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Fascículo 02
Carlos Alberto C. Minchillo
Izeti Fragata Torralvo
Marcia Maísa Pelachin
Índice
Gramática
Resumo teórico ..................................................................................................................................1
Exercícios............................................................................................................................................3
Gabarito.............................................................................................................................................4
Literatura
Carlos Drummond de Andrade – Alguma poesia .................................................................................6
Exercícios..........................................................................................................................................13
Gabarito...........................................................................................................................................16
Gramática
Resumo teórico
Léxico
· Polissemia
· Contexto
· Variações lingüísticas
· Conotação (a metáfora)
Léxico
O léxico é formado pelo conjunto de vocábulos da língua, mas pode-se usar o termo
fazendo referência ao conjunto de vocábulos de um texto.
Por apresentarem características distintas, as palavras da língua podem ser separadas em
dois grupos: as de natureza gramatical (preposições, conjunções, artigos); as de natureza lexical
(substantivos, adjetivos, verbos...). As palavras gramaticais formam um grupo fechado, ao qual
dificilmente se acrescentam palavras “novas”(talvez apenas por derivação imprópria), ao contrário das
lexicais, que são alvo de criação.
O estudo do léxico, em geral, não é feito de modo sistemático, sua aprendizagem é feita
constantemente, com o próprio uso da língua, durante diálogos, na leitura de textos etc.
O que se espera de um falante de nível médio é que não domine apenas o léxico
característico da linguagem coloquial, mas que reconheça o léxico da norma culta (literária, algo da
científica) e principalmente saiba identificar sentidos a partir de situações concretas de uso, que
apreenda o sentido figurado, que saiba distinguir entre a norma culta e outras variantes, como a
popular.
Polissemia
É comum que uma palavra possua mais de um sentido – que seja polissêmica (ou
apresente polissemia). Em geral, são os termos de natureza técnica que apresentam um único
significado.
Do falante, espera-se que, ao ler, reconheça o sentido em que, dentro de um contexto
específico, a palavra foi empregada. Exemplo:
Comentando a atuação do presidente Fernando Henrique Cardoso quanto às mudanças
da estrutura agrária do país, o economista Celso Furtado disse a Mair Pena Neto, jornalista do Jornal
do Brasil (12/ 11/ 98): “Ele poderia até concordar com o que dissemos, mas uma coisa é a razão
substantiva, outra é a razão operacional”.
“Substantiva”, na frase de Celso Furtado, é um adjetivo empregado para caracterizar
“razão” e significa “definidora, característica”. Não se trata, com certeza, do termo da nomenclatura
gramatical, que identifica uma classe de palavras.
1
Contexto
Se cada palavra é composta por uma gama (mais ou menos restrita), somente em um
contexto lingüístico, um texto qualquer, que pode ser uma frase ou todo um livro, concretizam-se
(atualizam-se) acepções, sentidos. Ou seja, somente em um contexto específico pode-se determinar
exatamente o significado de uma palavra (Há mesmo os estudiosos que, de modo algo exagerado,
acreditam que uma palavra — o significado de uma palavra — só existe dentro de um contexto).
Como, para um falante qualquer, é impossível conhecer todo o léxico da língua e, além
disso, durante as leituras que se fazem muitas vezes se precisa resolver questões vocabulares sem
poder lançar mão de um dicionário, mas relacionando uma palavra ao todo, espera-se que o falante –
mesmo não dominando os possíveis sentidos de uma palavra determinada – possa, a partir de
contextos específicos, identificar o significado adequado.
Logicamente, quanto maior intimidade o falante tiver com textos escritos ou com um
assunto específico, maior facilidade terá na apreensão do sentido de um vocábulo. Mas não se pode
negar que, embora o contexto seja fundamental na determinação do significado, muitas vezes, apesar
do contexto, uma palavra ou outra foge ao falante, o que na leitura de um livro ou de um texto pode
não ser crucial. Assim, questionados sobre o significado de uma palavra em um determinado
contexto, não é impossível que alguns falantes tenham mais facilidade que outros, ou que alguns
falantes simplesmente não consigam chegar à compreensão desejada. Exemplo:
O fato de se conhecer a história do filho pródigo ou da gata borralheira e poder até
mesmo formular opiniões pertinentes sobre esses textos não significa que se saiba exatamente o
sentido de “pródigo” ou o que seja “borralheira”.
De qualquer modo, para estabelecer o significado de uma palavra, valem regras simples
como:
a. estabelecer o assunto geral do texto (se houver ilustrações, observar sua relação com o que é dito);
b. verificar se a palavra está empregada figuradamente ou não;
c. procurar estabelecer a classe gramatical à qual a palavra pertence (substantivo, adjetivo, verbo...);
d. buscar, no repertório conhecido, possíveis palavras com morfemas semelhantes aos existentes na
palavra cujo significado se desconhece (radical, prefixos comuns, sufixos).
Variações lingüísticas
Uma língua pode ser caracterizada como um sistema, isto é, como um todo organizado,
com elementos interdependentes que possuem regras para sua combinação. Obedecendo às regras
desse sistema mais ou menos fechado, a língua apresenta uma série de “variações”: em função da
região, da classe social e do grau de instrução de quem a utiliza, da situação concreta de
comunicação, da formalidade ou da informalidade da situação de fala, do destinatário da mensagem.
As variações lingüísticas ou níveis de linguagem podem ser reconhecidos por
características específicas nos vários aspectos da língua: na morfologia, na sintaxe, no léxico. Na
linguagem popular, por exemplo, é comum que a concordância de número e pessoa entre verbo e
sujeito seja desprezada; na linguagem infantil, a conjugação verbal apresenta simplificações que
resultam da generalização que a criança faz de algumas regras que consegue estabelecer.
De todos os aspectos lingüísticos, o mais revelador dos diferentes níveis de linguagem é o
léxico, pela multiplicidade de variações que possibilita. Basta pensar no vocabulário dos diversos
grupos jovens que se conhecem.
Conotação (a metáfora)
2
“Agressivo”, que, denotativamente, indica uma pessoa que agride, está empregado
figuradamente (metaforicamente), representando aquele que enfrenta e não teme (as compras, as
novidades).
A análise do exemplo mostra que o sentido figurado, a metáfora, possui um “vínculo”
com a denotação. Ou seja, a metáfora não é criada aleatoriamente pelo falante, e o destinatário da
mensagem deve usar de seu conhecimento lingüístico para chegar ao sentido metafórico.
Assim, como na denotação, o sentido de uma metáfora explicita-se no contexto. Vale
ressaltar que, muitas vezes, a metáfora é “explicada” ou explicitada pela linguagem denotativa
presente no próprio texto.
O que se espera do falante de nível médio é que reconheça, dentro de um contexto, as
relações entre uma expressão metafórica e outros termos do texto.
Exercícios
02. Texto:
“Quem sai aos seus não degenera.”
De acordo com o ditado popular:
a. Deixar os conhecidos não implica esquecê-los.
b. Sair da casa da família determina saudade constante.
c. Quem segue os pais, não se perde na vida.
d. Quem segue o caminho dos antepassados, não se arruína.
e. Quem caminha com os parentes, não se extravia.
03. Texto:
A China não é vizinha
Em matéria de comida asiática, é preciso alargar o horizonte
A cozinha chinesa cria sobre a escassez. Ingredientes bons mas esparsos, ou abundantes
mas pobres, precisam render e ficar saborosos. Daí molhos, combinações diferentes, temperos
ousados e várias técnicas de cocção. (...)
3
04. Texto:
Novos jornalísticos (sic) no Canal 21
Os repórteres-abelha estão de volta à TV, no Canal 21, em SPDigital, que estréia na
segunda, na forma de boletins de 1 minuto. Seis repórteres-cinegrafistas, munidos de câmera digital
que pesa menos de 2 quilos, vão fazer reportagens e utilizar computadores portáteis e softwares para
editar."
05. Texto:
Que boa idéia
Empresa americana usa jatos
Que só têm primeira classe
Uma pequena companhia aérea americana abriu as portas no mês passado com uma
novidade que está despertando a curiosidade dos passageiros e intrigando as empresas concorrentes.
Na nova empresa, Legend Airlines, com sede em Dallas, os aviões só têm primeira classe. Todos os
passageiros que embarcam em seus vôos viajam em poltronas de couro de 75 centímetros de largura,
tomam champanhe francês a bordo e assistem à TV por assinatura em monitores individuais. Tudo
pela tarifa econômica. (...)
Num mercado em que as companhias estão na pindaíba no mundo todo, a experiência da
Legend Airlines vem sendo acompanhada com lupa, pois pode apontar um caminho de sobrevivência
para o setor. (...)
Gabarito
01. Alternativa c.
A palavra “agudo” significa:
· (ângulo) inferior a 90o
· (antônimo de crônico) doença grave e de breve duração
· fina
· afiada, penetrante
4
02. Alternativa d.
“Sair aos seus”, no contexto, significa “fazer como os antepassados” (pais, familiares),
“seguir seus passos”; e “degenerar”, “perder-se” (do ponto de vista moral, ético).
A alternativa “c” é ambígua, podendo fazer referência tanto a uma ação física quanto a
uma atitude diante da vida.
03. Alternativa d.
“Cocção” é o substantivo que nomeia a ação de cozer, de cozinhar.
04. Alternativa b.
O substantivo “abelha” que compõe o substantivo “repórter-abelha” foi empregado
metaforicamente para denominar esse repórter que carrega consigo os aparelhos do cinegrafista.
05. Alternativa d.
No texto, prevalece a norma culta, como revela a concordância “champanhe francês”, o
respeito à regência culta “assistem à TV”. No entanto, “pindaíba”, que significa dificuldades
financeiras, é gíria típica da linguagem coloquial.
5
Literatura
1. De modo semelhante ao pintores cubistas, o poeta registra simultaneamente vários ângulos da realidade que observa. Esse
procedimento de colagem rompe com a unidade do texto e cria versos ou estrofes que aparentemente não mantêm
ligação lógica entre si, sendo apenas fragmentos reunidos numa composição desarmoniosa. “Poema de sete faces” e
“Casamento do Céu e do Inferno” são exemplos de construção cubista.
2. Leia os poemas “Outubro de 1930”, “O sobrevivente” e “Coração numeroso”, em que o poeta manifesta repúdio pelos
regimes totalitários e pelas guerras.
6
O indivíduo: “um eu todo retorcido”
7
A terra natal e a família
8
O tédio existencial, a “vida besta”
3. O tom de enfado permanece também no poema “A rua diferente”, em que o poeta apresenta o progresso como algo
perturbador que não deve ser celebrado. “O que fizeram do Natal” e “Papai Noel às avessas” são textos que ressaltam as
alterações provocadas pela ordem capitalista.
9
O conhecimento amoroso
Mariquita, dá cá o pito,
no teu pito está o infinito.
10
Um olhar sobre o país
“ (...)
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos,
Minha boca procura a “Canção do Exílio”.
Como era mesmo a “Canção do Exílio”?
Eu tão esquecido de minha terra... “
11
A própria poesia
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Exercícios
Política literária
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
13
O poema a seguir é base para responder ao teste 03.
14
d. Desde a Antigüidade até os tempos dos reis absolutistas franceses, o amor se caracteriza por
disputas sangrentas e desfechos dramáticos.
e. As histórias de amor do mundo contemporâneo continuam marcadas por peripécias e pelo tom de
aventura, no entanto, essas são mais realistas, capazes de serem vividas por seres humanos comuns
que podem remar, pular, dançar, lutar boxe, por exemplo.
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Gabarito
01. Alternativa a.
O eu gauche, expressão que revela a inadaptação, a esquisitice do poeta, traduz a
postura de observador crítico que se julga superior, revelando de fato certa incapacidade de
sociabilização.
Estão incorretas as outras afirmações porque:
b. há outros poemas metalingüísticos em Alguma poesia, por exemplo, “Explicação” e “Poema que
aconteceu”.
c. a recuperação do passado não promove alívio para as inquietudes do poeta.
d. ainda que a infância possa ser lembrada como um tempo em que o poeta desfruta da companhia
da família, a sensação de isolamento está declarada, como confirmam os versos de “Infância” – “Eu
sozinho menino entre mangueiras / lia a história de Robinson Crusoé”.
e. os poemas-piada, existentes em Alguma poesia, revelam influência modernista; mas não há
deboche em Drummond; o que permanece em toda sua obra é o humor sutil e a ironia fina,
discreta.
02. Alternativa d.
“Política literária” é um poema-piada que critica o jogo de interesses que está presente
em círculos literários, dominados por poetas consagrados (“poeta federal”), comportamento
semelhante à politicagem que se verifica entre políticos. Observe que a expressão “tira ouro do nariz”
pode ser relacionada a enriquecimento, mas nada aponta para enriquecimento ilícito, condenável.
03. Alternativa e.
A última estrofe do poema evidencia certo arrefecimento dos sentimentos que
caracterizam casos amorosos. De modo irônico, o poeta critica a previsibilidade do desfecho das
histórias de amor contemporâneas, que se encerram com o “happy end”, promovido pelo casamento,
ideal burguês de felicidade.
04. Alternativa b.
O poema “Construção” é composto de “flashes” que representam simultaneamente
diversos prismas da realidade observada: o grito que vem do alto de uma construção; o sol intenso; o
sorveteiro que atravessa a rua; e o vento. Essa técnica de colagem reúne fragmentos aparentemente
desconexos e traduzem o cenário frenético da urbanidade; nada se pode identificar, no entanto, de
absurdo, incompreensível no quadro descrito.
05. Alternativa a.
Em “Quadrilha”, o tom de brincadeira evidencia-se pela informalidade adotada na
abordagem das frustrações amorosas, na referência aos destinos desencontrados e na ironia com que
o poeta sutilmente sugere o casamento imprevisível, realizado talvez sem amor ou sofrimento, talvez
fruto apenas do interesse: “...Lili casou com J. Pinto Fernandes / que não tinha entrado na história”.
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