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LÍDERES 1
RESUMO
A crescente violência contra a mulher, em Pernambuco, vem sendo motivo de preocupação para
o movimento de mulheres do Estado. Segundo o Observatório da Violência contra a Mulher do
SOS Corpo, entre 2003 e 2005, houve mais de 1.000 homicídios femininos. E, para além dos
casos de violência doméstica, sexual e dos homicídios, as mulheres pernambucanas também estão
sendo agredidas, cotidianamente, nos meios de comunicação. Elas são apresentadas como objetos
de consumo para milhares de telespectadores e ouvintes de todo o Estado. Este quadro de
violência simbólica demonstra o quanto a democratização da comunicação ainda não é uma
realidade no Brasil e que a população precisa se fortalecer para exercer o controle social dos
meios massivos, enfrentando e denunciando tais abusos. Diante dessa realidade, a sociedade civil
vem promovendo diversos esforços para fortalecer a intervenção política em defesa do direito
humano à comunicação pela sociedade local. Vale destacar que, no Nordeste, houve uma grande
inserção de mulheres no movimento feminista. Tal quadro significa uma adesão aos espaços de
discussão e debate sustentados pelo movimento, principalmente em Pernambuco. São nessas
instâncias que as mulheres organizadas se fortalecem e constroem plataformas de ação para o
enfrentamento de problemas comuns a todas. O presente projeto propõe-se a captar as
representações produzidas pelo SOS Corpo, a partir de sua página eletrônica, mais precisamente a
do Observatório da Violência contra a Mulher. As análises críticas desses materiais de
comunicação da entidade, baseadas nos conceitos de gênero de Scott (1996), Saffioti (2004) e de
representação social de Moscovici (op. cit. 2002), revelam um tratamento da violência contra a
mulher crítico e profundo; críticas à imprensa e ao Estado, mas também, uma tentativa de
interlocução entre os sujeitos, a fim de se criar e implantar políticas públicas para enfrentar o
problema e transformar a sociedade. Ao articular seu discurso a questões globais, o SOS Corpo –
aqui tomado como uma das lideranças do movimento de mulheres – surge como uma
organização, que desenvolve uma atuação concreta e se caracteriza por uma postura crítica.
1. INTRODUÇÃO
Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico
define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização
1
Artigo resultante da pesquisa de Iniciação Científica “Mídia, movimento de mulheres e a construção da violência
simbólica”, sob orientação do Professor Doutor Luiz Anastácio Momesso do Departamento de Comunicação Social
da Universidade Federal de Pernambuco.
2
Prêmio Naíde Teodósio de Estudos de Gênero – Modalidade Estudante de Graduação. Ano I.
Estudante do Curso de Comunicação Social/ Jornalismo – UFPE no período dessa pesquisa (2006-2007).
E-mail: rafa.mvasconcellos@gmail.com
3
Professor e pesquisador do Departamento de Comunicação Social da UFPE. Coordenador do Núcleo de
Documentação dos Movimentos Sociais de Pernambuco. E-mail: momessoufpe@superig.com.br
que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.
Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro. (BEAUVOIR:
1980; 9).
A crescente violência contra a mulher, em Pernambuco, vem sendo motivo de preocupação para
o movimento de mulheres do Estado. Segundo o Observatório da Violência contra a Mulher do
SOS Corpo, entre 2003 e 2005, houve mais de 1.000 homicídios femininos. O perfil é de
mulheres entre 18 e 40 anos, residentes em bairros de baixa renda da Região Metropolitana do
Recife, com destaque para as negras. Se, até os três últimos anos, os crimes aconteciam,
geralmente, na residência das vítimas, em 2005 e 2006, as agressões tomaram o espaço público.
Ainda de acordo com a mesma fonte, 55% dos crimes cometidos no ano passado aconteceram na
via urbana e 45% no espaço doméstico.
O tripé das desigualdades, que se situa fundamentalmente nas opressões de classe, raça e gênero,
revela uma série de entraves à emancipação das mulheres pobres e negras, como as mais
discriminadas e subalternizadas no conjunto da população feminina.
E, para além dos casos de violência doméstica, sexual e dos homicídios, as mulheres
pernambucanas também estão sendo agredidas, cotidianamente, nos meios de comunicação. Elas
são apresentadas como objetos de consumo para milhares de telespectadores e ouvintes de todo o
Estado.
Diante dessa realidade, a sociedade civil vem promovendo diversos esforços para fortalecer a
intervenção política em defesa do direito humano à comunicação pela sociedade local. Entre
essas entidades, dentro do movimento de mulheres, o Fórum de Mulheres de Pernambuco
(FMPE) tem se destacado. Formado por 67 entidades 4 que retratam a pluralidade do movimento
de mulheres na diversidade de suas ações políticas, o FMPE atua na defesa dos direitos humanos
e de melhores condições de vida para as mulheres, priorizando a Participação Política Feminista,
Ações pelo Fim da Violência Contra a Mulher, Juventude, Saúde, Direitos Sexuais e
Reprodutivos.
Vale destacar que, no Nordeste, houve uma grande inserção de mulheres no movimento feminista
e o crescimento, nos últimos anos, das militantes engajadas na Articulação de Mulheres
Brasileiras (AMB). Tal quadro significa uma adesão aos espaços de discussão e debate
sustentados pelo movimento, principalmente em Pernambuco. É nessas instâncias que as
mulheres organizadas se fortalecem e constroem plataformas de ação para o enfrentamento de
problemas comuns a todas.
Dado de 2005. Para se ter déia do crescimento do FMPE, três anos antes, em 2002, eram, apenas, 40 organizações
feministas.
Acreditando, então, na necessidade de se desenvolver estudos sobre o movimento de mulheres,
que vêm crescendo, aperfeiçoando suas formas de organização, melhorando seu nível de
consciência e ganhando força no conjunto da sociedade, o presente projeto propõe-se a captar as
representações que as militantes da ONG SOS Corpo, enquanto uma das lideranças do
movimento de mulheres, produzem de si mesmas e da mulher pernambucana Pretende-se, aqui, a
partir de sua página de Internet, com destaque para o Observatório da Violência contra a Mulher
em Pernambuco5, identificar que valores e princípios são difundidos por trás de seu discurso.
Quais estratégias utilizadas na sua prática? Qual o papel do site nesse processo?
O resultado produzido por este projeto integrará uma pesquisa mais ampla, com objetivo de
produzir conhecimentos que sirvam de subsídios para um trabalho de médio e longo prazo,
aproximando universidade e sociedade para execução de ações no sentido de democratizar a
comunicação e fazer com que ela se torne elemento de construção de uma sociedade mais justa.
A amplitude do termo gênero e sua multiplicidade de sentidos fazem com que seja difícil defini-
lo com precisão. Aqui, ele não corresponde a um estilo, uma espécie, uma categoria gramatical
ou natureza de uma manifestação artística, mas sim a uma construção social do sexo, do feminino
e do masculino. A diferenciação entre “gênero” e “sexo” é essencial na perspectiva adotada aqui,
porque o primeiro abrange uma complexidade que transcende o determinismo biológico do outro.
E, mesmo que dentro da própria teoria feminista, haja diversos empregos do termo, tal idéia
parece ser um consenso. Assim, esse conceito é fundamental na desnaturalização de práticas
cotidianas que definem o que é ser homem ou ser mulher. Como explicam Maria Amélia de
Almeida Teles e Mônica de Melo,
a sociologia, antropologia e outras ciências humanas lançaram mão da categoria gênero para
demonstrar e sistematizar as desigualdades socioculturais existentes entre mulheres e homens,
que repercutem na esfera pública e privada de ambos os sexos, impondo a eles papéis sociais
diferenciados que foram construídos historicamente, e criaram pólos de dominação e
submissão. (TELES e MELO: 2003; 16)
Nesse sentido, a definição trazida por Joan Scott nos anos 80 é bastante relevante. A concepção
de que “gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas
entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder” (Scott: 1996;
11) traz luz ao entendimento, discussão e aplicação do conceito. E, assim como diversos estudos,
este, também, toma a autora como referência teórica.
Apesar de ser difícil de determinar um marco histórico exato para o fenômeno da violência contra
a mulher, considera-se, aqui, o patriarcado como uma de suas raízes. Mesmo sendo um conceito
controverso e até mesmo abandonado por algumas correntes feministas, no presente estudo, ele é
tomado como um sistema de poder estratégico, marcado por uma hierarquização nas relações
entre homens e mulheres, na qual os primeiros dominam os esquemas de interpretação da
realidade e criam sistemas simbólicos que inferiorizam as últimas. (SAFFIOTI: 2005).
Como afirma a socióloga Maria Betânia Ávila,
Em decorrência de a grade dos media não ser submetida ao controle social, muitos programas
incentivam violência, racismo, homofobia, machismo. Trata-se mesmo de casos recorrentes de
violência simbólica, que ferem os direitos humanos de centenas de brasileiros e brasileiras
diariamente.
Diante desse retrato de violência simbólica, o diálogo entre mídia e movimentos sociais é
estratégico. Por um lado, a aproximação permite que o movimento entenda melhor a lógica e
formas de produção midiática, aperfeiçoando a fala pública de os (as) militantes, e, por outro,
enriquece a própria práxis jornalística, na medida em que põe o (a) profissional num contato mais
próximo com a realidade desses grupos.
7
Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Frias (Folha de São Paulo/ UOL), Mesquita (Estado de São Paulo), Civita
(Abril), Saad (Band) e a Igreja Universal (Record).
No prefácio do livro publicado como resultado do encontro, o então repórter especial da Folha de
São Paulo Aureliano Biancarelli explicou:
Grupos de mulheres não têm de pedir por espaços nem solicitar atenção. Jornalistas e mídia,
por sua vez, não precisam fazer ar de que estão sendo gentis ou colaborativos. Se a informação
tem peso, tem cor, tem personagem, ela se impõe. Vai ser publicada porque é notícia, não
porque veio desta ou daquela fonte.
Nenhum informante ou fonte tem que implorar para ser notícia. Basta dizer o que está
acontecendo. E no universo de gênero, do masculino e do feminino, há muita coisa
acontecendo. (CFEMEA; REDESAÚDE: 1997, 6).
É importante frisar que não se trata de demonizar ou santificar os meios de comunicação. O fato é
que os interesses da mídia hegemônica e dos movimentos sociais são antagônicos. Enquanto os
primeiros seguem a lógica capitalista, os últimos primam pela justiça social. E a luta pela
democracia, passa, necessariamente, pela democratização da comunicação. Enquanto direito
humano, ela deve atender aos interesses da sociedade e não a aglomerados comerciais. Inclusive,
uma das propostas da Plataforma Política Feminista, aprovada em 2002, é
E, quanto à questão da luta feminista pela fala pública – suas estratégias de comunicação; o
agendamento de temas; a auto-representação – será abordada mais adiante, a partir da experiência
do site do SOS Corpo.
Aqui, trabalhar a idéia de gênero como atividade de representação significa entendê-la como
atividade mediadora entre a experiência e a linguagem, ou seja, como elemento de constituição
do discurso, mediação da ordem simbólica. Assim, ela participa do processo de significação do
mundo, orientando idéias e práticas de ser, sentir e agir em sociedade.
Nesse sentido, adota-se o conceito de Representação Sociais trazido por Serge Moscovici:
representar uma coisa [...] não é com efeito simplesmente duplicá-la, repeti-la ou reproduzi-la;
é reconstituí-la, retocá-la, modificar-lhe o texto. A comunicação que se estabelece entre o
conceito e a percepção, um penetrando no outro, transformando a substância concreta comum,
cria a impressão de ‘realismo’. [...] Essas constelações intelectuais uma vez fixadas nos fazem
esquecer que são obra nossa, que tiveram um começo e que terão um fim, que sua existência
no exterior leva a marca de uma passagem pelo psiquismo individual e social. (MOSCOVICI
apud SÁ: 1995: 33-4).
2. OBJETIVOS
2.1 Geral
2.2 Específicos
Fazer um estudo do tratamento da violência contra a mulher nos materiais produzidos pela ONG
SOS Corpo;
Captar as representações, contidas nesses materiais, sobre os movimentos de mulheres e suas
lideranças;
Produzir uma análise das críticas contidas, nesses materiais, sobre a abordagem da imprensa
nessa temática.
3. METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica inicial consistiu na leitura e discussão de textos, artigos e livros focados
na questão de gênero, no grupo de pesquisa “Comunicação e Gênero” do Núcleo de
Documentação Sobre os Movimentos Sociais de Pernambuco/ UFPE. Depois, o estudo seguiu no
entendimento do que é violência contra a mulher, seus tipos e formas de expressão, para, a partir
daí, refletir sua relação com a mídia. Por fim, deteve-se no conceito de representação.
Não foi possível analisar quem acessa a página eletrônica do SOS Corpo, tampouco quantificá-
las, porque a instituição não tem esse registro. Assim, não foi possível completar uma etapa
importante do projeto – de verificar como funciona o sistema de comunicação da entidade para
além do site. No mais, seguiu-se com uma análise crítica dos textos e materiais obtidos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Trata-se de um projeto do SOS Corpo, apoiado pela Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República, voltado para a produção de informações e debates críticos
sobre a violência contra a mulher em Pernambuco, com o intuito de subsidiar a atuação dos
movimentos de mulheres e dos agentes públicos no seu enfrentamento.
Na crença, então, na formulação, implantação e qualificação das políticas públicas voltadas para
o enfrentamento do problema, em suas raízes, o projeto segue a seguinte estratégia: a partir dos
casos de homicídios de mulheres, há produção de informações e a análise do fenômeno da
violência (banco de dados dos homicídios; boletim Dados & Análises, e Dossiês); criação de
espaços de interlocução, que consistem em ciclos trimestrais compostos por uma oficina com
movimentos sociais, um encontro com a mídia e, por fim, um Fórum de diálogo entre sociedade
civil e Governos (Estadual e Municipal).
Ainda que se defenda uma “atuação conjunta, qualificada, comprometida” do Estado com a
sociedade civil, no site do Observatório da Violência..., o movimento de mulheres surge como
protagonista da reflexão crítica e das ações, como sujeitos políticos, sociais e históricos. Mas, é
importante destacar um detalhe: as mulheres do SOS Corpo, ao atribuir, à instituição e ao projeto,
o papel de assessorar, subsidiar e orientar o movimento de mulheres e agentes públicos, acabam
se auto-representando como líderes, ou como o que Gramsci chama de “intelectuais orgânicos”.
O modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloqüência, motor exterior e
momentâneo dos afetos e das paixões, mas num imiscuir-se ativamente na vida pública, como
construtor, organizador, “persuasor permanente”, já que não apenas orador puro [...] eleva-se
[...] à concepção humanista histórica, sem a qual se permanece “especialista” e não se chega a
“dirigente”. (GRAMSCI: 1991; 8).
Apesar de não haver fotos no site do Observatório da Violência..., em outros espaços, como a
página principal do SOS Corpo, as imagens retratam as mulheres agindo, reivindicando,
trabalhando juntas, em grupo, nunca sozinhas. Os quadros são, quase sempre, em ruas e
ambientes externos. Closes são praticamente inexistentes: parece que a intenção não é ver rostos
específicos, indivíduos, mas, antes, um grupo forte agindo, protestando e/ou discutindo, com
faixas, cartazes, passeatas, círculos e rodas de debate. Em algumas passagens do site, inclusive, a
identidade institucional confunde-se com a do grupo de pessoas. Mesmo que geralmente o
discurso seja em nome do SOS Corpo, acontece de o texto estar na terceira pessoa do plural. Tal
atitude revela um sentimento de pertencimento, uma auto-afirmação e reforça a idéia das
mulheres como sujeito coletivo.
Tais questões evidenciam uma postura pouco crítica de uma mídia comercial, voltada para
interesses distantes dos sociais. No site do Observatório da violência..., o levantamento feito das
notícias na imprensa local sobre a violência contra a mulher traz, num mesmo dia, manchetes
como "Juizado Especial ainda não saiu do papel” 8, até “A carnificina continua” 9. Apesar de as
matérias serem disponibilizadas por completo, não há análises, discussão ou questionamento
delas em si. O espaço surge como exposição.
8
Extraído da Folha de Pernambuco. 29 nov.2006. Disponível em http://www.soscorpo.org.br/observatorio
9
Extraído do Jornal do Commercio. 29 nov.2006. Idem.
Que critérios, ou melhor, valores-notícia norteiam essas publicações? Submetidos aos veredictos
do mercado, os meios jornalísticos buscam o que provoca escândalo, o espetáculo. E, por
despertar curiosidade nas pessoas, a violência conquista muito espaço na mídia. Contudo, muito
além da atualidade ou dramaticidade, a imprensa costuma usar a “cultura da pinça”, ou seja,
extrai o fato do contexto, deixando-o numa circunstância apelativa, e acaba por apresentá-lo de
forma superficial, sem aprofundamento crítico.
Ao permitir o acesso da discussão posta em prática, para diferentes sujeitos, de diferentes lugares
e contextos, o site funciona como espaço de democratização da informação, e, por conseguinte,
da comunicação como direito humano, mas também como poder estratégico na construção
simbólica e social da realidade.
Nesse sentido, mais do que ser uma forma de divulgar as informações e posturas sobre a
violência contra a mulher, o site do Observatório da Violência..., mostrou-se como instrumento
importante para manter um elo entre os sujeitos – sociedade, movimentos, poder público – em
torno da questão.
5. CONCLUSÕES
10
O projeto do Observatório da Violência contra Mulher foi encerrado em 2006, mas seus dados e informações
ainda estão disponíveis no endereço <http://www.soscorpo.org.br/observatorio>. É importante destacar que a página
eletrônica do SOS Corpo encontra-se em manutenção. Suas notícias, por exemplo, não estão atualizadas; são de
2006. Mesmo assim, as informações contidas nas outras seções do site deram subsídios para o estudo das idéias e
ações da organização.
não ter uma filiação político-partidária, consegue desenvolver alternativas de transformação
social, além de uma outra representação da mulher.
A partir da experiência do site, constata-se que a Internet, por não haver uma concentração de
vozes, configura a tecnologia como arma legítima contra eventuais controles estatais,
empresariais, ou mesmo a desinformação. A relação comunicação e poder, de fato, é alterada. No
contexto atual das infomídias interativas, onde os meios on-line trazem um novo paradigma, a
comunicação é concebida de forma multidirecional. Num ambiente virtual, os indivíduos podem
ser, ao mesmo tempo, consumidores e produtores de conteúdos.
E, se “ocupar espaços é desmarginalizar” 11, então, essas mulheres acabam assumindo uma
postura soberana, legítima de falarem por si mesmas; de deixar de ser o outro, para ser nós. No
site, elas são empoderadas o suficiente para agendar temas, trazer novas abordagens, repudiar ou
respaldar explicitamente qualquer ação, seja na terceira pessoa do plural, seja usando o nome da
organização.
No caso específico das mulheres do SOS Corpo, há uma luta de reconhecimento numa nova
esfera pública. Trata-se de indivíduos com uma nova sensibilidade do mundo, um novo estilo de
vida, com novas categorias de ser. Aqui, a mulher deixa de ser percebida a partir do outro – do
homem – para existir a partir de si mesma. E, na medida em que articulam seu discurso a
questões globais, não surgem como um movimento de gueto. Legitimam-se, antes, como uma
organização, que desenvolve uma atuação concreta e se caracteriza por uma postura crítica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
11
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