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TAGS: Entrevista
claro que tudo isso caiu com o movimento, mas foi um momento em que os
estudantes viram que podiam fazer o mesmo que os operrios, e vice-versa.
Criaram-se formas de ao completamente imprevistas. O que se transmite so
aberturas do campo do possvel, no do campo estratgico.
CULT No interior de sua distino entre poltica e polcia, como
podemos interpretar o crescimento da vigilncia e do controle? Por que
fizemos essa escolha, em vez do encontro poltico?
Rancire a lgica do funcionamento dos Estados como instncias de
administrao, e dos sistemas miditicos: trocar a poltica pela identificao de
problemas que precisam ser solucionados. Se no o conflito que motor, o motor
uma espcie de patologia da vida poltica que a administrao se prope a
remediar. o modo de funcionamento do Estado moderno.
De um lado, h uma pretenso ao objetivismo, identificar os problemas e as
imperfeies da sociedade, e, de outro lado, precisamente essa espcie de
objetivismo idealizado , essencialmente, uma questo de gesto das opinies.
Tomando a questo da segurana, qual o balano da gesto de Sarkozy, primeiro
como ministro do Interior, depois como presidente da Repblica? Um desastre.
Estamos muito menos seguros do que antes. O que est em funcionamento a
gesto da insegurana como um sentimento para agregar as pessoas em torno de
um poder que gerencia a segurana.
Resisto muito s teorias paranoicas de sociedade de controle que dizem que
somos observados e controlados em todo canto. No 11 de Setembro, vimos como
as pessoas podem passar tranquilamente diante das cmeras de segurana e fazer
seu atentado sem serem molestadas. Acredito muito mais na ideia de uma
administrao ideolgica, no sentido tradicional, dos sentimentos, particularmente
no que diz respeito segurana.
Criamos um sentimento de que vivemos na insegurana e precisamos de gestores
de segurana. Isso cria uma legitimao de decises autoritrias que podem se
estender a praticamente tudo. No fim, a segurana acaba significando qualquer
coisa. A pobreza dos subrbios, a sade dos idosos, os pases terroristas pelo
mundo, os poluidores, qualquer coisa.
A segurana vira um sentimento de perigo onipresente, extrapolando a ideia da
proteo das pessoas de bem contra os maus de qualquer tipo. Isso cria estruturas
de gesto estatais e interestatais, que no so necessariamente da ordem do
controle minucioso ou do terror, mas de um sentimento flutuante.