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A26 Vida

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DOMINGO, 16 DE MAIO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO


ESO/H.H. HEYER

VLT. Nesta imagem composta de longa exposição, o disco da Via-Láctea forma um arco no céu noturno sobre o observatório de Paranal, onde está instalado o Very Large Telescope, do ESO

Astronomia do País olha para o futuro


Planejamento dos próximos 5 anos levanta polêmica sobre capacidade instalada e necessidade de aderir a consórcio europeu nos Andes

Herton Escobar Observatory(ESO),uma organi- clusivaaoEstado (maisinforma- para o ESO uma “irresponsabili- pesquisadores brasileiros já têm menores. Um grupo de trabalho
zação de 14 países europeus que ções nesta página). dade”. “A quatro meses de uma acesso a outros telescópios de formado por dois astrônomos e
A astronomia brasileira vive opera vários telescópios de pon- “O salto que daríamos seria gi- eleição, estão fazendo uma pro- grandeporte, como Subaru e Ke- um diplomata deverá apresen-
um momento histórico de eu- ta na Cordilheira dos Andes, em gantesco”, reforça Eduardo Ja- posta mirabolante, que não tere- ck,no Havaí. “Dizer que esses te- tar até o fim do mês uma análise
foria e turbulência. Uma co- parceria com o Chile. not Pacheco, presidente da So- mos condição de bancar de- lescópios atendem às necessida- das condições de uma eventual
missão de especialistas entre- Aísurgeumapolêmica, revela- ciedade Astronômica Brasileira pois”,diz ele,principalresponsá- des da ciência americana, mas participação do País no ESO. Ja-
gou no início deste mês ao mi- da pelo Estado no início do mês, e também professor do IAG. Se- vel pela participação brasileira não às do Brasil, é risível.” not, um dos integrantes, diz que,
nistro da Ciência e Tecnolo- tão forte que rachou lideranças gundoele,os observatóriosandi- no Soar (o País é dono de um O grande problema, diz Stei- como o ESO é uma organização
gia, Sergio Rezende, a primei- na principal escola de astrono- nos dos quais o Brasil participa terçodotelescópio) eno Gemini ner, é a relação custo-benefício, governamental, o dinheiro para
ra versão de um Plano Nacio- mia do País: o Instituto de Astro- atualmente, Soar e Gemini, são (no qual o País tem 5% do tempo que, segundo ele, seria ruim para a adesão sairia do orçamento da
nal de Astronomia (PNA), que nomia, Geofísica e Ciências At- insuficientes para atender às ne- de observação). o Brasil, já que o custo de partici- União, e não do Ministério da
deverá guiar a evolução dessa mosféricas(IAG)da Universida- cessidades de pesquisa do setor. Segundo Steiner, dificuldades pação no ESO é baseado no PIB Ciência e Tecnologia. Ou seja:
ciência no País pelos próxi- de de São Paulo. Muitos profes- “Ambos têm limitações grandes, técnicas são normais na fase ini- de cada país – e o Brasil tem um não competiria por recursos
mos cinco anos. sores, como a astrofísica Beatriz principalmenteeminstrumenta- cial de operação. “Todo telescó- PIB alto, porém uma comunida- com o resto da ciência.
As perspectivas gerais são po- Barbuy, acreditam que a adesão ção”,afirma. “Temoscompetên- pio tem problemas no início. To- de de astrônomos relativamente AversãopreliminardoPNAse-
sitivas, marcadas por declara- ao ESO é essencial para o avanço cia científica para competir, mas dotelescópio precisade um tem- pequena, comparada à de países rá discutida na 4.ª Conferência
ções de apoio do ministro ao de- da astronomia nacional. “Se qui- hoje estamos estrangulados tec- po de comissionamento. Isso é europeus.Ele calculaqueaparti- Nacional de Ciência, Tecnologia
senvolvimento da área. Uma das sermos crescer, precisamos ter nologicamente.” absolutamentenormal.” Eleres- cipação do País no ESO custaria e Inovação, que começa dia 26
propostas em pauta é a adesão acesso a essa infraestrutura de Outros, como o professor saltaque,graçasaacordosdetro- R$ 1,24 bilhão em 20 anos. em Brasília. A versão final deve
do Brasil ao European Southern ponta”, diz ela, em entrevista ex- João Steiner, consideram entrar ca de tempo no Gemini e Soar, Outros calculam valores bem ficar pronta em outubro.

ENTREVISTA
● Há um prazo para decisão? porque não conseguiu entregar munidade precisará se adaptar mente interessada nisso.
Beatriz Barbuy, Há prazo para decisão sobre a nenhuma das peças com que se ao estilo de competir com proje-
Professora titular do Instituto de Astronomia da USP entrada no E-ELT, neste ano. comprometeu. Nossa indústria tos de alta qualidade, entraría- ● A senhora disse em uma con-
Depois disso, ainda será possí- tem mesmo capacidade para par- mos com uma fração baixa de versa anterior que a participação
vel entrar, mas será mais difícil ticipar do projeto do E-ELT? tempo no início. brasileira no Soar e Gemini esta-

‘Indústria brasileira obter contratos para indústrias


brasileiras, pois eles já estarão
definidos com outros países.
Se entrarmos para o ESO, há
boas chances de que a constru-
ção civil do E-ELT seja feita por
● Outro argumento contrário é
de que o custo de entrar para o
va “estrangulando” a astronomia
brasileira, porque a instrumenta-
ção desses telescópios é limita-

poderia fabricar parte ● Quanto entrar para o ESO cus-


taria ao Brasil? Esse custo é com-
uma construtora brasileira.
Contactei várias das grandes
empresas para uma reunião na
ESO comprometeria a participa-
ção brasileira nos observatórios
Soar e Gemini. Esse risco existe?
da e muitas vezes não funciona
bem. O que quis dizer com isso?
No caso do Gemini, há instru-
de telescópio gigante’ patível com as capacidades orça-
mentárias da ciência brasileira?
A caução de entrada custa € 132
USP em fevereiro e as duas que
já estão no Chile (Queiroz Gal-
vão e OAS) se interessaram. So-
Esse risco, a meu ver, não exis-
te. Devemos manter o Soar e a
participação no Gemini. Verbas
mentação apropriada para algu-
mas áreas de pesquisa: forma-
ção de estrelas e núcleos ativos
● Por que o Brasil deveria entrar Começamos pelo estudo de via- milhões. A anuidade seria de € bre a indústria aeroespacial: para instrumentação desses te- de galáxias. Seu espectrógrafo
para o ESO? bilidade de participação em um 13,6 milhões. Embora pareça um item já identificado para fa- lescópios têm sido obtidas prin- multiobjeto de média/baixa re-
A infraestrutura disponível pa- dos três projetos de telescópios muito, essas verbas voltariam bricação no Brasil são os atua- cipalmente da Fapesp, e essa solução é um instrumento bem
ra a astronomia brasileira é in- gigantes (chamados E-ELT, ao País por meio de contratos dores (sistemas de controle) dos opção continuaria igual. usado, mas com eficiência mé-
suficiente para a diversidade de TMT e GMT) que devem ficar para construção de instrumen- mil espelhos menores que com- dia, que atende parte da comu-
campos de pesquisa que temos, prontos no fim desta década. tos, bolsas para jovens e partici- porão o espelho principal do te- ● Qual a importância do Soar e nidade. A instrumentação de se-
e grande parcela da comunida- Os três projetos se interessam pação em atividades do ESO. lescópio. Empresas fornecedo- do Gemini para a astronomia bra- gunda fase não foi levada adian-
de tem dificuldades para obter pela participação brasileira. Tí- Sem falar, é claro, no valor do ras da Embraer teriam perfeita sileira? Eles se tornariam teles- te, portanto não há perspectiva
observações adequadas para nhamos em mente que a verba conhecimento científico que se- capacidade de produzir isso. cópios irrelevantes caso o Brasil de termos instrumentos de no-
seus estudos. A entrada no de entrada no E-ELT (um proje- rá produzido. A verba da cau- entre para o ESO? va geração. Sobre o Soar: os
ESO, que tem grande diversida- to do ESO) poderia ser conside- ção seria usada para a constru- ● Críticos argumentam que a A entrada do Brasil nos proje- americanos têm dificuldades pa-
de de telescópios e instrumen- rada como parte da entrada no ção civil do sítio do E-ELT por relação custo-benefício da ade- tos Soar e Gemini foi um passo ra manter os custos de opera-
tos de altíssimo desempenho, ESO no futuro, mas, nas discus- uma construtora brasileira e pa- são ao ESO seria ruim, pelo fato útil para a astronomia brasilei- ção. Seria necessário o Brasil
cobriria as necessidades da sões com o ESO, nos foi mostra- ra a confecção de partes deste de o Brasil ter um PIB equipará- ra. Eles não se tornariam irrele- ter pelo menos um astrônomo
grande maioria dos astrônomos do que, financeiramente, seria telescópio pela indústria aeroes- vel ao de países europeus, po- vantes, pois cada um desses te- permanente alocado lá (hoje só
brasileiros. Além disso, abriria- mais interessante passar a inte- pacial brasileira. rém um número de astrônomos lescópios tem características há bolsistas). Há falta de pes-
se grande oportunidade para grar o grupo simultaneamente, muito menor. Ou seja: pagaría- complementares. O consórcio soal. E problemas estruturais.
parcerias e formação de recur- pois no futuro a taxa de entrada ● Como assim? Há alguma garan- mos muito para usufruir pouco. com o Gemini, por exemplo, Por exemplo, é necessário colo-
sos humanos, com direito a ter (caução) será maior. O proces- tia de que uma construtora brasi- O número de astrônomos não é nos dá acesso a um grande teles- car um anteparo contra o vento
engenheiros e astrônomos bra- so de decisão está sendo coor- leira participaria da construção tão pequeno (são cerca de 600) e cópio no Hemisfério Norte (o na abertura da cúpula, pois
sileiros nas equipes do ESO. denado pela Comissão Especial do E-ELT ou há apenas um inte- há uma grande demanda repri- Gemini Norte, no Havaí, idêntico quando há vento, há deforma-
de Astronomia, com consultas resse do Brasil nesse sentido? E mida. Não sabemos se isso se- ao Gemini Sul). O Soar terá even- ção nas imagens. Falta agilida-
● Como surgiu essa possibilida- à comunidade científica, ao Mi- que peças seriam construídas? ria suficiente para cobrir o tem- tualmente três instrumentos de para resolver os problemas –
de e como será o processo de nistério da Ciência e Tecnolo- Vale lembrar que o Brasil saiu da po a que teríamos direito. Ten- brasileiros, portanto servirá a em boa parte por causa dos par-
decisão sobre aderir ou não? gia e ao ESO. Estação Espacial Internacional do em vista que boa parte da co- uma comunidade particular- ceiros, também. / H.E.

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DE OLHO NO CÉU

l Os Andes oferecem
condições ótimas para a
astronomia, com céu escuro
e limpo quase o ano todo

ESO ESO ESO ESO SOAR GEMINI


Onde fica

NOME E-ELT Apex* Alma NTT ESO 3.6 MPG/ESO 2.2 VLT Soar Gemini Sul
(European Extremely (Atacama (Atacama Large (New Technology (Very Large (Southern Astrophysical
CHILE Large Telescope) Pathfinder Millimeter/ Telescope) Telescope) Research Telescope)
Experiment) submillimeter Array)
ÁREA
AMPLIADA
SÓCIOS ESO ESO ESO ESO Max Planck ESO Brasil EUA, Reino Unido, Canadá, Chile,
2 e ESO e EUA Austrália, Brasil e Argentina
Chajnantor TAMANHO 50 antenas 4 telescópios
(diâmetro
1 Amazones do espelho
principal)
4
Paranal 42 m de 12 m 3,58 m 3,57 m 2,2 m de 8,2 m* 4,1 m 8,1 m
LOCALIZAÇÃO Cerro Amazones Planalto de Chajnantor La Silla La Silla La Silla Cerro Paranal Cerro Pachón Cerro Pachón

OCEANO
PACÍFICO
INÍCIO DE
OPERAÇÃO
2018 2005 (Apex) 2011 (Alma)
*O Apex é uma antena precursora/
1989 1976 1983 1998
*Podem funcionar como
2004 2000
CHILE
(previsto) experimental do grupo Alma um único espelho de 32 m

La Silla ALTITUDE 5.000 m


3
La Serena
5 6
Cerro
3.060 m 2.700 m
Pachón
2.400 m 2.635 m

Santiago
0 km 150

INFOGRÁFICO: RUBENS PAIVA/AE

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