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Opinião

A privatização reconhecida
31 de maio de 2010
- O Estado de S.Paulo
Entre 2000 e 2008, os investimentos realizados pelas concessionárias
de ferrovias atingiram R$ 14,6 bilhões e o volume transportado
aumentou quase 80%, segundo o estudo Transporte Ferroviário de
Cargas no Brasil, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). O documento reconheceu que a privatização do setor
foi positiva "em termos de investimentos e produção ferroviária", mas
o Brasil, com "suas dimensões continentais, pouco tem aproveitado
as vantagens comparativas do transporte ferroviário".

Com a privatização, em 1996, as concessionárias investiram, numa


primeira fase, até 1999, na recuperação da malha férrea e do
material rodante; na segunda fase, no aumento da capacidade e
melhoria dos serviços de logística e capacidade da via permanente,
construção de terminais de integração rodoferroviária e aquisição de
material rodante; e agora, na terceira fase, os investimentos
destinam-se a superar os gargalos logísticos.

Houve, reconhece o Ipea, uma transformação gerencial do setor,


além do aumento do volume transportado. "Para chegar a estes
novos patamares de produção foi necessário um choque nos níveis de
investimentos, principalmente por parte da iniciativa privada."

Dado o alto custo da implantação de novas linhas, o transporte


ferroviário só é mais eficiente do que o rodoviário operando com
grande volume de cargas. Para que o custo dos fretes ferroviários
seja equivalente ao dos rodoviários, o volume de carga transportada
tem de ser superior a 350 mil toneladas mensais, diz o estudo.

Isso explica por que as concessionárias dão preferência ao transporte


de minério de ferro e carvão, que representaram 79% do transporte
ferroviário total, em 2008. Os restantes 21% foram distribuídos em
produtos como soja, açúcar, milho, petróleo, álcool, cimento, adubo e
celulose.

Para aumentar a participação das ferrovias no transporte de cargas ?


que representa, no Brasil, cerca de 26%, pouco mais que a metade
do porcentual dos Estados Unidos, Canadá e Austrália e uma terça
parte do da Rússia ?, o Ipea considera prioritário investir R$ 40,9
bilhões, na próxima década. O destaque está nas chamadas
"ferrovias estruturantes" ? a Norte-Sul, com prioridade para o trecho
Senador Canedo (GO) a Panorama (SP), a Ferronorte, a Bahia-Oeste,
a Nova Transnordestina e a Oeste do Paraná. A ligação entre o norte
fluminense e a fronteira com o Peru (Ferrovia EF-354), prevista desde
2008, é considerada prioritária apenas na ligação entre o Rio e
Ipatinga e Conceição do Mato Dentro (MG).

Seriam relativamente modestos os investimentos necessários ? da


ordem de R$ 1,2 bilhão ? para eliminar gargalos como a baixa
velocidade das composições, devido a construções irregulares às
margens das ferrovias, ao excesso de passagens de nível na
transposição de cidades e à capacidade limitada de escoamento dos
portos.

Os investimentos ferroviários propostos destinam-se a facilitar o


escoamento de safras de grãos projetadas em mais de 260 milhões
de toneladas por ano, sem contar a produção de açúcar e álcool. O
Ipea defende a realização desses investimentos desde que não
existam alternativas viáveis, como dutos ou navegação. E rejeita a
mera hipótese de que sejam construídas linhas ferroviárias paralelas.

Além disso, o estudo não propõe deixar de investir em rodovias,


necessárias para "a movimentação de pessoas e o transporte de
produtos cuja especialização não é economicamente viável na
ferrovia". Mas o objetivo final é permitir que as ferrovias transportem
35% das cargas, até 2020.

O texto foi divulgado ao mesmo tempo que o governo federal


anunciou a licitação de 1.670 km de ferrovias, com um novo trecho
da Norte-Sul (Ouro Verde, em Goiás, a Estrela d"Oeste, em São
Paulo) e o início da Ferrovia Leste-Oeste, entre Ilhéus e Barreira.
Sobretudo, confirma a urgência de investir em ferrovias para
aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no mundo.

A atração de capital privado, via privatização da Rede Ferroviária,


mostrou-se decisiva para a ampliação dessa modalidade de
transporte e continuará essencial no futuro.

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