You are on page 1of 226

Sá de João Pessoa

(Poeta Popular)

Por onde andou

o Cordel?

Rio de Janeiro
2010
2

ÍNDICE

1 – Literatura de cordel e poesia popular, pg. 3

2 – Por onde andou o cordel?, pg. 6

3 – Caminhos do Cordel, pg. 26

4 – Antologia de poetas e payadores, pg. 34

5 – Antologia de pliegos sueltos chilenos, pg. 195

6 – Apêndice, pg. 222

Capa

Xilogravura de Marcelo Soares


3

LITERATURA DE CORDEL E POESIA POPULAR

Ao recuperar alguns trabalhos já publicados para transformá-los em


livros digitais, quase sempre me encontro diante de estruturas culturais cujas
referências se apresentam às vezes contraditórias, às vezes análogas, mas
sempre surpreendentes. No meio tempo em que foram escritas e os dias de
hoje muita coisa aconteceu, mas a principal foi o advento da internet e o
imenso universo de informação que permeia os navegadores da rede.

No presente caso, o artigo Por onde andou o cordel?, publicado


originalmente em novembro de 1988 e faz, neste 2010, 22 anos, se originou de
uma peregrinação feita às cidades de Valparaíso e Santiago do Chile, em visita a
parentes. Para satisfazer o velho vício que tenho e me mantém aceso, qual seja,
o de rato de livrarias e sebos, mantenho sempre um lugar vago na agenda e só
depois de cumpri-lo me dou por satisfeito.

Foi em Santiago mesmo, na Livraria Andrés Bello¹ , uma das mais


conceituadas livrarias do Chile, que encontrei dois folhetos do poeta Vitalício
Ulloa – El Barbecho² e La Siembra³, ambos de 1986. Para completar a sorte
encontrei o livro Antologia de 5 poetas populares, de Diego Muñoz (1971).
Juntando a isso o volume do Martín Fierro – Ida y Vuelta, de José Hernández,
tinha em mãos material suficiente para aguçar a curiosidade de saber até que
limites a Literatura de Cordel havia chegado entre nossos vizinhos.

Em matéria de organização achei a vertente chilena bem mais avançada,


já tendo sido recolhido tudo aquilo que se relacione aos primeiros impressos de
poesia popular, cuja datação é muito semelhante à brasileira, os primórdios
remanescendo ao Século XVIII. A publicação de pliegos sueltos culminou com a
saída consagrada do periódico Lira Popular, que durou de 1866 até meados de
1930, sendo considerada A Época de Ouro da Literatura Popular Impressa,
segundo excertos extraídos de http://www.memoriachilena.cl/:

“Com o nome de Lira Popular conhecemos no Chile os pliegos sueltos,


impressos que surgiram em finais do Século XIX e nos quais os poetas
populares publicavam suas poesias em décimas, antiga forma métrica que
passou para a América com a Conquista, junto a outras variadas expressões
literárias usadas pelo povo, como adivinhações, refrães, contos, lendas e
romances.”

“Em cada pliego, o poeta incluía cinco ou seis composições em décimas, em


geral glosadas de uma quadra, nas quais comentava – desde a sua própria
4

perspectiva – os acontecimentos nacionais e os fatos locais que os afetavam.


Mesclavam-se, assim, casos da atualidade, que faziam alusão ao humano,
com fatos e personagens bíblicos, que punham em cena o divino, brindes,
payas, contrapontos, cuecas e tonadas.”

“Cada pliego pertencia a um só poeta e estava encabeçado em geral, por


toscas gravuras populares que ilustravam os temas, realizadas também por
alguns deles. Os poetas vendiam seus pliegos anunciando-os aos gritos pelas
ruas, mercados e estações de trem. Na Europa se chamava "literatura de
cordel", pela forma com que seus autores ofereciam suas folhas penduradas
em um cordel ou lenço, atados de uma árvore a outra. Os poetas populares
publicaram também folhetos de pequeno tamanho com décimas e romances,
assim como cuecas e canciones em moda na época.”

“No Chile, o tempo de maior auge de este tipo de imprensa popular se deu
aproximadamente entre os anos 1860 e 1920 e seu primeiro colecionador
foi o professor alemão e estudioso de nossa cultura Rodolfo Lenz, que doou
para a Biblioteca Nacional cerca de quinhentos pliegos que fazem parte das
três únicas coleções que existem no nosso país. A Biblioteca Central da
Universidad do Chile conta com a Coleção formada por don Raúl
Amunátegui com uns 850 pliegos e a Biblioteca Nacional, ademais, conserva
a reunida por Alamiro de Ávila que contem 350 pliegos.”

“Afortunadamente, nos últimos vinte anos se tem reconhecido o valor, como


fonte histórica, deste tipo de literatura popular. Estão começando a estudar
nos pliegos temas como A Guerra do Pacifico, o Governo de José Manuel
Balmaceda, problemas limítrofes e disputas eleitorais, entre outros. Também
estão mostrando interesse os cantos por angelito e os cantos a lo divino em
geral. “Especialmente valiosas são as gravuras populares com que os poetas
ilustravam suas décimas, sobretudo as relacionadas com fatos trágicos e
violentos: crimes e fuzilamentos.”

A minha alegria é ver que o material de 1988 não envelheceu e que,


somado a novas informações obtidas graças à internet, dará muita
substância a quem quiser enveredar pelo mesmo caminho.
NOTAS:
1 - Andrés Bello (1781-1865) - Lutou com Bolívar pela independência da Venezuela, Chile e
Argentina. Na Inglaterra conseguiu apoio na luta contra a Espanha. Naturalizado chileno,
fundou a Universidade do Chile e escreveu o Código Civil.
2 - El Barbecho é o terreno ainda inculto, deixado em repouso para se revitalizar.
3 - A Semeadura.
5

(Gravura que ilustrou o artigo original n’O Galo)


6

POR ONDE ANDOU O CORDEL?


(Publicado no jornal O Galo – Natal (RN), novembro de 1988)

Intróito

1. De outro grande poeta, 5. Gostei do Galo, repito,


Um tal Salomão Rovedo, É valoroso jornal,
Leio de carona O Galo, Mostra que é o Nordeste
Jornal valente, sem medo, Também intelectual,
Gostei muito – se gostei! Cristo nasceu em Belém
E assim não faço segredo. E O Galo lá em Natal!

2. Pois esse Galo é assim: 6. Quem tiver outro jornal


Bom de briga, barrufado, Que fale assim desse jeito
Cantando à boca-da-noite Pois mande aqui pro poeta,
Um canto bem arrumado, Gosto do que é bem feito,
Diz-que é amor que tá sendo É o beiju do meu café,
Por outro amor raptado. A rede que é meu leito.

3. Galo antes de cantar, 7. Senti falta do cordel


Como sabe todo mundo, – Poesia popular –
Bate asas só três vezes Que na terra potiguar
E anuncia num segundo Sei que não há de faltar,
Que Galo bom não é gordo, Por isso mando um artigo
Mas forte, brabo e fecundo. Pro Galo amigo editar.

4. Se cantar fora de hora 8. Aqui quem fala pro Galo


Amanhã tem novidade, Neste cantar besta à toa
Sabendo o canto de cor É o poeta popular
Canta com amor e vontade, Que faz poesia da boa
Fecha os olhos inspirado E se assina pelo nome
Como cantasse a saudade... De Sá de João Pessoa!
7

Sei que é coisa pra muita pesquisa de quem sabe e tem


competência pra fazer, mas não custa dar um primeiro passo, um sabor
de açúcar pra boca de quem tem gosto dessas coisas, como Leonardo
Mota, Câmara Cascudo, herdeiros de Silvio Romero e Amadeu Amaral,
companheiros de Théo Brandão, Jackson da Silva Lima, Florival
Seraine, que como Mario de Andrade, por prazer das coisas nossas,
largaram muito do que o galardão da literatice oficial lhes ofereceu pra
registrar o folclore.

E meto o bedelho sem medo, sem vergonhas de dar vexame,


como quem já tempo tem de vida e de poesia pra poder depor e
compor, de coisas que ouvi, que sei, que posso recontar.

Foi assim que, andando por terras do Chile (sim, meus amigos, o
Chile sem Pinochet é uma lindeza!), deparei com uma poesia popular
da melhor qualidade, impressa e vendida assim mais ou menos como a
nossa poesia de cordel. Daí me veio a interrogação: por onde andou o
cordel? Por onde andou a poesia popular? Bem sabemos das origens
ibéricas e provençais da poesia de cordel, desse canto improvisado em
décimas que os violeiros apregoam e, em conseqüência, os inúmeros
filhotes e derivados que daí ocorreram.

A resposta mais óbvia e lógica é: se nossa poesia popular decerto


veio via Portugal, de origem hispânica, nada mais justo pensar que a
poesia popular castelhana também invadiu as colônias. Podemos ir
mais longe? Ora, por aqui aportaram não só lusitanos mas espanhóis,
flamengos e gauleses – pra não falar nos súditos de S. M. A Rainha da
Inglaterra – e eles também tinham suas cantorias originais. Aposto,
8

portanto, que por aqui ficou, nos tempos coloniais, muito cantar de
língua hispânica, que foram posteriormente reinventados e traduzidos
ao nosso idioma/folclore.

Mas isso é de-menos. Minha indagação é: até quando, como e


onde o cantar hispano-lusitano chegou na América do Sul? Bem que
gostaria de ter exemplos de outros vizinhos Venezuela abaixo, mas
como disse no introdutório isso é coisa de maior fôlego e apetite pra
essa turma jovem encarar, ir à luta e apresentar seus trabalhos como
tese de mestrado, em vez de ficar catando chifre em cabeça de cobra,
perdendo tempo tentando desvendar mistérios lacanianos ou vendo
visagens nas carnavalizações impróprias dos baktines da vida. Arre!

Minha curiosidade, meu ânimo tem fundamento pois da língua


hispânica não temos esse maravilhoso poema popular chamado
Martín Fierro? Poucos poetas de todos os tempos hão de alcançar a
pureza que José Hernández (1834-1886), respeitemos “El Gaucho”
(pronúncia acentuada no á)! Hernández, além de poeta foi muitas
coisas: aventureiro, guerrilheiro, militar, senador e das muitas
estripulias que fez, teve de fugir muitas vezes, pelo que andou também
em terras do Brasil, lá no extremo sul, onde as fronteiras não têm
fronteira e as terras se misturam formando o Pampa. Quando ele falava
era como um trovão e tantas foram as suas façanhas que ficou
conhecido entre os companheiros por Martín Fierro. Desse exílio em
terras brasileiras nasceram os primeiros versos de El gaucho Martín
Fierro (1872) e o poema publicado fez tanto sucesso que obrigou seu
autor a compor La vuelta de Martín Fierro em 1879. Não obstante A
volta ser também um belo poema, não supera a simplicidade e beleza
9

do original. Sem dúvida é o mais belo poema popular da América de


todos os tempos e todos os portenhos até hoje aprendem a ler e
escrever com as edições escolares de Martín Fierro. O poema é bem
parecido com as nossas aventuras de cordel e, como todo cantador,
Hernández inicia pedindo inspiração:

Aquí me pongo a cantar


Al compás de la vigüela,
Que el hombre que lo desvela
Una pena extraordinaria
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela.

Pido a los Santos del Cielo


Que ayuden mi pensamiento;
Les pido en este momento
Que voy a cantar mi historia
Me refresquen la memoria
Y aclaren mi entendimiento.

Vengan Santos milagrosos,


Vengan todos en mi ayuda,
Que la lengua se me añuda
Y se me turba la vista;
Pido a Dios que me asista
En una ocasión tan ruda.
10

Yo he visto muchos cantores,


Con famas bien obtenidas,
Y que después de adquiridas
No las quieren sustentar:
Parece que sin largar
Se cansaron en partidas.

Mas ande otro criollo pasa


Martín fierro ha de pasar,
Nada la hace recular
Ni las fantasmas lo espantan;
Y dende que todos cantan
Yo también quiero cantar.

Cantando me he de morir
Cantando me han de enterrar,
Y cantando he de llegar
Al pie del eterno padre:
Dende el vientre de mi madre
Vine a este mundo a cantar.

Que no se trabe mi lengua


Ni me falte la palabra:
El cantar mi gloria labra
Y poniéndome a cantar,
Cantando me han de encontrar
Aunque la tierra se abra.
11

Me siento en el plan de un bajo


A cantar un argumento:
Como si soplara el viento
Hago tiritar los pastos;
Con oros, copas y bastos
Juega allí mi pensamiento.

Yo no soy cantor letrao,


Mas si me pongo a cantar
No tengo cuándo acabar
Y me envejezco cantando:
Las coplas me van brotando
Como agua de manantial.

Con la guitarra en la mano


Ni las moscas se me arriman,
Naides me pone el pie encima,
Y cuando el pecho se entona,
Hago gemir a la prima
Y llorar a la bordona.

Yo soy toro en mi rodeo


Y torazo en rodeo ajeno;
Siempre me tuve por güeno
Y si me quieren probar,
Salgan otros a cantar
Y veremos quién es menos
12

No me hago al lao de la güeya


Aunque vengan degollando,
Con los blandos yo soy blando
Y soy duro con los duros,
Y ninguno en un apuro
Me ha visto andar titubeando.

En el peligro, ¡qué Cristos!


El corazón se me enancha,
Pues toda la tierra es cancha,
Y de eso naides se asombre:
El que se tiene por hombre
Ande quiere hace pata ancha.

Soy gaucho, y entiendaló


Como mi lengua lo explica:
Para mi la tierra es chica
Y pudiera ser mayor;
Ni la víbora me pica
Ni quema mi frente el sol.

Nací como nace el peje


En el fondo de la mar;
Naides me puede quitar
Aquello que Dios me dió
Lo que al mundo truje yo
Del mundo lo he de llevar.
13

Mi gloria es vivir tan libre


Como el pájaro del cielo:
No hago nido en este suelo
Ande hay tanto que sufrir,
Y naides me ha de seguir
Cuando yo remuento el vuelo.

Yo no tengo en el amor
Quien me venga con querellas;
Como esas aves tan bellas
Que saltan de rama en rama,
Yo hago en el trébol mi cama,
Y me cubren las estrellas.

Y sepan cuantos escuchan


De mis penas el relato,
Que nunca peleo ni mato
Sino por necesidá,
Y que a tanta alversidá
Solo me arrojó el mal trato

Y atiendan la relación
Que hace un gaucho perseguido,
Que padre y marido ha sido
Empeñoso y diligente,
Y sin embargo la gente
Lo tiene por un bandido.
14

Essa é a introdução de El gaucho Martín Fierro, poema que se


estende por 395 sextilhas, quadras e versos corridos, que somados à
La Vuelta de Martín Fierro dá um total de 1.193! Como se vê, uma
linguagem riquíssima e popular que se enriquece ainda mais no
decorrer da narrativa por onde perpassam elementos folclóricos,
históricos, adagiário popular, modas e costumes de época, havidos
numa região bravia de difícil sobrevivência.

O exílio obrigou José Hernández a viver em Buenos Aires e ali


socializou-se, politizou-se, fez carreira parlamentar. Escreveu muita
coisa sobre os costumes do interior e, como disse, La Vuelta de Martín
Fierro que, como os filmes Rambo um, dois, três, serviu apenas para
amenizar algumas passagens relatadas na primeira história, sabido que
esse Hernández foi mesmo um Martín Fierro de modo a não deixar
inveja a Antonio Silvino e do destemido Lampião... Porém, quando
queria cantar um conto, narrar uma leyenda, não havia igual a ele.

Outro poeta popular argentino, do qual não se tem outras


informações a não ser um poema publicado junto com El gaucho
Martín Fierro é Juan Pedro López, autor de La leyenda del Mojón:

Llovía torrencialmente
Y en la estancia del Mojón
Como adorando al fogón
Estaba toda la gente.
Dijo un viejo de repente:
"Les voy a contar un cuento
Aura que el agua y el viento
15

Train a la memoria mía...


Cosas que naide sabía
Y que yo diré al momento.

Não é igualzinho aqui? Quantas vezes “adoramos” uma


lamparina a ouvir histórias numa roda notívaga abrindo pindova...

O poema é todo em décimas e pela introdução até que dá gosto


conhecer todinho, né? (Quem quiser mando cópia...). Mas dizia, todo
em décimas, essas décimas bem conhecidas da gente, as rimas
acompanhando o rimar dos glosadores. E podem notar bem os
elementos tanto de Martín Fierro como dessa primeira décima de La
Leyenda... são exatamente os mesmos convocados por nossos
contadores de estórias, nossos repentistas, nossos poetas populares.

Pois é. Voltando ao Chile que, como disse, tirante Pinochet et


caterva é país bem acolhedor, de gente simples, cantadores e
bebedores dos excelentes tintos, país de mar com tantos frutos de
deixar a gente bêbada, país que tem um Norte igualzinho ao nosso
Nordeste, seco, árido, de poucas chuvas. Pois bem, nessa terra
compridinha que vai se afastando lá pro rumo da Antártica (o
continente, não a cerveja...), achei o verso inspirado de Vitalício Ulloa
em dois folhetos intitulados El Barbecho (O forcado) e La Siembra (A
semeadura), prometendo publicar em seguida La Consecha (A
colheita) com o qual, penso, encerraria essa trilogia. Pena que não
consegui esse último exemplar, mas espero um dia voltar ao Chile livre
e até, quem sabe, bater um papo com Vitalício de poeta pra poeta.
Vitalício Ulloa utiliza somente décimas e mais uma vez não tenho
16

elementos para saber se a poesia popular chilena fixou-se somente nas


décimas ou mantém alguma variedade tão vasta quando a nossa que,
particularmente, acho até exagerada...

El Barbecho começa com uma Presentación muito típica, como


a determinar a unidade da poesia popular latino-americana, pelo
menos em dois aspectos: nesse e no relatar aventureiro e exagerado os
contos populares, importados ou não:

Yo soy Vitalício Ulloa,


nací en el campo, señor,
y es para mí gran honor
este origen destacar,
porque sirve pa’ explicar
los vaivenes de la vida
que ha sido pura subida
sin ver todavía el plan
y eso que he puesto mi afán
en toda cosa emprendida.

Mi casa ha hizo mi paire,


al lao’el río, en un bajo
tal vez para qu’el trabajo
estuviera más a mano,
pues con mí único hermano
teníamos que salir
en lanchón a combatir
las mareas veleidosas
17

a veces tan contigiosas


que nos costaba subir.

Para eso hay que tener


teso el lomo, y el pellejo
tiene que ser muy parejo
o se corta al comenzar,
porque el trabajo’e remar
no se lo doy a cualquiera,
el agua es embelequera
y juega bromas pesadas,
con cualquier ola atrasada
parecía yegua en la era.

También le hicimo’a la hichona,


al arado y al rozón,
al hacha y al azadón,
al martillo, el espinel,
la red, la pala, el pincel,
los libros, la poesía,
el cuento, la fantasía,
la guitarra y el serrucho;
y a lo que le hicimos mucho
jué a las mujeres, Usía.

Con toito’estos ofícios


de qué me podré quejar,
nunca hei tenío que estar
18

botao como un ocioso,


mi vivir ha sido hermoso
y el tiempo no me ha faltao,
tampoco yo le hei fallao
y naiden me tiene queja.
La vida, al ponerse vieja
transforma todo el pasao.

Hasta aquí no más yo llego


porque ahora hay que brindar
con cariñoso pensar,
con amigos en presencia;
es tan sabia la experiencia
que nunca de nada olvida,
ni cuando jue la partida,
ni cuando estuvo el llegar;
siempre es güeno presenciar
la clara luz conseguida.

E assim Vitalício Ulloa vai contando seu viver afanoso sem deixar
de lado a poesia, que sobrevive mesmo nos tropeções que a vida nos
prega. Depois desta apresentação segue os poemas: Recuerdos, Aqui
estoy, Destino, Mamacita, todos em décimas. Vitalício Ulloa só foge
desse cantar para mandar uma Cueca Largaza e é aí que ele se mostra
popular mesmo, porque a cueca (pronuncia-se rápido – cüêca!) é um
cantar musical tipicamente chileno, cheio de picardia, que não tem
similar na América Latina. Diferente do tango e do bolerão, que são
super-dramáticos e românticos, a cueca é o retrato de uma conquista
19

amorosa, cheia de vênias e carinhos que encerra romances e adeuses,


simbolizados por um lenço que se mantém à mão enquanto durar a
dança.

Na contracapa de El Barbecho, Vitalício Ulloa deixa um recado


que serve para todos nós:

Por ahi se podría oír


y es mejor que no se ensarte
que desde un tiempo a esta parte
poco hei podio escribir.
Nada d’eso, mi vivir,
ha estao a la orilla’el canto
y me ha costao hasta llanto
este humilde trabajar
pues cuando empiezo a rimar
se muy bien lo que aguanto.

EL BARBECHO es cosa hecha


LA SIEMBRA vendrá después
y com empeño, tal vez,
habrá que hacer LA COSECHA...
Una tarea derecha
logrará satisfacer,
pues no debe envejecer
esta décima sencilla
su deslumbrante semilla
siempre habrá de florecer.
20

Merece ressalva o registro do modo de falar em poesia: “podío”


por “podido”; “costao” por “costado”, etc. (muito comum no castelhano
latino), repetindo literalmente tudo que Martín Fierro já registrava
naqueles tempos. O uso constante de apóstrofe encurtando as palavras
é visível. É notável como esse recurso em nada prejudica a poesia, pelo
contrário, a torna curiosamente mais bela, porque diferente pelo
ineditismo entre nós.

Se em El Barbecho Vitalício Ulloa dá uma canja nos brindando


com uma cueca, em La Siembra todos os dezessete poemas
encadeados são em décimas. É lastimável que a gente não tenha um
outro tanto de poesia popular latino-americana para fazer
comparações e ir fundo nessa questão: por que a poesia de cordel
brasileira é tão variada em estilo? Por que a poesia popular não teve a
mesma disseminação nos países de língua hispânica? Qual o nível de
sobrevivência da poesia popular nesses países?

A existência de poetas como Vitalício Ulloa e de outros que já se


tornaram lendas na poesia popular chilena, mostra que esse gênero
está sobrevivendo... sabe-se lá como!

Entre os mais tradicionais poetas populares chilenos, de vida tão


aventurosa como a de José Hernández, estão:

Raimundo Navarro Flores (1881-195?), autor de um curioso


Cuntrapunto entre un cura y um penitente (Sade, Guerra Junqueiro,
Leandro Gomes de Barros?);
21

Ismael Sanches Duarte (1904), que na poesia Ante El Doctor,


confiesa:

Es feo que se lo diga,


doctor, pero es la verdad
vivo más por voluntad
que por que da el oficio
trabajo con sacrificio
para mantenerme al día
pero la salud y mi vida
se van quedando en el piso.

Abraham Jesús Brito, de quem, para se dizer tudo, convém


repetir esta história:

“Por volta de 1937, estava na casa de Pablo Neruda quando


chamaram à porta. Eu mesmo fui atender. Era um estranho visitante.
Chapéu e roupas puídas, um sobretudo muito grande, numa mão um
cajado, na outra uma bolsa de papel grosso com alças de cordão. Por
trás dos óculos grandes, um olhar inteligente, chispante e afável. Rosto
acentuadamente moreno e bem barbeado. Cabelos brancos. Uma
mirada distraída ou superficial poderia julgá-lo um mendigo. Porém, a
figura estava revestida de tal dignidade, que após observá-la um
instante era fácil reconhecer estar-se na presença de uma majestade
rara. Era a majestade própria do poeta popular, a majestade do próprio
povo nele encarnada. “Vive aqui o poeta “don” Pablo Neruda? me
perguntou. Respondi afirmativamente. “Então faça-me o favor de dizer-
22

lhe que seu colega Abraham Jesús Brito, poeta popular nortista, veio
aqui saudá-lo”. E desde então a amizade entre os dois poetas se firmou
e cresceu. Quando Abraham morreu, seu colega mundialmente famoso
escreveu uma elegia que dizia:

“...y fue haciéndose agua por los ojos


Y por las manos se fue haciendo raíces...”

Dele disse Diego Muñoz, que registrou a história aí atrás:

“Fue un gran poeta popular. Una gloria de la poesía popular


chilena. No fue ni feliz ni desdichado, sino lo uno y lo outro; el tránsito de
la desdicha hacia la felicidad humana. Un poeta popular!”

Abraham Jesús foi o poeta-repórter do seu tempo. A segunda


grande guerra passou pela sua poesia, as vitórias aliadas, os
terremotos do Chile.

Pedro Gonzalez (1918-1956), poeta que aprendeu a fazer versos


apenas “para brincar con las palabras”, posto que mal sabia ler e
escrever. Para sobreviver (lá como aqui a poesia não dá o de-comer),
fazia artesanato de vime. Filho de camponeses, tentou melhor sorte nas
Minas El Teniente. Ali a silicose atacou seus pulmões e tornou sua vida
mais curta. Mesmo assim ainda participou e organizou o 1º Congresso
Nacional de Poetas e Cantores Populares em 1954 e muito contribuiu
para a sobrevivência da poesia popular chilena. No poema “A mi bello
Chile”, Pedro Gonzalez faz uma bonita despedida:
23

Al fin, mi patria querida,


te entrego mi corazón
y com él va la razón
y la juerza de mi vida;
nunca serás sometida
a invasores ni a tiranos,
tu destino está em las manos
de tus hombres y mujeres,
porque ellos, Chile, te quieren
¡siempre libre y soberano!”

Pedro Gonzalez não teve a desdita de ver Pinochet no poder.


Como se sabe, Deus protege as crianças, os bêbados e os poetas...

E pra encerrar essa mostra de poetas populares do Chile, eis o


Lázaro Salgado (1902), poeta que – como o nosso Patativa do Assaré –
compôs tudo de memória e sobrevivia da merreca que recolhia aos
domingos na Veja de Santiago.

Quando conseguia o dinheiro que necessitava para passar o dia,


recolhia solenemente a sua viola e ia embora. Nada o faria ficar nem
mais um segundo. Filho e neto de poetas populares, Lázaro Salgado
tinha um tino político sagaz e, como a maioria, amava demasiadamente
a sua terra. Dele são os versos a seguir, da época da campanha de
Salvador Allende para a Presidência do Chile:

El Presidente de Chile
será Salvador Allende,
24

es honrado y no se vende
como se han vendido miles;
no es de esos tipos serviles,
recto para hacer el bien,
es llano como lo vem
en su modo de tratar
y a Chile va a gobernar
el prototipo del bien.

Esse espírito atualíssimo é notado em Desgracia de las pruebas


nucleares e em A Yuri Gagarin, demonstrando uma poesia popular
preocupada com problemas e temas internacionais.

Lamento mais uma vez que não possam, vocês todos, saborear
toda a sabedoria das poesia popular latino-americana, cujas raízes,
desde Martín Fierro, se espalham por todo o continente e no Brasil
tomou as formas peculiares que todos conhecemos. Por isso mesmo,
alimento a esperança nessa turma de mais disposição na veia para ir
fundo nesta pesquisa e trazer pra nós todos os caminhos por onde
andou a poesia de cordel.

BIBLIOGRAFIA
José Hernández
– Martín Fierro – Ida y Vuelta – Editorial Hangar, 1965 (Argentina)
– El Gaucho Martín Fierro - Introducción y notas de Carlos Alberto Leguizamón – Ediciones
Ateneo S/A, 1965 (México)
Juan Pedro López – La Leyenda del Mojón – In Martín Fierro (cit.)
Vitalício Ulloa
– El Barbecho – Ed. do Autor, 1986 (Chile)
– La Siembra – Ed. do Autor, 1986 (Chile)
Diego Muñoz – Antología de 5 Poetas Populares – Ediciones Valores Literarios, 1971
(Chile)
25

Xilogravura chilena
26

CAMINHOS DO CORDEL

Depois de muito tempo enfronhado com a Literatura de Cordel


(como ouvinte, leitor, admirador e autor), comecei a dirigir o olhar
para os países vizinhos que, embora não tenham tido uma colonização
similar a do Brasil, pecorreu os mesmos caminhos da assimilação
cultural. No caso da assimilação cultural, a diferença estava no detalhe.
A política espanhola tinha como parâmetros: a invasão, a dominação
pela força e a exploração das riquezas à exaustão. Após esse período
muitas das vezes as terras eram abandonadas ao seu próprio destino
ou doadas aos parentes dos primeiros exploradores que saquearam
todas as riquezas dos nativos.

Pelo lado lusitano a conquista se dava através da ocupação


habitacional, em lugar da invasão. Após a conquista inicial a dominação
se dava através do viés religioso e cultural, incluindo a miscigenação. A
parte criminosa cabia aos bandeirantes, cujo pagamento pela conquista
de terras era coberta por ouro e pedras preciosas que descobrissem.
Para isso tiveram que dizimar centenas de tribos indígenas – aí sim
eram iguais aos tiranos espanhóis.

Pode-se dizer o mesmo da aclimatação e da absorção dos


aspectos culturais – neste caso a Literatura de Cordel – que veio junto
com a colonização, tanto pra cá quanto pra alhures... Mas logo se
percebe que os caminhos percorridos pela Literatura de Cordel não
foram os mesmos. Entre os vizinhos castelhanos mais promissores na
poesia popular destaca-se Argentina e Uruguai (que, junto com o Rio
27

Grande do Sul, chamarei Ramo Rioplatense) e Chile, Peru e Bolívia


(logo, o Ramo Andino).

No Cone Sul, que inclui a Argentina, o Uruguai e o Pampa Gaúcho,


no princípio reinava a poesia popular gauchesca, cujos representantes
mais famosos são, pela primazia, Bartolomé Hidalgo (1788-1822),
Hilario Ascasubi (1807-1875) e José Hernandez (1834-1886), autor do
mais famoso poema popular “Martín Fierro” – Ida y Vuelta [1] e mais
Juan Pedro López (1885-1945) – autor de outro famoso poema popular
“La leyenda del Mojón” [2]. A poesia popular gauchesca, no entanto,
mudou de rumo e acabou por desaguar na payada, que se traduz por
poesia e canto com acompanhamento de viola, depois do acordeom e
bandonion.

Logo em seguida a payada se aproximou das danças populares e


– sem deixar de ser payada, se entrosou com a milonga e com o tango.
O payador tem a mesma origem dos nossos cantadores repentistas e
se apresenta ou sozinho ou em parelha, inventando as décimas ao
ritmo da solicitação dos ouvintes.

Existe uma querela entre os porteños que interessa diretamente


aos estudiosos brasileiros e põe em dúvida a máxima de que o poeta
popular é também necessariamente inculto. Não é bem assim, muito
pelo contrário, como destaca a respeito, sem mais delongas, nada
menos que Jorge Luis Borges, que em alentado estudo detona as
aspirações dos cultores da poesia popular, tanto do ramo da payada
quanto do ramo campestre ou gaucho. [3]
28

Quanto ao Ramo Andino, o exemplo mais antigo e organizado


vem do Chile, Peru e Bolívia, como principais produtores da poesia
popular. No Chile, inclusive, se usa também o termo cordel, embora de
expressão diferente da nossa. O termo é abrangente e se refere à
poesia popular em geral, principalmente porque abundam os poemas
vendidos em folhas soltas (e não em folhetos), à moda das nossas
canções. Existe tanto o Poeta Popular que apresenta improvisos,
sozinho ou em dupla, quanto o Poeta de Cordel, que escreve e publica
suas poesias em livretos, principalmente em pieglos sueltos. Ambas as
correntes adotam como principal modelo a décima oitossilábica.

Payada se chama a poesia que o payador canta recitando,


acompanhado de guitarra, que se caracteriza por ser improvisada
entre dois ou mais payadores sobre um tema. Em geral os temas que
se tratam versam sobre a origem da vida, o amor, o lar e a morte.
Sendo o payador um poeta repentista, ele costuma cantar sobre temas
propostos pelos ouvintes ou em contraponto com outro (igual ao nosso
desafio), podendo se referir ao mesmo assunto ou fazer perguntas que
devem ser respondidas em verso. A arte do payador exige, para
prender a atenção dos ouvintes, certa metodologia de elaboração oral,
em que se fundem mensagem, canto e música.

Outros elementos completam e caracterizam a paya: o metro dos


versos e a rima empregada. Para estruturar sua mensagem o payador
deve ter condições inatas: inspiração poética e agilidade mental. A isso
tem de somar as aptidões de cantor, para vocalizar o improviso e tocar
bem a guitarra, que serve de base tanto musical, como apoio ao metro
dos versos. Quanto ao metro, os payadores preferem o octossílabo. O
29

canto do payador está sempre identificado com o ambiente, tanto para


referir-se a episódios épicos, como à efusão lírica. José Hernández, em
seu “Martín Fierro”, estabeleceu o norteamento da mensagem ao pedir:

“...pero yo canto opinando


que es mi modo de cantar”.

No Sul do Brasil a palavra payada é grafada como se pronuncia:


pajada. Muito já se escreveu sobre a origem dessa expressão. Alguns
estudiosos dão o nome como de origem quíchua (indígena), entre
muitas outras possibilidades. Quero lembrar – só para botar mais
lenha na fogueira – que a expressão paja significa palha. É a mesma
palha que se enrola o cigarro, que não pode ser negado a quem o pede:
– Me dá uma palha? Sabemos que a característica mais marcante do
pajador é a de se enturmar ao ambiente em que chega e de imediato
procurar dar a sua paja, ou como se diz: dar uma palhinha, expressão
igual a dar uma canja...

Em todas as ocasiões ficou confirmado o vínculo indissolúvel


entre a poesia popular e a guitarra ou, mais raro, outro instrumento
musical como o acordeom. Fora do Brasil o Poeta Popular é também
um compositor, suas apresentações estão sempre vinculadas à música,
bem diferente da nossa monocórdia de influência árabe.

Mas devo reconhecer que embarquei numa viagem sem fim. A


gente vai pesquisando, a estrada vai se bifurcando, quando se dá conta,
tem um monte de caminho para trilhar, inúmeras vertentes a serem
analisadas, muita poesia popular para ser difundida, que esta é a
30

vontade maior. A esta altura, sem querer parar, estava me propondo a


descobrir mais sobre a poesia popular no Paaguai, Bolívia e Peru, quiçá
Cuba. Mas é impossível. Aqui deixo este trabalho como uma paja para
que demais gente se aventure na estrada. Vale a pena, isso garanto.

E como aperitivo vai aqui mesmo um grande número de poesias


populares, poemas gauchescos, payadas e pajadas, bem como uma
coletânea de pieglos sueltos dos tipos publicados no Chile, mas que
apontam também para a Bolívia, Paraguai e Peru. Tudo isso acredito
que dará uma boa amostragem sobre o tema Por onde andou o
Cordel?.

NOTAS:
[1] José Hernández começou a escrever Martín Fierro no ano de 1869 em Santana do
Livramento (Brasil), continuou em Montevidéu, quando escrevia no diário "La Patria" e
terminou em Buenos Aires (1872). Por isso Martín Fierro é obra integradora, pois foi
escrita em três países: Brasil, Uruguai e Argentina. José Hernández viveu o Martín
Fierro antes de escrevê-lo ao abraçar o seu verdadeiro ideal: a defesa dos Direitos
Humanos e do Federalismo. Em 1869 escreveu artigos pedindo o fim da guerra contra
o Paraguai e a revogação da Lei de Fronteiras. O Governo Sarmiento decretou sua
prisão e pôs a cabeça a prêmio, por isso ele teve de se refugiar em Montevidéu.
Morreu ignorado pelos literatos de seu tempo.

[2] Juan Pedro López nasceu em Echevarría e faleceu em Montevidéu (Uruguai). O


autor de "La Leyenda del Mojón", começou cantando nos cafés dos bairros de
Montevidéu. Mudou-se para a Argentina, onde atuou ao lado de Gabino Ezeiza e José
Betinotti. Em 1929 foi para a Espanha, convidado pelo então célebre aviador Ramón
Franco (irmão de Francisco Franco) e contou para ele a proeza da travessia num
hidroavião de Huelva a Buenos Aires. Juan Pedro López, também autor de tangos e
milongas, foi amigo e parceiro de Carlos Gardel.

[3] Jorge Luis Borges: O ESCRITOR ARGENTINO E A TRADIÇÃO (fragmentos)

Quero formular e justificar algumas proposições céticas sobre o problema do


escritor argentino e a tradição. Meu ceticismo não se refere à dificuldade ou
impossibilidade de resolvê-lo e sim à existência mesma do problema. Acredito que se
nos enfrenta um problema retórico, mais do que uma verdadeira dificuldade mental,
entendo que se trata de uma aparência, de um simulacro, de um pseudo-problema.
31

Começarei por uma solução que se fez quase instintiva, que se apresenta sem
colaboração de raciocínios: a que afirma que a tradição literária argentina já existe na
poesia gauchesca. Segundo ela, o léxico, os procedimentos, os temas da poesia
gauchesca devem ilustrar o escritor contemporâneo e são um ponto de partida e
talvez um arquétipo.

Foi proposta por Lugones em El payador, no qual se lê que nós argentinos


possuímos um poema clássico, o Martín Fierro, e que esse poema deve ser para nós o
que os poemas homéricos foram para os gregos. Acredito que Martín Fierro seja a obra
mais perdurável que nós, argentinos, já escrevemos e acredito com a mesma
intensidade que não podemos supor que Martín Fierro é, como se tem dito algumas
vezes, nossa Bíblia, nosso livro canônico.

Ricardo Rojas estuda a poesia dos gauchescos – ou seja, a poesia de Hidalgo,


Ascasubi, Estanislao del Campo e José Hernández – e a deriva da poesia dos payadores
(1), da espontânea poesia dos gauchos. Faz notar que o metro da poesia popular é o
octossílabo (2) e que os autores da poesia gauchesca manejam esse metro e acaba por
considerar a poesia dos gauchescos como uma continuação ou magnificação da poesia
dos payadores .

Suspeito que há um grave erro nesta afirmação. Poderíamos dizer um hábil


erro, porque se vê que Rojas, para dar raiz popular à poesia dos gauchescos, que
começa em Hidalgo e culmina em Hernández, apresenta-a como uma continuação ou
derivação daquela dos gauchos. Ricardo Rojas faz de Hidalgo um payador. Apesar
disso, segundo a mesma Historia de la literatura argentina, este suposto payador
começou compondo versos hendecassílabos, metro naturalmente vedado aos
payadores.

Entendo que há uma diferença fundamental entre a poesia dos gauchos e a


poesia gauchesca. Basta comparar qualquer coleção de poesias populares com Martín
Fierro, com Paulino Lucero, com Fausto, para encontrar essa diferença, que está não só
no léxico como também no propósito dos poetas. Os poetas populares versificam
temas gerais: as penas do amor e da ausência, a dor do amor e o faz com um léxico
muito geral também. Ao contrário, os poetas gauchescos cultivam uma linguagem
deliberadamente popular. O oposto do que ocorre nos poetas gauchescos onde há
uma busca das palavras nativas, uma profusão da cor local. A prova é esta: um
colombiano, um mexicano ou um espanhol podem entender as poesias dos payadores,
dos gauchos, mas necessitam de um glossário para compreender Estanislao del Campo
ou Ascasubi.

Tudo isso pode se resumir assim: a poesia gauchesca, que produziu obras
admiráveis, é um gênero literário tão artificial como qualquer outro. Nas primeiras
composições, nas trovas de Bartolomé Hidalgo, já há um propósito de apresentá-las
em função do gaucho, como ditas por gauchos, para que o leitor as leia com uma
entonação gauchesca. É provável que agora a poesia gauchesca tenha influenciado os
payadores e eles abundem em crioulismos, mas no princípio não aconteceu dessa
32

forma. Lembro-me, agora, de alguns versos de La urna que parecem escritos para que
não se possa dizer que é um livro argentino. São os que dizem:

“...El sol en los tejados


y en las ventanas brilla. Ruiseñores
quieren decir que están enamorados”.

Aqui parece inevitável condenar: “el sol en los tejados y en las ventanas brilla”.
Enrique Banchs escreveu estes versos num subúrbio de Buenos Aires e nos subúrbios
de Buenos Aires não há telhados e sim azoteas (4). "Ruiseñores quieren decir que están
enamorados”. O rouxinol é menos um pássaro da realidade do que da literatura, da
tradição grega e germânica.

Agora quero falar de uma obra justamente ilustre que os nacionalistas


costumam invocar. Me refiro a Don Segundo Sombra de Güiraldes. Os nacionalistas
nos dizem que Don Segundo Sombra é o exemplo de livro nacional. Mas se
compararmos Don Segundo Sombra com as obras da tradição gauchesca, o que
primeiramente encontramos são diferenças. Don Segundo Sombra abunda em
metáforas de um tipo que não tem relação nenhuma com a fala do campo e sim com
as metáforas dos cenáculos contemporâneos de Montmartre. No que diz respeito à
fábula, à história, é fácil comprovar nela a influência de Kim de Kipling, cuja ação está
na Índia e que foi escrito, por sua vez, sob a influência de Huckleberry Finn de Mark
Twain, epopéia do Mississipi.

(...) Qual é a tradição argentina? Creio que podemos responder facilmente e


que não há problema nesta pergunta. Acredito que nossa tradição é toda a cultura
ocidental e creio também que temos direito a essa tradição, um direito maior do que o
que podem ter os habitantes de uma ou outra nação ocidental. (...) Tudo o que nós,
escritores argentinos, façamos com felicidade pertencerá à tradição argentina, da
mesma forma que o fato de tratar temas italianos pertence à tradição da Inglaterra por
obra de Chaucer e de Shakespeare.

NOTAS:

[1] Homem camponês ou suburbano que, nas festas populares e reuniões, improvisa
canções que acompanha com o violão. Em desafios, defronta-se com outro e vão se
propondo alternadamente temas para improvisar os versos, em uma verdadeira luta
de engenhos. Corresponde-se ao desafio dos cantadores brasileiros.

[2] O verso em espanhol se mede diferentemente que em português: conta-se todas as


sílabas dos versos, sendo que se acrescenta uma sílaba aos versos que terminam em
palavra oxítona e resta-se uma daqueles que acabam em proparoxítona. O octossílabo
espanhol, portanto, corresponde ao heptassílabo português.

[3] Corresponde ao decassílabo brasileiro (cf. nota 2)

[4] Parte superior das casas de teto plano. Terraço.


33

Obs: A propósito da palavra azotea, achei alguns significados mais variados:

(A) Las azoteas y los tejados estaban tan atestados de espectadores, que pensé no
haber visto en todos mis viajes lugar más populoso.

(B) Además de las zonas erógenas que rodean a su clítoris, la mujer tiene otra área
extremadamente sensible en la azotea de su vagina.

(C) Compramos un ático cuya azotea no es practicable, que es "sin uso", es más
nisiquiera la escalera del edificio termina en la azotea sino en mi puerta... el caso es
que quería que me abrieran un hueco en el techo de mi cocina para así poner una
escalera y subir a la azotea.

(D) Lady Gaga estaba hospedada en el Hotel Fountainbleau para dar un concierto pero
ahora ha dado más que eso. Sin miedo a que alguien la pueda captar, Lady Gaga
paseaba desnuda por la azotea del hotel. (Salomão Rovedo)

BORGES, Jorge Luis. Discusión; Obras Completas. Buenos Aires: Emecé, 1957. p.151-
162: El escritor argentino y la tradición. Hipertextos: Graciela Cariello (Univ. Nac. de
Rosário) Aproveitamos a tradução de Fabiele S. de Nardi
34

ANTOLOGIA DE POETAS E PAYADORES

ANTONIO LUSSICH (1848-1928), homem de letras uruguaio, cultivou a poesia


gauchesca, cujo trabalho maior é o poema "Los Tres Gauchos Orientales" (Coloquio
entre os paisanos Julián Giménez, Mauricio Baliente e José Centurión sobre a
Revolução Oriental, circunstâncias do desarme e pagamento do exército). Foi
considerado por Jorge Luis Borges um antecessor de Martín Fierro de José Hernández.
Participou da revista El Fogón, a mais importante do gênero gauchesco, fundada em
1895. Em 1896 adquiriu 1.800 hectares de um território virgem em Punta Ballena,
quase sobre a costa do Rio da Prata, onde iniciou sua grande obra: a criação do
Arboretum Lussich, um enorme jardim botânico natural. Em 1909, participou do
reflorestamento da Ilha Gorriti, cuja fauna e vegetação original tinham sido arrasadas
por um incêndio. Em 1917 vendeu sua participação na companhia de navegação
fundada por seu pai para se dedicar em tempo integral à sua paixão.

COLOQUIO ENTRE LOS PAISANOS JULIÁN GIMÉNEZ, MAURICIO


BALIENTE Y JOSÉ CENTURIÓN SOBRE LA REVOLUCIÓN ORIENTAL
EN CIRCUNSTANCIAS DEL DESARME Y PAGO DEL EJÉRCITO

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Dios lo guarde! Ha madrugao


esta mañana aparcero,
ya tiene al juego un puchero
¡y un churrasquito ensartao!

MAURICIO BALIENTE

Don Julián, ¿cómo le va,


de su cuerpo contra el suelo,
agarró el pájaro al vuelo
¿qué anda haciendo por acá?

JULIÁN GIMÉNEZ

A visitarlo venía
pues nos van a licenciar,
y no me quiero marchar
sin que hablemos este día.

¿Y usté cordial no Baliente,


pero siempre muy prolijo,
¿a que tiene ya de fijo
también el agua caliente?

MAURICIO BALIENTE
35

¡Cuando nada me ha faltao,


soy gaucho muy albertido,
y como hombre prevenido
siempre estoy bien empilchao!

Arrime aquella carona


amigaso y siéntese,
si algo sabe, cuénteme
de esta paz tan comadrona.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Como no, cuñao Baliente,


vaya usté ensillando el mate,
para que ansí mi gasnate
pueda correr delijente!

MAURICIO BALIENTE

Tratemos pues de matiar


¿quiere dulce o cimarrón?
De los dos tengo ración
como poderlo agradar.

JULIÁN GIMÉNEZ

No soy gaucho resongón


como usté guste aparcero,
pero pa elejir prefiero,
al amargo, el con terrón.

MAURICIO BALIENTE

La helada ha sido muy juerte


de campo no mudaremos,
ansí es mejor que prosiemos
de nuestra tan triste suerte.

JULIÁN GIMÉNEZ

Algo serio le he de hablar,


ponga el oído compañero,
que es bastante lastimero
lo que le quiero contar.

MAURICIO BALIENTE
36

A su mancho aquí estoy


tiene pronta mi atención,
córrase más al fogón
porque a echarle leña voy.

JULIÁN GIMÉNEZ

El guacho voy a largar


y oigame amigo Mauricio,
que es de este horrible desquicio
lo que usté me va a escuchar.

Hoy de nuevo la Nación


vuelve a cerrarnos la puerta,
que sólo se encontró abierta
por nuestra revolución;
otra vez es la ocasión
de emigrar al extranjero,
esto por acá está fiero
pa el blanco puro y lial,
y como güen nacional
a otra tierra dirme quiero.

¿Qué les importa a esa gente


nuestros grandes sacrificios,
o si hemos prestao servicios
a nuestra causa, fielmente?;
usté ha de estar bien corriente
con quien vamos a tratar,
y yo, como he de olvidar
a los que han muerto a mi hermano;
y antes de darles la mano
mejor me mando mudar.

Si amigaso don Mauricio


nos han engüelto y boliao,
lindaso nos ha pialao
el General Aparicio;
ya se acabó el sacrificio
y el desarme va a venir,
yo de acá quiero salir
de este enrriedo o barajusta,
y usté aparcero, si gusta
me puede tamién seguir.

Seis años de emigración


37

en suelo extraño tuvimos,


penurias, males, sufrimos
con grande risinación;
cuando vino la invasión
nos encontró decididos
y hoy desgraciaos y vendidos
cono hacienda por dinero,
volvemos al extranjero
dejando bienes queridos.

MAURICIO BALIENTE

Don Julián, ansí es la suerte


fortuna o albercidá,
¡unas veces gloria da
y otras veces da la muerte!

Yo una haciendita tenía


y un rancho de material;
la suerte de en par en par
tuitas seis huertas me abría.

Y sin mermar trabajaba,


pasando alegres los días,
¡cuando yo me pensaría
que ansí mi suerte acababa!

Tuito, tuito se perdió


lo tuve que abandonar,
saqué lo que pude alzar
y a lo demás, dije adiós!

¡La guerra se lo comió


y el rastro de lo que jue,
será lo que encontraré
cuando al pago caiga yo!

Y una prenda yo tenía,


su ricuerdo me entristece,
la vista se me humedece
al acordarme tuabía,
triste para mi jue el día
que tuve que separarme,
para dir a presientarme
a mi causa voluntario:
¡siempre traigo el relicario
que ella medió al ausentarme!
38

La guerra cuñao siguió


y la que ansí me quería,
vivir sin mi no podía
y la pobre se murió;
dende entonces ando yo
echando al aire lamentos,
que son quejosos acentos
de un alma de amor partida;
que en esta tan triste vida
sólo encontró sufrimientos.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Ha sentido usté esa muerte!


El ricuerdo lo ha abatido,
está tristaso, aflijido
¡que quiere cuñao! ¡la suerte!

MAURICIO BALIENTE

Don Julián, si usté sabiera


Lo que se sufre en amando,
¡uno vive suspirando
aunque suspirar no quiera!

Ella es su prenda querida


ella es su sueño durmiendo,
sin ella vive sufriendo
sin ella ¡pa que es la vida!

Pero vamos a dejar


eso amigo, en la ocasión
yo no encuentro una razón
en lo que acaba de hablar,
lo he sentido a usté culpar
al General Aparicio,
el que tanto sacrificio
ha hecho dende la invasión;
voy a darle mi openión
y causa de este desquicio!

¡Usté se acuerda, cuñao!


el suelo patrio pisamos,
y a poco andar lo golpiamos
a Frenedoso el mentao;
de allí juimos a otro lao
39

tierra adentro cabriolando,


de vez en cuando sentando
lindo la gama, aparcero;
es decir a lo certero
porque díbamos triunfando.

Y el que no aflojaba a uaides


en crudaso y terutero,
jue a golpiarse con su apero
hasta la gran Güenos Aires;
diciendo que por desaires
de su pago se había alsao;
mienta criollaso a otro lao,
cuente lo que ha sucedido,
que en el Rincón jue vencido
don Másimo y redotao.

Tamién con Carabajal


lindamente nos topamos,
¡pucha digo! si lo arriamos
como yeguas a un corral;
y don Castro el General
nunca olvidará a Espuelitas,
pues le dimos tortas fritas
hasta que quedó atorao;
¡ese día si he carchao
prendas de plata nuevitas!

Dispués vino Ceverino


allí rayamos los pingos;
que día de matar gringos
si era lansiar a lo fino:
ricuerda cuando se vino
aquel batallon a un flanco
que cargaba quepi blanco,
ahí si jue berenjenal
y vieron que el nacional
no había sido ni era manco.

En Mercedes, Corralito,
en Soriano, y en la Unión,
siempre y en tuita ocasión
sabimos pegarle al frito;
pero por Cristo bendito
se vino el dotorerio,
de bombilla y tinterio,
y ya empezó el barajuste,
40

sin que habiese más ajuste


peliaban po el poderío.

Andaban como manada


los ases en esa Unión,
haciendo la división
y basa con la gauchada;
hasta con la muchachada
pueblera que había venido,
les hablaban de un bandido
tal o cual pa su interés;
ansí que dende esa vez
jue cayéndose el partido.

De allí templamos cuñao


pa con Suárez retozar,
cuando juimos a acordar
el pájaro había volao;
Se nos había eclisao
de la Sierra ese gilguero,
y hasta el Sauce compañero
no se nos quiso sentar:
¡más vale no ricordar
lo que pasó allí aparcero!

Que retirarnos tuvimos


dispués de esa grande aición,
ese día la opinión
por casi, casi perdimos,
pero pronto nos golvimos
otra vez al gran montón,
y vivando a la Nación
estubimos disponidos,
pa peliar a los bandidos
con valor y decisión.

Ya se estaban desgranando
tinterillos delicaos,
y los de en silla, montaos
tamién se estaban sentando;
sólo nos juimos quedando
los güenos y parejitos,
lanciadores probaditos
y nada de entreveraos,
otra bez ansí cuñaos
nos juntamos los puritos.
41

Pero pa más estrupicio


los letraos se nos golvieron,
y ya tamién disunieron
a Munis con Aparicio;
ay empesaron su oficio
de entregas y plumería,
ansí que de día en día
la cosa se jue mermando,
y el patriotismo acabando
con esa ambición que había.

¡Don Julián! sólo un dotor


salió güeno y guapetón,
ese no afloja al botón
es letrao y escrebidor;
güen gaucho como el mejor
pa entreverarse en pelea,
su lansa remolinea
como culebra enojada;
siempre sale ensangrentada
¡jue pucha! que colorea.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Que me bá a decir Baliente!


lo conosco de piapa;

MAURICIO BALIENTE

¡Pucha! nada se le escapa


conoce a tuita la gente.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Cómo no conocer yo
al Coronel más mentao,
que ande quiera que ha peliao
de siguro que triunfó!
Dolores, Tacuarembó,
Cuñapirú y los Queguays,
y en tuitas partes del país
Salvaña, es tan conocido,
como ese pasto estendido
que en tuita tierra echa rais.

¡Y qué mozo! da calor


verlo montao en su flete,
42

bien aperao y paquete


y peine para el amor;
tenía un bayo rayador
como benao de lijero,
siempre con él el primero
dentraba con bisarría,
¡ay juna! daba alegría
el ver a ese compañero.

MAURICIO BALIENTE

Aura si que me ha tirao


dos cuerpos en la carrera,
será por la vez primera
que otro me haiga aventajao.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Quien me ha ganao a prosiar


a bailarín ni a cantor,
ni a manates de mi flor
le he sabido recular.

MAURICIO BALIENTE

Ansina yo me he esplicao
por la queja que usté dio,
no es el general, crealo
quien nos deja tan tiraos;
son unos cuantos letraos
mala plaga de este país,
que el diablo les diera mais
en vez de pluma y tintero;
o alfalfa de algún potrero
y otras yerbas, ¡e ainda mais!

JULIÁN GIMÉNEZ

Tamién medio portuguez


amigaso es por lo visto;
¡no tiene nada de cristo
cuando canta alguna vez!

MAURICIO BALIENTE

Ansí soy yo, dibertido,


pero cuando el lomo hincho,
43

¡sambullo como el capucho


que de cerca es persiguido!

JULIÁN GIMÉNEZ

Tiene razón y no miente,


mejor habiéramos ido,
si nunca habiese venido
a enviedarnos esa gente;
que se llama inteligente
y nos quiere enbozalar,
para hacernos cabristiar
y servirles de estrumentos,
por que tienen el talento
de las lauchas pa uñatiar.

A la raya acérquese,
¿que le gusta, paz o guerra,
o emigrar para otra tierra?
sin tapujo esplíquese;
bien se sabe, ya se ve,
la patria es mejor dejuro,
pero tamién le asiguro
que tranquilo no va a estar,
pues se lo van a limpiar
y yo, por eso me apuro.

Como quedar no va a haber


van a enlasarnos mansitos
y como a los corderitos
pialar nos han de querer;
conmigo no han de poder,
soy arisco pa promesas,
¡que no me vengan con esas!
¡Es falso ese oro aparcero!
¡Enjaulen a otro jilguero,
no son para mí esas presas!

MAURICIO BALIENTE

Yo no sé que retrucar
estoy como un ay de mí,
es tanto lo que sufrí
que no sé ni ande dentrar:
¡dese güelta! va a llegar
nuestro amigo Centurión,
de juro en esta ocasión
44

su parecer nos va a dar;


¡llámelo! ¡se va a acercar
y paremos la atención!

JULIÁN GIMÉNEZ

¿Qué es eso don Centurión?


de largo pasa este día,
está la mañana fría
¡alléguese a este fogón!

¡Aprosímese a está yunta!


¿Y como va ese valor?
véngase al calentador
y chupará por la punta.

JOSÉ CENTURIÓN

Aunque voy medio apurao


quiero acetarle el enbite,
pues ya he tomao el desquite
en lo mucho que he trotiao.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Está gordaso su flete!

JOSÉ CENTURIÓN

¡Como no, le doy gramilla,


pa que no afloje en la orquilla
si lo monta algún paquete!

JULIÁN GIMÉNEZ

¿Qué quiere decir usté?


¡Ya lo piensa regalar!

JOSÉ CENTURIÓN

Me lo acaba de comprar
Pelais el de San José.
Como es gaucho paquetaso
le gusta ensillar güen pingo;
¡pa montar ni es medio gringo
sino paisano amachaso!
45

JULIÁN GIMÉNEZ

¿Qué se dice por su cancha


qué tal está con la paz,
yo creo que es nada más
pa nuestra causa otra mancha?

JOSÉ CENTURIÓN

¡Déjemne, ya prosiaré
dispués de desenfrenar;
le voy la sincha a aflojar
que él pellisque, y yo hablaré!

JULIÁN GIMÉNEZ

¿Tiene estaca?

JOSÉ CENTURIÓN

Y de mi flor,
¡cuando yo ando desprovisto,
siempre tengo tuito listo
de la jerga al maniador!

Soy gaucho lindo y parejo


de bosal, laso y coyunda,
poco me enrriedo en la junda
de mi reborber ¡canejo!

JULIÁN GIMÉNEZ

Dejémonos de parola,
vamos al frito, que ya
estamos con ansiedá
pa que nos largue la bola.

JOSÉ CENTURIÓN

Que tienen para empinar


que el garguero está en ayuna,
dende que salió la luna
que no sé lo que es chupar;
mas hoy nos van a pagar
y las botas nos pondremos,
pucha ¡que le pegaremos
al trago fiero! ¡cuñaos!
46

Vamos a quedar mamaos,


porque ya la paz tendremos.

JULIÁN GIMÉNEZ

Sabe que es usté ladino,


no se cansa ni un momento;
¡su lengua es el movimiento
de la rueda de un molino!

Si me hace acordar a un pion


estrangis que yo tenía,
era labia tuito el día
en su idomia aquel nación.

Y pa mi era una ceguera


sin poderlo remediar,
tuito se golvía hablar
que en su tierra rico era.
Que tenía allí que tanto
¡trigo, mais, verdulería;
y pienso que si tenía
sería en el camposanto!

JOSÉ CENTURIÓN

Y sabe que uste no mengua


ya andamos medios parejos,
nunca le faltan consejos
y sin pelos en la lengua.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Ya me tiró en la parada!


Pero lárguese por fin,
¡No está oyendo este el clarín
que está tocando carniada!

JOSÉ CENTURIÓN

¡Tráiganse pues el porrón


que a flus no quiero quedar,
por la prenda he de empinar
que me roba el corazón!

JULIÁN GIMÉNEZ
47

¿Quién es la favorecida?

JOSÉ CENTURIÓN

Eso sí quiero contar;


¡me gusta desembuchar
y hablarles de mi alma y vida!

Cuando juimos a la Unión


a sitiar Montebideo,
¿recuerdan ustedes creo
que mandaba medio tristón?
Como no, mi corazón
del cuerpo se me saltó,
y tan juerte relinchó
como bagual sin bastera,
pialao por la vez primera
que un domador ensilló.

JULIÁN GIMÉNEZ

¿Pero por qué corcobiaba


tan juerte don Centurión,
desembuche la razón
de lo que ansí lo atristaba.

JOSÉ CENTURIÓN

¡Saben que cuando un puñal


dentra con juerza en el pecho,
caí al suelo uno derecho
sintiendo un agudo mal!

El amor es como un tajo


que a fondo va al corazón,
si antes con prebisión
no le dice ¡aquí te atajo!

¡Y como podrá pararse


el tajo para librarlo,
si no se siente clavarlo
tampoco podrá quitarse!

¡Pero cuando ve que aprieta,


usté se larga sin más;
ni vuelve la cara atrás
dejándolo al muy sotreta.
48

Pero siguiendo mi cuento


empriéstenme su atención,
sino esta linda ocasión
se la va a llevar el viento.

Cerca del Paso Durana


una manguera se hallaba,
y una quinta, donde estaba
la que ha sido mi tirana;
jui por allí un mañana
y oí un canto, ¡que si viera,
del Cielo creí que saliera
y haí no más paré la oreja
haciéndome comadreja,
me quedé oyendo de ajuera!

¡Pero que tiernos lamentos!


¡Qué tristesa! ¡qué aflición!
Si el más duro corazón
debiera sentir tormentos,
al escuchar los acentos
de aquella voz lastimera,
si alzar el vuelo pudiera
me le había emparejao,
y algo le habiese cantao
a esa mujer hechisera.

Dispués se salió a la puerta,


entonces más me almiré;
¡le asiguro que quedé
con tamaña boca abierta!

¡Qué brillantes rilumbrosos!


¡Ni en el cielo las estrellas
alumbran nunca tan bellas
como la luz de sus ojos!

¡Qué cutis! Dios nos dejara


como escarcha blanco era,
si hacerme pulga pudiera
lo sangre yo le chupara!

Otra también se salió


¡madre mía! que gran cosa,
linda como mariposa
que en un rosal se perdió.
49

A dos más bide benir


de Cristo ya me pasaba,
¿por qué de allí no templaba
quedrán ustedes decir?

¡Es que estaba tan pegao


como la mugre a sus güesos!
¡Como al tacaño los pesos!
¡Como el engrudo colao!

JULIÁN GIMÉNEZ

Ya se nos volvió a ladiar


con su prosa compañero,
¡sujete más el garguero
y deje de retozar!

La mugre aunque cosa fiera


siempre se puede lavar;
¿y usté como va a sacar
del cuerpo su madriguera?

JOSÉ CENTURIÓN

Se equiboca mi criollaso
ni un tubiano yo ya tengo,
en este momento vengo
de darme un bailo amachaso.

Siguiendo mi rilasión,
otra salió ¡qué lucero!
más brilloso y hechicero
que aquel de la madrugada.

Ellas en mí se fijaron
y una a la otra dijo ansí;
¡Qué andará haciendo po aquí
este moro, y me miraron!

¿Cómo lo pasa, señor?


No gusta unté descansar,
puede a la sala pasar
¿quiere hacernos tal honor?

Nada me hice del rogar


y el pellón le refalé
50

a mi flete, y lo dejé,
sujeto en un matorral.

Pero sin saber por qué,


ni en lo que en mí yo sentí,
sé que a las mosas seguí
y fue a la casa dentré.

Allí tuitas cariñosas


quién era yo, me dijieron,
y a una viejita trajieron
aquellas muy güenas mosas.

Sentada estaba y sufría


una grande enfermedá,
era el ritrato en verdá
de nuestra Virgen María.

La pobre me saludó
de güen modo y cariñosa,
había sido muy hermosa
en su mocedá, creo yo.

Muy mucho me agasajaron


y una tocó un estrumento;
¡qué manos! qué movimiento
del tuito me intusiasmaron.

¡Qué guitarra! ¡qué acordión!


¡qué flauta! ¡ni qué pandero!
¡Si aquello diba certero
al medio del corazón!

Otra de ellas me ofertó


colijo jue la cantora,
¡una debisa dotora,
que bordadita me dio!

Dende entonces les tomé


pasión grande y hermanal,
amor puro y sin igual
que en mi pecho lo encerré.

No es ese amor quemador


como brasa que está ardiendo,
y tuito va consumiendo
con su juego matador.
51

¡Es el amor que en el alma


suavesito va creciendo,
y nunca vamos perdiendo
por él, la paz ni la calma!

¡Es la pasión adorada


que tiene la flor de rosa,
cuando ve salir briosa
la aurora tan esperada!

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Acabe no Centurión
que esa yerba ya ha cansao,
en tuabía usté no ha hablao
de la paz de esta ocasión!

JOSÉ CENTURIÓN

Tiene razón, pondré fin


al amor, penas, dolores,
¡dejaremos esas flores
pa dentrar a otro jardín!

Aunque el amor y la guerra


son casi de un parecer,
nos hiere el uno sin ver
nos echa la otra por tierra.

¡Yo prefiero un entrevero


ande se pueda chusiar,
que con polleras peliar
para decirles te quiero!

JULIÁN GIMÉNEZ

No es cristo don Centurión


¡ah grullo que ha pelechao,
el amor lo ha refinao
dele pues al pericón!

Vea si viene el mercachifle


de la caña, mi aparcero,
que hacer gárgara yo quiero,
y echar un poco en el chifle.
52

Yo no entiendo más pasión


ni más requiebros ni amores,
que respirar los olores
de jinebra un güen porrón.

¡Ella pa mí es la razón!
¡y el anís el sentimiento!
¡el licor es mi lamento!
¡y la caña el corazón!

JOSÉ CENTURIÓN

Si el barbijo más aprieta,


don Julián hoy va a salir,
compositor de a pedir;
e intelijente pueta.

JULIÁN GIMÉNEZ

Ya me quieren engolver
no son lauchas pal menudo;
nunca naide pa mí pudo
¡cuando el querer es poder!

JOSÉ CENTURIÓN

Óiganme, voy a empezar


lo que si ya les aviso,
que es más largo que chorizo
lo que quiero rilatar.

En mi puesto me encontraba
con un terne divertido,
pegándole decidido
a una jugada de taba;
cuando siento se acercaba
un soldao de polecía,
el que a dos laos se venía,
y hasta el cerco se allegó
sin tapujos, y me dio
un papel que me traía.

Lo mandaba el comisario
de nuestro pago el Minoano,
medio diablón el paisano
y pa los blancos corsario.
53

En el papel me decía,
amigo don Centurión,
es llegada la ocasión
de amostrarse en este día;
Aparicio y compañía
nos acaban de invadir,
apróntese pa venir,
limpie su lansa y el sable,
que mañana es muy probable
que en su busca hemos de dir.

Sin querer nada esperar


las pilchas a luz saqué,
el sable y muarra limpié
y me dispuse a marchar.

De un facón que tenía allí


y de tacuara una caña,
hice una lanza tamaña
poniéndole un tongorí.

Dejé el puesto al capataz


con la haciendita y el rancho;
y dije, ¡ya está el carancho
que se vengan los demás!

Me alzé con tuito mi apero,


freno rico y de coscojas,
riendas nuevitas en hoja
y trensadas con esmero;
linda carona de cuero
de vaca muy bien sobada,
jergas, bajeras, ni nada
de las carchas olvidé
hasta mi chapiao cargué
de pura plata labrada.

Copas, fiador y pretal


estribos y cabezadas,
con nuestras armas bordadas
de la gran Banda Oriental;
no he güelto a ver uno igual
recao tan lindo y paquete,
¡ay juna! encima del flete
como un sol aquello era,
ni recordarlo quisiera
pa que ¡si es al santo cuete!
54

¡Qué cojinillo llevaba!


de hilo puro y tan tupido,
para hacer un lindo nido
cuando la gente campaba;
y un poncho que me quedaba
de paño fino lo alcé,
al fin casi completó
del tuito mi pilcherío,
lo que si del platerío
otras cosas más saqué.

Mis espuelas macumbés,


mi rebenque con birolas,
rico facón, güenas bolas,
y linda manea, llevé;
para el tirador me alcé
diez pesos en plata blanca
pa llegar a cualquier banca,
pues soy medio jugador;
¡no me arrolla ni el mejor
ni tengo la mano manca!

Monté un saino brasiador


pingo grande y parejito,
para andar muy asiadito
y bastante escarciador,
¡su cuerpo daba calor!
y el herraje que llevaba
como la luna brillaba
en noche de escuridá;
yo con orgullo en verdá
en su lomo me sentaba.

A los tientos del recao


puse el poncho y até el laso,
tamién arreglé de paso
un maniador muy sobao,
con presillas, bien cortao
estacas, y una maceta,
tuito sampé en mi maleta,
y además até al bozal
una mordaza oriental
bien hechita y muy paqueta.

JULIÁN GIMÉNEZ
55

Amigo don Centurión


¿pa tantas pilchas colijo,
llevaría usté de fijo
carguero con tal montón.

JOSÉ CENTURIÓN

En la vida andar tirando


me ha gustao un mancarrón;
y menos en la ocasión
llevar uno cabristiando.

JULIÁN GIMÉNEZ

Vamos dejuro aparcero


a tarjarle el chiripá,
tantas tarjas tiene ya
que se parece a un arnero.
No se empaca pa contar
ni es lerdo en la rilasión,
ya va largo el pericón
acabe pues de prosiar.

JOSÉ CENTURIÓN

¡Ya le albertí antes de ahora


que el petardo era largaso,
como tres tiros de laso,
y una consulta dotora!

JULIÁN GIMÉNEZ

Si siempre tiene salidas


este fantasma embrujao;
hasta a el diablo lo hace a un lao
con tan juertes embestidas.

JOSÉ CENTURIÓN

Ansina soy, y seré


ansina marcho viviendo,
el mesmo seguiré siendo
y el mesmito moriré.
Pero no corten la hilada
de la historia que seguía,
sino ni basta este día
pa que se quede acabada.
56

Me salí de aquel tirón


con tantas prendas de plata,
que del cogote a la pata
era un vivo rilumbrón.

JULIÁN GIMÉNEZ

Usté va a sacar de aquí


más de veinte rajaduras,
tarjas y melladuras
si sigue prosiando ansí.
¡Si no quedará esquilmao
pa mentir don Centurión!
¡que labia al santo botón,
va pareciendo un letrao!

JOSÉ CENTURIÓN

No soy criollo de esa gente


llamada letra menuda,
pero usté no ponga duda
que soy gaucho entiligente.

JULIÁN GIMÉNEZ

¿Cómo es eso amigo Mauricio?


Como su labia sujeta,
¡haber pues tamién si aprieta
o habrá ya dejao el vicio.

MAURICIO BALIENTE

¡Cuando diantre yo he apretao!


Siempre me gusta escuchar,
y dispués que oigo prosiar
abro entonces mi candao.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Con que quedrá ser alcalde


pero su ley será poca!

MAURICIO BALIENTE

Me gusta verle la boca


cuando quiere hacer alarde.
Denle duro al mancarrón
57

que no afloje en lo parlero,


en tanto que yo el puchero
voy a sacar del fogón.
¡pucha! que esta espumadito,
¡qué churrasco bien asao,
córranse para este lao
y corten del calientito.

JULIÁN GIMÉNEZ

¡Si este Baliente, es matarse!


Pa tuito tiene albertencia,
y una grande conocencia
pa siempre desempeñarse.

MAURICIO BALIENTE

¡Están hablando de hambre


y quieren que los combiden;
de los que ni dan ni piden
es este rico matambre.

JOSÉ CENTURIÓN

Y yo que no me iba a piar


¡pucha! sonso habiese sido,
porque me habiera perdido
poder de arriba embuchar.

MAURICIO BALIENTE

¡Qué don José, tan diablón


siempre tiene dicharachos,
y algunos dentres amachos
pa chantar cada ocasión!

JULIÁN GIMÉNEZ
El puchero y el asao
hay de juro que asentar,
¿quién me quiere convidar
con un negro bien armao?

MAURICIO BALIENTE

Cigarro le voy a dar


pero si quiere ármelo,
porque este lo arreglo yo
58

a mi modo de pitar.

JULIÁN GIMÉNEZ

En la comida perdimos
nuestra gran conversación.

JOSÉ CENTURIÓN

Voy a limpiar mi facón


y ya otra vez la seguimos.
Siguiendo la rilasión
salió mi flete escarsiando,
y yo una copla cantando
de la guerra al pericón;
la pierna en esa ocasión
lindamente me gustaba,
y hasta el saino relinchaba
de contento, créamelo;
por eso colijo yo
que el batuque le agradaba.

Un tiro largo, trotié


pa de paso visitar,
un viejaso melitar
en la barra del Cufré;
cuando a la estancia llegué
con gusto me recibieron,
y desencillar me hicieron
pa que mi flete pastiara;
y ya sin finas que dentrara
entre tuitos me dijieron.

Pregunté por mi tocayo,


y mi comadre me dijo,
que había ensillao de fijo
al primer canto de gallo;
llevando el mejor caballo
que en su tropilla tenía,
pa llegar con sol tuabía
a la estancia de Carrión,
ande había una riunión
de blancos para ese día.

Entonces me dio pesar


y quedé medio tristaso
ella me dijo de paso
59

lo que yo voy a contar.

Compadre don Centurión,


esto en confianza le digo
yo sé que usté es nuestro amigo
y no nos hará traición;
a más es de la opinión
y por eso le he albertido,
pa que quede prevenido
que Aparicio ya invadió,
y mi marido marchó
a riunirse a su partido.

¡Pobre viejo mi tocayo


siempre guapo y tan patriota,
no andaba espiando a la sota
para ensillar su caballo!

JULIÁN GIMÉNEZ

En los juegos de la tierra


hay que andar muy delijentes,
no hacen basa los suplentes
en los naipes de la guerra.

JOSÉ CENTURIÓN

Otro paisano llegó


con el pingo muy sudao,
y venía tan trasijao
que al llegar se le aplastó;
uno pa mudar pidió,
se echó al corral la manada,
y a la primer reboliada
un oberito enlasó,
ahí mesmito lo sentó
de una solo rastrillada.
Forastero ser debía
de un pago medio lejaso,
pues preguntó por el paso
que más cerquita estaría;
diciéndonos que tenía
de dirse, gran presición,
de baqueano en la ocasión
me oferté para endilgarlo,
y en la picada dejarlo
a seguir su comisión.
60

Yo me fijé en el apero,
sencillito, y sin chapiao,
eso sí, poncho forrao
como para un aguacero,
un facón muy terutero
le bide yo de un gataso,
y un pistolón trabucaso
de su cintura colgaba;
en guascas no le faltaba
dende los tientos al laso.
Mi comadre lo embitó
pa que un rato descansase,
y un matesito tomase
que aunque de priesa acetó.
Comenzamos a prosiar,
y del paso le abisé,
que estaba muy bola a pie
y difícil de pasar;
más que lo diba a llevar
a una picada matrera
en donde pasar pudiera,
si él me quería endilgar
pa que rumbo iva a tirar
si curiosidá no era.

Como el apero me vio


el sable, trabuco y lansa,
Colijo, que gran confiansa
no tuvo, y me receló;
Ansí lo malicié yo,
y le dije, mi aparcero
usté de acá es forastero
pero entre amigos está,
tal vez no conocerá
otra cosa compañero.

De la orilla del Cufré


a la más alta cuchilla,
naide lo afrenta ni humilla
a este gaucho que usté ve;
he sido, y siempre seré
el taita entre los de aquí;
pero siempre fiel le jui
al que de amigo le hablé;
y de hoy suyo lo seré
¡y esos cinco deme a mí!
61

Ande quiera es Centurión


amigo de sus amigos,
terror de los enemigos
y criollaso de riunión;
no soy manso pa el facón
y lo que es pa barajar,
como pulga en el picar
de listo, soy rajacuero;
y pa más, soy el puestero
del estrangis más bosal.

Don Fruto me retrucó


con voz rellena y muy juerte,
¡alabo mucho su suerte
y sépase quién soy yo!

Me llamo Fruto de nombre


y Costa de apelativo,
de gaucho guapo y altivo
tengo en mi pago renombre,
le asiguro que no hay hombre
más mentao en el Chaná,
ni la mesma autoridá,
me lleva con el encuentro,
ellos saben que ande dentro
respetao tuito será.

Aunque me ve medio viejo


tamién me gusta el amor,
y soy pa compositor
peine que ni liendres dejo;
en tuito yo soy parejo
soy gauchaso y soy dotor,
pa bailar soy volador
y en el eje soy lijero,
¡es al fin un terutero,
don Costa, su servidor!

Y ya que nos relinchamos


¿vamos a desembuchar?
Si se quiere emparejar
de esta cancha nos ladiamos.
Con tapujos jamás ando
y ande quiera decensillo;
¡ni me engüelbo en el obillo
y tuito a guardar lo mando!
62

¡Con qué don Fruto sea franco


ahí mesmo le pregunté;
¿De que opinión es usté,
será colorao o blanco?

Aunque el viejo era matrero,


me dijo, le tengo fe,
y ahora mesmo empesaré
¡y ansí se vino al pandero!
Usté me parece lial
amigo don Centurión,
¡voy a abrirle el corazón
como lo hace el Oriental!

Paisano soy y he de ser,


y de la blanca debisa,
no es bordada, sino lisa
pero la sé defender;
ande quiera lo hago ver,
y ahora voy a la riunión
a ofertar a mi opinión
este brazo en su servicio,
para ayudar a Aparicio,
en su gran rebolución.

¡De este compinche la mano


que la apriete usté yo quiero,
de hoy más tiene un compañero
para peliar al tirano!
Nunca José Centurión
pelió contra su partido,
jue siempre muy decidido
pa ayudar a su opinión;
ya que empieza el pericón
para el frito nos iremos,
y allí juntos bailaremos,
vamos pues a presientarnos,
y ante Aparicio mostrarnos
que recibidos seremos.

¡Y eché al diablo al comisario


que la carta me escribió,
pa mi causa me iva yo
como blanco partidario!
Y a don Fruto le conté
del cristo que me escribió,
63

muy mucho lo dibertió


el modo que lo engañé.
A esas horas ya la cruz
de juro que me habría echao
lo había al sonso madrugao,
¡y con patas de avestruz!

Seguimos siempre marchando


en un bajo, y por la orilla,
de una machasa cuchilla
la que estábamos costiando;
cerca digamos llegando
a una estancia y pulpería;
el hambre nos perseguía
y era tiempo de embuchar,
allí fuimos a buscar
por si algo pronto tenía.

¡Llegamos a la ramada
de la esquina o del boliche,
pedí al pulpero un espiche
pa tomar la convidada!

¡Jue pucha! que mostrador


pintao de negro por junto
¡como cajón de dijunto
de tamañaso grandor!

¡Y qué le parece hermano!


Le dije, ¿hay que churrasquiar?
Aber patrón nos va a abiar
con algo que tenga a mano.
Sino, es cosa de un ratito
armarnos de un asador,
de ese membrillo cantor
y chantarle un churrasquito.
Que entre los gauchos cumplidos,
pocas güeltas debe haber,
pedir, pagar, y querer
son siempre güenos partidos.
Pero el gringo no era lerdo,
y no se enredó en las cuartas,
pronto llegó con dos sartas
de chorizos, ¡puro cerdo!

Ansí me gusta amigaso


usté está bien engrasao,
64

de juro ha de estar sobao


en la mordasa de un laso.

Les asiguro en verdá


que don Fruto era parlero,
como loro barranquero
de primera calida.

COLOQUIO ENTRE LOS PAISANOS MAURICIO BALIENTE Y JOSÉ


CENTURIÓN

MAURICIO BALIENTE

¿Por acá don Centurión?


Bien haiga con su madrina
¡A que al rastro de una china,
se ha largao esta ocasión!

CENTURIÓN

Ni por pienso dio en el punto,


le diré él porque llegué:
de mi pago me ausenté
por librarme ser dijunto.

BALIENTE

Esa es cosa muy formal


y serio se pone el caso.

CENTURIÓN

Dentro de un rato amigaso


oirá el gran merenjenal.

¿Y a usted que tal le va yendo?

BALIENTE

Medio cordial de salú


pero de riales a flüs
de esta cancha van juyendo.

Pucha que se ha güelto viejo,


tiene la barba y el pelo
como esas nubes del cielo
de un blanco medio azulejo.
65

CENTURIÓN

¡Que quiere amigo Baliente,


las penurias de esta vida
me han puesto el alma abatida
y el corazón impotente.

Tanto he sufrido cuñao


tan mala ha sido mi suerte,
que muchas veces la muerte
al Cielo se la he clamao.

BALIENTE

Siempre triste don José


porque ingrato es su destino;
corte hermano otro camino.

CENTURIÓN

¡Si el mesmo sino tendré!

BALIENTE

Nunca sea desconfiao,


son cambios que tiene el hombre,
y quien por ellos se asombre
jamás saldrá bien parao.

CENTURIÓN

Quiera oír su voto el Cielo,


y sus palabras de aliento
no se pierdan en el viento,
trocando en suerte mi duelo.

BALIENTE

Suelte a volar su carancho,


y cuente la albersidá
que lo ha traído por acá,
abandonando su rancho.

CENTURIÓN
66

Para la oreja aparcero,


escuche y no se me asuste,
que tuito el desbarajuste
le contaré por entero.

BALIENTE

Tiene pronta mi atención,


estoy dispuesto a escucharlo,
largue el royo sin cortarlo
de esa fiera rilación.

CENTURIÓN

Mas antes de rilatar


acomodaré a mi obero,
que por él salvé este cuero,
que quisieron ojalar.

BALIENTE

Metaló aquí en la ramada


y tomando un cimarrón
me contará la aflisión
de esa su alma atribulada.

¡Ah! ¡Pingo para un apuro!


Y de yapa que es cruzao.

CENTURIÓN

Montando en él, no hay venao


contra mis bolas siguro.

Esa suerte Dios me dio


ni al más pintao embidéo,
no muento maula ni feo
demasiao maula soy yo.

BALIENTE

No se achique mi aparcero,
como cuadro es de valer,
¡porque sin merma ha de ser
aquel gaucho terutero!
Que otro tiempo jue el primero
pa la guerra y el amor,
67

pueta de menta y cantor


letrao de labia y de cencia
su nombre siempre en la ausencia
fue alabao como el mejor!

CENTURIÓN

No amigaso, con los años


todo se pierde en la vida,
lo que fue ilusión querida
hoy se cambió en desengaños.

BALIENTE

Boy a prender un tisón


¿Tiene mistos compañero?

CENTURIÓN

¡Cuando le ha faltao yesquero


al que es gaucho de fogón.

BALIENTE

¡Ah terne! Siempre el mesmito,


sólo en el pelo ha cambiao,
y el cuero más chamuscao,
pero en genio, ni un chiquito.

CENTURIÓN

Y usté tamién ño Baliente,


con su peso y con su calma
da caídas que van al alma
¡y queman como aguardiente!

BALIENTE

Alcance de aquel montón


charamujas pa quemar,
verá en un rato chispiar
como yesca este fogón.

Sirba de más, de ahí arriba


descuelgue aquel asador,
tengo un asao de mi flor
para templar la barriga.
68

¿Su buche ha de andar flacón?

CENTURIÓN

Como maleta vacida.

BALIENTE

Ganelé, pues, la partida


y delé doble ración.

Aura trate de domar


ese vientre tan arisco,
si se amansa del peyisco
nos saldremos a pasiar;
de paso lo he de llevar
a una güena pulpería
y aunque sea con lejía
mamaos hemos de salir;
¡Para que tristes vivir
pudiendo haber alegría!

CENTURIÓN

¿Pero digamé cuñao


tan sólo se encuentra aquí?

BALIENTE

Si siempre solo viví,


y solo, el mundo he traquiao.
Pa las hembras soy curao,
pues no me enriedo en sus tientos
soy libre como los vientos,
como en el aire el chajá;
y el amor nunca me hará
salir del pecho un lamento.

CENTURIÓN

De una piscoira me habló


cierta vez, que había tenido,
y siguiendo a su partido
de esa prenda se ausentó,
la que de pena murió
(Dios la tenga en santa gloria),
69

pero siempre en su memoria


ritratada la tenía;
cuasi lloraba ese día
cuando rilató su historia.

BALIENTE

Olvide ño Centurión
ese recuerdo tan triste,
que mi pecho no resiste
y me parte el corazón;
cuentemé la rilación
de lo que a usté le ha pasao;
qué trifulca lo ha obligao
abandonar la querencia,
tal vez su sola alvertencia
de algún pango lo ha salvao.

CENTURIÓN

Voy a contarle Baliente,


que por poco mi peyejo
en un cañadón lo dejo
dijuntiao por un Teniente,
que sirve con la otra gente
y me quiso madrugar,
saqué el cuerpo, por parar
el golpe y pelé mi corbo,
y en menos que se echa un sorbo
pa el otro mundo jue a dar.

BALIENTE

¿Cómo jue eso don José?

CENTURIÓN

Lo que está oyendo derecho


y en pelea pecho a pecho
contra el hoyo lo largué.

Su gefe me lo mandó,
como güeno yo colijo,
a sorprenderme de fijo
porqué al rancho se dentró;

Y ahí no más me preguntó


70

si era blanco o colorao;


yo que en la vida he negao
la openión en que nací,
le dije, que blanco fi
dende que el mundo he pisao.

Ya me pretendió atrasar
y quiso cairme de hachasos,
sin recularle ni un paso
esta, le mandé guardar;
y de hay me largué a ensillar
ya una partida venía,
para enterrarme sería
si había estirao la pata.

BALIENTE

El tiro por la culata,


velay les salió ese día.

CENTURIÓN

Cerré piernas al crusao


y él quedó allí pataliando,
su gente estará rezando
que no muera condenao,
intértanto yo he salvao
por no ser tan mal ginete,
y a las patas de su flete
debe este gaucho la vida;
¡Que es cosa muy desabrida
el perderla al santo cuete!

El muerto estará en el cielo


pueda que Dios lo perdone,
mientras yo mil afliciones
voy pasando en este suelo.

BALIENTE

Ansí en el mundo es la suerte;


hoy contento se creerá,
mañana tal vez tendrá
que hacerle frente a la muerte.
71

JAIME CAETANO BRAUN (1924-1999), foi o mais renomado payador brasileiro,


prestigiado na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Conhecido como El Payador e
utilizou o pseudônimo de Piraju, Martín Fierro, Chimango e Andarengo. Payador,
poeta, radialista e compositor, Jaime Caetano Braun nasceu na Timbaúva (RS).
Escreveu e compôs diversas payadas, poemas e canções, sempre ressaltando o Rio
Grande do Sul, a vida campeira, o modo gaúcho, a natureza local. Jaime queria ser
médico, mas tinha apenas o ensino médio. Se tornou autodidata da cultura sulina e
dos remédios caseiros, pois afirmava que "todo missioneiro tem a obrigação de ser um
curador". Membro e fundador da Academia Nativista Estância da Poesia Crioula, grupo
de poetas tradicionalistas, publicou poemas em jornais, dirigiu o programa radiofônico
Galpão de Estância e participou do programa Brasil Grande do Sul, na Rádio Guaíba. Na
capital, o primeiro jornal a publicar seus poemas foi o A Hora, que dedicava toda uma
página em cores. Atuou na política participando de palanques como payador. O
poema O Petiço de São Borja fala de Getúlio Vargas. Fez a campanha de Ruy Ramos
com o poema O Mouro do Alegrete. Ruy Ramos, também ligado ao tradicionalismo,
lançou Jaime Caetano Braun como payador, no Congresso de Tradicionalismo de 1954.
Participou da campanha de Leonel Brizola, João Goulart e Egidio Michaelsen. Em 1962
concorreu a vaga na Asssembléia Legislativa, ficando na suplência. Em 1999 Jaime
Caetano faleceu de parada cardíaca em Porto Alegre. Seu corpo foi velado no Palácio
Piratini e enterrado no cemitério João XXIII. Para o dia seguinte estava programado o
lançamento de seu último disco “Êxitos Vol. 1”.

AMARGO

Velha infusão gauchesca


De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada


Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!
72

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada


Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago


Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

Gaudéria essência charrua


Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
73

De expirar entre a fumaça


Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!

MILONGA DE TRÊS BANDEIRAS


Composição: Jayme Caetano Braun e Noel Guarany

Vieja milonga pampeana


hija de llanos y vientos,
chiruza de cuatro alientos
de la tierra americana;
Vieja milonga paisana
de los montes y praderas,
tus mensajes galponeras
trenzaran en la oración
al pié del mismo fogón
los gauchos de tres banderas.

Brasileño y oriental,
Rio-grandense y argentino,
piedras del mismo mamino,
aguas del mismo caudal,
hicieran, de tu señal,
himnos de patria y clarin,
hasta el mas hondo confin,
de Osório-Artigas-Belgramo,
Madariaga y San Martín!

A tu conjuro peliaran,
vieja milonga machaza
los centauros de mi raza
que al más allá se marcharan
y las hembras te besaran
con cariño y con amor
cuando en la guitarra flor,
enriedada en el cordeje,
fuiste un llamado salvaje
al corazón del cantor!

Milonga - poncho y facón,


calandria pampa y lucero,
grito machazo del tero,
calor de hogar y fogón,
milonga del redomón,
llevando pátria en las ancas,
milonga de las potrancas
74

milonga de las congojas


milonga divizas rojas,
milonga divizas blancas.

Blanco y azules pañuelos,


celeste verde amarillos,
milonga de los caudillos
que hilvanaran nuestros suelos,
milonga de los abuelos
de las cepas cimarronas,
milonga de las lloronas
repiquetiando de lejos,
milonga de los reflejos
en las trenzas de las peonas.

Martín Fierro - el viejo Pancho,


Blau Nunes y Santo Veja,
tu sonido gaucho llega
parido nel mismo rancho
y a lo largo y a lo ancho
dibuja el suelo patrício
cuando el payador de ofício
repunta en vuelo bizarro,
lanceros de Canabarro,
rastreadores de Aparício.

Con tu sonido encadenas


nel mismo pampa dialecto,
Antonio de Souza Neto,
poncho - lanza y nazarenas,
milong sangre en las venas
de la história que se aleja,
leyenda de pátria vieja
que hizo del cielo diviza
con Justo José de Urquiza,
Juan Antonio y Lavalleja.

Milonga de tres colores


punteada en cuerdas de acero,
cuando el último jilguero
ensaya sus esteretores,
nosotros los payadores,
de la tradoción campera,
saldremos a campo fuera,
por los ranchos y fogones,
tartamudeando oraciones
pa' que el gaucho no se muera.
75

Pero el jamás murirá,


gaucho no puede morir,
es ajes y el porvenir,
lo que fué y lo vendrá,
la lanza y el chiripá
padran quedar nel repecho,
Pero - Liberdade e Derecho,
Dignidad y Gaucheria,
el Patriotismo y la Hombria
los guardamos en el pecho.

Milonga de tres bandeiras,


templada por manos rudas,
mensaje de Dios, sin dudas
sin cadenas ni fronteras,
mañana por las praderas
el viento pampa resonga
con su guitarra de estrellas
haciendo pátria con ella
pues donde hay pátria, hay milonga.

PAYADA DAS MISSÕES

Meus irmãos de território


- el pajador das missões
Meus irmãos de território
Que repontou dos fogões
Seu bárbaro repertório
Que chega para um ajutório
Do nativismo e da crença
Cantar é mais do que uma doença
Que mau olhado ou quebranto
E eu sou viciado no canto
E canto se dão licença.

Tetraneto de cacique,
Bisneto de curandeira
Trago um breve da parteira
E dos ranchos de pau a pique
Isso talvez justifique
Essa imponência baguala
Do cantor que quando fala
Do sorsal que quando canta
Brotam notas da garganta
Que até o silêncio se cala.
76

E se fui índio primeiro


Deste chão abarbarado
Antes de ser espoliado
Pelo ibérico estrangeiro
Depois de ser missioneiro
Não caí sem resistência
E na bárbara pendência
Do taura - sem Deus, nem lei
Eu mesmo me aquerenciei
Dentro da própria querência.

E se ela me foi tomada


Num raio guacho de luz
Quando a beleza da cruz
Curvou-se à força da espada
Extinta a chama sagrada
Que toda cultura encerra
Eu que fui morto na guerra
Num barbaresco repuxo
Me transformei em gaúcho
E renasci sobre a terra.

Irmão gêmeo de Sepé


Retornei de muito longe
Trazendo a bêncão de um monge
E do último pagé
Que me ensinaram a fé
E a senha dos rapezodos
Para acalmar os denodos
De missioneiro andador
No ofício de pajador
Que é o mais crioulo de todos.

Desde então, canto - e cantando


Persigo o tempo que viaja
Em qualquer parte que haja
Uma pátria se formando
Um oprimido peleando
E uma causa em abandono
Sem nunca pegar no sono
Onde existam espoliados
Ou tiranos apossados
De coisas que não tem dono.

Canto a cordeona que chora


E a guitarra que ponteia
A Dalva que fogoneia
77

Quando vê clareando a aurora


O pialo porteira a fora
E o boi manso lambendo a canga
Canto os lábios de pitanga
Que tem gosto de resina
E o corpo doce da china
Respingando água da sanga.

Eu canto a estrela boieira


Eu canto o céu estrelado
Eu canto o berro do gado
Canto a vivência campeira
Canto as lides de mangueira
E os remansos do açude
E no instinto de índio rude
Dos primeiros evangélios
Canto a esperança dos velhos
E as ânsias da juventude.

Eu canto a infância - essa planta


Que merece ser cuidada
A planta mais delicada
Que nos ares se levanta
Ela é a cultura mais santa
Precisa de água e calor
Porque Deus - nosso senhor
Fez a luz, fez a umidade
Pra que houvesse liberdade
E dela, brotasse a flor.

Não gosto de cantar rios


Mortos pelos insensatos
Nem vítimas de artefatos
Dos humanos desvarios
Nem os corações vazios
Dos escravos de a cabresto
E dentro deste contexto
Não quero cantar de novo
Os ancestrais do meu povo
Mendigos vendendo cezo.

Eu canto o dia que nasce


Eu canto a tarde que morre
Eu canto a sanga que corre
E a lua que mostra a face
E se o mundo se acabasse
Numa tragédia bravia
78

Assim mesmo eu cantaria


Um mundo nascendo doutro
Indiada domando potro
E bugra lavando a cria.

Se acaso um dia, os feitores


Dos quatro pontos cardeais
Queimassem seus arsenais
Mandando cultivar flores
Nosotros, os pajadores
Queimaríamos incenso
No templo do pampa imenso
Berço do ancestral andejo
Que peleava por um beijo
E morria por um lenço.

NEGRINHO DO PASTOREIO

Quando de noite transito


No meu gauderiar andejo,
Me paleteia o desejo
De encontrar-te, duende amigo,
Pois sei que trazes contigo,
Negrinho esmirrado e feio,
O Rio Grande em pastoreio
No sinuelo do passado,
E que ali, no descampado
Que a luz da vela clareia,
O teu vulto esguio, bombeia,
Como Deus de rito estranho,
A gauchada de antanho
Que se perdeu na peleia!

Juntos iremos lembrar


Aquele maula estancieiro,
Que ao botar num formigueiro
O teu corpo de criança,
Cravou bem fundo uma lança
No próprio ser do rincão;
Trazer a recordação,
Aquela velha tropilha,
Que do topo da coxilha
Esparramou-se a lo léu,
Para juntar-se no céu
Contigo e Nossa Senhora,
E hoje cruza, noite a fora,
No meio dum fogaréu!
79

Hás de contar-me o que viste


Na tua ronda infinita,
Desde a povoação jesuíta
Ao reduto Guaiacurú,
Quando Sepé Tiaraju
Morrendo de lança em punho,
Dava um guasca testemunho
Da fibra continentina,
E quando, nesta campina,
O velho pendão farrapo
Cruzava altaneiro e guapo
Como uma benção divina!

Dizem que trazes por diante


Dos fletes que pastorejas,
Assombrações malfazejas
Das campanhas do JARAU,
Repontas o fogo mau,
Do andarengo BOITATÁ,
E vagando, ao Deus dará,
Nessa ronda de amargura,
Vives na eterna procura,
Pelas canchas e rodeios,
De prendas, trastes e arreios
Extraviados na planura!

Tu conheces os segredos
De ranchos e cemitérios
Onde paisanos gaudérios
Assinalaram passagem,
Revives cada paragem
Numa evocação singela,
Por entre tocos de vela
De humildes promessas pagas
Onde o S das adagas
Fazia o papel de cruz,
E onde num raio de luz,
Brilhava sempre a velinha,
Invocando tu'a madrinha
A Santa Mãe de Jesus!

Presenciaste o velho drama


Do gaúcho em formação,
Quando este imenso rincão
Era um selvagem deserto,
Tudo céu e campo aberto
80

E onde Deus Nosso Senhor


Pós o guasca peleador,
De lança e de boleadeira
E mandou fazer fronteira
Onde quisesse, a lo largo,
Dando o pingo, o mate-amargo
E a china pra companheira!

Por tudo isso é que sofro


Quando altas horas despontas
Entre os fletes que repontas
Num barbaresco tropel,
Lembrando o dono cruel
Que num gesto asselvajado
Te fez cumprir este fado
De andar penando no ermo,
Esperando sempre o termo,
Que tarda tanto em chegar,
E onde haveremos de estar,
Enquadrilhados a grito
Diante do Deus infinito
Que vai por fim nos julgar!

E assim como tu, Negrinho,


Que um dia foste espancado
E por fim martirizado
Num formigueiro do pago,
O meu peito de índio vago
Também sofreu igual sorte,
E hoje vagueia, sem norte,
Sem fugir, por mais que ande,
Deste formigueiro grande
Onde costumes malditos
Tentam matar aos pouquitos
As tradições do RIO GRANDE.
81

ARABÍ RODRIGUES (1940), brasileiro, reside em Novo Hamburgo (RS) há 40 anos. É


poeta, payador, jornalista, radialista, pesquisador e conferencista da história e do
folclore gaúcho. Presidiu a Câmara Municipal em 1983, onde foi vereador por duas
legislaturas. É autor da lei que instituiu o ensino da tradição e do folclore gaúchos na
rede municipal de ensino. Assina também o projeto MARCA – Mutirão de Arte e
Culturas Gaúchas, no CTG Porteira Velha de Novo Hamburgo. Presidiu o Conselho
Municipal de Turismo, onde projetou e executou várias edições do carnaval e da
Semana Farroupilha. Também participou da comissão organizadora dos festejos dos 50
anos de emancipação de Novo Hamburgo. Foi secretário municipal da Cultura de
Campo Bom. Por sua atuação na política, recebeu o reconhecimento público através
de premiações em 1982 e em 1983. É membro da Estância da Poesia Gaúcha desde
1980, laureado com a Medalha Jaime Caetano Braun em 2007. Sua participação em
festivais de música nativista, em todo o Brasil, tem sido marcada por premiações
sucessivas. Criou o Festival de Músicas Nativistas de Novo Hamburgo, denominado
Pastoreio da Canção Nativa. Em parceria com vários poetas, entre eles Nelson Ortácio,
criou a 30ª Região Tradicionalista e a Associação Tradicionalista de Novo Hamburgo.
Também é fundador do DTG Sinuelo, do Colégio Marista Pio XII. É autor de mais de 200
composições, gravadas. Poeta com quatro livros publicados Pastoreio (1980), O
Gaúcho (1985), Prenda Minha (1989) e Marcas do Tempo (1998). Integra o grupo
musical "Garrão de Potro", ainda é autor do hino da Universidade Luterana do Brasil e
do hino que assinala os 70 anos da Sociedade Gaúcha de Lomba Grande.
(http://arabi-rodrigues.blogspot.com/)

ABELHA MESTRA

Tupã, Alá, Aloin,


meu Deus gaúcho, São Pedro,
permitam do meu segredo,
invocar um querubim;
destes que cuidam de mim,
de ti e do nosso Rio Grande:
além da alma dos Andes,
co’a brancura de mãos limpas,
q’uesta prece chegue às grimpas
do Martin Fierro de Hernandez.

Não vê, que o povo gaúcho,


sempre forte e aguerrido:
resolveu, por decidido
mudar o nosso debuxo,
ante promessas, um luxo,
de brilho matiz aurora,
vento sul a campo fora;
deu carta e jogou de mão
e assim trocou um “zangão”,
por uma “abelha mestra” de fora.
82

“Las cosas” corriam lindas:


cordeona, festa, foguete;
surgiu então, um bilhete,
prenunciando tardes findas
“y lo mejor”, trazia ainda,
denuncias dalguns desmanchos.
Enquanto isto, nos ranchos,
o povo se perguntada,
em verdade quem mandava,
“abelha mestra”, ou o carancho?

Enquanto seguia a “engronha”,


a gaita velha roncava,
um, ou outro apresentava,
“os do Sem votos, os da Pamonha,
a do Campestre”, que vergonha,
“Placas Frias”, casa nova;
O baile virou uma trova,
“mi – maior- de – gavetão”.
Morre em Brasília, um irmão,
seus alfarrábios, são provas?

“Una cosa és una cosa”,


disse o cantor Uruguaio,
sempre lembro quando saio,
dos versos de Zitarroza.
Guardo o perfume da moça,
que nunca soube da festa,
viu de longe a nova orquestra,
o carancho pousar no poste.
Mesmo que agente não goste,
“ta” ajojado à abelha mestra...

Agora, quando em silêncio,


ouço ao longe a oito baixos,
co’a cantiga do Gaudêncio,
em honra ao Rio Grande macho.
Doravante, só despacho
de bombo, voz e guitarra.
A sombra que a estrada embarra,
“no lleva el corazón,
dice Fierro, una ocazion,
num de sus canto mas nobres:
no és vergueza ser pobre,
la vergueza és ser ladron”..

QUERUBINS DA RAÇA PAMPA


83

(ao poeta Antônio Carlos de Alencastro)

Kati, meu irmão querido,


parceiro de poesia,
por sermos da mesma cria,
somos do "garão torcido",
de mais a mais convencidos,
qu'o longe não nos atinge.
A saudade, a gente finge,
que foi embora pra sempre,
a cuia, a chaleira, a trempe,
a palha, o fumo, a solinge...

Um mate feito a capricho,


um pito feitio caseiro,
a baforada e o cheiro,
da china, o nosso cambicho,
depois do velho cochicho:
"to te esperando meu nego",
surge a resposta: já chego,
gostar de ti, é meu vício,
pro desafio do ofício,
vai ajeitando os pelegos.

Assim o tempo nos leva,


como tronco rio a "baixo".
Doze braças a bate cacho,
pro refugo dos malevas.
Quando a lua engole as trevas
no altar dos sentimentos,
eu chego na voz dos ventos,
qu surgem do paraíso,
pra vislumbrar teu sorriso,
co'as luzes do pensamento.

Podes crer, neste momento,


parado diante de mim,
consigo ver no sem fim,
o ser do teu firmamento.
À sombra de teu talento,
a minha musa se acampa,
reproduz a tua estampa;
à luz de campos em flores
teus versos, são meus amores
querubins da raça pampa.

Por fim um abraço largo,


84

repete e bate outra vez,


sempre co'a mesma altivez,
de quem cumpre o seu encargo.
Agora, mais um amargo,
desses que alargam ternura
e que adoçam a lonjura,
além dos meus universos.
Enquanto tu lê meus versos,
salgo outra cevadura!!!
Um grande abraço fraterno.

O SER DO CORAÇÃO

Meus irmãos de céu e terra,


litoral, campo e cidade,
estou faceiro, em verdade,
a musa subiu a serra,
justo, aonde Deus descerra,
a luz por entre a ramagem.
Por esta impura paragem,
sigo o rumo do sem fim,
buscando dentro de mim
o motivo pra mensagem.

Quando reparto a linguagem,


pra desenhar o que tenho,
adejo o chão, donde venho,
sobre as flores, da paisagem.
Entre o medo e a coragem,
prefiro a voz da razão.
Não sei por que a emoção,
nos aflige e atrapalha,
e quando livre se espalha
por dentro do coração.

Quando o sim, quer dizer não,


a vida segue outro rumo,
por isso não acostumo,
co’essa tal evolução,
leva um taura de roldão,
sem pergunta e nem resposta.
Até mesmo uma proposta
de compra, ou venda de gado,
tem que ter muito cuidado
co’a facada pelas costas...

Assim mesmo quando “enrosca”,


85

palavra e fio de bigode,


o mais forte se sacode,
e o outro que tire a “cosca”.
No bolicho da “Marosca”,
não se vende canha fiado,
um sistema do finado,
uma lição do Florêncio.
O barulho do silêncio,
faz o meu mundo calado.

CULTURAL E CAMPEIRO
(honor a La Bacaria de los Pinãles)

Meus irmãos de honra e fé,


querer de pátria, consciência;
este amor pela querência,
vem da fibra de Sepé.
O primeiro a calçar o pé
em defesa desta Terra;
litoral, campanha, serra,
centro, missões, capital,
no mesmo cocho de sal,
o Amor que Deus descerra.

Luis e Maguida, patrões


do Porteira do Rio Grande;
pra qu’a saudade se abrande,
ante o ser das emoções,
valho-me aqui de Camões:
“cessa tudo que a musa canta,
quando um poder maior se levanta”;
à borda dos corações...

Assim sendo, estou de volta,


chapéu e pena na mão,
pra fazer uma oração,
vê se a saudade me solta.
Depois, fazer a recolta,
tendo o Ângelo na guitarra.
A sombra, qu’a estrada embarra,
“no lleva el corazon;
dice Fierro, una ocazion:
uno de los canto mas nobres
no és vergueza ser pobre,
la vergueza és ser ladron”...
Ante tanta fidalguia,
do Roberto, do Peruquim,
86

o Nilso, o Jorge, bem assim


do jeito da Vacaria,
uma eterna poesia
campo, mangueira, galpão,
bufido de redomão,
berro, guincho, manotaço
e as doze braças do laço,
pra garantir o tirão...

Na cuia do mate amargo,


o sangue verde do povo;
esperança dum mundo novo,
co’a alma do pampa largo.
Devo ao Senhor, meu encargo
de ser um sonho acordado;
meu mundo foi preparado,
no sem fim do universo,
um Irmão a cada verso,
entre "as romãs" ajoelhado...

Por fim, o agradecimento


ao gesto da patronagem,
que passou nova mensagem,
além dos Regulamentos.
Vale mais os sentimentos,
que a tal de burocracia.
Em nome da poesia,
tradição do nosso Estado:
ao Ângelo, muito obrigado
e mil gracias, VACARIA!!!

MATE DE CONTRAPUNTO
(homenagem ao poeta Nelson Ortácio)

Irmão de fé e querer,
aqui estou novamente,
pr'um mate, que redepente,
um verso pode nascer,
daqueles, que sem dizer,
dá ode-casa e apeia
e "despacito" boleia,
uma rima limpa e pura,
em honra a nossa cultura
depois, se abanca e mateia.

Me agrada, quando mateamos,


"hablar de cosas estrañas,
87

los regalos de campaña,


que a lo largo veneramos".
Nesta quadra aonde estamos;
qualquer assunto, é assunto,
mormente se tiver junto
o nosso Deus das respostas,
até o diabo "vira as costas",
pr'um mate de "contra-punto".

Os pensamentos vagueiam
no topete da consciência,
trazendo a voz da querência,
quando as guitarras clareiam;
bordoneios que semeiam,
rufar de patas, arrancadas
tropel de cascos, patriadas,
sunir de laço e chilenas
e o sorriso das morenas
no peitoril das ramadas.

É lindo, sentir nas veias


o sangue verde,esta seiva,
aflora por sobre a leiva
como trava de maneia.
Enquanto, a cuia passeia,
entre uma e outra prosa,
"o cheiro da cancorosa",
faz recordar o momento,
que somou o sentimento
ao ser dalguma mimosa.

Em fim, a vida é um planalto,


cheio de pedras e espinhos.
As flores, são os caminhos,
que Deus nos mostra do alto.
Ante outro sobre salto,
à luz do mundo moderno
prefiro a cor do inverno,
sempre vestido de paz.
A vida por ser fugaz,
compraz o Amor eterno.

UM BRINDE CO’AS DUAS MÃOS


(em honra ao amigo Júnior, Bombinhas-SC)

Meu caro Junior, um abraço


do tamanho do Rio Grande,
88

co’a voz de Jose Hernandez,


andando à sombra do passo.
Em cada verso que faço,
o garbo das pradarias,
“alumbra” a tarde dos dias,
que desconto da vaidade,
pra ser sincero, em verdade,
devo agora admitir,
mesmo antes de sair,
“tava” sentindo saudade...

Saudade da convivência,
o aconchego dos Irmãos,
um brinde co’as duas mãos,
com ternura e reverência,
que faz lembrar a querência,
em dia de marcação;
guitarra, voz e canção,
que arrebatam e que dá ciúmes;
em fim, os nossos costumes,
entre o Perequê e Bombas,
lembrando noites de rondas
ante o altar dos perfumes.

Me agrada, quando o parceiro


volteia, como pr’um pealo,
espora e bico de galo,
velho patuá do tropeiro;
no “causo” dum entreveiro,
sabe chegar e sair.
Quem sabe pr’onde ir,
não precisa perguntar,
antes do dia clarear,
já esta de pingo encilhado,
aba-larga bem tapeado
e mundo pra negociar.

Terra, casa, apartamento,


estância, prédio fazenda
e o riso dalguma prenda,
pra mermar o sentimento.
É lindo quem tem talento,
vontade, fibra e coragem,
até o verde da paisagem,
parece ser mais bonito.
A gente chega solito,
entre crentes e ateus,
89

cresce e vive, à luz de Deus,


pra descobrir no presente:
que somos contra-parentes,
por que tu és um dos meus...

PRA VIDA INTEIRA


(em honra ao amigo "Nego Quadros")

Nego Quadros, “con permiso,


com la bendicion de Dios,
ay estan delanteros,
lo mas viejo compromizo,
quien sabes, talvez porizo”,
estoy de cuerpo presente.
Alma limpa, nossa gente
de campo, serra e missões
e o querer bem dos galpões,
que nos uni no presente.

“Yo sei que muitos diran,


que peco de atrevimento
sy largo meo pensamento,
pa el rumbo que ya eleji,
pero sido siempre asi,
galopeador contra el viento”.
A muitos sobram talento,
a outros faltam emoção,
a mim sobra inspiração,
para expor o sentimento...

Por isso neste momento,


vista larga, campo aberto,
o longe, chega pra perto,
pela Internet, este invento.
Salgo nas alas del viento,
chevo lazo e boleadoras,
y lãs muzas criadoras,
de rimas, métrica y bersos,
traen de los mios universo,
sonido de tuya Emissora...

Salve “O Querência Nativa”,


Programa, mais q’um programa,
é a tradição, que nos chama,
ao pé da consciência viva,
é o céu da alma que estiva,
na vastidão das praderas,
90

son lãs pampas sien fronteras:


do viejo Jose Hernandez,
del Uruguai y Rio Grande,
bajo la misma bandera.
Ao largo da carretera,
que leva e traz encordadas,
termina numa payada,
que fica pra vida inteira...

MUNDO DOS ARREIOS


(homenagem ao amigo José Augusto)

José Augusto, meu caro,


recebi o teu recado
e deveras, emocionado,
à tua frente me paro.
Nosso mundo é meio raro,
comparado ao mundo novo,
consciência, casca de ovo,
palavra e fio de bigode
e o saber do que não pode,
mãos limpas, alma do povo.

Nosso desejo sulino


de paz, amor, liberdade,
herdamos na tenra idade,
do nosso ancestral menino”;
depois, o Poder divino,
que tudo sabe e tudo vê,
alcançou-nos o porquê:
sermos de campo e mangueira
e o escudo da bandeira,
do querido CTG.

Além da pilcha completa,


o poncho, a faca e o mango,
este gosto por fandando,
prenda bonita e discreta,
cantiga, quando o poeta
é dos bons e respeitado
e o gaiteiro, no teclado,
retrata o campo na sala,
como quem engole a fala
no lombo dum aporreado.

Nos somos do tempo antigo,


da legenda dos gaudérios,
91

palmeadores de hemisférios,
que não refuga ao perigo.
Me agrada, quando um amigo,
desses “buenos”, que nem tu;
bem montado, a “Capitu”,
troteia mascando o freio,
como quem para um rodeio
nos campos Canguçu.

Agora pro arremate,


um convite pro amigo:
se quiser vir ter comigo,
“se chegue” pra mais um mate;
antes que o tempo desate,
a saudade do convívio.
Não esqueça, que o alívio
dum amigo por inteiro
é saber que o companheiro:
de honra, fibra e coragem
é o motivo da mensagem
por nosso Deus verdadeiro...

AO EMIGRANTE

O tempo acordou a voz


do Imigrante Alemão
que viu a transformação,
da pátria mãe, ao algoz;
por andar a esmo e a sós,
rumou ao sul, sem destino,
mar aberto, sol a pino,
a fibra, a força, a coragem,
por fim a bela paisagem
do velho pago menino.

Abordo do Protetor
da Alemanha a Porto Alegre,
cansado, já quase entregue,
pela fome, a sede, o rigor,
vislumbrou a mata em flor,
no espelho do Guaíba.
Aonde até hoje, estriba
a lembrança da chegada.
A São Leopoldo, a morada,
meio dia, rio arriba.

Em vinte e quatro de julho,


92

aportou no cais aberto


e ao ver o longe mais perto,
da consciência e do orgulho,
ouviu do mato, o barulho
da natureza intocada;
a sinfonia orquestrada,
ao trino do mundo novo,
acordes, alma do povo
e o campo branco de geada.

Mil oitocentos e vinte e quatro,


velho rio Kururay.
Nosso pago era guri,
pés descalços, campo e mato,
algum rancho, lombo chato
de vara, barro e capim,
ternura de querubim,
paciência de noite calma.
Hoje, um desejo da alma,
ver um mundo, lindo assim.

Foi ali da Feitoria,


casa dos nobres de antanho,
que surgiu este rebanho,
que trouxe paz, harmonia:
a gaita, o chucrute, a chimia,
comércio, indústria, progresso,
nova luz, novo universo,
até no jeito de amar
e o sistema familiar
o alemão, refez num verso.

Depois da grei Farroupilha,


a conquista do território,
foi ordenança de Osório,
outra vez, pelas coxilhas,
desfez e fez armadilhas,
domando o pampa bravio
e num grande desafio,
desbravou o sopé da serra
e aquerenciou-se na terra,
trocando o nome do Rio...

Por fim, em honra da paz,


a Lomba grande Gaúcha,
Sociedade, que debuxa,
a tradição que compraz.
93

Graças o querer audaz,


deste valente alemão,
abriu cancha em nosso chão,
observando o Evangelho,
desde Canguçu Velho,
ao ser de nossa emoção...

Agora depois de tudo:


estrada, suor e peleias,
o sangue de nossas veias,
têm mescla deste abelhudo,
misturado ao do “beiçudo”,
temperou a nossa raça.
Bem dito o Dia da Graça,
do alemão, seus princípios,
que emancipou municípios
co’a nossa pátria na jaça...

Seguindo o rastro dos outros,


o Italiano, veio depois,
o negro, o alemão, estes dois,
já tinham domado os potros,
recolhidas, alvorotos,
logo após a criação,
do nosso pago, este chão,
de “payadas y contra-puntos”
são iguais nossos assuntos
ao falar de tradição

Nosso maior compromisso


é co’as luzes do Amor,
amigo, não faz favor,
apenas presta serviço
e talvez seja por isso,
que somos tão conhecidos,
respeitados e queridos,
por qualquer lugar que ande
e para que o tempo abrande,
a folga do meu encardo;
um gole de amargo,
sangue verde do Rio Grande...

CONCERTO NO CAMPESTRE

Patrão do ser infinito,


olhas teus filhos na terra
litoral,campanha, serra,
94

planalto, sempre bem dito:


nosso pago está aflito,
diante do desmazelo.
Nossa cultura dum pêlo,
foi transformada em negócio,
os vendilhões já têm sócio,
“perro”, relho e sinuelo.

Vem daí o cotovelo,


que tira a gente do páreo.
Cada projeto, um calvário,
puxão de orelha, cabelo,
pra justificar o zelo,
“a mocinha” do extrato,
apareceu no retrato,
que Grizotte publicou,
e por pouco não apanhou,
“só por causo” dum contrato.

O tal de filme, “uma piada”,


é como lidar co’a raiva”
o livro e o extrato na gaiva,
aonde as notas são guardadas,
as legitimas e as clonadas,
que dão origem a despesa.
Descoberta a safadeza,
quem queria aparecer,
agora, só quer esconder
a escuridão “da nobreza”.

Por sorte, temos certeza:


a moça não está sozinha,
um dos sócios, co’a ladainha;
se desmanchou em gentileza,
e, ao comissário, com firmeza,
soltou a língua e as notas.
É “brabo” trocar as botas,
bem no começo do baile,
quem não sabe ler em braile,
ensina orelhar a “sota”.

Se não fosse uma vergonha,


seria de dar risada.
A “mocinha” perfumada,
à sombra duma congonha,
nivelada aos da “pamonha”,
dos “Sem Voto” e do DETRAN
95

e que responder pro fã


sobre o concerto, o caminho,
com o nosso dinheiro,
pão dos pobres do amanhã...

DE PROSA E CANTIGA
(Homenagem a Walter Morais)

Walter Morais, meu irmão:


de querer e de pendor,
teu canto, é o Rio Grande em flor,
na borda do coração;
além do cheiro de chão,
possui o gosto de pasto,
legenda rangendo basto,
sobre o lombo do cavalo,
espora e bico de galo,
sangue de pátria no rastro.

Quando ouço a tua voz,


“templada” como pra um pealo;
cada verso que embuçalo,
vejo a pampa de todos nós,
trazendo a consciência a foz,
dos sentimentos terrunhos,
o tempo serrando os punhos,
estrelas de pirilampos,
ziguezagueando nos campos,
trazem luz ao testemunho.

Daqui do lombo do cerro,


a onde nasci e me criei,
o dom, tem força de Lei,
mesmo vivendo o desterro.
O ganido desse “perro”,
parceiro dos desgarrados
faz relembrar descampados,
rufar de cascos, peleias
e o sangue nas nossas veias,
ao do índio misturados.

Agora pra arrematar,


um abraço bem cinchado,
para que fique guardado,
do lado esquerdo, este altar,
que diz tudo, sem falar
e tudo diz, sem dizer;
96

um amigo de bem querer,


é como a alma do povo
na seiva dum mate novo
água pura de beber.

A CASA DO SEM VOTO

Meus irmãos de corpo e alma,


de mate amargo e querência,
venho em nome da prudência,
que nos apraza e acalma.
O silêncio bate palma,
e o coração pede bis.
Volto à Praça da Matriz,
bandeja e pamonha prontas,
ao pessoal que confere as contas
que por discreto, é feliz...

Um diz que há desmazelo,


descontrole e nepotismo.
Outro diz, foi egoísmo,
açodamento, atropelo,
por não ser do mesmo pêlo,
dos que usam “placas discretas”;
por ciúmes, quase que embreta,
o que já estava no brete.
É a história que se repete,
quando “una cholita apreta”.

Sempre soube que o ciumento,


é corno por antecedência.
O que chamo de prudência,
é honra do Sentimento.
Confundir descaramento,
com segurança, descrição,
é como trocar um canhão,
por uma pistola vazia.
Placa fria é placa fria,
e não importa o patrão.

Essa empáfia de segredo,


é um disfarce conhecido;
pra manter bem escondido,
a luxuria do brinquedo.
O que dá certeza e medo,
são as denúncia que foram feitas
quem por certo, não aceita
97

o rabo de quem for pego,


nesse cabide de emprego,
sem voto, “vão pra direita”.

Quando penso na Arrancada,


dos heróis de Trinta e Cinco,
recordo o brio, o afinco,
luz de palavra empenhada
o rigor da cavalgada,
além da fome, o cansaço,
o desejo “templado” em aço,
sob o Pendão de três cores.
Onde estão estes valores,
se perderam no espaço?

A PAMONHA DO DETRAN

Meus irmãos de campo e serra,


litoral, centro e missões:
em nome das tradições,
do povo de nossa terra,
ante à luz que Deus descerra
no para-peito do tempo;
cevo meu mate e contemplo,
gaúchos d’antigamente
e a honra de nossa gente,
nosso modelo de exemplo.

Entretanto, no momento,
por incrível que pareça
tem dado “dor de cabeça”,
o principal Sentimento.
Está sobrando talento
e está faltando vergonha.
A bandeja da pamonha,
foi à Praça da Matriz
e pra “regalo” dos guris,
a vivenda da cegonha.

A farra “empezo” la em cima,


na bailanta do palácio.
Quem diria que o prefácio,
serviria a minha rima;
tudo que afasta, aproxima,
todo que cala, consente.
Assistindo os “inocentes”,
depondo na CPIs:
98

me dei conta que “os guris”


“tavam” roubando nossa gente!

Após apresentação,
rapa-pé e ramalhete,
de pronto, vinha o joguete:
do não vi, do não sei não!
Os direitos de ladrão,
isso ai, eu não respondo,
sou “sério e não me escondo”.
Na maleta do “irmão”?
tinha os sêlos do Macalão,
e um mapa-múndi redondo.

Mas, o assunto é o DETRAN,


insiste o inquiridor.
Excelência, por favor,
não insista em “cosa” vã,
se por “acauso”, amanhã,
a justiça me chamar,
ai sim, eu vou falar,
tudo o que vi e o que sei
mas, dentro da nossa lei,
se abelha mestra deixar.

Um deboche, que de dá medo,


pela frieza que passa.
A honra da nossa raça,
encoberta pelo mosquedo,
com cheiro de vinho azedo,
cachorros de pêlo liso,
vivendo num paraíso,
com o dinheiro roubado,
dos cofres do nosso Estado.
Não pensem que sou conciso,
não digam, que sou conciso!!!

AOS PAIS

Senhor dos mundos, padrão


de saber, força e beleza;
permita que a natureza,
do verso dum pobre peão,
alcance o ser da razão,
amor que nos deu a vida,
“con la madre” dividida,
corpo, alma e coração.
99

Porquê será que o agosto,


prenuncio de primavera;
tira a consciência da espera,
clareando as cores do rosto.
O tempo, guardião do posto,
à porta do paraíso.
Depois do grande sorriso,
a víbora traz o desgosto.

Assim, a lenda é contada,


a maçã surgiu das trevas
e o Adão ouvindo a Eva,
já não ouvia mais nada,
o céu, a terra encantada,
água fresca, sombra boa.
Fez do cetro, uma coroa
nos botou nesta “roubada”.

Agora pra disfarçar,


gastamos nossos centavos;
“o crescei-vos e multiplicai-vos”,
faz um pai se desdobrar,
somente pra contentar,
quem escolhe o seu presente
co’a afirmação, novamente
é o senhor quem vai pagar.

Pai é uma luz divina,


que Deus repete na terra,
pelo amor que descera,
no ventre que descortina.
A vida moça menina,
o tempo velho monarca,
não importa pêlo ou marca,
tem que cumprir sua sina.

Como pai, já sou avô,


como qualquer outro velhinho,
cheio de “dengues”, carinho
que o Patão me reservou.
Em todo lugar que vou,
levo a luz da esperança
e um sorriso de criança
que o meu velho me legou!!!

O NOSSO DEUS NEGRO


100

(ao Dr. Amaury Leopoldino de Freitas)

Um deus negro, como a noite,


quando a lua dorme cedo,
conhecedor do segredo,
do ser que chega ao apoite,
pra se livrar do açoite,
que se projeta disperso.
O perfume do meu verso,
reúne em torno de si,
um deus, que ensina sorri,
co'as luzes do universo.

Atende a voz do alheio,


como se fosse, um dos seus,
seguindo o rastro de Deus,
que perpassa o nosso meio.
Um deus, que guarda o anseio
na face de seu irmão.
Do ventre do coração,
brotam flores perfumadas,
com ares de gargalhadas,
ante o riso do perdão.

Um deus, que transforma a dor,


em caminho limpo e puro;
condão de ser o futuro,
aonde há voz de clamor.
Um paladino do amor
no sem fim do ser humano.
Vaqueano dos mais vaqueanos,
que a comparsa da consciência.
Altaneiro na prudência,
bondade de Soberano!

O coração de criança,
rebrilha acima da calma.
Do silêncio, a sua alma,
estende a mão da esperança,
Da humildade, vem a confiança,
que propaga de voz rouca.
No tom, que perfuma a boca
Esconde o conhecimento,
de quem sabe, que o som vento
apruma uma orelha mouca...

Na cor da África materna,


101

o calor de sol a pino.


Franqueza de rei sulino,
na sua missão fraterna.
Quem me dera a luz eterna,
pra definir o querer.
Eu faria, sem dizer,
um verso de pôr na praça,
somente pra render graças:
ao Médico, deus do saber!!!
102

ATAHUALPA YUPANQUI (1908-1992) nasceu em Buenos Aires. Seu verdadeiro nome


era Héctor Roberto Chavero. Durante a adolescência adotou o nome pelo qual ficou
conhecido. Entre seus antepassados estão índios, crioulos e vascos: "Em aquellos
pagos del Pergamino nací, para sumarme a la parentela de los Chavero del lejano
Loreto santiagueño, de Villa Mercedes de San Luis, de la ruinosa capilla serrana de Alta
Gracia. Me galopaban em la sangre trescientos anos de América, desde que don Diego
Abad Martín Chavero llegó para abatir quebrachos y algarrobos y hacer puertas y
columnas para iglesias y capillas (...) Por el lado materno vengo de Regino Haram, de
Guipúzcoa, quien se planta em medio de la pampa, levanta su casona, y acerca a su
vida a los Guevaras, a los Collazo, gentes 'muy de antes'..." (El canto del viento, I). A
partir dos 18 anos inicia a peregrinação que o levará a diversos lugares, anos em que,
além de músico, exerce diversos ofícios para ganhar a vida. Em 1930 começam as
primeiras gravações do seu próprio cancioneiro. Na década de 1940 soma à sua
atividade de músico a de escritor, publicando os primeiros livros: "Piedra Sola" e "Aires
Indios". Depois publica a novela "Cerro Bayo", na qual se baseia o roteiro do filme
"Horizontes de Piedra". Em 1945 se filia ao Partido Comunista. Esta filiação e a atitude
crítica, o levarão a um silêncio forçado. As atuações foram proibidas, as gravações se
interrompem, não se permite a interpretação de suas obras por outros artistas. Foi
detido e encarcerado. A partir de 1953 levanta-se a proibição e volta a gravar.
Recomeça a se apresentar em Buenos Aires e no interior do país. DaÍ em diante o
reconhecimento se faz em prêmios e homenagens. Compõe duas cantatas: "El
sacrificio de Tupac-Amaru" (1971), música de Enzo Gieco e Raúl Maldonado e "La
Palabra Sagrada" (1989), música de Juan José Mosalini e Enzo Gieco. Publica os últimos
livros "Guitarra", "El payador perseguido", "Del algarrobo al cerezo" e "La capataza".
Ao final dos anos 1980 concretiza a criação da “Fundação Yupanqui”. Atahualpa
Yupanqui faleceu na França em 1992. Seus restos mortais descansam em Cerro
Colorado, Córdoba (Argentina).

COPLAS DEL PAYADOR PERSEGUIDO

Con permiso via a dentrar


aunque no soy convidao,
pero en mi pago, un asao
no es de naides y es de todos.
Yo via cantar a mi modo
después que haiga churrasquiao.

No tengo Dios pa pedir


cuartiada en esta ocasión,
ni puedo pedir perdón
si entuavía no hei faltao;
veré cuando haiga acabao;
pero ésa es otra cuestión.

Yo sé que muchos dirán


que peco de atrevimiento
si largo mi pensamiento
103

pal rumbo que ya elegí,


pero siempre hei sido ansi;
galopiador contra el viento.

Eso lo llevo en la sangre


dende mi tatarabuelo.
Gente de pata en el suelo
fueron mis antepasaos;
criollos de cuatro provincias
y con indios misturaos.

Mi agüelo fue carretero,


mi tata fue domador;
nunca se buscó dotor
pues se curaban con yuyos,
o escuchando los murmullos
de un estilo de mi flor.

Como buen rancho paisano


nunca faltó una encordada,
de ésas que parecen nada
pero que son sonadoras.
Según el canto y la hora
quedaba el alma sobada.

Mi tata era sabedor


por lo mucho que ha rodao.
Y después que había cantao
destemplaba cuarta y prima,
y le echaba un poncho encima
"pa que no hable demasiado..."

La sangre tiene razones


que hacen engordar las venas.
Pena sobre pena y pena
hacen que uno pegue el grito.
La arena es un puñadito
pero hay montañas de arena

No sé si mi canto es lindo
o si saldrá medio triste;
nunca fui zorzal, ni existe
plumaje más ordinario.
Yo soy pájaro corsario
que no conoce alpiste.

Vuelo porque no me arrastro,


104

que el arrastrarse es la ruina;


anido en árbol de espina
lo mesmo que en cordilleras
sin escuchar las zonceras
del que vuela a lo gallina.

No me arrimo así nomás


a los jardines floridos.
Sin querer vivo alvertido
pa' no pisar el palito.
Hay pájaros que solitos
se entrampan por presumidos.

Aunque mucho he padecido


no me engrilla la prudencia.
Es una falsa experiencia
vivir temblándole a todo.
Cada cual tiene su modo;
la rebelión es mi cencia.

Pobre nací y pobre vivo


por eso soy delicao.
Estoy con los de mi lao
cinchando tuitos parejos
pa' hacer nuevo lo que es viejo
y verlo al mundo cambiao.

Yo soy de los del montón,


no soy flor de invernadero.
Soy como el trébol pampero,
crezco sin hacer barullo.
Me apreto contra los yuyos
y así lo aguanto al pampero.

Acostumbrao a las sierras


yo nunca me sé marear,
y si me siento alabar
me voy yendo despacito.
Pero aquel que es compadrito
paga pa' hacerse nombrar.

Si alguien me dice señor,


agradezco el homenaje;
mas, soy gaucho entre gauchaje
y soy nada entre los sabios.
Y son pa' mi los agravios
que le hagan al paisanaje.
105

La vanidá es yuyo malo


que envenena toda la huerta.
Es preciso estar alerta
manejando el azadón,
pero no falta el varón
que la riegue hasta en su puerta.

El trabajo es cosa buena,


es lo mejor da la vida;
pero la vida es perdida
trabajando en campo ajeno.
Unos trabajan de trueno
y es para otros la llovida.

Trabajé en una cantera


de piedritas de afilar.
Cuarenta sabían pagar
por cada piedra polida,
y era a seis pesos vendida
en eso del negociar.

Apenas el sol salía


ya estaba a los martillazos,
y entre dos a los abrazos
con los tamaños piegrones,
y por esos moldejones
las manos hechas pedazos.

Otra vez fui panadero


y hachero en un quebrachal;
he cargao bloques de sal
y también he pelao cañas,
y un puñado de otras hazañas
pa' mi bien o pa' mi mal.

Buscando de desasnarme
fui pinche de escribanía;
la letra chiquita hacía
pa' no malgastar sellao,
y era también apretao
el sueldo que recibía.

Cansao de tantas miserias


me largué pal Tucumán.
Lapacho, aliso, arrayán,
y hacha con los algarrobos.
106

¡Por dos cincuenta! Era robo


pa' que uno tenga ese afán.

Sin estar fijo en un lao


a toda labor le hacía,
y ansí sucedió que un día
que andaba de benteveo
me topé con un arreo
que dende Salta venía.

Me picó ganas de andar


y apalabré al capataz,
y ansí, de golpe nomás
el hombre me preguntó:
¿Tiene mula? Cómo no
le dije . Y hambre, de más.

A la semana de aquello
repechaba cordilleras,
faldas, cuestas y laderas
siempre pal lao del poniente,
bebiendo agua de virtiente
y aguantando las soleras.

Tal vez otro habrá rodao


tanto como he rodao yo,
y le juro, creameló,
que he visto tanta pobreza,
que yo pensé con tristeza:
Dios por aquí no pasó.

Se nos despeñó una vaca


causa de la cerrazón,
y nos pilló la oración
cueriando y haciendo asao;
dende ese día, cuñao
se me gastó mi facón.

Me sacudí las escarchas


cuando bajé de los Andes,
y anduve en estancias grandes
cuidando unos parejeros;
trompeta, tapa y sombrero,
pero pa' los peones, de ande.

La peonada, al descampao,
el patrón, en Güenos Aires.
107

Nosotros, el cuello al aire


con las caronas mojadas,
y la hacienda de invernada
más relumbrosa que un fraile.

El estanciero tenía
también sus cañaverales,
y en los tiempos otoñales
juntábamos los andrajos,
y no íbamos p'abajo
dejando los pedregales.

Allí nos amontonaban


en lote con otros criollos,
cada cual buscaba un hoyo
ande quinchar su guarida,
y pasábamos la vida
rigoriaos y sin apoyo.

Faltar, no faltaba nada:


vino, café y alpargatas.
Si habré revoliao las patas
en gatos y chacareras.
Recién la cosa era fiera
al ir a cobrar las latas.

¡Qué vida más despareja!


Todo es ruindad y patraña;
Pelar caña es hazaña
del que nació pal rigor.
Allí había un solo dulzor
y estaba adentro e'la caña.

Era un consuelo pal pobre


andar jediendo a vinacho.
Hombres grandes y muchachos
como malditos en vida,
esclavos de la bebida
se lo pasaban borrachos.

¡Tristes domingos del surco


los que yo he visto y vivido!
Desparramaos y dormidos
en la arena amanecían,
a lo mejor soñarían
con la muerte o el olvido...
108

Riojanos y santiagüeños,
salteños y tucumanos,
con el machete en la mano
volteaban cañas maduras,
pasando sus amarguras
y aguantando como hermanos.

¡Rancho techao con maloja,


vivienda del peleador!
En medio de ese rigor
no faltaba una vihuela,
con que el pobre se consuela
cantando coplas de amor.

Yo también, que desde chango


unido al canto crecí,
más de un barato pedí
y pa'los piones cantaba.
¡Lo que a ellos les pasaba
también me pasaba a mí!

Cuando yo aprendí a cantar


armaba con pocos rollos.
Y en la orilla de un arroyo
bajo las ramas de un sauce,
crecí mirando en el cauce
mis sueños de pobre criollo.

Cuando sentí una alegría;


cuando el dolor me golpió;
cuando una duda mordió
mi corazón de paisano,
desde el fondo de los llanos
vino un canto y me curó...

En esos tiempos pasaban


cosas que ya no pasan.
Cada cual tenía un cantar
o copla de anochecida.
Formas de curar la herida
que sangra en el trajinar.

Algunos cantaban bien.


Otros, pobres, más o menos...
Mas no eran cantos ajenos,
aunque marca no tenían.
Y todos se entretenían
109

guitarreando hasta el desvelo.

Por ahí se allegaba un maistro,


de esos puebleros letraos;
juntaba tropa y versiaos
que iban después a un libraco,
y el hombre forraba el saco
con lo que otros han pensao.

Los peones formaban versos


con sus antiguos dolores.
Después vienen los señores
con un cuaderno en la mano,
copian el canto paisano
y presumen de escritores.

El criollo cuida su flete,


su guitarra y su mujer;
siente que enfrenta un deber
cada vez que da la mano;
y aunque pa'todo es baquiano
sólo el canto ha de perder.

¡Coplas que lo acompañaron


en las quebradas desiertas,
aromas de flores muertas
y de patriadas vividas,
fueron la luz encendida
para sus noches despiertas!...

Se aflije si se le pierde
un bozal, un maneador,
pero no siente furor
si al escucharle una trova,
viene un pueblero y le roba
su mejor canto de amor.

De seguro, si uno piensa,


le halla el nudo a la madeja,
porque la copla más vieja,
como la raíz de la vida,
tiene el alma por guarida,
que es ande anidan las quejas.

Por eso el hombre al cantar


con emoción verdadera,
echa su pena p'ajuera
110

pa que la lleven los vientos,


y ansí, siquiera un momento
se alivia su embichadera.

No es que no ame a su trova


ni que desprecie su canto.
Es como cuando un quebranto
en la noche de los llanos
hace aflojar al paisano
y el viento le lleva el llanto.

En asuntos del cantar,


la vida nos va enseñando
que sólo se va volando
la copla que es livianita.
Siempre caza palomitas
cualquiera que anda cazando...

Pero si el canto es protesta


contra la ley del patrón,
se arrastra de peón a peón
en un profundo murmuyo,
y marcha al ras de los yuyos
como chasque en un malón.

Se pueden perder mil trovas


ande se canten quereres,
versos de dichas, placeres,
carreras y diversiones;
suspiros de corazones
y líricos padeceres.

Pero si la copla cuenta


del paisanaje la historia,
ande el peón vueltea la noria
de las miserias sufridas,
ésa, se queda prendida
como abrojo en la memoria!

Lo que nos hizo dichosos


tal vez se pueda olvidar;
los años en su pasar
mudarán los pensamientos.
Pero angustias y tormentos
son marcas que han de durar...

Estas cosas que yo pienso


111

no salen por ocurrencia.


Para formar mi esperencia
yo masco antes de tragar.
Ha sido largo el rodar
de ande saqué la alvertencia.

Si uno pulsa la guitarra


pa cantar coplas de amor,
de potros, de domador,
de la sierra y las estrellas,
dicen : ¡Qué cosa más bella!
¡Si canta que es un primor!

Pero si uno, como Fierro,


por ahíi se larga opinando,
el pobre se va acercando
con las orejas alertas,
y el rico vicha la puerta
y se aleja reculando.

Debe trazar bien su melga


quien se tenga por cantor,
porque sólo el impostor
se acomoda en toda huella.
Que elija una sola estrella
quien quiera ser sembrador...

En el trance de elegir
que mire el hombre p'adentro,
ande se hacen los encuentros
de pensares y sentires.
Después que tire ande tire,
con la concencia por centro.

Hay diferentes montones,


unos grandes, y otros chicos.
Si va pal montón del rico
el pobre que piensa poco,
detrás de los equivocos
se vienen los perjudicos.

Yo vengo de muy abajo,


y muy arriba no estoy.
Al pobre mi canto doy
y así lo paso contento,
porque estoy en mi elemento
y ahí valgo por lo que soy.
112

Si alguna vuelta he cantao


ante panzudos patrones,
he picaneao las razones
profundas del pobrerío.
Yo no traiciono a los míos
por palmas ni patacones.

Aunque canto en todo rumbo


tengo un rumbo preferido.
Siempre canté estremecido
las penas del paisanaje,
la explotación y el ultraje
de mis hermanos queridos.

Pa que cambiaran las cosas


busqué rumbo y me perdí;
al tiempo, cuenta me dí
y agarré por buen camino.
¡Antes que nada, argentino;
y a mi bandera seguí...!

Yo soy del norte y del sur,


del llano y del litoral;
y naide lo tome a mal
si hay mil gramos en el kilo.
Ande quiera estoy tranquillo
pero ensillao, soy bagual.

El cantor debe ser libre


pa desarrollar su cencia.
Sin buscar la convenencia
ni alistarse con padrinos.
De esos oscuros caminos
yo ya tengo la experiencia.

Yo canto, por ser antiguos


cantos que ya son eternos;
y hasta parecen modernos
por lo que en ellos vichamos.
Con el canto nos tapamos
para entibiar los inviernos...

Y no canto a los tiranos


ni por orden del patrón.
El pillo y el trapalón
que se arreglen por su lado
113

con payadores comprados


y cantores de salón.

Por la fuerza de mi canto


conozco celda y penal.
Con fiereza sin igual
más de una vez fui golpiao,
y al calabozo tirao
como tarro al basural.

Se puede matar a un hombre.


Pueden su rostro manchar,
su guitarra chamuscar.
¡Pero el ideal de la vida,
esa es leñita prendida
que naide ha de apagar!

Los malos se van alzando


todo lo que hallan por ahí;
como granitos de maíz
siembran los peores ejemplos,
y se viene bajo el templo
de la decencia del país.

Detrás del ruido del oro


van los maulas como hacienda;
no hay flojo que no se venda
por una sucia moneda;
mas, siempre en mi tierra queda
gauchaje que la defienda.

Cantor que cante a los pobres


ni muerto se ha de callar.
Pues ande vaya a parar
el canto de ese cristiano,
no ha de faltar el paisano
que lo haga resucitar.

El estanciero presume
de gauchismo y arrogancia.
El cree que es extravagancia
que su peón viva mejor.
Mas, no sabe ese señor
que por su peón tiene estancia.

Aquel que tenga sus reales


hace muy bien en cuidarlos;
114

pero si quiere aumentarlos


que a la ley no se haga el sordo.
Que en todo puchero gordo
los choclos se vuelven marlos.

Una vuelta, sin trabajo,


andaba por Tucumán,
y en una fonda, ande van
cantores de madrugada,
me acerqué pa la payada
que siempre ha sido mi afán.

Aunque extrañando la monta


me le apilé a un instrumento.
Y al cabo de algún momento
le di puerta a una baguala,
con una coplita rala
de esas que llevan los vientos.

Tal vez fuera la guitarra.


¡Tan lindo como sonaba!
Mi corazón remontaba
tristezas de los caminos,
y lo maldije al destino
que tantas penas me daba.

Un hombre se me acercó
y me dijo : ¿Qué hace acá?
Viaje pa la gran ciudad
que allí lo van a entender;
áhi tendrá fama, placer
y plata pa regalar.

¡Para qué lo habré escuchao!


¡Si era la voz del mandinga!
Buenos Aires, ciudá gringa,
me tuvo muy apretao.
Tuitos se me hacían a un lao
como cuerpo a la jeringa.

Y eso que no vine pobre


pues traiba alpargatas nuevas.
Las viejas pa cuando llueva
en la alforja las metí;
un pantalón color gris
y un saco tirando a leva.
115

Saltando de radio en radio


anduve, figuresé.
Cuatro meses me pasé
en partidas malogradas;
naide aseguraba nada,
y sin plata me quedé.

Vendí mis lindas alforjas.


Mi guitarra, ¡la vendi!
En mi pobreza, ay de mí,
me hubiera gustao guardala.
¡Tanto me ha costao comprarla
Pero, en fin todo perdí!

¡Vihuela, dónde andarás,


qué manos te están tocando.
Noches enteras pensando
siquiera como consuelo,
que sea un canto de este suelo
lo que te están arrancando...!

Cuando el máiz está en barbecho


luce un color brillantón;
las hebras, como un nailón
presumen con sus lindezas.
Pero agachan la cabeza
si las agarra el carbón.

Igual me pasaba a mí
en aquellos tiempos idos;
joven, fuerte, presumido,
y cuando se acabó el queso,
volví en un triste regreso
poblada l'alma de olvidos.

Cosas de la juventud...
¡Malhaya, dónde andarás!
Aura que estoy bataraz
de tanto cambiar el pelo,
recuerdo aquellos develos
pero no miro p'atras.

Me volví pal Tucumán


nuevamente a padecer.
Y en eso de andar y ver
se pasarán muchos años
entre penas, desengaños,
116

esperanzas y placer.

Mas, no jué tiempo perdido,


asegún lo ví después.
Porque supe bien como es
la vida de los paisanos.
De todos me sentí hermano,
del derecho y del revés.

Siempre recuerdo los tiempos


en que guapiando pasé,
los cerros que atravesé
buscando lo que no hallaba,
y hasta a veces me quedaba
por esos campos de a pie.

La vida me fué enseñando


lo que vale una guitarra;
por ella anduve en las farras
tal vez hecho un estropício,
y casi me agarra el vicio
con sus invisibles garras.

Menos mal que llevo adentro


lo que la tierra me dio.
Patria, raza o que sé yo,
pero que me iba salvando,
y así, seguí caminando
por los caminos de Dios.

Pero como en la payada


bien llamada contrapunto
no acaba en esto el asunto
sino que debe seguir,
algo mas debo decir
en la cuestión de los puntos.

Yo no consegui aclarar,
y no me explico el motivo,
tres puntos consecutivos
que algunos suelen usar.
¿Alguien me puede explicar
estos puntos suspensivos?
(http://www.cancioneros.com/)
117

BARTOLOMÉ HIDALGO (1788-1822) é considerado o iniciador da poesia gauchesca no


Rio de la Plata. Órfão de pai, ele viveu com a mãe e irmãs em Montevidéu. Por ser de
família modesta, sentiu na pele o rigor da sociedade. Até os 23 anos foi militar, o que
influenciou os primeiros poemas. Compôs a Marcha Nacional Oriental para celebrar o
armistício entre Buenos Aires e Montevidéu. Continuou vivendo em Montevidéu onde
dirigiu A Casa da Comédia. Após a invasão portuguesa, foi para Buenos Aires e viveu a
dura vida de poeta criollo que subsiste da venda das composições impressas em
pliegos sueltos. Escreve Los Diálogos, sua obra mais importante. Bartolomé Hidalgo
pertence à cultura popular. É daqueles autores considerados essenciais: são
importantes no que dizem. Seus Cielitos [o cielito é equivalente à trova brasileira], fala
das vicissitudes e de denúncias, que continuam em Los Tres Gauchos Orientales,
Lussich e na voz de Martín Fierro, Hernández. Bartolomé Hidalgo foi o primeiro poeta
que cantou o Uruguai, nas Octavas Orientales:

Orientales, la patria peligra,


reunidos al Salto volad;
Libertad entonad en la marcha
y al regreso decid Libertad.

No Cielito de la Independencia sonha com uma nação formada por Argentina e


Uruguai:

Hoy una Nación


en el mundo se presenta,
pues las Provincias Unidas
proclaman su Independencia.

A obra de Bartolomé Hidalgo é classificada segundo o gênero: Cielitos e Diálogos


Patrióticos, dividida em "poesia militante" (1811 a 1816) e em "poesia expectante"
(1821 a 1822). São Cielitos em que o autor encarna a voz do povo, da comunidade.
Poesia como arma, de conteúdo político, que fala da realidade para transformá-la.
Poesia do fato histórico que denuncia, que intervém, que participa, ativa. Versos que
se gritava na trincheira quando do sítio de Montevidéu. Também o Cielito contra os
portugueses de 1816 e finalmente o primeiro Diálogo patriótico, com críticas sociais e
ao roubo do bem público. (http://www.oni.escuelas.edu.ar)

RELACIÓN QUE HACE EL GAUCHO RAMÓN CONTRERAS A


JACINTO CHANO DE TODO LO QUE VIO EN LAS FIESTAS MAYAS
DE BUENOS AIRES EN 1822.

CHANO

¡Conque mi amigo Contreras,


qué hace en el ruano gordazo!
Pues desde antes de marcar
no lo veo por el Pago.
118

CONTRERAS

Tiempo hace que le ofrecí


el venir a visitarlo,
Y lo que se ofrece es deuda:
¡pucha! pero está lejazos.
Mire que ya el mancarrón
se me venía aplastando.
¿Y usté no jué a la ciudá
a ver las fiestas este año?

CHANO

No me lo recuerde, amigo!
Si supiera ¡voto al diablo!
lo que me pasa ¡por Cristo!
Se apareció el veinticuatro
Sayavedra el domador
a comprarne unos caballos:
le pedí a dieciocho riales,
le pareció de su agrado,
y ya no se habló palabra,
y ya el ajuste cerramos;
por señas, que el trato se hizo
con caña y con mate amargo.
Caliéntase Sayavedra,
y con el aguardientazo
se echó atrás de su palabra,
y deshacer quiso el trato.
Me dio tal coraje, amigo,
que me asiguré de un palo,
y en cuanto lo descuidé,
sin que pudiera estorbarlo,
le acudí con cosa fresca:
sintió el golpe, se hizo el gato,
se enderezó, y ya se vino
el alfajor relumbrando:
yo quise meterle el poncho,
pero amigo, quiso el diablo
trompezase en una taba,
y lueguito mi contrario
se me durmió en una pierna
que me dejó coloriando;
en esto llegó la gente
del puesto, y nos apartaron.
Se jue y me quedé caliente
sintiendo, no tanto el tajo
119

como el haberme impedío


ver lasJunciones de Mayo:
de ese día por el cual
me arrimaron un balazo
y peliaré hasta que quede
en el suelo hecho miñangos.
Si usté estuvo, Contreras,
cuénteme lo que ha pasao.

CONTRERAS

¡Ah fiestas lindas, amigo!


No he visto en los otros años
junciones más mandadoras,
y mire que no lo engaño.

El veinticuatro a la noche
como es costumbre empezaron.
Yo vi unas grandes colunas
en coronas rematando
y ramos llenos de flores
puestos a modo de lazos.

Las luces como aguacero


colgadas entre los arcos,
el Cabildo, la pirame,
la recova y otros laos,
y luego la versería.

¡Ah cosa linda! Un paisano


me los estuvo leyendo,
pero ¡ah pueta cristiano,
qué décimas y qué trobos!
Y todo siempre tirando
a favor de nuestro Aquél;
luego había en un tablao
musiquería con juerza
y bailando unos muchachos
con arcos y muy compuestos,
vestíos de azul y blanco,
y al acabar, el más chico
una relación echando,
me dejó medio... quién sabe,
¡ah muchachito liviano,
por Cristo que le habló lindo
al Veinticinco de Mayo!
120

Después siguieron los juegos


y cierto que me quemaron
porque me puse cerquita
y de golpe me largaron
unas cuantas escupidas
que el poncho me lo cribaron
A las ocho de tropel
para la Mercé tiraron
las gentes a las comedias:
yo estaba medio cansao
y enderecé a lo de Roque:
dormí, y al cantar los gallos
ya me vestí: calenté agua,
estuve cimarroneando:
y luego para la plaza
agarré y vine despacio:
llegué ¡bien haiga el humor!

Llenitos todos los bancos


de pura mujerería,
y no amigo cualquier trapo
sino mozas como azúcar.

Hombres, eso era un milagro;


y al punto en vanas tropillas
se vinieron acercando
los escueleros mayores
cada uno con sus muchachos,
con banderas de la Patria
ocupando un trecho largo;
llegaron a la pirame
y al dir el sol coloriando
y asomando una puntita...

Bracatán, los cañonazos,


la gritería, el tropel,
música por todos laos,
banderas, danzas, junciones,
los escuelistas cantando,
y después salió uno solo
que tendría doce años,
nos echó una relación...
¡Cosa linda, amigo Chano!
Mire que a muchos patriotas
las lágrimas les saltaron.
121

Más tarde la soldadesca


a la plaza jue dentrando,
y desde el Juerte a la iglesia
todo ese tiro ocupando.

Salió el gobierno a las once


con escolta de a caballo,
con jefes y comendantes
y otros muchos convidaos,
dotores, escribanistas,
las justicias a otro lao,
detrás la oficialería
los latones culebriando.

La soldadesca hizo cancha


y todos jueron pasando
hasta llegar a la iglesia.
Yo estaba medio delgao
y enderecé a un bodegón,
comí con Antonio el manco,
y a la tarde me dijeron
que había sortija en el Bajo;
me jui de un hilo al paraje,
y cierto, no me engañaron.

En medio de la Alamera
había un arco muy pintao
con colores de la Patria:
gente, amigo, como pasto,
y una mozada lucida
en caballos aperados
con pretales y coscojas,
pero pingos tan livianos
que a la más chica pregunta
no los sujetaba el diablo.

Uno por uno rompía


tendido como lagarto,
y... zas... ya ensartó... ya no...
¡Oiganlé que pegó en falso!
¡Qué risa, y qué boraciar!
Hasta que un mocito amargo
le aflojó todo al rocín,
y ¡bien haiga el ojo claro!
se vino al humo, llegó
y la sortija ensartando
122

le dio una sentada al pingo


y todos viva gritaron.

Vine a la plaza: las danzas


seguían en el tablao;
y vi subir a un inglés
en un palo jabonao
y allá en la punta colgando
una chuspa con pesetas,
una muestra y otros varios
premios para el que llegase.

El inglés era baquiano:


se le prendió al palo viejo
y moviendo pies y manos
al galope llegó arriba,
y al grito, ya le echó mano
a la chuspa y se largó
de un pataplús hasta abajo.

De allí a otro rato volvió


y se trepó en otro palo
y también sacó una muestra.
¡Bien haiga el bisquete diablo!
Después se treparon otros
y algunos también llegaron.

Pero lo que me dio risa


jueron, amigo, otros palos
que había con unas guascas
para montar los muchachos,
por nonbre rompe-cabezas;
y en frente, en otro lao,
un premio para el que juese
hecho rana hasta toparlo;
pero era tan belicoso
aquel potro, amigo Chano,
que muchacho que montaba,
contra el suelo, y ya trepando
estaba otro, y zas al suelo;
hasta que vino un muchacho
y sin respirar siquiera,
se fue el pobre refalando
por la guasca, llegó al fin
y sacó el premio acordao.

Pusieron luego un pañuelo


123

y me tenté ¡mire el diablo!


Con poncho y todo monté
y en cuanto me lo largaron
al infierno me tiró,
y sin poder remedíarlo
(perdonando el mal estilo)
me pegué tan gran culazo,
que si allí tengo narices
quedo para siempre ñato...

Luego encendieron las velas


y los bailes continuaron,
la cuetería y los juegos.
Después todos se marcharon
otra vez a las comedias.

Yo quise verlas un rato


y me metí en el montón.
Y tanto me rempujaron
que me encontré en un galpón
todo muy iluminao
con casitas de madera
y en el medio muchos bancos.

No salían las comedias


y yo ya estaba sudando,
cuando, amigo, redepente
árdese un maldito vaso
que tenía luces adentro
y la llama subió tanto
que pegó juego en el techo;
alborotóse el cotarro,
y yo que estaba cerquita
de la puerta, pegué un salto
y ya no quise volver.

Después me anduve pasiando


por los cuarteles, que había
también muy bonitos arcos
y versos que daban miedo.

Llegó el veintiséis de Mayo


y siguieron las junciones
como habían empezao.
El veinsiete lo mesmo:
un gentío temerario
vino a la plaza: las danzas,
124

los hombres subiendo al palo,


y allá en el rompe-cabezas
a porfía los muchachos.

Luego con muchas banderas


otros niños se acercaron
con una imagen muy linda
y un tamborcito tocando.

Pregunté qué virgen era,


la Fama me contestaron:
al tablao la subieron
y allí estuvieron un rato,
aonde uno de los niños
los estuvo proclamando
a todos sus compañeros.

¡Ah, pico de oro! Era un pasmo


ver al muchacho caliente,
y más patriota que el diablo.

Después hubo volantines.

Y un inglés todo pintao


en un caballo al galope
iba dando muchos saltos.

Entre tanto la sortija


la jugaban en el Bajo,
por la plaza de Lorea
otros también me contaron
que había habido toros lindos;
yo estaba ya tan cansao
que así que dieron las ocho
corté para lo de Alfaro,
aonde estaban los amigos
en beberaje y fandango:
eché un cielito en batalla,
y me resfalé hasta un cuarto
aonde encontré a unos calandrias
calientes jugando al paro.

Yo llevaba unos rialitos,


y así que echaron el cuatro
se los planté, perdí en boca,
y sin medio me dejaron.
En esto un catre viché
125

y me le jui acomodando,
me tapé con este poncho
y allí me quedé roncando.

Esto es, amigo del alma,


lo que he visto y ha pasao.

CHANO

Ni oirlo quiera, amigo,


como ha de ser, padezcamos
a bien que el año que viene,
si vivo, iré a acompañarlo,
y la correremos juntos.

Contreras lió su recao


y estuvo allí todo un día;
y al otro, ensilló su ruano,
y se volvió a su querencia
despidiéndose de Chano.

AL TRIUNFO DE LIMA Y EL CALLAO, CIELITO PATRIÓTICO QUE


COMPUSO EL GAUCHO RAMÓN CONTRERAS

Descolgaré mi changango
para cantar sin reveses,
el triunfo de los patriotas
en la Ciudad de los Reyes.

Cielito, cielo que sí,


están los Sanmartinistas
tan amargos y ganosos ,
que no hay quien se les resista.

Apartando una torada


me encontraba yo en mi hacienda,
pero al decir: Lima es nuestra
le largué al bagual la rienda.

Cielito, cielo que sí,


cielito de Fr. Cirilo,
y ya enderecé hasta el pueblo,
y ya me vine en un hilo.

Estaba medio cobarde


porque ya otros payadores
126

y versistas muy sabidos


escribieron puras flores.

Allá va cielo y más cielo,


cielito de la mañana...
Después de los ruiseñores
bien puede cantar la rana.

Lima anduvo endureciendo


entre el temor y el encono,
y por ajuste de cuentas
D. Laserna largó el mono.

Cielito, cielo que sí,


bien se lo pronostiqué,
pero ya que así lo quiso
tenga pacencia el Virrey.

Desconfiando de su alzada
quitaron a D. Pezuela
porque el infeliz tenía
medio picada una muela.

Cielito, y luego a Laserna


le encargaron el gobierno...
¡Ah, mozo para un encargue
si no hubiera sido invierno!

Juyó con todas las platas


y aun alivió los conventos
no dejando ni ratones
con la juerza del tormento.

Cielito, cielo que sí,


tome bien la deresera,
porque con la pesadumbre
no dé en una vizcachera.

Con puros mozos de garras


San Martín entró triunfante,
con jefes, y escribanistas
y todos los comendantes.

Cielito, cielo que sí,


digo cese la pendencia,
ya reventó la coyunda,
y viva la Independencia.
127

Y en cuanto gritaron viva,


ya salieron boraciando
los libres con las banderas
que a la patria consagraron.

Cielo, y ya las garabinas


y los cajones roncaron,
y hasta las campanas viejas
allí dejaron el guano.

¡Qué bailes y qué junciones!


y aquel beber tan prolijo,
que en el rico es alegría
y en el pobre pedo fijo.

Cielito, cielo que no,


por el bravo San Martín
no hubo ciego violinista
que no rompiese el violín.

Cayó Lima: unos decían,


ya tronó, gritaban otros
¡oiganlé al matucho viejo
qué mal se agarró en el potro!

Cielito, digo que sí,


todo era humor y alegría,
y andaba mandando juerza
toda la mujerería.

¿Y qué me dicen, señores,


de un tal general Cantera
que diz que vino al Callao
a llevarse una zoncera?

Cielito, digo que sí,


cielito de los escesos,
este infeliz sucumbió
como ratón en los quesos.

Como el hambre le apretaba


dejó el castillo al instante,
y sacó la soldadesca
a ver si le daba el aire.
128

Cielito, cielo que sí,


cielito de tres por ocho,
que se empezó a desgranar
lo mesmo que maíz morocho.

Más de ochocientos soldados


se pasaron de carrera,
y en un tris no más estuvo
que se viniese Cantera.

Cielito, digo que sí,


de hambre morir no quisieron,
y les encuentro razón
porque estarían muy fieros.

Viendosé entonces perdidos


irse pensó por la costa,
y Cockran meniando bala
jue matando esta langosta.

Cielito, digo que sí,


por fin el pobre juyó
y el Callao con sus cangallas
a San Martín se rindió.

Solo el general Ramírez


quedó y también Olañeta,
pero pronto me parece
que entregarán la peseta.

Cielito, cielo que sí,


cielito del bien que quiero,
estos pobres han quedao
dando güeltas al potrero.

La Patria, sigún mi cuenta,


es lo mesmo que el banquero,
que por precisión se lleva
la plata de enero a enero.

Cielito, en este supuesto


sepa el amigo Fernando,
que mientras él tenga apuntes
la Patria sigue tallando.

Que los medios que le quedan


los va a perder, y muy presto,
129

y él no tiene caracú
para coparnos el resto.

Cielito, cielo que sí,


cielito de los corrales,
o han de agachar sin remedio
o han de ir a los pajonales.

Provincias de Buenos Aires


y de Cuyo, valerosas,
con triunfo tan singular
debéis estar muy gozosas.

Cielito, cielo que sí,


cielito del fiero Marte,
en empresas tan sublimes
os tocó la mejor parte.

Y con esto honor y gloria


a los Sur-Americanos,
que supieron con firmeza
libertarnos del tirano.

Cielito, digo que sí,


cielito de la victoria,
la Patria y sus dinos hijos
vivan siempre en mi memoria.
(1821)

NUEVO DIÁLOGO PATRIÓTICO ENTRE RAMÓN CONTRERAS,


GAUCHO DE LA GUARDIA DEL MONTE, Y CHANO, CAPATAZ DE
UNA ESTANCIA EN LAS ISLAS DEL TORDILLO.

CHANO

¿Qué dice, amigo Ramón,


qué anda haciendo por mi Pago
en el zaino parejero ?

CONTRERAS

Amigo, lo ando variando ,


porque tiene que correr
con el zebruno de Hilario.

CHANO
130

¡Qué me cuenta! Si es ansí


voy a poner ocho a cuatro
a favor de este bagual ,
mire amigo que es caballo
que en la rompida no más
ya se recostó al contrario.

CONTRERAS

¿Y cómo jue desde el día


que estuvimos platicando?

CHANO

Con salú; pero sin yerba;


desensille su caballo,
tienda el apero y descanse.
Tomá este pingo , Mariano,
y con el bayo amarillo
caminá y acollarálo.
¡Mire que de aquí a la Guardia
hay un tirón temerario !

CONTRERAS

Y con tantos aguaceros


está el camino pesao,
y malevos que da miedo
anda uno no más topando,
lo güeno que yo afilé
a mi gusto el envenao ,
le hice con las de domar
cuatro preguntas al zaino,
y en cuanto lo vi ganoso
y que se iba alborotando,
le aflojé todo y me vine,
pero siempre maliciando...
Velay yerba, amigo viejo,
iremos cimarroniando .

CHANO

¿Y cómo va con la Patria


que me tiene con cuidao?
Ayer unos oficiales
cayeron por lo de Pablo
y mientras tomaban mate ,
131

lo asentaron , y mudaron,
leyeron unas noticias
atento del rey Fernando,
que solicita con ansia
por medio de diputaos
ser aquí reconocido
su constitución jurando.

CONTRERAS

Anda el rumrún hace días,


por cierto no lo engañaron:
los diputaos vinieron,
y desde el barco mandaron
toda la papelería
a nombre del rey Fernando;
¡y venían roncadores ...
la pu... los maturrangos!
Pero, amigo, nuestra Junta
al grito les largó el guacho
y les mandó una respuesta
más linda que San Bernardo.
¡Ah gauchos escribinistas
en el papel de un cigarro!
Viendo ellos que no embocaban,
y que los habian torniao,
alzaron los contrapesos
y dando güeltas al barco,
se jueron sin despedirse...
Vayan con doscientos diablos.

CHANO

Mire que es hombre muy rudo


el amigo Don Fernando:
lo contemplo tan inútil
asigún lo he figurao,
que creo que ni silbar
sabe, como yo soy Chano.
De balde dimes la baja
a todos sus mandatarios,
y por nuestra libertá
y sus derechos sagraos
nos salimos campo ajuera,
y al enemigo topando,
el poncho a medio envolver
y el alfajor en la mano,
132

con el corazón en Dios


y en el santo escapulario
de nuestra Virgen del Carmen,
haciendo cuerpo de gato;
sin reparar en las balas
ni en los juertes cañonazos,
nos golpiamos en la boca
y ya nos entreveramos ;
y a éste quiero, a éste no quiero,
los juimos arrinconando,
y a un grito: ¡Viva la Patria!
el coraje redoblamos,
y entre tires y humadera,
entre reveses y tajos,
empezaron a flaquiar,
y tan del todo aflojaron,
que de esta gran competencia
ni memoria nos dejaron.
De balde en otras aiciones
les dimos contra los cardos:
y si no que le pregunten
a Posadas el mentao
cómo le jue allá en las Piedras,
y después allá en los barcos.
Diga Tristán... Mas no quiero
gastar pólvora en chimangos ,
porque era Tristán más triste
que hombre pobre enamorao.
Muesas en la del Cerrito;
Marcó flojo y sanguinario
en la aición de Chacabuco,
Osorio es hombre fortacho
allá en los Cerros de Espejo
en la pendencia de Maipo.
Hable Quimper y ese O'Relly
y otros muchos que ahura callo.
Todo es de balde, Contreras,
pues si conoce Fernando
que aunque haga rodar la taba
culos no más sigue echando,
¿no es una barbaridá
el venir ahura roncando ?
Mejor es que duerma poco,
porque amigo, a sus vasallos
el nombre de Libertá
creo que les va agradando,
Y como él medio se acueste,
133

cuanto se quede roncando


ya le hicieron trus la vaca,
y ya me lo capotiaron.

CONTRERAS

¡Ah Chano, si de sabido


perdiz se hace entre las manos!
Cuanto me ha dicho es ansina
y yo no puedo negarlo;
pero esté usté en el aquel
que ellos andan cabuliando
a ver si nos desunimos
del todo, y en este caso
arrancarnos lo que es nuestro
y hasta el chiripá limpiarnos.

CHANO

¡No toque, amigo, ese punto


porque me llevan los diablos!
¿Quién nos mojaría la oreja
si uniéramos nuestros brazos?
No digo un Rey tan lulingo;
rnas ni todos los tiranos
juntos, con más soldadesca
que hay yeguada en nuestros campos
nos habían de hacer roncha;
pero amigo, es el trabajo
que nuestras desavenencias
nos tienen medio atrasaos.
¡Ah sangre, amigo, preciosa
tanta que se ha derramao!
¿No es un dolor ver, Contreras,
que ya los americanos
vivimos en guerra eterna,
y que al enemigo dando
ratos alegres y güenos
los tengamos bien amargos?
Pero yo espero desta hecha
saludar al Sol de Mayo,
en días más lisonjeros,
unido con mis hermanos.
Y ansí no hay que recular,
que ya San Martín el bravo
está en las puertas de Lima
con puros mozos amargos ,
134

soldadesca corajuda,
y sigún me han informao
en Lima hay tanto patriota
que Pezuela anda orejiando,
y en logrando su redota
ha de cambiar nuestro Estado,
pues renace el patriotismo
en el más infeliz rancho .

CONTRERAS

Si, señor, dejuramente.


¡Ah momento suspirao!
Y en cuanto esto se concluya
al grito nos descolgamos
con latón y garabina
a suplicarle un tapao
que largue no más lo ajeno,
porque es terrible pecao
contra el gusto de su dueño
usar lo que no se ha dao;
y en concencia yo no quiero
(porque soy muy güen cristiano)
que ninguno se condene
por hecho tan temerario.

CHANO

¡Eso sí, Ramón Contreras!


¿Se acuerda del fandangazo
que vimos en lo de Andújar
cuando el general Belgrano
hizo sonar los cueritos
en Salta a los maturrangos ?
Por cierto que en esta aición
(sin intención de dañarnos)
hizo un barro el general
que aún hoy lo estamos pagando;
él quiso ser generoso
y presto miró su engaño,
cuando hizo armas en su contra
el juramentao Castro,
que quebratando su voto
manchó su honor y su grao.
Estas generosidades
muy lejos nos han tirao,
porque el tirano presume
135

que un proceder tan bizarro


sólo es falta de justicia;
pero esto ya se ha pasao,
y no será malo, amigo,
si por fin escarmentamos.
Por ahura saque el cuchillo,
despachemos este asao
y sestiaremos después,
para ir a lo del Pelao
a ver si entre su manada
está, amigo, mi picazo,
que hace días que este bruto
de las mansas se ha apartao.
Comieron con gran quietú,
y después de haber sestiao
ensillaron medio flojo,
y se salieron al tranco
al rancho de Andrés Bordón,
alias el Indio Pelao,
que en las pendencias de arriba
sirvió de triste soldao,
y en Vilcapugio de un tiro
una pierna le troncharon.
Dieron el grito en el cerco,
los perros se alborotaron;
Bordón dejó la cocina,
los hizo apiar del caballo;
y lo que entre ellos pasó
lo diremos más despacio
en otra ocasión, que en ésta
ya la pluma se ha cansao.
(1821)

CIELITO DE LA INDEPENDENCIA

Si de todo lo criado
es el cielo lo mejor,
el "cielo" ha de ser el baile
de los Pueblos de la Unión.

Cielo, cielito y más cielo,


cielito siempre cantad
que la alegría es del cielo,
del cielo es la libertad.

Hoy una Nación


en el mundo se presenta,
136

pues las Provincias Unidas


proclaman su Independencia.

Cielito, cielo festivo,


cielo de la libertad,
jurando la Independencia
no somos esclavos ya.

Los del Río de la Plata


cantan con aclamación,
su libertad recobrada
a esfuerzos de su valor.

Cielo, cielito, cantemos,


cielo de la amada Patria,
que con sus hijos celebra
su libertad suspirada.

Los constantes argentinos


juran hoy con heroísmo,
eterna guerra al tirano,
guerra eterna al despotismo.

Cielo, cielito, cantemos


se acabarán nuestras penas,
porque ya hemos arrojado
los grillos y las cadenas.

Jurando la Independencia
tenemos obligación,
de ser buenos ciudadanos
y consolidar la Unión.

Cielo, cielito, cantemos,


cielito de la unidad,
unidos seremos libres,
sin unión no hay libertad.

Todo fiel americano


hace a la Patria traición,
si fomenta la discordia
y no propende a la Unión.

Cielo, cielito, cantemos


que en el cielo está la paz,
y el que la busque en discordia
jamás la podrá encontrar.
137

Oprobio eterno al que tenga


la depravada intención
de que la Patria se vea
esclava de otra nación.

Cielito, cielo festivo,


cielito del entusiasmo,
queremos antes morir
que volver a ser esclavos.

¡Viva la Patria, patriotas!


¡Viva la Patria y la Unión,
viva nuestra independencia,
viva la nueva Nación!

Cielito, cielo dichoso,


cielo del americano,
que el cielo hermoso del Sud
es cielo más estrellado.

El cielito de la Patria
hemos de cantar, paisanos,
porque cantando el cielito
se inflama nuestro entusiasmo.

Cielito, cielo y más cielo,


cielito del corazón,
que el cielo nos da la paz,
y el cielo nos da la Unión.

(http://www.biblioteca.clarin.com)
138

HILARIO ASCASUBI (1807-1875) nasceu no Uruguai filho de Mariano Ascasubi, andaluz


e Loreta de Elía, cordobesa. Segundo Mugica Lainez "estava predestinado a ser um
grande andarilho". Dos 12 aos 16 anos havia andado pela América do Norte e Guiana
Francesa. Dizem que percorreu França, Portugal, Inglaterra e Valparaíso. Este é o
roteiro que canta Hilario na "Prosa entre el imprentero y yo". Em 1824 dirige a
imprensa de Salta e edita "La Revista Mensual de Salta", onde mostra espírito agudo e
crítico. Se incorpora aos Cazadores comandados pelo general José María Paz e recebe
a patente de tenente, toma parte do exército de Lamadrid. Conhece El Tigre de los
Llanos (Don Facundo Quiroga), se incorpora e ascende a Capitão. Quando Lavalle se
traslada ao Uruguai, Ascasubi publica o diário "El Arriero Argentino". No ano seguinte é
levado a Buenos Aires prisioneiro e permanece detido dois anos, quando foge e se
aloja em Montevidéu. Instala uma padaria e prospera. Em 1837 se casa com Laureana
Villagrán e Oliver. Ajuda o General Lavalle e oferece refúgio aos emigrados de Buenos
Aires. A fama de escritor cresce, firmada na tradição dos Cielitos de Hidalgo, lança seu
primeiro diálogo entre os gauchos orientais Jacinto Amores e Juan Peñalva, que falam
sobre as Festas Cívicas da Constituição Oriental em Montevidéu, celebradas em Julho
de 1833. Em 1839 editou o periódico "El gaucho en campaña", que durou quatro
números, onde sai o poema El Truquiflor. Sua vida, a atividade cívica, estão refletidos
no poema Paulino Lucero, ou Los Gauchos del Río de la Plata, cantando e
combatendo contra os tiranos da Argentina e Uruguai (1839/51) editado em 1872.
Nele resume o sítio a Montevidéu, de 1843 a 1850. Asc abusi vai ao encontro do
General Urquiza, por causa do conflito entre a Capital e a Confederação, como se vê
em La Media Caña "La Tartamuda" 1853. Edita o periódico em prosa e verso, Aniceto
el Gallo, gazeta joco-tristonha e gaucho-patriótica, humorística e circunstancial,
provoca ironias, faz sangrar as feridas das figuras do momento. Em 1854 coopera na
instalação do gás em Buenos Aires e de um ramal ferroviário para Magdalena. Insta a
Pellegrini e Varela a construção do Teatro Colón, que inaugura com a ópera La
Traviata. Ascasubi não comparece porque nesse dia falece sua filha Cristina, o que
provoca a dor que o acompanhará até à morte. Escreve seu famoso poema Santos
Vega, que renova as recordaçoes da pátria, dos entreveros gauchescos, da lhanura que
guarda o melhor, como a reminiscencia dos anos da juventude. De volta a Buenos
Aires, adoece e morre no dia 17/11/1875. (http://www.oni.escuelas.edu.ar/)

MARTÍN SAGAYO RECIBIENDO EN EL PALENQUE DE SU CASA A


SU AMIGO PAULINO LUCERO.
MARTÍN

¡Amigo! De aquella loma


139

que atrás del monte se ve,


apenas lo devisé,
dije: aquel mozo que asoma
se me hace por la presencia
ser el paisano Lucero;
y felizmente, aparcero,
me ha salido...

LUCERO

A la evidencia:
porque como nunca juyo
de esta causa en el afán;
y como dice un refrán,
en un pie a tu tierra, grullo,
cuanto el general Urquiza
¡a quien lo conserve Dios!
pegó el grito: "Vamonós
contra Rosas", a la prisa,
como es justa la contienda,
por lo justo, al grito yo,
decidido, del Cuaró
me vine a tirar la rienda
frente de Cualeguaychú
y al Uruguay me azoté
y lueguito me largué,
a saber de su salú.
¿Y mi aparcera?

MARTÍN

Buenaza,
siempre mentándolo a usté.
Vaya, aparcero, apiesé;
ya sabe que está en su casa,
y no precisa...

LUCERO

Al momento:
velay refalo el recao
y me pongo a su mandao.

MARTÍN

Adelante: tome asiento.


140

LUCERO

Pues, mire, amigo Sayago,


yo al venir me presumía
que no me conocería
al volver por este pago.
Pero si usté a la fortuna
es igual en la memoria,
ya puede hacer vanagloria
de conocedor: ¡ahijuna!

MARTÍN

Lo que yo estoy conociendo


es que usté viene templao
y, como siempre, alentao.
Conque, váyame diciendo:
¿Diadónde sale?

LUCERO

¡Chancita!
De lejas tierras, cuñao,
después de haberme troteao
media América enterita.
De suerte que de mulita
ya nada tengo, ¡qué Cristo!
pues con las cosas que he visto
en tanto como he andao,
de todo estoy enterao
y para todo estoy listo.

Pero, paisano Martín,


yo creiba que su amistá
con mi larga ausiencia ya
hubiese aflojao al fin.
Ya ve que ¡siete años largos
sin vernos hemos pasao!
¡Y cómo estoy de arrugao
por tantos ratos amargos!...
Así, yo hubiera apostao
a que me desconocía,
y que ni mentas haría
de mí.

MARTÍN
141

Se había equivocao:
y lejos de eso, aparcero,
tan presente lo he tenido
que lo hubiera distinguido
en el mayor entrevero.
Digo esto, en la persuasión
que usté en la otra tremolina
habrá andao de garabina,
por supuesto, y de latón;
sobre el pingo noche y día
peliando al divino ñudo,
medio en pelota o desnudo
y con la panza vacía.

Pero ya por estos pagos,


lo mesmo que por su tierra,
se anda por concluir la guerra
y las matanzas y estragos,
bajo la suposición
de que no corcoviará
Rosas, y se allanará
a organizar la nación
por el orden federal,
que Entre Ríos y Corrientes
han proclamado valientes,
y han de sostener... ¿qué tal?

LUCERO

¡Muy lindo!... pero... veremos;


porque ese Rosas, amigo,
¡es tan diablo... pucha, digo!
¡Cuántos males le debemos!
Y aunque usté haiga forcejeao
en otro tiempo por él,
éste no es el tiempo aquél,
y se habrá desengañao...

MARTÍN

¿Forcejeao, dijo? Se engaña:


por un deber he seguido,
siempre medio persuadido
que Rosas es un lagaña.

LUCERO
142

¿Medio no más, aparcero?


¿O se le hace rana el sapo?
¿A que si se lo destapo
se persuade por entero?
¡Es un tigre hasta morir,
con unas garras que asusta!
Y a ese respeuto, si gusta,
le explicaré mi sentir.

MARTÍN

¡Pues no!, amigo: desde luego


prosiga, y déle por ahi:
y arme un cigarro, velay,
también voy a darle fuego.

LUCERO

No... deje estar... ¡Voto a bríos!


¡Maldito sea el rosín!
¡Por Cristo! amigo Martín,
he perdido los avios.
¡Ah, bruto! ¡si ha corcoviao
hasta cortarme la cincha,
y todavía relincha;
y mire, se ha revolcao!

MARTÍN

Tiene laya de buenazo


y bellaco...

LUCERO

Sin piedá,
pero de conformidá,
que luego es ¡superiorazo!

Hoy cuasi me descompuso,


porque en pelos me dejó,
y ya también se bolió,
pero salí, ¡como un huso!

MARTÍN

¡Ah, gaucho!... Vení, Ramón;


velay, agarrá ese overo,
143

y acollarálo ligero
al zaino viejo rabón.
¿No será algún pescuecero
su redomón, ño Paulino,
que saque por el camino
a la rastra a mi aguatero?
No le hace: andá y del tirón
traite el mate y la caldera;
vaya, hijito, y de carrera
cebenós un cimarrón.

LUCERO

Pues, yo crei que usté viviera


siempre en la otra población,
y hoy al darle el madrugón
me encontré con la tapera.
Luego me pude informar
de su salú y paradero,
y en la cruzada al overo
se le antojó retozar.

MARTÍN

¡Voto alante! En fin ya ve,


después de tanto rodar,
me he conseguido afirmar
siempre en la costa del Clé:
donde en otro tiempo, amigo,
cuanto rancho he levantao,
lueguito me lo han quemao,
como si fuera castigo;
hasta hoy que, como la rosa,
vivo y puedo trabajar
con miras de adelantar,
si Dios no manda otra cosa.

Pues acá de varios modos,


siendo los hombres honraos,
todos viven sosegaos
y ganan su vida todos,
mediante la protección
que el gobernador Urquiza
al pobre que la precisa
le presta de corazón.
Así, el hombre es bendecido,
como bajado del cielo,
144

después de tanto desvelo


y atraso que hemos sufrido.

LUCERO

Que dure es lo menester,


y pronto, amigo, verá
que esta provincia será
feliz como debe ser,
porque la naturaleza
y Dios mesmo se ha esmerao
en darle como le ha dao
en su suelo su riqueza.

Corriendo la agua a raudales


por sus ríos caudalosos,
y de ahi sus montes frondosos,
sus campos y pastizales.
Luego sus puertos y haciendas
su trajín y produciones...
¿No valen más estos dones,
que ejércitos y contiendas
sin término? ¿Y para qué?
Para que al fin el tirano
llegue a ser el soberano
de estos pagos.

MARTÍN

Riasé del Supremo y de su antojo,


pues, para tal pretender,
Rosas no debía ser
tan ruin, tan malo, y tan flojo;
ni debía ese asesino
apoyarse en el terror,
ni ser tan manotiador
como tacaño y mezquino.

Así condición ninguna


tiene, sino fantasía;
pero, ya se allega el día
de que se le acabe, ¡ahijuna!...
¡Qué distinto proceder
tiene acá el gobernador,
a quien el restaurador
le debe todo su ser!
145

Usté lo verá, paisano;


por supuesto, lo verá,
y si ha visto ¡me dirá!
hombre más liso y más llano.
Y verá con el empeño
que proteje al hombre honrao,
sin fijarse en lo pasao,
ni en si es de Uropa o porteño.

Porque su único sistema


es perseguir los ladrones,
pero que por opiniones
ya ningún hombre le tema.
También verá el adelanto
de nuestra provincia entera,
y al cruzar por aonde quiera
le parecerá un encanto:

Ver la porción de edificios


que se alzan en todas partes
para proteger las artes
y diferentes oficios.
Luego en los campos verá
las escuelas que sostiene
la Patria, en las cuales tiene
a hombres de capacidá:

Enseñando satisfechos
y con esmeros prolijos
a que aprendan nuestros hijos
a defender sus derechos.
Y últimamente, paisano,
si hay gobiernos bienhechores,
quizá uno de los mejores
es el gobierno entrerriano.

LUCERO

¡Qué primor! Así debía


proceder todo gobierno,
veríamos que al infierno
iba a parar la anarquía.
Pero, desgraciadamente,
Rosas es tan envidioso,
y tan diablo y revoltoso,
que ya pretende al presente
largarnos un buscapié
146

para hacernos chamuscar,


porque no le ha de agradar
esta quietú; creamé.

Pues la Libertá y la paz


son dos cosas que aborrece,
a punto que se estremece
de oírlas nombrar nada más.
A bien que le he prometido
destapárselo enterito,
y voy hacerlo lueguito;
¿quiere atender?...

MARTÍN

Decidido
le prometo mi atención:
que un hombre de su razón
merece ser atendido.

LUCERO

Pues bien, amigo Sayago,


debajo de una amistá
oirá con la claridá
y la franqueza que lo hago.

No hablo como lastimao;


menos como correntino:
hablaré como argentino,
patriota y acreditao,
que nunca ha diferenciao
a porteños de entrerrianos,
ni a Vallistas de puntanos,
porque todos para mí,
desde este pago a Jujuí,
son mis queridos paisanos.

Y en el rancho de Paulino
puede con toda franqueza
disponer de la pobreza
cualquier paisano argentino,
pues nunca ha sido mezquino,
y a gala tiene Lucero,
el que cualquier forastero
llegue a golpiarle la puerta,
siguro de hallarla abierta
147

con agrado verdadero.

Sólo aborrezco a un audaz


que piensa que la Nación
es él solo en conclusión,
y su familia, a lo más:
y ese malevo tenaz,
matador, morao y ruin,
que ha promovido un sinfín
de guerras calamitosas,
no es una rana... ¡ése es Rosas!
mesmito, amigo Martín,

Que grita ¡federación!


y degüello a la unidá,
mientras que a su voluntá
manotea a la Nación;
y en veinte años de tesón
que mata y grita audazmente
¡federación! que nos cuente,
¿que provincia ha prosperao
o al menos se ha gobernao
de por sí federalmente?

Ninguna, amigo: al contrario,


hoy miran su destrución
v que en la Federación
Rosas se ha alzao unitario,
porque. a lo rey albitrario,
desde San José de Flores
fusila gobernadores,
niñas preñadas y curas,
y comete en sus locuras
otra máquina de horrores.

¡Vea qué Federación


tan gaucha! Y yo le respondo
que, aunque soy medio redondo,
conozco su explicación,
que consiste en mi opinión,
en que los pueblos unidos
vivan, y no sometidos
a tal provincia o caudillo
que les atraque cuchillo
y los tenga envilecidos...

MARTÍN
148

¡Ahijuna!...

LUCERO

No se caliente:
deje estar que le relate.

MARTÍN

Siga, amigo: velay mate;


velay también aguardiente.
¡Barajo!... ¡Qué relación!
¡Ah, Rosas, si en este istante
te topara por delante!
Si hasta me da comezón...

LUCERO

¡Viera, aparcero Sayago,


por esos pueblos de arriba,
como he visto yo cuando iba,
redotao por esos pagos!
¡Qué mortandades, qué estragos!
¡Cuánta familia inocente
hasta hoy llora amargamente
la miseria y viudedá
que deben a la crueldá
de Rosas únicamente!

Luego, el encarnizamiento
con que a los hombres persigue,
y los rastrea, y los sigue
lo mesmo que tigre hambriento.
Así es que he visto un sin cuento
de infelices desterraos,
y hombres que han sido hacendaos
rodando en tierras ajenas
y viviendo a duras penas
pobres y desesperaos.

¡Y así pretende el tirano


que el país esté sosegao,
habiéndolo desangrao
de un modo tan inhumano!
Ahora, dígame, paisano,
si a usté también lo saquiara,
149

lo persiguiese y rastriara
así con un odio eterno,
usté, desde el quinto infierno,
¿con Rosas no se estrellara?

MARTÍN

Siguro, hasta el fin del mundo


como a pleito lo seguía,
y hasta lo perseguiría
de la mar en lo profundo.
Y a la prueba me remito
en la presente patriarda,
yendo a darle una sableada
allá en Palermo mesmito.

Y siendo tan revoltoso


el paisano Juan Manuel,
preciso es librarnos de él
lo mesmo que de un rabioso;
y entre todos sin reposo
dejándonos de pelear,
lo debemos corretear,
que dispare a lo ñandú
y se vaya a la gran-pu
y nos deje sosegar.

LUCERO

Y que deje de amolarnos


con tanta guerra al botón
que arma allá ese baladrón
con miras de exterminarnos.
Que acá para gobernarnos
federal y lindamente,
sin hacer matar la gente,
pero haciendo prosperar
la patria no han de faltar
gobiernos como el presente.

MARTÍN

¡Ah, gaucho sabio y ladino!


si es la cencia consumada,
y patriota más que nada;
eche un trago, ño Paulino.
150

LUCERO

Vaya, amigo, ¡a la salú


de sus pagos y los míos,
y el gobierno de Entre Ríos
que nos ha de dar quietú!
¡Y por la Federación!

MARTÍN

¿La gaucha?...

LUCERO

No: ¡la entrerriana!


la linda, la veterana,
que hará feliz la Nación,
hoy que su proclamación
alza el general Urquiza,
diciendo: "¡Aquí finaliza
todo el poder de un tirano,
que el ejército entrerriano,
va a reducir a ceniza!"

MARTÍN

Amigo, ahi tengo un changango


que pasa de rigular,
y ahora mesmo hemos de armar
para esta noche un fandango.
Aunque ya no me acordaba
que ayer, cuando iba al arroyo,
mi Juana Rosa en un hoyo
medio se sacó una taba;

Y hoy de mañana salió


con la Nicasia en las ancas,
y en aquellas casas blancas
debe estar, presumo yo,
haciéndose acomodar
la pata que se le ha hinchao:
pero así mesino, cunao,
esta noche ha de bailar.
Y usté templando el changango
saquemelé hasta la frisa,
a salú de don Urquiza
federal lindo y de rango!
151

LUCERO

Lo haré por él, lo prometo;


pues, si antes fui su enernigo,
ahora de veras le digo,
me ha cautivao el afeto.
viendo el empeño completo
con que llama a los paisanos
para que se den las manos
y se dejen de matar;
así es que lo han de apreciar
todos los americanos.

Y así, yo de corazón
rendiré la vida a gusto
en las filas de don Justo,
sosteniendo su opinión
de organizar la nación,
hoy que el caso se presenta,
para ajustarle la cuenta
a ese tirano ambicioso,
causal de tanto destrozo
que nuestra patria lamenta.

Y a quien el mesmo Entre Ríos


le debe tantos atrasos,
por las trabas y embarazos
que antes le puso a estos ríos;
creyendo en sus desvaríos
Juan Manuel que el Paraná
era de su propiedá;
y cuando le daba gana
no entraba ni una chalana.
¡Mire qué barbaridá!

Y a todo barco atajaba,


sin más razón ni derecho
que sacarle hasta el afrecho
en tributos que cobraba;
de otro modo no largaba
a ningún barco jamás
y sólo a San Nicolás
cuando más podían dir,
pues si quería subir
los hacía echar atrás.
152

¡Qué diferencia hoy en día


es recostarse a estos puertos,
y verlos siempre cubiertos
de purita barquería!
con tanta banderería
y tanta gente platuda
que al criollo que Dios lo ayuda
se arma rico redepente;
lo que antes cuasi la gente
andaba medio desnuda.

Luego, en ganar amistades,


¿acaso se pierde nada?...
¿Y con gente bien portada
que nos trae comodidades,
cayendo de esas ciudades
de Uropa tantos naciones,
a levantar poblaciones
en nuestros campos disiertos,
que antes estaban cubiertos
de tigres y cimarrones?

¿O debemos ahuyentar
la gente que habla en la lengua?
No, amigo, porque no hay mengua
en que vengan a poblar;
pues nos pueden enseñar
muchas cosas que inoramos
de toda laya: ¿a qué andamos
con que naides necesita,
si hay tanto y tanto mulita
entre los que más pintamos?

Dicen que "la extranjerada


¡algunos no dicen todos!
nos han de comer los codos".
¿Qué nos han de comer? -¡Nada!
Podrán comer carne asada,
cuando apriendan a enlazar;
y no se puede negar
que son muy aficionaos
a echar un pial, y alentaos
si se ofrece a trabajar.

Allá en mi pago tenemos


un nacioncito bozal,
muchacho muy liberal
153

con quien nos entretenemos;


y al lazo le conocemos
mucha afición de una vez.
Y, ni sé qué nación es,
pero cuando entre otras cosas
le grito: "Pialáme a Rosas".

MARTÍN

¡Será el diablo! Pues aquí


anda otro carcamancito
que contesta a lo chanchito,
y a todo dice: "güi, güi",
y ayer peló un bisturí
de dos cuartas, afilao,
y yo que estaba a su lao
le dije: "¿Para qué es eso?"
y él señalando el pescuezo
nombró a Rosas, retobao

LUCERO

¡Pero, si es temeridá
lo que el hombre es mal querido
y putiao y maldecido
en todo pago y ciudá!
Ya le dije, yo he corrido
muchas tierras, y embarcao
desde la mar del Callao
hasta la Esquina he venido,
y en Bolivia he conocido
a hombres que no morirán
de antojo, y le pegarán
al Supremo una sumida,
si Dios le presta la vida,
al general Ballivián.

Éste anda por Chuquisaca,


y allá en Lima anda un Castilla,
general, que si lo pilla
a Rosas le arrima estaca;
porque es libertal de a placa
ese general limeño;
y a todo gaucho abajeño
que anda infeliz por allá
en cualquier necesidá
lo proteje con empeño.
154

Así, yo vine prendao


de otro general Torrijo.
¡Ah, mozo! un día me dijo,
viéndome medio atrasao;
"¿Muchacho, sos emigrao?"
"Sí, señor", le respondí;
"Pues tomá", -y le recebí;
y como quien no da nada
ahi me largó una gatiada
que luego la redetí.

Después en Chile, paisano,


también me puse las botas,
con muchos mozos patriotas
que detestan al tirano;
y el gobierno es tan humano,
que a todos nos compadece,
y dice que no merece
Buenos Aires esa suerte,
en que hoy se mira, y de muerte
a Juan Manuel lo aborrece.

¿Y el general Virasoro?
¿Y el ejército que manda?
¡Por Dios! Le asiguro que anda
contra Rosas, como un toro;
y antes en manos de un Moro
caiga ese bruto asesino,
que no en las de un correntino.
Así, que ande Rosas listo,
pues si lo pillan ¡ah, Cristo!
¡Infeliz de su destino!

Luego, en colmo de sus males,


al Presidente su aliao,
ya lo tienen apretao
veintidós mil imperiales,
todos mozos ternejales
que lo han de sacar muriendo,
y todos, estoy creyendo
como una cosa sigura,
que por sacarle una achura
a Rosas se andan lambiendo.

Y en todo el género humano,


no crea, ni le parezca
155

que hay hombre que no aborrezca


a Juan Manuel por tirano.
¿Y en el Paraguay, paisanos?
¡Viera a los paraguayitos
todavía mamoncitos
que apenas andan gatiando,
y ya se largan gritando:
¡Ah hijitos!

Y además el Presidente
es un quiebra, sigún veo,
pues le ha pedido rodeo
al Héroe del Continente.

LUCERO

Sí, amigo, muy suavemente


al principio lo ha palmeao,
y ya lo ha redomoneao,
hasta el verano que viene,
que puede ser que lo enfrene
y lo haga de su recao.

MARTÍN

¡Ah, cosa! Dios lo bendiga,


y le dé su santa gracia.
¡Che! mire: ahi viene Nicasia
con mi china. Pero, diga:
¿se acuerda de Sandoval
el payador?

LUCERO

¡Cómo no!

MARTÍN

Un chumbo lo desnucó.

LUCERO

¿Dónde?...

MARTÍN

En la Banda Oriental:
156

donde también por mi mal


andando por esa tierra,
cuando la maldita guerra
en que Rosas nos metió,
cuasi, cuasi, quedé yo
estirao en una sierra.

LUCERO

Velay otra guerra, amigo,


que hace Rosas al botón,
de cuya desolación
usté habrá sido testigo.
Y ¿qué oriental enemigo
tiene Entre Ríos? pregunto.
¿A qué cargas, a qué asunto
mandó allá a la paisanada?
¿Sabe a qué, aparcero? A nada;
a peliar por él, por junto.

Cierto es que Frutos Rivero


vino acá la vez pasada,
porque allá la entrerrianada
a él lo atropelló primero
con don Pascual, que altanero
se guasquió a Santa Lucía,
pues de terne presumía,
hasta que en una mañana
y que vuelva, ¡y qué volvía!

Y de ahi, Rosas se ha propuesto


destruir la Banda Oriental
que no le ha hecho ningún mal,
¡mire si es hombre funesto!
Y no alega otro pretexto
que mudarle presidente.
¿Qué le importa que Vicente,
o Pedro, o Juan o Tadeo
gobierne en Montevideo?
¿No digo bien?

MARTÍN

Mesmamente.

LUCERO
157

Pues ya ve a los orientales


matándose con horror,
lo que es, amigo, un dolor,
¡porque son tan liberales!
Y hay mozos tan racionales
entre uno y otro partido,
que si ya no se han unido
no es por rencor, creamé,
es solamente porqué
ahi anda Rosas metido.

Lo que antes, los orientales


se daban cuatro sabliadas,
y al tiro de camaradas
quedaban todos iguales;
mas hoy, con los federales
que Rosas les ha injertao
tan fiero los ha trenzao,
que algunos ya lo coligen,
y Dios permita y la Virgen
que le hagan el cuerpo a un lao.

Dios lo permita, repito,


que se abracen como hermanos;
porque, sin ser mis paisanos
los apreceo infinito;
pues ya sabe, aparcerito,
que yo me crie por allá,
y así es con temeridá
lo que esa gente me agrada,
y esas hembras más que nada,
porque son una deidá.

MARTÍN

¡Oiganle al cantor Lucero


cómo se explica y se amaña!
Pues bien, una media caña
conciérteme, compañero.
Toda de amor enterita,
que se alborote el hembraje
con las coplas, y le faje
hasta la madrugadita.

LUCERO

Media caña y cielo junto,


158

será más lindo, aparcero,


y que yo duerma primero,
porque... ya me siento en punto...

MARTÍN

Echesé, aunque Juana Rosa


venía y se ha entretenido,
y si lo pilla dormido
quizá se muestre quejosa.
Pero ya que está templao,
no hay que hacer caso, echesé,
que yo lo dispertaré
con un buen cordero asao...
Aunque, amigo, la patrona
lo ha querer agradar:
dejemé, voy a carniar
con cuero una vaquillona.
............
Y ya enderezó Martín
rumbiando para el rodeo
y Paulino a su deseo,
hizo estas coplas por fin.

RELACIÓN QUE DEL EMBARQUE, DEL VIAJE Y DEL FIN TRÁGICO


DE LA ARROYERA LE FUE REMITIDO DESDE EL CAMPAMENTO
DE ORIBE AL GACETERO JACINTO CIELO, POR SU AMIGO
ANASTASIO EL CHILENO, EL CUAL ANDABA DE BOMBERO DE
LOS PATRIOTAS ENTRE LOS SITIADORES DE MONTEVIDEO

PRIMERA PARTE

La Isidora regordeta
se va a embarcar al Buseo:
¡vieran con qué zarandeo
va arrastrando una chancleta!

Que lleva un pie desocao


de resultas de un fandango,
en que le rompió el changango
en la cabeza a un soldao;

Y en esa noche con Brun


bailando la refalosa,
anduvo poco mañosa
queriendo hacerle el betún.
159

Sabrán que esta moza al fin,


no es porteña, es arroyera,
pitadora y guitarrera
y cantora del Tin tin.

Que vino de la otra banda


junto con los invasores,
y que sabe hacer primores
por todas partes donde anda;

Y que hace mucho papel


como güeña federala,
pues se refriega en su sala
con la hija de Juan Manuel.

En fin, dicen que esta dama


del Miguelete se aleja,
y a mis paisanas les deja
los recuerdos de su fama.

También dicen de que al borde


ha estado de perecer,
y se quiere reponer
porque ha perdido el engorde

Pues no le asientan los pastos,


y luego con la escasez
que hay por ajuera, esta vez
se ha fundido en hacer gastos.

Así es que bien trasijada


se retira la infeliz,
echando por la nariz
como suero de cuajada.

Un ojo le lagrimea,
del aire, dice Garvizo;
que para él es un hechizo
otro que le centellea.

El Andaluz se hace almiba


por agradar a Isidora,
que es muchacha seguidora
y nunca se muestra esquiva.

Así es que a la despedida


la acompaña una patrulla,
160

marchando sir, hacer bulla


come gente dolorida.

Pero la Isidora marcha


sin demostrar sentimiento,
con un semblante contento
y más fresca que la escarcha.

Lleva el rebozo terciao,


airoso, a lo mazorquera,
y en la frente de testera
luce un moño colorao.

Marcha con aire gitano,


y una mano en la cadera,
que sacude sandunguera
con un garbo soberano.

Para lucir los encajes,


viste a media pantorilla
un vestido de lanilla
colorao y sin follajes.

Ella no gasta bolsita


como gasta una pueblera;
pero carga una jueguera
y también su barajita.

Todo el cortejo se empeña


en complacerla al partir,
pero ella se quiere dir
y a todo bicho desdeña.

Casi se cai de barriga


el cirujano, en mala hora
se le clavó a la Isidora
el cuchillo de la liga...

Que lo levanta el galán


trompezando, y cariñoso
se lo presenta gustoso
a la prenda de su afán.

La Isidora lo recibe,
y exclama: - ¡Cristo me valga!
antes perdiera una nalga
que no esta prenda de Oribe.
161

Con la cual he de volver


y a todas las unitarias,
de balde han de ser plegarias,
yo las he de componer.

¿Ha visto, dotor tuertero,


estas zonzas de orientalas,
que a todas las federalas
nos tratan como a carnero?

Esas mesmas que ahi están


faroliando en el Cerrito,
y haciéndole asco al moñito,
no sé lo que pensarán.

Pues mire, ¡a fe de Isidora,


me voy con sangre en el ojo!
y, he de volver por antojo
con mi comadre Melchora;

Y a toda la que se piensa


que me ha de andar con diretes,
le he de cruzar los cachetes
y le he de cortar la trenza.

¡Moño grande! que se vea,


se han de poner a la juerza:
y a la que medio se tuerza
se lo he de pegar con brea.

¡Caray! si me da una rabia


el ver que a mí ¡a la Isidora!
quieran ganarle a señora
porque tienen mejor labia.

¡Y porque gastan corsé,


y gorras a la francesa,
ni levantan la cabeza
a saludar! -Ya se ve...

Aun no están acostumbradas


a la mazorca y tin tin,
pero de todas, al fin,
me he de reír a carcajadas.

Deje nomás que entre Oribe


162

y tome a Montevideo,
que hemos de tener bureo
como Rosas me lo escribe.

Conque ansina, dotorcito,


a todas digamelés,
que he de volver otra vez,
¡que me anden con cuidadito!
...................
En esta conversación
hasta la playa llegaron,
y en el momento mandaron
los rosines un lanchón.

Era preciso llevarla


cargada para embarcarse,
por no dejarla mojarse,
que eso podía resfriarla.

Entonces de la cadera
se la prendió el Andaluz,
y ella le gritó: ¡Jesús!
¡No me ruempa la pollera!

Con todo se la echó al hombro,


y hasta el lanchón la llevó;
y al dejarla suspiró
el tal Garvizo, ¡qué asombro!

Conque ansina desde ahora


es bueno que se prevengan,
y las orientalas tengan
¡cuidado con la Isidora!

SEGUNDA PARTE

Por un duende que ha venido


y que estuvo en lo de Rosas,
ésta y otras muchas cosas
diz que Anastasio ha sabido;

Porque me escribe el Chileno,


con respeuto a la Isidora,
de que tuvo la señora
un viaje pronto y muy güeno;

Pues la tarde del embarque


163

alzó moño la Palmar,


y a Güenos Aires fue a dar
con la Arroyera y su charque.

Y con viento rigular


amaneció la Boleta,
frente de la Recoleta
aonde empezó a sujetar.

Por supuesto, en la cruzada,


la muchacha se almareó,
y cuasi, cuasi largó
la panza y la riñonada.

Pero le dieron giniebra


que cura la indigestión;
y diz que sopló el porrón,
y se lo limpió de una hebra.

Luego le ofrecieron té;


pero ella dijo: -No quiero
ningún remedio extranjero,
como no sea el culé...
O mate de manzanilla
junto con flor de mosqueta,
que cuando estoy indigesta
¡me asienta a la maravilla!

Quién sabe al fin si tomó


a bordo esa medicina;
pero luego en la cocina
de golpe se amejoró:

Comiéndose allí una tripa


que le brindó el cocinero,
con más de medio carnero
y de galleta una tipa.

Últimamente llegaron
hasta dentro con el barco,
y en lo más hondo del charco
a soga larga lo ataron.

Y al echar un bote al río


le dijeron a Isidora:
Venga a embarcarse, señora,
con su petaca y su avío.
164

Mesmamente la embarcaron
en la culata del bote,
y más ligero que al trote
hasta la orilla llegaron.

De allí la montó a babucha


un marinero fornido,
que llegó a tierra rendido
y soltó a la camilucha:

Cuando llegó un adecán


flauchoncito y muy viejazo,
que al soltarle ella un abrazo,
le dijo: ¡Che, Corbalán!

¿Cómo estás? ¿Y Juan Manuel?


¿siempre con salú? contáme,
o más bien acompañáme,
voy a platicar con él.

¡Isidora de mi vida!
díjole el viejo moquiando;
¡pues no! vamos disparando
y que sea bien venida.

Y ya también la sacó
de bracete acollarada;
que salió medio trabada
desde el punto en que partió.

¡Qué de noticias traerás


-le dijo- de esos parajes!
Y ¿se aguantan los salvajes
Rivera y el manco Paz?

Nada te puedo contar


ahora, dijo la Arroyera,
pues se me anda la vedera
y ya me voy por echar.

Apuráte por favor:


vamos ligero, viejito,
y lleguemos, hermanito,
a lo del Restaurador.

Llegó la yunta, y adentro,


165

en la puerta de la sala
ya tuvo la federala
su primer feliz encuentro.

Pues salió la Manuelita,


y en cuanto la divisó;
luego vino y se abrazó
de firme con su amiguita,

Queriéndola comer
con los besos que le dio,
hasta que le preguntó:
-¿De dónde salís, mujer?

¡Mirá que sos una ingrata!


pues ni de mí te acordás
queriéndote mucho más
que lo que me quiere tata.

-Salí, porteña pintora,


federala zalamera;
que si yo no te quisiera,
velay, ¡dijo la Isidora!...

No te trujera esta lonja


que le he sacao a un francés,
para vos, ahi la tenés:
esto es querer, no lisonja.

Ansí es que me acuerdo yo,


tomá, y dejáte de quejas;
juntalá con las orejas
que Oribe te regaló.

-Ya no las tengo, hermanita,


le respondió la pichona
pues como eran cosa mona
se las regalé a tatita.

Ahora mesmo las verás


en su cuarto, adonde tiene
todo lo que lo entretiene:
vení, mujer, te reirás.

Entonces se despidió
Corbalán de Isidorita:
que a un tirón de Manuelita
166

para el cuarto cabrestió.

Se colaron, ¡Virgen Santa!


en ese cuarto que espanta
de pensar que vive en él
el tirano Juan Manuel,
restaurador de las leyes,
entre jeringas y fuelles,
puñales, vergas, limetas,
armas, serruchos, gacetas,
bolas, lazos maniadores
y otra porción de primores;
pues lo primero que vió
Isidora en cuanto entró,
fue un cartel,
con grandes letras sobre él,
y una manea colgada
de una lonja bien granada:
y el letrero
decía así: "¡Esta es del cuero
del traidor Berón de Astrada!
lonja que le fue sacada
por unitario salvaje,
en el paraje
del Pago Largo afamado,
donde fue descuartizado!"

-Con razón:
por malvao y salvajón,
dijo la recién venida.
Y en seguida,
miró encima de una mesa,
y entre un nicho, una cabeza
cortada,
y con la lengua apretada
mordida,
y la vista ennegrecida
y con rastros de llorosa.

Al pie tenía una losa


escrita, y decía así:
" Zelarrayán
Los salvajes temblarán
cuando se acuerden de ti".

¿Pues no?
la Arroyera dijo: y vio
167

ahi nomás, en seguidita,


colgada en una estaquita
una cola o cabellera:
y al preguntar de quién era
pudo ver sobre un papel
esta letra: "¡De Marciel!
Esta es la barba y bigote,
que con lonja del cogote
le manda al Restaurador:
Oribe, su servidor".

- ¡Qué bonito,
dijo Isidora, el versito!
Y agarró
un puñal, que reparó
en diez o doce que había,
que sobre el cabo tenía
en la chapa este letrero:

"Yo soy el verdadero


recuerdo en homenaje
del infame salvaje
Manuel Vicente Maza.

Si salgo de esta casa,


¡tiemble algún Presidente
que no sea obediente,
y, altanero se oponga,
cuando Rosas disponga!".

-¡Qué receta para Oribe,


dijo Isidora, que vive
sirviéndole a Juan Manuel,
y queriendo hacer papel
de Presidente legal,
cuando en la Banda Oriental
tan sólo el restaurador
debe ser amo y señor,
aunque el diablo se sacuda
las orejas!... ¡Ah, mujer!
hacéme al momento ver
las de Borda: ¿dónde están?
¿Qué sequitas no estarán?

Entonces la Manuelita
las sacó de una cajita,
y cuando se las mostró,
168

la gaucha las escupió,


y pensó hacer otras cosas:
pero en esto dentró Rosas
en camisa y calzoncillos
golpiándose los tobillos,
con la cabeza amarrada,
una cara endemoniada,
y en la cintura una verga.

Tendió en el suelo una jerga,


puso al lado una botella,
y se acostó cerca de ella
sin soltar una expresión...
y cuál fue la confusión
de Isidora y Manuelita
al sentir que su tatita
redepente dio un bramido
como tigre enfurecido,
y echando espuma se alzó,
y estas palabras soltó:
"¡En la Horqueta del Rosario!
¡Flores, salvaje unitario!
¡Núñez, salvaje traidor!...

Entonces le dio un temblor,


y rechinando los dientes,
y con gestos diferentes:
"¡Asesina!" le gritó
a Isidora; y la mandó
degollar con sus soldaos,
que acudieron asustaos.

Cayó entonces desmayada


la Arroyera, y arrastrada
fue por dos indios; y al rato
degollada como un pato.

Cuando la iban a matar,


Manuela se echó a llorar
a los pies de Juan Manuel,
suplicándole, pero él
dijo: "¡Muera la ovejona!
pues, si no, sale y pregona,
que ya tengo convulsiones,
de ver que los salvajones,
se lo limpian a Alderete;
y después, que lo sujete
169

el demonio al Pardejón,
que viene, y en un cañón
de taco me hace meter,
y ahí nomás lo hace prender;
cosa que en cuanto reviente
¡a los infiernos me avente
donde con vergas y fuelles
vaya a restaurar las leyes!...

Luego pidió una botella


de bebida, y se arrimó
a Isidora; la miró,
y de ahí se sentó sobre ella.

¡Fría estaba y desangrada!


Pero Rosas, con todo eso,
se agachó, le pegó un beso,
y largó una carcajada.

Luego acabó de beber


muy ufano, y se paró,
y a los indios les gritó:
"Saquen de aquí esta mujer;
llevenlá a la sepultura;
vamos, prontito, al instante,
y que venga y la levante
el carro de la basura".

Ansí la triste Arroyera


un fin funesto ha tenido,
sin valerle el haber sido
federala y mazorquera.

LA ENCUHETADA

Hoy hará una trasnochada


apretando el imprentero,
y allá al rayar el lucero
piensa acabar mi versada.

Siendo ansí, a la madrugada


le echaré en la población;
pero antes hago intención
(se lo alvierto por si acaso)
de ir a pegarle un albazo
llevándosela, patrón.
170

Por ahora voy a largar


solamente el primer trozo,
y hay otro más cosquilloso,
que después le he de atracar
hasta hacerlo corcoviar
a ese conde Palmetón;
y le asiguro, patrón,
que no desprecio a otro inglés,
más que a ese maula, y después
a otro de un zaíno rabón.

Conque, va sabe, temprano,


mañana al venir el día,
me cuelo en la imprentería
de Hernández el Valenciano,
y me agarro mano a mano
a cimarroniar con él:
y en cuanto acabe el papel
dándomelo, de ahi mesmito,
me guasquiaré, patroncito,
a su casa de tropel.

Verá, señor, con qué esmero


ha pintao la estampería,
que le ha hecho a mi versería
Musiú Lebas, el santero.

¡Ah, francés, lindo!, ansí quiero


pagarle muy rigular;
y ansí tienen que alumbrar
los que pretiendan libritos,
con diez y ocho vintencitos
al tiro y sin culanchear.
Su amigo, Luciano Callejas.

ADVERTENCIA A LOS UROPEOS COSQUILLOSOS

Van tres gauchos liberales


a quejarse, con razón,
de una floja y ruin aición
de dos gobiernos desleales.

Siendo gauchos, como tales,


se explicarán sin rodeos,
sin que dentre en sus deseos
ni un remoto pensamiento
de hacer en el fundamento
171

agravio a los uropeos.

DEDICATORIA

Señor conde Palmetón:


a usté por lo bien portao,
y el haberse acreditao
¡tan lindo en su Intervinción!

Callejas, de refilón,
a nombre de la gauchada,
le dedica esta enflautada
celebrando entre otras cosas,
¡que en ancas le largue Rosas
por el Harpy una ensilgada!

¿Sabe lo que es ensilgada?


Es una vaina, patrón,
sin grano, y ¡con su perdón¿
que jiede a bosta quemada:

medio aceitosa, y buscada


en los pagos del Tandil
y propia para el candil
de cualesquier baladrón;
conque, atráquele, patrón,
esa mecha a Mistre Pil.

SORPRESA DEL GAUCHO MORALES AL RECIBIR A SU AMIGO


OLIVERA EN SU RANCHO JUNTO A LAS TRINCHERAS DE
MONTEVIDEO.

MARCELO

¡Cristo!... ¿Si será verdá


lo que dudo en la ocasión?.
Cabal... no es una ilusión...
que es él mesmo... ¡voto-va!
lleguesé, amigo Olivera:
¿Diaónde sale? ¿Qué anda haciendo?

OLIVERA

¡Tristemente consumiendo
la vida, hasta que Dios quiera!
Así caigo a su presencia
dichosamente, aparcero,
172

pues acá soy forastero


sin la menor conocencia.

MARCELO

Debe serlo, me hago el cargo,


como que de Maldonao
presumo que habrá llegao,
y, habrá padecido largo...

OLIVERA

¡Largo y fiero!... mesmamente:


y toda laya de penas,
tanto mías como ajenas,
que es mejor que ni las mente
porque el corazón, lueguito
que dentro a considerar,
se me oprime de pensar
y se me hace chiquitito.

MARCELO

¡Infeliz viejo Olivera!


¡lagrimiando!... sientesé;
aunque no tengo, ya ve,
ni un triste tronco siquiera.

Ansí, amigaso, en el suelo


crucesé sobre este ijar,
a bien que no ha de extrañar...

OLIVERA

¡Qué he de extrañar, ño Marcelo!


después que me han baquetiao,
ocho años de sacrificios
tan crudos, que hasta los vicios
¡sin sentir he olvidao!

MARCELO

Dejuradamente lo creo:
porque yo en el mesmo caso
de infelicidá y atraso
con la familia me veo.
173

Ahora mesmo mi Pilar


cogió y fue desesperada
a vender una frezada,
ganosa de yerbatiar.

OLIVERA

¿Conque, Dios se la conserva


alentada?...

MARCELO

Y trajinista,
mientras la salú le asista:
ya verá como trai yerba,
y tabaco y aguardiente,
y en ancas puede que traiga
la frezada, sin que la haiga
ni empeñao siquieramente.

Por lo tanto, a prevención


voy a mandar hacer fuego,
cosa que, en llegando, luego
tomemos un cimarrón...
Con su licencia... ¡Agapito:
vení, llená la caldera!...

AGAPITO

¡La bendición, ño Oliveral

OLIVERA

¡Que Dios te haga un santo, hijito!


¡Temeridá que ha crecido
el muchacho!... y memorista:
en cuanto me echó la vista
al golpe me ha conocido.

Vení, largáme un abrazo,


rubio amargo... ¿cómo estás?
Y decíme... ¿te acordás
de tu potrillo picazo?...

AGAPITO

¿Cuál?... ¿Aquel bellaco viejo?


174

Me lo ajeniaron cuantuá
en las puntas de Aceguá
junto con otro azulejo.

Que yo le puse collera


y se lo prendí al picazo,
porque como era malazo
presumí que se me juera.

Y ni bien se aquerenció
cuando cierta madrugada,
con la yunta y la manada
una partida se arrío.

MARCELO

Vaya un recuerdo prolijo


del tiempo de don Echagua
pero de calentar agua,
¿a que no te acordás, hijo?

Aunque... alvierto a ño Severo


ganoso de hablar con vos;
así, quédense los dos,
que voy y vuelvo ligero.

OLIVERA

Bueno, paisano... ¿Conque,


Agapito, ahora andarás
como andamos, a cual más
atrasao, pobre y a pie?

AGAPITO

Pobre, a veces suelo andar,


y ansí mesmo siempre yo
me amaño, creameló,
y agenceo qué ensillar.

Luego verá, ño Severo,


un potrillo pangaré,
lindo, que le trajiné
a un inglés, que fue chasquero:

Y salía cola alzada


ajuera continuamente,
175

y de ahi volvía caliente


a presumir en la Aguada:

Aonde se apea y se cuela


atrás de cualquier muchacha,
a pesar que tiene facha
de más zonzo que su agüela...

OLIVERA

¡La del inglés, Agapito!...


¡barajo!... no te turbés...

AGAPITO

¿Cuál quiere que sea, pues?


La del bisquete mesmito:
ese maula que cruzaba
lo mesmo que autoridá,
del Cerrito a la Ciudá,
y aquí nos menospreciaba...

Tanto, que a mí en la avanzada,


porque le pedí un cigarro,
si no ando vivo, en el barro
me arronja de una pechada.
¡Ahijuna!... y se la juré.
Ansí un día que salió
de manabita y volvió
trayendo el tal pangaré,

Dije entre mí... "si te pillo


hoy en pedo lo verás,
matucho, si te me vas
golpio y sin el potrillo!"

OLIVERA

¡La Purísima, el muchacho,


que es propio para un descuido!
Me alegra que haigás salido
alentao y vivaracho.

Proseguí, no te parés,
que recién me va gustando.

AGAPITO
176

Pues, como le iba contando,


resolví dende esa vez
no darle alce ni cuartel,
y sobre el rastro ahí no más
largármele por atrás,
¡y que se me iba el infiel!

Advierta, señó Severo,


que dende que lo seguí,
y aun antes, ya conocí
que el pingo era pajarero.

De suerte que en cuanto entró


en el pueblo esa mañana,
le dio al potrillo la gana
de espantarse, y se tendió;

Y ya por el costillar
lo echó al hombre de cabeza,
y en colmo de la maleza
medio lo empezó a arrastrar.

Porque al cair, en la estribera


de una pata lo enredó,
fortuna que reventó
el ojal de la arcionera.

Entonces echó el caballo


a disparar como flecha
por esa calle derecha
del Veinticinco de Mayo.

Y yo atrás dél me largué,


hasta que allá entre las tiendas
se enredó fiero en las riendas,
se sofrenó y lo agarré.

SEVERO

Mira el diablo ...¡de manera


que en cuanto lo asiguraste,
de ahí mesmo ya enderezaste
a media rienda hasta juera!

AGAPITO
177

Al contrario, le aflojé
la cincha, y bajo la silla
el tronco de una costilla
de punta le acomode.

Luego le cinché flojito,


dejando el cuhete tapao,
y el pingo, por de contao,
comenzó a lomiar lueguito.

Últimamente, tirando
volví a trairselo al inglés,
al cual lo encontré otra vez
aliento y renegando.

Y después que le arreglé


el estribo como pude,
dije entre mí: ¡Dios te ayude!...
y el potrillo le arrimé.

Conque, patrón... ¿cómo se halla?


le pregunté medio en broma;
y él me contestó en su aidioma:
"¡Marchi diabli la caballa!"

Y al verlo en disposición
de montar, cuasi me río;
porque... cuándo... ¡Cristo mío,
se aguantaba el chapetón!

Mesmamente la acerté.
El hombre apenas montó,
y ni bien se acomodó,
¡la gran... punta el pangaré!

Cuando le asentó la nalga


a la inglesa, y con el peso
le hizo tomar gusto al güeso,
se encogió, y ¡Cristo le valga!

Conoció al jinete tierno,


y al pingo se le hizo robo
aliviarse, y de un corcovo
echó la carga al infierno...

OLIVERA
178

¡Oiganlé al matucho inglés!


¡Cómo aflojó de un tirón...
y tan altivos que son
en sus barcos!... y ¿después?

AGAPITO

Hasta frente a un conventillo


que le llaman de Pozolo,
siguió guasquiándose solo
y corcoviando el potrillo:

Tanto, que al fin se quedó


en pelos completamente,
y como era consiguiente
entonces se sosegó.

Ahi mesmito lo agarré;


y... "¡ahora sí, lo verás, laucha,
si has de pelar esta chaucha!"
le dije, y me le senté.

Y dende allí cachetiando


y meniándole talón,
me fui a golpiar del tirón
a la Aguada disparando.

Y como hasta hoy en el pago


ni el inglés me lo ha cobrao,
que lo habrá descogotao
es la cuenta que yo me hago.

Conque ansí, señó Olivera,


supuesto que se halla a pie,
disponga del pangaré
como guste y cuando quiera...

MARCELO

Pero, hijito, ¿todavía


estás meniándole taba?
¿Y usté soltando la baba,
aparcero? ¡Virgen mía!

OLIVERA

¡Voto alante, ño Marcelo!


179

por su tardanza ha perdido


de oir cómo me ha divertido
su Agapito, que es un cielo,
y gaucho crudo y a macho.

MARCELO

Y prosista más que todo;


si no, repare del modo
con que a mí me largó el guacho
de hacer fuego y calentar
la agua que yo le mandé.
¡Ah, diablito!... pero... che,
¡velay, acá está Pilar!...

PILAR

¡Aparcero ño Olivera,
gracias a Dios que lo veo!
¿y ña Petrona, y Mateo?...

OLIVERA

A su mandao, aparcera.

MARCELO

¡María Santísima! Amigo,


perdone si he olvidao
el haberle preguntao
por su mujer... pucha digo.

OLIVERA

Recién se acaba de apiar,


y ya quería venir;
pero no puede salir
hasta medio pelechar.

PILAR

¡Por vida!... y ¿cómo les ha ido


en tanto apuro o redota?

OLIVERA

¡Hágase cargo!... en pelota,


180

y en montón hemos venido.

Pues mandaron embarcar


de un modo tan redepente,
que fue rejuntar la gente,
y al momento de mandar,

como aguacero a la costa


la botería acudió,
y el criollaje ahí se juntó
como manga de langosta.

De ahí empezaron a echar


viajes al barco a menudo,
y en el bordo como pudo
nos hizo desparramar...

Del pértigo a la culata


de un barcazo roncador,
ñato viejo y rodador
a impulsos de una fogata:

Cosquilloso a una ruedita


que de atrás un marinero
se le prendió a lo carnero,
como haciéndole colita.

Pero, paisana... ¡qué cosa


de barco tan maquinal!
y grandote el animal
de una manera asombrosa.

Oiga, le relataré
la laya de barco que era,
que no es fácil, aparcera;
pero, en fin, me amañaré.

Era un barco... ¡tamañazo!


de madera de mi flor,
y tendría de largor
como dos tiros de lazo.

En la barriga tenía
un pozo, donde se apiaba
la gente que trajinaba
en pura carbonería.
181

Arriba los comendantes


rodeaos de la oficialada,
y mucha marinerada,
con sombreros relumbrantes,

Abajo había cuarteles


y corrales y galpones;
y encima grandes cañones
con rondanas y cordeles.

Y un cañuto ¡temerario!
enterrao yo no sé cómo
en lo más ancho del lomo,
y más allá un campanario.

Y luego en cada costao


una rueda con aletas,
que no he visto ni en carretas
de esa laya de rodao.

Viese, aparcera, al montar,


¡qué julepe y qué jabón
nos pegó una quemazón
que abajo entró a reventar!...

Y ver salir apuraos


como avestruces corridos...
los hombres, que a unos chiflidos
subían todos tiznaos.

Yo me empecé a refalar
el poncho para aliviarme,
y estuve por azotarme,
como carpincho, a la mar.

Pero supe que de intento


prendían abajo el fuego,
y vi a un oficial que luego
se puso a vichar atento.

Y en cuanto por el cañuto


vido salir la humadera,
le aflojaron, aparcera,
y echó a correr ese bruto.

A dos laos, y relinchando,


campo ajuera salió al mar,
182

aonde empezó a bellaquiar:


y ya nos juimos echando.

Luego nomás, en tendales


quedó todito el hembraje,
y atrasito entró el machaje
a rodar como costales.

Al momento una fatiga


y un asco tal nos entró,
que a todos nos revolvió
tan de-una-vez la barriga...

Que con los ojos saltaos,


haciendo juerza bramaban
los criollos, y gomitaban
quedando despatarraos.

Y sin poder aguantar


a semejante alboroto,
hasta el último poroto
nos hizo desembuchar.

Ansí he cruzao el camino


con todito ese trabajo,
y he venido cuesta abajo
a entregármele al destino.

MARCELO

¿Ha visto cuán rigoroso


el nuestro nos ha salido,
que a todos nos ha sumido
en un abismo espantoso?

¿Y cuánta sangre y estrago


aun devora nuestra tierra?
sin terminarse esta guerra,
porque hay hombres...

PILAR

Eche un trago;
y arme, aparcero: velay
papel, tabaco y facón,
pues alvierto en la ocasión
que usté ni cuchillo trai.
183

OLIVERA

Cabal, paisana: ni quiero


negarle que traigo apenas
muy poca sangre en las venas,
y ojales por todo el cuero.

MARCELO

¿Y cuándo, amigo, al remate,


de esta custión llegaremos?
¡Por Cristo! que ya debemos
tener juicio y...

AGAPITO

Velay mate.

MARCELO

¿Será posible que siendo


tan poquitos los paisanos,
como fieras entre hermanos
nos sigamos destruyendo?

Usté que tiene experencia


profunda, y conocimiento,
y en cada razonamiento
el poder de una sentencia,

Diga, si por desventura


nos ha condenao el cielo
a tener el desconsuelo
de cair a la sepultura.

Sin que logremos jamás


bendecir a cualesquiera
que a nuestros hijos siquiera
les ponga su tierra en paz...

OLIVERA

Sí, amigo: no desespere


de que esta calamidá
puede terminarse ya
si la Virgen y Dios quiere.
184

Pues ya sabe que en la vida


no hay cosa que no termine,
por más que el hombre imagine
de que no tiene medida.

MARCELO

Con todo eso, van ocho años


de ruina que hemos tenido;
¡y en la guerra hemos sufrido
tan amargos desengaños!...

De ambición en los de acá


hasta asigurar el mono,
y a lo último de abandono
y perfidia en los de allá...

¿No ha visto de Ingalaterra


y de Francia lo que han hecho
con nosotros, que hasta el pecho
nos han metido en la guerra?

Haciendo al principio roncha


con tanta alianza y promesa,
y a lo último con vileza
juir y meterse en la concha...

Queriéndonos entregar
después de sacrificaos
por esos mesmos aliaos
que nos han hecho matar

¡Malditos sean... ahijuna,


ciertos monarcas del mundo,
a quienes odio profundo
les juro y piedá ninguna!

Y de corazón, quisiera
que cierto rey reculao
algún día ande arrumbao
y con las tripas de juera.

Pues, si algún criollo no sale


a sacarnos de este infierno,
será nuestro mal eterno,
¡y cairse muerto más vale!
185

OLIVERA

Dejuro, tiene razón


de quejarse y renegar;
pues a eso ha dado lugar
la ruinosa entrivención:

Que la figura más ñata


con fantástico poder,
es lo que ha venido hacer
en el Río de la Plata.

Ansí es, paisano Marcelo,


que me alegro de que Rosas
a esas potencias famosas
hoy las humille hasta el suelo.

Sin que ninguno le ladre


de esos diablos coronaos,
que de miedo y sobajeaos
lo están haciendo compadre:

Y le quitan el bocleo
como diciendo: "nos vamos,
y velay que te entregarnos
por junto a Montevideo".

Aonde nos echan bravatas


a nosotros, pero a aquél,
al tirano Juan Manuel
lo saludan con fragatas.

En fin, usté me ha templao,


y malo es que me caliente;
pero... déme el aguardiente,
y luego me oirá, cuñao.

MARCELO

¡Ah, viejo terne!... de balde


lo traquea la vejez,
se conserva cada vez
con más letras que un alcalde.

Sí, amigo: me ha de gustar


oirlo a usté, y oir a Callejas;
186

casualmente hacen parejas


en el modo de pensar.

OLIVERA

¿Conque, mi amigo Luciano,


también anda por acá?
me alegro. Y ¿cómo le va?

MARCELO

Rigularmente, paisano.
Hoy ha venido un ganao
que lo están desembarcando,
y allí lo dejé enlazando
por seis pesos y un asao.

Y ahí mestizo me asiguró


que viene a hacer medio día
conmigo, y que me trairía
vino duro, ¡y qué sé yo!

De suerte que comeremos;


y luego con mi patrona
a traer a será Petrona
al cuartel nos largaremos.

Pero... ¿usté está cabeciando?


Mal dormido.. ya se ve...

OLIVERA

Es verdá...

MARCELO

... Pues echesé


vaya medio dormitando.

Y... andá, Pilar, por favor,


mientras duerme ño Severo,
ve si te empriesta el pulpero
un vaso y el asador.

Y en cuanto llegue Luciano,


la venida de Olivera
celebraremos siquiera
187

con un pedo soberano.

Ansí, aprontáte, mujer,


como para cocinar;
que yo voy a trajinar
más leña, que es menester.

Vos, Agapito, por la olla


andá al muelle, ya sabés...

AGAPITO

¿Y si me topa el inglés?

PILAR

Sumíle, hijito, la bolla.

AGAPITO

Entonces, por si lo pillo,


y me atropella Balija
para irme más a la fija
voy a llevar mi cuchillo.

Pues, si me atraviesa el zaino


en que ahora anda, y con la tranca
me ataja, y volea la anca
ahi mesmo le desenvaino...

MARCELO

Salí... maula... farolero:


si te ronca, ¿qué has de hacer?

AGAPITO

Nadita... aunque... puede ser


¡que le haga sonar el cuero!
188

VITALÍCIO ULLOA (1929) - Com o advento da internet finalmente conseguimos


desvendar algo do poeta popular chileno que deu origem ao artigo publicado n’O Galo.
Trata-se de Don Pedro Agustín Alonzo Retamal, poeta e escritor, cultor de duas linhas
da escritura: Poesia Popular e narrativas de suas experiências pessoais. Destacado
poeta popular da Comuna de las Cruces, de trajetória nacional, costuma apresentar-
se com o pseudônimo de Vitalício Ulloa, fazendo-o sempre com os versos mais
chamativos possíveis. Pedro Agustín Alonzo Retamal, nasceu em Puerto Saavedra
(Chile), em 28/08/1929. É professor diplomado pela Escola Normal Rural de Victoria e
professor de História e Geografia, formado no Instituto Pedagógico da Universidade
Técnica Federal. Desde cedo o ofício de escritor chega à vida de Pedro Alonzo.
Presidiu grupos literários em Temuco, Algol e San Fernando. Ganhou prêmios em
Poesia e Pintura. Em 1987 se radicou em Las Cruces, onde começou a publicar La Lira
Popular, com a colaboração Municipal. Participa de vários “Encuentros de Payadores”.
Pedro Alonzo, com modéstia natural, o caráter campechano, um estilo direto, franco,
de maneiras afáveis, tem cativado a todos que têm o privilégio de conhecê-lo. É
também autor de publicações sobre poesia popular, além de fazer circular o periódico
La Lira Popular, folheto que conta histórias em versos octossílabos e que já tem mais
de trezentos números publicados. Eis como o poeta se apresenta:

“Aquí llegó Vitalicio


Siempre buscando rivales
No de esos tales por cuales
Sino cantores de oficio.
Pá mi nunca ha sido vicio
Este de contra puntear
Y si me quieren probar
Pues afine su instrumento
Yo estoy listo en el momento
Para salirle a payar.

“Al poeta popular


Le dedico esta razón
Con mi mejor intención
Pues no le debo fallar.
Es cuanto puedo entregar
De mi siembra lo granado
Pues no olvidé lo pactado
Y fui fiel al proceder;
Entrego este suceder
Como el más justo legado.

Publicações de Vitalício Ulloa em Poesia Popular: El Barbecho, 1986 - La Siembra, 1986


- La cosecha, 1987 - El rastrojo, 1992 - Colón en décima, 1993 - El arado, 1994 - La
chalaila, 1994 - El horno, 1995 - La rueda, 1996 - El chonchón, 1997 - La callada, 1998 -
Los zuecos, 1999 - La trilla, 2000 - El yugo, 2002 - Mote Pelao, 2003 e La rueca, 2004.
189

JUAN PEDRO LÓPEZ (1885-1945), nasceu em Echevarría e faleceu em Montevidéu


(Uruguai). O autor do famoso poema La Leyenda del Mojón, começou cedo atuando
nos cafés dos bairros de Montevidéu. Mudou-se para a Argentina, onde atuou ao lado
de Gabino Ezeiza e José Betinotti. Em 1929 foi para a Espanha, convidado pelo então
célebre aviador Ramón Franco (irmão do Ditador Francisco Franco) e cantou para ele a
proeza da travessia num hidroavião de Huelva a Buenos Aires. Juan Pedro López é
também autor de tangos e milongas, tendo sido amigo e parceiro do cantor Carlos
Gardel.

LA LEYENDA DEL MOJÓN

Llovía torrencialmente
Y en la estancia del Mojón
Como adorando al fogón
Estaba toda la gente.
Dijo un viejo de repente:
"Les voy a contar un cuento
Aura que el agua y el viento
Train a la memoria mía...
Cosas que naide sabía
Y que yo diré al momento.

Tal vez tenga que luchar


Con mas de un inconveniente
Pa que resista la mente
El cuento sin lagrimear,
Pero Dios que supo dar
Paciencia a mi corazón
Tal vez venga en esta ocasión
A alumbrar con su reflejo
El alma de un gaucho viejo
Que ya lo espera el cajón.

No se asusten si mi cuento
Les recuerda en este día
Algo que ya no podía...
Ocultar mi sentimiento.
Vuelquen todos un momento
La memoria en el pasao
Que allí verán retratao
Con tuitos sus pormenores
Una tragedia de amores
Que el silencio a sepultao.

Hay cosas que yo no puedo


Detallar como es debido,
Unas, porque se han perdido
Y otras, porque tengo miedo.
190

Pero ya que en el enriedo


Les metí, pido atención,
Que si la imaginación
Me ayuda en este momento
Conocerán por mi cuento
"La leyenda del Mojón".

Alcáncenme un amargo
Pa que suavice mi pecho,
Que voy a dentrar derecho
Al asunto, porque es largo;
Haré juerza sin embargo,
Pa llegar hasta el final,
Y, si atiende cada cual
Con espíritu sereno,
Verán como un hombre gueno
Llego a hacerse criminal.

Setenta años, quien diría


Que vivo aquí en estos pagos
Sin conocer mas halagos
Que la gran tristeza mia,
Setenta años no es un día,
Pueden tenerlo por cierto,
Pues si mis dichas han muerto
Aura tengo la virtud
De ser pa esta juventud
Lo mesmo que un libro abierto".

Iban a golpear las manos


Por lo que el viejo decía,
Pero una lagrima fría
Los detuvo a los paisanos.
"Hay sentimientos humanos -
Dijo el viejo conmovido -
Que los años con su ruido
No borran de la memoria,
Y este cuento es una historia
Que pa mi no tiene olvido.

Allá en mis años de mozo,


Y perdonen la distancia,
Sucedió que en esa estancia
Hubo un crimen misterioso,
En un alazán precioso
Llego aquí un desconocido,
Mozo lindo, muy cumplido,
191

Que al hablar con el patrón


Quedo en la estancia de pión
Siendo dispues muy querido.

Al poco tiempo nomás,


El amor lo picotio
Y el mocito se caso
Con la hija del capataz,
Todo marchaba al compás
De la dicha y el amor
Y pa grandeza mayor
Dios les mando con cariño
Un blanco y hermoso niño
Mas bonito que una flor.

Iban pasando los años


Muy felices en su choza,
Ella alegre y guenamoza,
El juerte y sin desengaños.
Pero, misterios extraños,
Llegaron... y la traición
Deshizo del mocetón
Sus mas queridos anhelos
Y el fantasma de los celos
Se clavo en su corazón.

Aguanto el hombre callao


Hasta dar con la evidencia
Y un día fingió una ausencia
Que jamas había pensao.
Dijo que tenia un ganao
Que llevar pa la Tablada.
Que era una guena bolada
Pa ganarse algunos pesos
Y así entre risas y besos
Se despidió de su amada.

A la una de la mañana
Del otro día justamente,
Llego el hombre derepente
Convertido en fiera humana;
De un golpe hecho la ventana
Contra el suelo en mil pedazos
Y avanzando a grandes pasos,
Ciego de rabia y dolor,
Viendo que su único amor
Descansaba en otros brazos.
192

Como un sordo movimiento


en seguida se sintió,
después un cuerpo cayo
y otro cuerpo en el momento.
Ni un quejido, ni un lamento
Salió de la habitación.
Y pa concluir su misión
Cuando los vio dijuntos,
Los enterró a los dos juntos
Donde hoy esta ese mojón.

En la estancia se sabia
Que la ingrata lo engañaba
Pero a el nadie le contaba
La disgracia en que vivía.
Por eso la polecia
No hizo caso mayormente,
Pues dijeron: "La inocente
Se jue con su gavilán..."
Y en cambio los dos están
Descansando eternamente".

- ¡Ahi juna! - grito un paisano -


Si es así lo que habla el viejo
Ese era un macho, ¡canejo!
¡Yo le besaría la mano!...
-¡Yo soy! - le grito el anciano -,
¡Venga, m´hijo, besamé!...
Yo jui m´hijo el que mate
A tu madre disgraciada
Porque en la cama abrasada
Con otro hombre la encontré.

- Hizo bien tata querido


- Grito el hijo sin encono -,
Venga, viejo, lo perdono
Por lo tanto que ha sufrido;
Pero aura, tata , le pido
Que no la maldiga mas,
Que si jue mala y audaz
Por mi perdónela, padre,
Que una madre, siempre es madre,
Déjela que duerma en paz!...

Los dos hombres se abrazaron


Como nunca lo habían hecho,
Juntando pecho con pecho
193

Como dos niños lloraron,


Padre he hijo se besaron
Pero con tal sentimiento,
Que el humano pensamiento
No puede pintar ahora
La escena conmovedora
De aquel trágico momento.

Los ojos de aquella gente


Con el llanto se inundaron
Y todos mudos se quedaron
Bajo un silencio imponente,
Volvió a decir, nuevamente,
Allí están en el mojón
Y poniendo el corazón
El anciano en lo que dijo,
Le pidió perdón al hijo
Y el hijo le dio perdón.
194
195

ANTOLOGIA DE PLIEGOS SUELTOS CHILENOS

Adolfo Reyes:
Hundimiento de un puente
Daniel Meneses:
Fusilamiento del reo Ismael Bustamante
Gran Incendio en Guayaquil
Horrible crimen en Gultro
Horroroso salteo en Arequipa
La horrible catástrofe en la Lavandería Internacional
El Loro:
La colona muerta
Gregorio Sarzosa:
Versos Nuevos
José Dionisio Castro:
Gran Incendio en Chillán
José Hipólito Cordero:
Cuntrapunto entre el despachero i el tomador
El Hombre descuerado
El hombre que se casó con seis mujeres
El hechor que ultimó a una niñita
Gran catástrofe en Mulchen
La chilota que dio a luz a un niño
La niña vestida de hombre
La sierpe aparecida en Las Pallatas
Triste ejecución
Versos del nacimiento del niño de Dios
Juan B[autista] Peralta:
La lira popular # 39
La lira popular # 79
La lira popular en versos de ocho silabas
Rumores de guerra
Liborio Salgado:
Fin de Mundo! El Cometa
Margarita Flores:
Viva Errazuriz con su triunfo completo
Pepa Aravena:
Viva el 18!
196
197
198
199
200
201
202
203
204
205
206
207
208
209
210
211
212
213
214
215
216
217
218
219
220
221
222

APÊNDICE

LOS PAYADORES ARGENTINOS Y BALEARES

El payador ha sido un personaje característico de las poblaciones rurales


argentinas y del cual quedan aún algunos herederos. Además de hallarse figuras
parecidas en otros países americanos, descubrimos un símil en las Islas Baleares: el
glosador.

Primero, veamos la definición que da el Diccionario Enciclopédico Códex de la


voz payador: "Coplero que canta acompañándose con la guitarra, generalmente en
diálogos improvisados". El payador aparece en la literatura gauchesca, por ejemplo,
en el Martín Fierro, de José Hernández, poema compuesto parcialmente en la ciudad
de Rosario, donde su autor supo residir varios años. Quizá, al menos en el ámbito
literario, el payador más famoso sea Santos Vega. Leopoldo Lugones (uno de los más
destacados escritores argentinos) dedicó por su parte un libro al payador. La payada es
el canto del payador.

La payada de contrapunto es el certamen poético y musical donde intervienen


dos payadores, desafiándose en una especie de duelo verbal e ingenioso. El verbo
payar (cantar payadas) y paya (versificación improvisada de los payadores) integran la
misma familia de palabras, que tendría su origen en la voz quechua paclla: campesino.
Cabe informar que existe el término pallador: coplero y cantor errante en América
meridional. La forma payador (sonando la y como una sh en inglés) es típica del
castellano rioplatense o pampeano.

Ahora veamos lo que expresa la Enciclopedia Catalana Básica 2


Interactiva respecto de la voz glosador: "Poeta popular de Mallorca y de Menorca. Los
glosadores, hombres o mujeres, en general analfabetos, componen glosas -cantares,
coplas-, algunas veces impresas como literatura de caña y cordel. Estas creaciones son
repetidas por el pueblo, que las tradicionaliza o que en ocasiones recuerda al autor, no
siempre auténtico. Son típicos los combates de glosadores, las glosadas, donde los
mismos improvisan cantando o recitando uno después del otro, deshaciendo los
argumentos contrarios y devolviéndose mutuamente las indirectas. Hay muchos
glosadores mallorquines conocidos desde el siglo XVIII. Entre los más populares cabe
citar a Sebastià Gelabert, Pau Noguera i Ripoll, Andreu Coll i Bernat, Sebastià Marques i
Ortegas, y Pere Antoni Jusama i Barceló." La presencia de mujeres entre los glosadores
baleares le daría una nota distintiva frente a los payadores argentinos.

Para tener una idea más precisa de nuestros payadores, veamos lo que dice al
respecto el Diccionario Biográfico, Histórico y Geográfico Argentino El Ateneo (Buenos
Aires, 1997): "Tipo popular del cantor que improvisa acompañándose de la guitarra.
Originariamente gaucho, tuvo luego notables representantes en ambientes urbanos.
No se confunde con los tipos afines del simple guitarrero, del cantor que entona versos
ajenos, del improvisador que no canta ni sostiene duelos poéticos, ni menos con el
compositor de encargo. Se caracteriza por rasgos como los siguientes: vida errante;
223

culto de la amistad, respecto al valor; actitud caballeresca y desdén por el trabajo;


condiciones de sociabilidad e intelectuales (ingenio, memoria, inspiración);
condiciones artísticas (don del canto, ejecución de la guitarra, dominio de la
versificación tradicional).

La payada consiste en una suerte de duelo poético y se sostiene a base de


versos octosílabos combinados en cuartetas y décimas, con acompañamiento de
guitarra. La combinación elegida por el iniciador debe ser mantenida por el
contrincante. Suscita respeto, admiración, amor y es agente de sociabilidad al provocar
las reuniones, bailes y cantos, especialmente las payadas. El más famoso fue Santos
Vega, de discutida realidad histórica. Según el mito popular y legendario, fue vencido
por el diablo en una payada de contrapunto. Del folclore pasó a la literatura inspirando
numerosas obras, en prosa y en verso (la más famosa es el poema de Rafael Obligado),
que terminaron por idealizar su figura. Algunos de los temas tradicionales de las
payadas se remontan a la Edad Media española." (Javier Etcheverry)
http://www.abarcusrosario.com.ar/
224

LA POESÍA GAUCHESCA Y LAS PAYADAS

Sin embargo - y seguramente por su misma carencia cultural - la literatura


gauchesca no es obra de gauchos. Como regla general, la literatura gauchesca más
representativa - en cuanto recoge y presenta no solamente el lenguaje de los gauchos,
sino sus condiciones vitales y sus peripecias supuestamente típicas - ha sido obra de
hombres cultos o en todo caso semicultos, que habiendo participado de diversas
formas en la vivencia del medio gauchesco, y también habiendo desarrollado una
especial valoración de lo que representaba ese medio en diversos aspectos éticos o
estéticos, recurrieron a las formas literarias y a los instrumentos artísticos para su
presentación.

Si bien es cierto que expresiones versificadas surgieron espontáneamente en el


ambiente rural de los gauchos — especialmente ligadas al canto con la guitarra — ellas
no llegaron a conformar una cultura folklórica tradicional; sino que lo que constituye el
fondo cultural integrado por la poesía gauchesca es esencialmente el resultado de una
obra deliberadamente producida por autores de origen urbano, que a menudo
compartieron el deseo de describir el medio físico y social del gaucho con el interés de
valerse de ello como instrumento de propagación de opiniones, frecuentemente por
motivaciones políticas; anticipando una práctica que todavía perdura, aunque en aquel
entonces no tenía el carácter adicional de su lucratividad.

Pero sin duda, además del obvio contenido referido al ambiente gauchesco, lo
que caracteriza a la poesía gauchesca es el empleo de un lenguaje, que destaca la
diferenciación respecto del español puro, en base al empleo de expresiones y también
de inflexiones propias del habla del gaucho. A pesar de que — sin existir una
documentación fiel de la expresividad oral de los gauchos — esas modalidades hayan
sido generalmente admitidas como las utilizadas por ellos, sin que posiblemente
hubieran sido conocidas de antemano por muchos de quienes las leían o escuchaban.
Es muy posible, además, que en cierto grado la expresividad oral real de los gauchos
haya sido de alguna manera acentuada o atenuada por los autores, con fines de
agregar notas pintorescas a sus personajes como de hacerlas más accesibles al público;
cuando no para ajustarse a los requisitos de las propias formas versificadas empleadas.

Las formas versificadas de expresión de la lírica gauchesca están claramente


influidas por su vinculación originaria al canto de un solista que se acompaña con la
guitarra; y a los contenidos de su temática. La métrica es fundamentalmente el
octosílabo tradicional del romancero hispano; que se presta para los ritmos musicales
de la guitarra y para imprimir a la expresión un intenso dinamismo y agilidad. La
estrofa también guarda estrecha relación con el carácter de brevedad y a menudo la
búsqueda de un efecto de sorpresa, por lo cual la más corriente — sobre todo para las
obras de extensión — ha sido la cuarteta.

Dentro de la clasificación general de la lírica gauchesca se encuentran: Las


payadas, consistentes en una confrontación de habilidades de improvisación entre dos
cantores, a partir de un juego de alardes iníciales y de ulteriores preguntas y
respuestas, para lo cual se turnan, procurándose una final decisión de cuál ha sido el
225

triunfador. El ejemplo más accesible está contenido en “La vuelta de Martín Fierro” en
que este personaje se enfrenta con el hermano de “El Negro” al que había dado
muerte en un baile. También existen publicadas algunas payadas, sobre todo de los
últimos payadores argentinos de la época gauchesca, como Gabino Ezeiza y Juan de
Nava. De este último, se dice que conoció en Montevideo a Carlos Gardel cuando
todavía era un adolescente, y fue su maestro de guitarra.
http://www.liceodigital.com
226

O AUTOR

Salomão Rovedo (1942), nascido em João Pessoa (PB), mas de formação cultural em São Luis
(MA), mora no Rio de Janeiro desde 1963.

Poesia: Abertura Poética (Antologia), Walmir Ayala/César de Araújo, 1975; Tributo, 1980; 12
Poetas Alternativos (Antologia), Leila Míccolis/Tanussi, 1981; Chuva Fina (Antologia), Leila
Míccolis/Tanussi Cardoso, 1982; Folguedos, c/Xilos de Marcelo Soares,1983; Erótica (Poesia),
c/Xilos de Marcelo Soares, 1984; Livro das Sete Canções (Poesia), 1987.

e-Books:
Poesia: Porca elegia, 7 canções, Sentimental, Amaricanto, bluesia, Mel, Espelho de Venus, 4
Quartetos para a amada cidade de São Luis, 6 Rocks Matutos, Amor a São Luis e ódio, Sonetos
de Abgar Renault (antologia), Glosas Escabrosas (c/Xilos de Marcelo Soares), Suite Picasso.
Contos: O sonhador, Sonja Sonrisal, A apaixonada de Beethoven, Arte de criar periquitos, A
estrela ambulante, O breve reinado das donzelas.

Outros: Cervantes e Quixote (Artigos), Gardênia (Romance), Stefan Zweig Pensamentos e


Perfis (Antologia), Ilha (Romance), Meu caderno de Sylvia Plath (Antologia), Viagem em torno
de Dom Quixote (Pesquisa), 3 x Gullar (Ficção), Literatura de Cordel (Ensaio), Quilombo, Um
auto de sangue (ensaio).
Como Sá de João Pessoa: Macunaíma em versos de cordel, Antologia de cordel #1 - #2 - #3 e
#4, Por onde andou o cordel?.
Todos os e-books estão disponíveis na Internet: use sites de busca.

Foto: Priscila Rovedo

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-
Compartilhamento pela mesma licença 2.5 Brazil. Para ver uma cópia desta licença, visite
http://creativecommons.org/ ou envie uma carta para Creative Commons, 559 Nathan Abbott
Way, Stanford, California 94305, USA. Proibida a impressão e comercialização sem autorização
do autor. Obs: Após a morte do autor os direitos autorais devem retornar aos herdeiros
naturais.

You might also like