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Presentes!
28 de fevereiro de 2006
presentes e que eles haviam ficado de fora da estória, mas por pouco
se safado de uma gafe tremenda.
Presentes causaram a ruína da humanidade para a mitologia
antiga; a caixa de Pandora transformou o mundo no caos que é hoje, e
foi um presente. Para você ver que Deus deve ser grego...
Aí veio a Idade Média, mas lá era tudo tão controlado, mas tão
controlado, e todo mundo tinha tão pouco, mas tão pouco dinheiro,
que ninguém dava presente para ninguém; era cada um por si, o
senhor feudal por ninguém e Deus por si próprio. Além do mais, coisas
materiais eram pecados, logo dar presentes era uma coisa absurda.
Fora que o mercado era pequeno; a moda estava só começando e a
televisão continuava com recepção ruim, de modo que só sobravam os
casamentos (de nobres, claro) para entreter o povo e angariar
presentes dos mais variados tipos.
Os presentes entre nobres, naquela época, eram os melhores;
como eles acabavam dando presentes só no casamento (mais uma vez
por causa dos pecados), o cara que se casasse com uma princesa
ganharia, a curto prazo, sabe-se lá quantos hectares de terras e
riquezas enormes, e, a longo prazo, além de um dragão dentro de casa
(o que não era realmente um problema, porque naquela época o
homem que mandava na mulher não era mal visto), um reino. Bom,
não?
Foi aí que vieram os iluministas e viver parou de ser pecado, o
que era bom, porque as taxas de infanticídio eram enormes. Com isso,
vieram os presentes para todas as ocasiões (vocês sabem que o
iluminismo se desenvolveu pra caramba na Itália e que, curiosamente,
os italianos dão presentes à-toa. Coincidência? Acho que não), como
quando achavam uma estrela nova no céu (e na época eles tinham
muito tempo livre, muitas estrelas desconhecidas e muito pouca
poluição para atrapalhar a visão), quando criavam um prato novo,
quando acendiam uma vela, quando se casavam, claro, e tudo mais.
Até quando alguém respirava ganhava um presente.
Aliás, é hora de se discutir o motivo da palavra presente: é um
substantivo oriundo da locução verbal estar presente, que significa
participar de algo, fazer parte. Ou seja, a pessoa dava um presente
para alguém somente para o presenteado saber que ela fora à festa.
Não precisava nem ter visto a cara da pessoa; elefantas, a pessoa nem
precisava ir à festa, só o presente já era o suficiente para indicar a sua
presença lá.
Era assim que se livravam dos chás chatíssimos da rainha
Elizabeth. Um presente, ela deixava você ir embora. Presente-suborno.
Logo, o presente sempre foi deturpado. E, pensemos agora; o
que leva uma pessoa a querer presentear a outra? Gastar o seu
dinheiro suado em um negócio que a outra pessoa provavelmente não
vai usar, ou então que ela podia muito bem comprar com o seu próprio
dinheiro?
Presentes David Gonçalves Nordon