechado
mas sim um que encontrasse o seu lugar no mundo, mais do que se isolar.
Mais do que apenas um movimento político a restauração de Meiji levou a profundas
mudanças na estrutura do país, entre as quais o fim da classe militar dos samurais, a
modernização do Japão assim como a sua tardia Revolução Industrial e é claro a
reabertura do país aos ocidentais, que apesar de ainda não receber o cristianismo com
bons olhos naquela época o aprendeu a abraçar ao longo dos anos.

Bibliografia

Armando Martins Janeira, “O Impacto Português sobre a Civilização Japonesa”


Kenneth Marshall, “Historia do Japão”

Legenda das Imagens

Página 1 – Namban Do, armadura japonesa de estilo ocidental.


Página 2 – Representação medieval japonesa de uma caravela portuguesa.
Página 3 – (Em Baixo) Fotografia de antiguidades militares de Tanegashima.
Página 4 – Gravura medieval japonesa representando mercadores portugueses.
Página 5 – (Em cima) Brasão da família Oda. (Em baixo) Gravura de Nobunaga.
Pagina 6 – Brasão pessoal de Hideyoshi.
Página 7 – Representação tradicional de Hideyoshi Toyotomi
Página 8 – (Em cima) O brasão de Ieyasu Tokugawa e sua dinastia de sucessores.
(Em baixo) Gravura representando Ieyasu como Xogum.

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