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81.

DIANTE DA DOR E DA NECESSIDADE


– A ressurreição do filho da viúva de Naim. Jesus compadece-se sempre da dor e do
sofrimento.

– Amor com obras. A ordem da caridade.

– Para amar, é necessário compreender. Amor aos mais necessitados.

I. CONTEMPLAMOS NO EVANGELHO da Missa1 a chegada de Jesus a


uma pequena cidade chamada Naim, acompanhado pelos seus discípulos e
por um grupo numeroso de pessoas que o seguem.

Perto da porta da cidade, a comitiva que rodeava o Senhor cruzou-se com


outra que levava a enterrar o filho único de uma mulher viúva. Segundo o
costume judaico, levavam o corpo envolvido num lençol, sobre uma padiola.
Formavam o cortejo a mãe e grande multidão de pessoas da cidade.

A caravana que entrava na cidade parou diante do defunto e Jesus, ao ver


a mãe que chorava o seu filho, compadeceu-se dela e avançou ao seu
encontro. “Jesus vê a angústia daquelas pessoas com quem se cruzou
ocasionalmente. Podia ter passado ao largo, ou esperar por um chamado, por
um pedido. Mas nem se afasta nem espera. Toma Ele próprio a iniciativa,
movido pela aflição de uma viúva que havia perdido tudo o que lhe restava: o
filho.

“O evangelista explica que Jesus se compadeceu: talvez se tivesse


emocionado externamente, como por ocasião da morte de Lázaro. Jesus
Cristo não é insensível ao sofrimento [...].

“Cristo tem consciência de estar rodeado de uma multidão que ficará


atónita perante o milagre e irá apregoando o acontecido por toda a região.
Mas o Senhor não se comporta artificialmente, não pretende realizar um
grande gesto: sente-se simplesmente afectado pelo sofrimento daquela
mulher e não pode deixar de consolá-la. Aproximou-se dela e disse-lhe: Não
chores (Lc 7, 13). Foi como se lhe dissesse: não te quero ver em lágrimas,
porque eu vim trazer a alegria e a paz à terra. A seguir vem o milagre,
manifestação do poder de Cristo-Deus. Mas antes tivera lugar a comoção da
sua alma, manifestação da ternura do coração de Cristo-Homem” 2. Tocou o
corpo do jovem e ordenou-lhe que se levantasse. E sentou-se o que estava
morto, e começou a falar. E Jesus entregou-o à sua mãe.

O milagre é, ao mesmo tempo, um grande exemplo dos sentimentos que


devemos ter diante das desgraças alheias. Devemos aprender de Jesus. E
para termos um coração semelhante ao seu, devemos recorrer em primeiro
lugar à oração: “Temos de pedir ao Senhor que nos conceda um coração
bom, capaz de se compadecer das penas das criaturas, capaz de
compreender que, para remediar os tormentos que acompanham e não
poucas vezes angustiam as almas neste mundo, o verdadeiro bálsamo é o
amor, a caridade: todos os outros consolos apenas servem para distrair por
um momento e deixar mais tarde um saldo de amargura e desespero”3.

Podemos perguntar-nos na nossa oração de hoje se sabemos amar todos


aqueles que vamos encontrando pelos caminhos da vida, se nos detemos
eficazmente diante das suas desgraças, e, portanto, se no fim de cada dia, ao
examinarmos a nossa consciência, temos as nossas mãos repletas de obras
de caridade e de misericórdia para oferecer ao Senhor.

II. JESUS CRISTO VEM SALVAR o que estava perdido4, vem carregar as
nossas misérias para nos aliviar delas, vem compadecer-se dos que sofrem e
dos necessitados. Ele não passa ao largo; detém-se, como vemos no
Evangelho da Missa de hoje, consola, salva. “Jesus faz da misericórdia um
dos principais temas da sua pregação [...]. São muitas as passagens dos
ensinamentos de Cristo que manifestam o seu amor-misericórdia sob um
aspecto sempre novo. Basta ter diante dos olhos o bom pastor que vai à
procura da ovelha tresmalhada, ou a mulher que varre a casa à procura da
dracma perdida”5. E Ele próprio nos ensinou com o seu exemplo constante
como devemos comportar-nos diante do próximo, particularmente diante do
próximo que sofre.

Pois bem, assim como o amor a Deus não se reduz a um sentimento, mas
leva a obras que o manifestem, assim também o nosso amor ao próximo deve
ser um amor eficaz. É o que nos diz São João: Não amemos com palavras e
com a língua, mas com obras e de verdade6. E “essas obras de amor –
serviço – têm também uma ordem precisa. Já que o amor leva a desejar e a
procurar o bem daquele a quem se ama, a ordem da caridade deve levar-nos
a desejar e procurar principalmente a união dos outros com Deus, pois nisso
está o máximo bem, o definitivo, fora do qual nenhum outro bem parcial tem
sentido”7. O contrário – buscar em primeiro lugar os bens materiais, mesmo
que seja para os outros – é próprio dos pagãos ou daqueles cristãos que
deixaram esfriar a sua fé.

Juntamente com a primazia do bem espiritual sobre qualquer bem material,


não se deve esquecer, no entanto, o compromisso que todos os cristãos de
consciência recta têm de promover uma ordem social mais justa, pois a
caridade refere-se também, ainda que secundariamente, ao bem material de
todos os homens. A importância da caridade no atendimento às necessidades
materiais do próximo – caridade que pressupõe a justiça e a informa – é tal
que o próprio Jesus Cristo, ao falar do Juízo, declarou: Vinde, benditos de
meu Pai... porque tive fome e me destes de comer;... tive sede e me destes
de beber;... estive nu e me vestistes...8

Peçamos a Deus uma caridade vigilante, porque para se conseguir a


salvação é necessário “reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos
irmãos, os homens”9. Todos os dias Ele sai ao nosso encontro: na família, no
trabalho, na rua... Ele, Jesus.

III. O EPISÓDIO DA VIÚVA de Naim põe de manifesto que Jesus se


apercebe imediatamente da dor e compreende os sentimentos daquela mãe
que perdeu o seu único filho. Jesus compartilha o sofrimento daquela mulher.
Pedimos hoje ao Senhor que nos dê uma alma grande, cheia de
compreensão, para sabermos sofrer com quem sofre, alegrar-nos com quem
se alegra..., e para procurarmos evitar esse sofrimento e sustentar e
promover essa alegria à nossa volta.

Compreensão também para entendermos que o verdadeiro e principal bem


dos outros, sem comparação alguma, é a sua união com Deus, que os levará
à felicidade plena do Céu. Não se trata de distribuir “consolos fáceis” entre os
desamparados deste mundo ou entre os que sofrem ou fracassam, mas de
incutir em todos a esperança profunda do homem que se sabe filho de Deus e
co-herdeiro com Cristo da vida eterna, seja qual for a sua condição. Roubar
essa esperança aos homens, substituindo-a por outra de felicidade puramente
natural, material, é uma fraude que, pela sua precariedade ou utopia, cedo ou
tarde conduz esses homens ao desespero mais profundo10.

A nossa atitude compassiva e misericordiosa – feita de obras – deve


exercer-se em primeiro lugar com aqueles com quem nos relacionamos
habitualmente, com aqueles que Deus pôs ao nosso lado. Dificilmente poderá
ser grata a Deus uma compaixão pelos que estão mais longe se
desprezarmos as inúmeras oportunidades que se apresentam cada dia de
praticarmos a justiça e a caridade com aqueles que pertencem à nossa
família ou trabalham connosco.

Por outro lado, a Igreja sabe muito bem que não pode separar a verdade
sobre Deus que salva da manifestação do seu amor preferencial pelos pobres
e pelos mais necessitados11. “As obras de misericórdia, além do alívio que
trazem aos necessitados, servem-nos para melhorar as nossas próprias
almas e as dos que nos acompanham nessas actividades. Todos
experimentamos que o contacto com os doentes, com os pobres, com as
crianças e os adultos famintos de verdade, constitui sempre um encontro com
Cristo nos seus membros mais fracos ou desamparados e, exactamente por
isso, um enriquecimento espiritual: o Senhor entra mais intimamente na alma
daquele que se aproxima dos seus irmãos mais pequenos, movido não
apenas por um simples desejo altruísta – nobre, porém ineficaz do ponto de
vista sobrenatural –, mas pelos mesmos sentimentos de Jesus Cristo, Bom
Pastor e Médico das almas”12.

Peçamos ao Coração Sacratíssimo de Jesus e ao de sua Mãe Santa Maria


que nunca permaneçamos passivos diante dos apelos da caridade. Desse
modo, poderemos invocar Nossa Senhora com as palavras da liturgia:
Recordare, Virgo Mater... Lembrai-vos, ó Virgem Mãe de Deus, quando
estiveres na presença do Senhor, ut loquaris pro nobis bona, de dizer-lhe
coisas boas em nosso favor e pelas nossas necessidades13.

(1) Lc 7, 11-17; (2) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 166; (3) ib., n. 167; (4) Lc
19, 10; (5) João Paulo II, Enc. Dives in misericordia, 30-XI-1980, 3; (6) 1 Jo 3, 18; (7) F.
Ocariz, Amor a Deus, amor aos homens, 4ª ed., Palabra, Madrid, 1979, pág. 103; (8) cfr. Mt
25, 31-40; (9) cfr. São Josemaría Escrivá, op. cit., n. 111; (10) cfr. F. Ocariz, op. cit., pág. 109;
(11) cfr. João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 37; (12) A. del Portillo, Carta, 31-
V-1987, n. 30; (13) Abadia de Solesmes, Graduale Romanum, Desclée, Tournai, 1979;
Antífona da Missa comum de Nossa Senhora.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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