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FACULDADE DE FILOSOFIA E TEOLOGIA DE ALAGOAS -

FAFITEAL
Formatura de Teologia 2007

ORADOR: Bel. Eduardo Vasconcellos


DATA: Maceió, 22 de dezembro de 2007

Senhoras e Senhores,
Este é um momento extraordinário na trajetória de nossas vidas. É uma ocasião a
partir da qual seremos reconhecidos com o título de teólogo, estudiosos especialistas no
conhecimento de Deus, cujo adjetivo nos transfere imensa responsabilidade espiritual,
eclesiástica e social, pois, se como escreveu o autor do livro de Hebreus, que é esperado
dos crentes coisas que acompanham a salvação, a saber: o amor, a esperança e a fé, que
se dirá de nós, que ousamos desconsiderar o conselho do bispo Tiago e resolvemos
tornar-nos mestres, senão que possamos cumprir com zelo a tarefa de desenvolver nos
irmãos os mesmos dons de amor, esperança e fé.
Vimos como no âmbito eclesiástico devemos trabalhar na educação e no
discipulado dos membros da Igreja. Espera-se com isso que a Igreja manifeste esses
dons na sociedade e que seja reconhecida por tais atributos, cumprindo desse modo o
seu papel social. No entanto, se as responsabilidades eclesiásticas e sociais são
principalmente para com os homens, a responsabilidade espiritual que nos é transferida
devemos facultá-la essencialmente a Deus. Nobres bacharéis, haverá cobrança por esse
encargo e mais duro juízo também.
É por esse motivo que trago nesta noite uma reflexão a respeito do conhecimento
de Deus que devemos possuir, ao qual passo a chamar a partir de agora de
conhecimento da verdade. Conhecimento este que nos obriga a conhecer profundamente
o Ser que nos revela a verdade, posto que um dia Ele próprio afirmou: Eu sou o
caminho, a verdade e a vida, e nos asseverou que essa verdade é capaz de libertar o
homem do pecado. Mesmo sabendo da dificuldade que representa essa tarefa, pois
nenhum homem jamais viu a Deus e a sua glória consiste em manter em suspense
muitos aspectos relativos a sua divindade, devemos ter em conta que no curso histórico
da existência humana, Deus efetuou várias intervenções e foi revelando paulatinamente

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a sua vontade através de seus profetas, deixando sempre um caminho para que o homem
pudesse se achegar a Ele. Portanto, nosso maior argumento apologético é o argumento
histórico, quer dizer, está baseado nessas intervenções, nas suas ações e, principalmente,
na palavra inspirada pelo seu Espírito que podemos construir algum conhecimento a
respeito da verdade.
Dessa maneira, convido os caríssimos colegas a meditar no texto do Salmo 48,
versos 12 e 13, que dizem assim: “Rodeai a Sião, e cercai-a, contai as suas torres, notai
bem os seus antemuros, observai os seus palácios, para que tudo narreis à geração
seguinte”. Consideremos inicialmente o Monte Sião como um lugar onde Deus habita,
como a morada do Senhor, como a perfeição da formosura, de onde resplandeceu Deus.
Sião, cujas portas o Senhor ama mais que todas as habitações de Jacó, é assim
identificada com o próprio Deus. E, invariavelmente, quando o escritor bíblico se refere
a beleza ou a glória de Sião está metaforicamente descrevendo a beleza ou a glória do
Deus Eterno. Há inclusive uma profecia de Isaías que menciona a glória futura de Sião
projetada para o momento da redenção de Israel, quando muitos povos dirão: subamos
ao monte do Senhor para que nos ensine o que concerne aos seus caminhos e andemos
nas suas veredas, porque de Sião sairá a Lei e de Jerusalém a Palavra do Senhor. Isto
nos mostra um período da história que o homem buscará o Deus verdadeiro,
reconhecendo o Deus de Israel como o autor e o consumador de todas as coisas.
O mesmo profeta nos ensina que o Senhor fundou a Sião para que os opressos do
seu povo nela encontrem abrigo. Por isso tomemos a voz imperativa de rodear a Sião
como uma alusão ao dever nosso de conhecer a Deus em toda a sua circunscrição, isto é,
contemplá-lo em sua totalidade, desvendando toda sua essência, seus atributos,
cercando-o como diz o salmista, com o objetivo de que nele, ou seja, em Deus, o
homem encontre primeiro a liberdade e depois o refúgio. Quando nos deparamos com
as torres de Sião podemos analisar pelo menos dois aspectos da sua edificação: a sua
fortaleza e a sua altura. Desse modo, a sua fortaleza nos revela a segurança que
encontramos no Senhor e a sua firmeza, conforme o provérbio que diz: torre forte é o
nome do Senhor, para ela correrá o justo e estará em alto retiro. A sua altura nos fala a
respeito da sua misericórdia, pois diz o salmista que quanto o céu está elevado acima da
terra, assim é grande a sua misericórdia para os que o temem.
Uma cidade forte temos em Deus que pôs a salvação por muros e antemuros.
Estes muros nos ensinam que Deus protege e estabelece limites a tudo que ele cria,
tanto às águas, para que não tornem a cobrir a terra, quanto ao homem, para que este

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não usurpe ser igual a Ele como no tempo do jardim do Édem ou da torre de Babel,
quando Deus respondeu à ação do homem com a expulsão do paraíso e a confusão das
línguas. De certo modo, podemos dizer que esses aspectos nos revelam a justiça divina.
Por outro lado, se observarmos os palácios de Sião, certamente contemplaremos
a sua formosura e as suas riquezas. Davi certa vez escreveu: bem-aventurado aquele a
quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios, nós seremos fartos
da bondade da tua casa e do teu santo templo. E num outro salmo faz uma comparação
entre o ímpio e o justo, dizendo que o primeiro crescerá como a erva e será destruído
perpetuamente quando florescerem todos os que praticam a iniqüidade, enquanto o justo
crescerá como o cedro do Líbano e florescerá como a palmeira, sabendo que os que
estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Dessa maneira,
certamente adentraremos nos seus palácios com vestes de justiça com gratidão e louvor.
Percebemos que mesmo numa leitura rápida do texto bíblico podemos extrair
dele as verdades eternas e, neste caso, alguns dos atributos de Deus, como a sua
majestade, a sua justiça, a sua misericórdia, a sua bondade e a salvação que é oferecida
ao homem. Quando o conhecimento de Deus é construído exclusivamente a partir das
sagradas escrituras, dizemos que essa análise é o objeto da teologia bíblica, por isso,
neste momento enaltecemos a teologia bíblica sobre as demais teologias, principalmente
sobre aquela que é sistematizada como resultado do raciocínio humano. A teologia
como uma resposta às vozes que exigiam ou exigem explicação racional daquilo que é
extraordinário não é necessária para a Igreja.
Uma vez colocado em segundo plano o escolasticismo teológico que dá
prioridade à razão, devemos dispensar também todo o humanismo presente na teologia
reformada que cedeu lugar às ciências e ao método científico, trazendo com isso a idéia
de que ao se conhecer o homem, o seu pensamento e o seu sentimento, e por ser o
homem feito à imagem e à semelhança de Deus, estaríamos próximos do conhecimento
da verdade divina. Sabemos que isso somente seria possível se, como escreveu o
teólogo escocês Henry Scougal, a vida de Deus estivesse na alma do homem. Desse
modo, preferimos ater-nos exclusivamente à revelação bíblica como fonte segura de
expressão teológica, que busca primeiro em Deus a gênesis do conhecimento da
verdade, pois nele sim encontraremos auto-suficiência.
Finalmente chegamos à última parte do texto citado e que expressa a vontade de
Deus para todo aquele que o conhece verdadeiramente e que será objeto da nossa
análise nos próximos minutos: a briosa incumbência que temos de falar de Deus, de

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tornar conhecidas as suas maravilhas às gerações vindouras, revelando a verdade
contida na sua palavra, sabendo que por esta causa o Senhor nos dá um estandarte para
que o arvoremos, ou seja, para que levantemos nossas vozes em nome da verdade.
Em outros tempos o apologista Tertuliano, mestre em Cartago, escreveu assim
aos governantes romanos a respeito da verdade: A Verdade não tem como apelar para
vos fazer verificar sua condição, porque isso não promove vossa curiosidade por Ela.
Ela sabe que não é senão uma transeunte na terra, e que entre estranhos, naturalmente
encontra inimigos. E, mais do que isso, sabe que sua origem, sua habitação natural,
sua esperança, sua recompensa, sua honra estão lá em cima. Uma coisa, enquanto isso,
Ela deseja ansiosamente dos governantes terrestres: não ser condenada sem ser
conhecida. Sem dúvida, Tertuliano conhecia a Verdade e digo aqui a Verdade com letra
maiúscula conforme ele mesmo escreveu, sabia da sua procedência sobrenatural e da
nossa obrigação ter fazer conhecida essa Verdade. Mesmo assim, uma linha
acrescentaremos ao seu pensamento: que aqueles que condenam hoje a Verdade logo
serão por ela condenados.
Temos deixado em evidência a necessidade de divulgar a Verdade, porém
queremos analisar quais seriam as razões de Deus para essa incumbência. Segundo o
nosso entendimento, existem pelo menos dois argumentos elementares e eles estão
vinculados ao tipo do ouvinte, isto é, aos que nunca ouviram a verdade e àqueles que já
a conhecem. Primeiro, porque o mesmo Deus que é dono de todo ouro e toda prata tem
por patrimônio as nossas almas e nos outorgou aquilo que o apóstolo Paulo chamou de
ministério da reconciliação, isto é, que através do anúncio da Verdade todo joelho se
dobre e toda língua confesse que Jesus Cristo é o seu Senhor e Salvador, reconciliando-
o com o Pai. Nisso também se revela a longanimidade do Senhor, conforme o apóstolo
Pedro nos explica, que Ele é longânimo para com o homem, não querendo que alguns se
percam, mas que todos venham a arrepender-se.
Segundo, de acordo com o profeta Ezequiel devemos ensinar o povo de Deus a
distinguir entre o santo e o profano, e a discernir entre o impuro e o puro. Caso
rejeitemos esta incumbência estaremos correndo o risco de vivermos tempos
semelhantes aos do profeta Isaías, que viu a verdade tropeçando pelas ruas quando o
direito se tornou atrás e a justiça se pôs de longe e mais, viu a verdade desfalecer
quando aquele que se desviava do mal arriscava ser despojado. Tempos esses em que
faltou coragem aos verdadeiros homens de Deus para identificar o pecado e retirá-lo do
meio do povo, pois estavam mais preocupados em apascentarem-se a si mesmos.

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Maravilhou-se Deus de que não houvera um intercessor entre eles, alguém na brecha, e
enviou seu próprio filho para resgatar para si um povo santo.
Para não corrermos esse risco, repito, devemos ter em conta ainda os dois
protagonistas na comunicação da palavra da verdade, ou seja, o transmissor e o receptor.
Para isso queremos inicialmente resgatar algo que a tradição cristã primitiva fazia
questão de evidenciar na maioria de seus textos, canônicos ou não, e que trata das
advertências com respeito ao profeta, como, por exemplo, no Didaque – a instrução dos
doze apóstolos, que assevera: Todo profeta que ensina a verdade mas não pratica o que
ensina é um falso profeta. Ou então a recomendação do apóstolo João, de não dar
crédito a qualquer espírito sem antes prová-lo e saber se procede ou não de Deus. É
evidente que isso pressupõe que o ouvinte-receptor deve conhecer as escrituras.
Na outra direção está o nosso discurso, a nossa responsabilidade como
instrumento de Deus, como aquele personagem que Eliú, o amigo de Jó, também
chamou de mensageiro ou intercessor quando o disse que se houvera apenas um, entre
milhares, ao lado daquela alma que está prestes a descer à cova, para declarar ao homem
a sua retidão, isto é, a sua justiça, então Deus teria misericórdia daquela alma e a
livraria. Vemos como a nossa responsabilidade assim é de vida ou de morte e, nesse
sentido, Ezequiel elucidou o ofício de profeta quando deixou claro que caso a verdade
seja anunciada e por isso a alma venha a se converter, aquele atalaia será considerado
cumpridor do seu dever. Caso o atalaia deixar de tocar o trombeta, e por isso alguma
alma vier a perecer, ele será culpado do sangue de cada alma.
Queremos concluir destacando que quando Jesus partiu e nos deixou a
expectativa da parúsia, Ele também prometeu que enviaria outro consolador e essa é
uma promessa já cumprida. Por isso devemos reivindicar a presença de seu Santo
Espírito em nossas vidas constantemente, seguindo o conselho do apóstolo Paulo de que
devemos andar no Espírito para não satisfazer as obras da carne, entendendo com isso
que a primazia de nossas vidas está em satisfazer a vontade daquele que nos criou.
Nesse sentido, colegas, é que vos digo: mais que pentecostais, sejamos espirituais e
aprendamos a viver com alegria na direção do Espírito Santo!
Obrigado!

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