You are on page 1of 4

RETA FINAL_MAGISTRATURAS ESTADUAIS

Disciplina: Direito Comercial


Prof.: Alexandre Gialluca
Aula: 01
Data: 17/01/09

Material Complementar – Artigos Correlatos

Sumário:

1. INTRODUÇÃO

2. OBRIGAÇÕES CIVIS E EMPRESARIAIS

3. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DOS SUCESSORES

4. ASPECTOS TRABALHISTAS DO TRESPASSE

5. CONCLUSÕES

Aspectos jurídicos relativos ao trespasse

1.INTRODUÇÃO

A operação em análise – caso não seja efetuada com a devida atenção às suas conseqüências e exi-
gências legais - possui o potencial de gerar responsabilidades, dívidas e até mesmo processos falimen-
tares em face da sociedade empresária e dos seus sócios.

As principais exigências legais concernentes ao trespasse (venda da sociedade) e os maiores cuidados


a serem tomados residem em três específicas áreas do direito: empresarial, tributário e trabalhista.

No decorrer deste trabalho, demonstraremos a fundamentação legal destas possíveis responsabilida-


des, bem como as medidas necessárias no sentido de eliminá-las ou diminuí-las.

2.OBRIGAÇÕES CIVIS E EMPRESARIAIS

Devemos entender por obrigações civis e empresariais aquelas oriundas do próprio giro operacional da
sociedade empresária, ou seja, cheques vencidos ou a vencer, notas promissórias, duplicatas, letras de
câmbio (em cristalino desuso), eventuais dívidas relativas a contratos firmados com fornecedores no
período anterior à venda da "empresa" etc.

Sobre a alienação do estabelecimento, ou seja, o assim chamado trespasse, ressalte-se que os débitos
anteriores, desde que devidamente contabilizados, são de responsabilidade do adquirente, mas o de-
vedor primitivo, aquele que está vendendo a "empresa", continua solidariamente obrigado pelo prazo
de um ano.

Quanto aos créditos vencidos antes da venda, este prazo é contado a partir da publicação do novo con-
trato societário.

-1–
RETA FINAL_MAGISTRATURAS ESTADUAIS
Disciplina: Direito Comercial
Prof.: Alexandre Gialluca
Aula: 01
Data: 17/01/09

Quanto aos outros créditos (vincendos), os prazos são contados a partir das datas de vencimento des-
tes.

Atente-se que o trespasse pode ser motivo de pedido de falência por parte de algum credor, pois, em
determinadas circunstâncias, é possível significar a supressão de alguma garantia aos mesmos.

Será motivo para decretação da quebra, realizada sem o assentimento dos credores, caso com o tres-
passe reste a "empresa" com patrimônio insuficiente para fazer frente a seu passivo. Em situação con-
trária, isto é, ficando com bens suficientes, o consentimento dos credores é dispensável. A prova da
insuficiência do ativo remanescente incumbe ao autor de eventual pedido de quebra.

De acordo com o artigo 1.145 do Código Civil, se ao alienante não sobrar bens capazes de fazer frente
a seu passivo, a alienação do estabelecimento será ineficaz, salvo se pagar todos os credores ou estes
concordarem, expressa ou tacitamente, com o negócio, no prazo de 30 dias.

Ao alienante restam as opções de preservar o estabelecimento patrimonial, como garantia do paga-


mento dos seus débitos, ou notificar todos os seus credores em busca de anuência para o trespasse.
Em tal conjuntura, a concordância destes, sem exceção, passa a ser condição de eficácia da alienação.

Aliás, os efeitos do contrato de alienação só alcançam terceiros após a devida averbação no registro
empresarial e a respectiva publicação oficial.

A operação em comento – trespasse - deve observar todas as sobreditas exigências legais, para que
não exista o perigo de um pedido de falência. Ressaltamos, inclusive, como será demonstrado abaixo,
que, sob o prisma das responsabilidades tributárias, com o advento da Lei Complementar 118/2005,
que modificou o artigo 133 do Código Tributário Nacional, especialmente o seu parágrafo 2º no que se
refere à presente ressalva, acabou a situação até certo ponto confortável de quem vendia o seu esta-
belecimento empresarial sob determinadas condições.

3.RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DOS SUCESSORES

O artigo 133 do Código Tributário Nacional regula a sucessão tributária na hipótese de aquisição de
estabelecimento para continuação da exploração de atividade comercial, industrial ou profissional:

"a pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de
comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração,
sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos relativos
ao fundo ou estabelecimento adquirido devidos até a data do ato: I- integralmente, se o alienante ces-
sar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II- subsidiariamente com o alienante, se este
prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses, a contar da data da alienação, nova atividade
no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão".

O adquirente responde, pois, pelos tributos relativos ao estabelecimento adquirido, se o alienante ces-
sar a atividade empresarial que vinha executando e não passar a explorar a mesma ou qualquer outra
atividade. Nessa hipótese, afirma o Código que a responsabilidade do adquirente é integral. O que, na
verdade, o Código quis dizer é que, em tal caso, o adquirente responde sozinho, ou seja, não há res-
ponsabilidade do alienante.

-2–
RETA FINAL_MAGISTRATURAS ESTADUAIS
Disciplina: Direito Comercial
Prof.: Alexandre Gialluca
Aula: 01
Data: 17/01/09

Todavia, se o alienante passa a explorar qualquer atividade profissional dentro de seis meses contados
da data da alienação, a responsabilidade do adquirente é meramente subsidiária, permanecendo, pois,
como principal obrigado, o alienante.

A Lei Complementar 118/2005, na esteira da reforma da lei de falência (11.101/2005), acrescentou


três parágrafos ao artigo 133 do Código Tributário Nacional. Diz o parágrafo 1º que:

"o disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: I- em processo de
falência; II- de filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial".

Essa exclusão da regra de sucessão é excepcionada pelo parágrafo 2º:

"não se aplica o disposto no parágrafo 1º deste artigo quando o adquirente for: I- sócio da sociedade
falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judi-
cial; II- parente, em linha reta ou colateral até o 4º grau, consangüíneo ou afim, do devedor falido ou
em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; III- identificado como agente do falido ou de-
vedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária".

De acordo com o acima exposto, observadas as exceções da Lei Complementar 118/2005, o adquiren-
te de bens numa alienação em processo de falência não responde nem subsidiariamente por tributos
devidos pela empresa adquirida; da mesma forma, havendo processo de recuperação judicial em cur-
so, a venda do estabelecimento não acarreta qualquer responsabilidade tributária para o comprador.
Com a ressalva do parágrafo 2º do referido artigo do CTN, a obrigação de adimplir a dívida perante o
Fisco fica integralmente com o alienante.

Importante observar que – de acordo com a interpretação da legislação que tutela o trespasse - ha-
vendo pedido falimentar em curso, não pode o alienante utilizar-se do prazo de 6 meses (abstendo-se
do exercício de qualquer atividade profissional) no sentido de eximir-se de dívidas tributárias do esta-
belecimento vendido.

4.ASPECTOS TRABALHISTAS DO TRESPASSE

A legislação trabalhista observa - no parágrafo 2º do artigo 2º da CLT que:

"sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria,
estiverem sob direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou
de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas".

Conforme o entendimento doutrinário e jurisprudencial, a caracterização do controle pode ser eviden-


ciada pelo fato de haver empregados comuns entre as empresas, acionistas comuns, acionistas de uma
mesma família, administradores ou diretores comuns.

Sublinhamos que tais fatores dizem respeito à solidariedade trabalhista, não servem ao Fisco ou a ou-
tros credores para a exigência de débitos tributários ou comerciais.

5.CONCLUSÕES

-3–
RETA FINAL_MAGISTRATURAS ESTADUAIS
Disciplina: Direito Comercial
Prof.: Alexandre Gialluca
Aula: 01
Data: 17/01/09

É preciso que os empresários tenham o cuidado de atinar para as conseqüências jurídicas da venda do
seu estabelecimento empresarial, pois este fato está regulado por uma intrincada rede de normas jurí-
dicas, espalhadas nos mais variados ramos do direito.

A observância das referidas normas decerto isentará o alienante de futuros problemas, a maioria deles
desconhecida de grande parte dos empreendedores.

Fontes: http://jus2.uol.com.br - Paulo Danilo Reis Lopes - Auditor fiscal do Estado da Bahia.

-4–

You might also like