Segundo o autor para entender desterritorialização é preciso entender primeiro com qual noção de território ele trabalha. O conceito de território é utilizado na Geografia, na Ciência Política e na Antropologia e dentre estas concepções o território pode ser agrupado no binômio materialismo-idealismo e também em relação á sua abrangência histórica e seu caráter relacional: físico-concreto. O autor faz comentários sobre todas as concepções de território para então discutir desterritorialização
Segundo o autor para entender desterritorialização é preciso entender primeiro com qual noção de território ele trabalha. O conceito de território é utilizado na Geografia, na Ciência Política e na Antropologia e dentre estas concepções o território pode ser agrupado no binômio materialismo-idealismo e também em relação á sua abrangência histórica e seu caráter relacional: físico-concreto. O autor faz comentários sobre todas as concepções de território para então discutir desterritorialização
Segundo o autor para entender desterritorialização é preciso entender primeiro com qual noção de território ele trabalha. O conceito de território é utilizado na Geografia, na Ciência Política e na Antropologia e dentre estas concepções o território pode ser agrupado no binômio materialismo-idealismo e também em relação á sua abrangência histórica e seu caráter relacional: físico-concreto. O autor faz comentários sobre todas as concepções de território para então discutir desterritorialização
Territrio, territrios ensaios sobre o ordenamento territorial 1
Captulo 3 Concepes de territrio para entender a desterritorializao
Rogrio Haesbaert O autor inicia o texto dizendo que os processos de desterritorializao, ou seja, a criao e o desaparecimento dos territrios um dos mais relevantes da ltima dcada e promove um dialogo entre a geografia e demais cincias sociais preocupadas com a dimenso espacial da sociedade. O autor afirma que as Cincias Sociais promoveram uma redescoberta do territrio, porm de modo contraditrio, pois logo aps redescobrirem o territrio enfatizam seu desaparecimento. Ele critica autores como o cientista poltico francs Bertland Badie que em sua obra O fim dos territrios (1996) acredita na mudana do mundo territorial para o mundo das redes como se a distino entre estas fosse ntida. O autor diz que nos discursos dos fins, caractersticos do clima fin-sesicle, surgem os autores Francis Fukuyama (1992) com seus discursos sobre o fim da histria e sobre o fim da geografia e ainda Paul Virilio (1997) e Richard OBrien (1992). Porm surgem tambm autores que defendem o territrio, como Jameson (1984). Segundo o autor at Deleuze e Guattari encontraram ambivalncias conceituais de noo de desterritorializao. Nas sociedades tradicionais claro seu carter territorializado, mas nas sociedades capitalistas existe tanto o domnio da territorializao quanto da desterritorializao. Territrio e territorializao no discurso das cincias sociais Segundo o autor para entender desterritorializao preciso entender primeiro com qual noo de territrio ele trabalha. O conceito de territrio utilizado na Geografia, na Cincia Poltica e na Antropologia e dentre estas concepes o territrio pode ser agrupado no binmio materialismo-idealismo e tambm em relao sua abrangncia histrica e seu carter relacional: fsicoconcreto. O autor faz comentrios sobre todas as concepes de territrio para ento discutir desterritorializao. TERRITRIO NUMA POSIO MATERIALISTA: TERRITRIO E NATUREZA Dentro desta posio predomina a concepo materialista (marxista) de territrio como defende Maurice Godelier ao afirmar que: Territrio a poro da natureza e do espao que uma sociedade reivindica como o lugar em que os seus membros encontraro permanentemente as condies e os meios materiais de sua existncia (pp 47).
1 Resenha por Marcia Cristina de Oliveira Dias
Sob este conceito, o territrio tem ligao explicita com a natureza.
uma noo antropolgica de territrio, em que a principal fonte de recursos provm da natureza, da terra. Apesar de hoje esta concepo de territrio no ser to utilizada, ainda ocorre em reas nas quais os fenmenos naturais (vulcanismo, abalos ssmicos, furaces) agem como reestruturadores da vida social. De certo modo estes fenmenos naturais atuam como uma espcie de desterritorializao natural na medida em que so responsveis por mudanas radicais na organizao de muitos territrios como ocorreu no Congo2 onde a erupo de um vulco obrigou milhares de pessoas abandonarem a cidade de Goma. Portanto, dentro da dimenso material do territrio necessrio considerar esta dimenso natural. TERRITRIO NUMA PERSPECTIVA IDEALISTA: TERRITRIO E CULTURA Embora na Geografia a leitura cultural ou simblica de territrio seja minoritria, pois a dimenso cultural mais bem apreendida por meio de concepes como lugar e paisagem ainda se encontram autores que enfatizam a abordagem cultural. Entre estes citam-se Bonnemaison e Cambrzy (1996) que privilegiam a dimenso simblico-cultural de territrio. Para eles a lgica territorial moderna pautada nos Estados-naes suplantada pela lgica culturalista em que o pertencimento ao territrio implica a representao da identidade cultural: O poder do lao territorial revela que o espao est investido de valores no apenas materiais, mas tambm ticos, espirituais, simblicos e afetivos. assim que o territrio cultural precede o territrio poltico e com ainda mais razo precede o espao econmico (pp 50). Segundo estes autores a ligao dos povos tradicionais ao espao de vida era mais intensa porque, alm de um territrio-fonte de recursos, o espao era ocupado de forma ainda mais intensa atravs da apropriao simblicoreligiosa. (...) o territrio no diz respeito apenas funo ou ao ter, mas ao ser. (...). o territrio um construtor de identidade, talvez o mais eficaz de todos. TERRITRIO E INTEGRAO ENTRE DIFERENTES DIMENSES SOCIAIS Esta outra abordagem uma abordagem contempornea muito presente na Geografia onde o territrio desempenha o papel integrador na perspectiva clssica desta disciplina. Prioriza a dimenso econmica e em geral aparece acoplada a discusses sobre o domnio poltico do espao a servio de interesses econmicos. Envolve o ordenamento e a gesto do espao. Trabalha com o territrio numa interao entre as mltiplas dimenses sociais: 2 18 de janeiro, 2002 - Vulco no Congo mata 45 pessoas e desabriga 400 mil. Disponvel em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2002/020118_congobg3g.shtml. Acesso dia 17/07/12.
economia, poltica, cultural, natural. A dificuldade conseguir integrar todas
estas dimenses. At mesmo Chivallon (1999) que definiu territrio como uma espcie de experincia total do espao onde os diversos componentes da vida social conjugam num mesmo lugar, props sua substituio pela noo de espacialidade por considerar impossvel esta experincia total nos dias atuais. TERRITRIO E HISTRIA O territrio numa abordagem histrica pode tanto abranger toda a histria ou ficar restrito a determinado contexto histrico-social. Quando analisada a questo poltica, o debate se restringe s sociedades modernas articuladas em torno dos Estados-naes. No caso das sociedades modernas o Estado o principal responsvel pelos processos de desterritorializao. Uma noo mais ampla de territrio a noo na qual as relaes sociais so espacial ou geograficamente mediadas, porem entendida deste modo pode ser estendida a qualquer tipo de sociedade, podendo ser confundida com espao geogrfico. De todo modo. O territrio se define com referncia as relaes sociais em que est mergulhado, estas relaes so sempre relaes de poder. TERRITRIO: SENTIDO ABSOLUTO E RELACIONAL Territrio como fruto de relaes sociais ou de relaes de poder. Souza (1995) um dos autores que enfatizam o sentido relacional do territrio. Segundo Souza o territrio um campo de foras, onde as relaes de poder so espacialmente delimitadas e operam sobre um substrato referencial, ele enfatiza o carter relacional sem, no entanto, desconsiderar o papel das formas espaciais na construo das relaes sociais. A historicidade a caracterstica mais importante a ser trabalhado sobre o conceito de territrio (constituinte de todo grupo social). OS SIGNIFICADOS DA DESTERRITORIALIZAO CONTEMPORNEA Aqui o autor retoma o ultimo item e a partir da avalia os mltiplos sentidos adquiridos pelos processos de desterritorializao e lana a pergunta: em que sentido a territorialidade contempornea distinta daquelas que a antecederam? TERRITRIO E REDE Castells (1996) defende a urgncia de uma sociedade em rede em detrimento de uma sociedade territorial. A distino entre territrio e rede envolve trs grandes perspectivas:
1. O territrio se ope a rede. A sociedade em rede estaria substituindo a
sociedade territorial como defende Castell (1996) e Badie (1996); ou a sociedade territorial seria mais tradicional que a sociedade em rede. 2. Uma segunda leitura afirma que territrio e rede formam um binmio no qual a rede tanto pode fortalecer (redes virias e de comunicao, pro exemplo) os territrios quanto pode desestrutur-lo levando a desterritorializao. 3. Esta terceira perspectiva coloca a idia de rede subordinada ao territrio, que por sua vez se confunde com o espao geogrfico na medida em que toda relao social tambm uma relao territorial. AS DIFERENTES VERSES DE DESTERRITORIALIZAO O autor enumera, a partir do trabalho de vrios autores, cinco leituras sobre desterritorializao. 1. Desterritorializao como domnio das redes, dos fluxos, da mobilidade sob esta perspectiva o territrio seria o local de estabilidade, enraizamento. Aqui se ignora o fato de as redes e a mobilidade por ela proporcionada serem indissociveis do territrio em qualquer contexto histrico. 2. Desterritorializao como perda de referencias espaciais o territrio aqui confundido com a ideia de espao geogrfico. Aqui se ignora que at o espao virtual do ciberespao necessita de bases materiais e contatos pessoais, como o caso dos migrantes em dispora 3 que em sua mobilidade carregam espaos imaginrios fomentadores de novas construes socioespaciais. 3. Desterritorializao como perda de poder, enfraquecimento do territrio dos Estados-naes o territrio aqui seria uma construo histrica ligada formao dos Estados modernos. A crise do papel regulador do Estado levaria a uma crescente desterritorializao. Aqui o autor cita o caso dos Estados Unidos que aps os atentados de setembro de 2001 reforou o papel do Estado no que se refere segurana e controle dos processos migratrios. A noo de territorialidade aqui assume a forma de controle dos processos sociais. 4. Desterritorializao como deslocalizao econmica aqui o territrio confunde-se com a influncia dos contextos locais em que ocorrem os processos sociais. Os contextos locais no desaparecem, mas mudam de contedo, incorporando fatores ligados ao setor financeiro. Isto ocorre com as grandes empresas multinacionais que se deslocam e se localizam em inmeros lugares. 5. Desterritorializao como fruto da crescente homogeneizao cultural do planeta o territrio valorizado em sua dimenso cultural, identitria, 3 O termo dispora (em grego antigo, "disperso") define o deslocamento, normalmente forado ou incentivado, de grandes massas populacionais originrias de uma zona determinada para vrias reas de acolhimento distintas.
vinculado diferenciao e diversidade cultural. Supervalorizando a
homogeneizao causada pela globalizao esquece-se seu carter contraditrio na medida em que rene num mesmo conjunto globalizao e fragmentao, homogeneizao e heterogeneizao, cultura mundial e cultura local. A partir deste ponto o autor aprofunda a discusso sobre duas posies antagnicas. A primeira diz respeito desterritorializao do alto, vinculada s categorias sociais privilegiadas. Desterritorializao para os ricos seria uma mobilidade opcional viagens para vrios lugares. A segunda diz respeito ao outro extremo da pirmide social, a desterritorializao de baixo vinculada aos grupos que esto sendo privados do acesso ao territrio sem-terra, sem-teto, indgenas. Alguns destes grupos entram na categoria de desterritorializao stricto sensu. O autor enfatiza o fato de que a desterritorializao de baixo, mais social, a mais adequada para a utilizao do termo, no entanto, a menos utilizada nos discursos sobre desterritorializao. Desterritorializao neste caso resulta numa mobilidade compulsria originada na falta de opo, de alternativas, de flexibilidade. DESTERRITORIALIZAO E IMATERIALIDADE DO CIBERESPAO A corrente mais importante neste pensamento aborda que o ciberespao estaria substituindo o espao geogrfico. O filsofo francs Pierre Lvy (1999) em Cibercultura associa ciberespao e rede: o ciberespao (que tambm chamarei de rede) o novo meio de comunicao que surge da interconexo mundial dos computadores. (...). eu defino ciberespao como o espao de comunicao aberto pela interconexo mundial dos computadores e das memrias dos computadores. Para Lvy desterritorializao a desmaterializao do mundo dominado por relaes sociais que no necessitam de contextos espaostemporais especficos. Lvy associa virtualizao e desterritorializao. Segundo Lvy os profissionais mais desterritorializados so justamente os principais responsveis pela estrutura social operadores da tecnociencia, das finanas e dos meios de comunicao. Aqui Lvy se assemelha a OBrien (1992) e Virillo (1997) que afirmaram que os circuitos financeiros representam o fim da geografia. J Graham (1998) defende que a relao entre ciberespao e espao material pode ser analisada sob trs vertentes: 1. Espao material sendo substitudo pelo ciberespao 2. Espao material e ciberespao sendo produzidos juntos, como parte da reestruturao do sistema econmico capitalista. 3. Existe uma relao entre tecnologia, tempo, espao e vida social.
Neste sentido o autor define desterritorializao como processo relacional
em que por um lado mais flexvel est mergulhado nos sistemas em rede e por outro, mais inflexvel, marcado por separao entre ricos e pobres, grupos mais e menos territorializados. DESTERRITORIALIZAO COMO PRECARIZAO TERRITORIAL A excluso social que lana milhes de pessoas na misria faz com que elas revalorizem seus vnculos bsicos com o territrio, no sentido de terra abrigo e fonte de sobrevivncia numa dimenso simblica-identitria. A ideia de territrio associada terra pode ter duas leituras. Uma primeira leitura a do movimento dos agricultores sem terra, onde desterritorializao est associada excluso do acesso terra e adquire um sentido econmico, uma vez que sem terra no h de onde tirarem seu sustento. Uma segunda leitura a do movimento indgena, onde desterritorializao est ligada tambm excluso do acesso terra como meio de produo mas principalmente num nvel simblico-cultural, ligado ao imaginrio geogrfico, onde rios, cachoeira, trechos da florestas so espaos de deuses, espritos e ancestrais indgenas. A terra o espao de manuteno de sua identidade cultural. O que une estas duas leituras dinmica de precarizao socioespacial dominante na sociedade capitalista, dando forma a aglomerados humanos de excluso. O autor termina seu texto afirmando que desterritorializao, antes de significar desmaterializao, (...) um processo de excluso social, de excluso socioespacial. (...) e o combate desterritorializao (...) significa tambm o acesso amplo s diferentes escalas e redes que ainda hoje, constitui-se um privilgio de uma elite planetria cada vez mais autosegregada (pp 67). BIBLIOGRAFIA
HAESBAERT,
Rogrio.
Concepes
de
territrio
para
entender
desterritorializao. In: SANTOS, Milton (et al). Territrio, territrios: ensaio
sobre o ordenamento territorial. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002. p. 43-71.