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CAPITAL SOCIAL
& DEMOCRACIA
34 PONTOS
Augusto de Franco (sem data)
Nota do autor | Não consegui encontrar o local onde este texto foi
originalmente publicado. Presumo que deve ter sido escrito entre
2005 e 2008. Recuperei-o no blog Sentinela do Nada de Egeu Laus.
Link: http://migre.me/MnIZ
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empresas, então estamos diante de uma monumental concentração
de riqueza. Isso não é captado diretamente por indicadores de
desigualdade de renda e nem por indicadores de aumento geral de
riqueza (como o PIB).
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do que se chama, metaforicamente, de “capital humano”) e que os
ambientes sociais em que essas pessoas convivem sejam ambientes
capazes de encorajá-las a empreender mais e a adquirir mais
conhecimento para empreender melhor.
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remédio principal para a inclusão, a receita que vale de fato, é a
econômica, pelo incremento da renda, em geral via salário, quer dizer
como remuneração do trabalho (de alguém que foi empregado para
realizar a propriedade produtiva de outrem, subordinado ao sonho
alheio) e não como recompensa ao empreendedorismo (como
apropriação de um sobrevalor gerado pelo trabalho de realizar a
própria propriedade produtiva) como deveria inspirar a utopia da livre
iniciativa capitalista.
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13 – Como capital social não pode ser comprado, é um bem público
que não pode ser adquirido no mercado, ele tem que ser gerado.
Gerar capital social – como se sabe, desde que Jane Jacobs inventou
o conceito – é a mesma coisa que tramar redes sociais. Mas o
incremento da renda per capita não é capaz, por si só, de aumentar a
trama do tecido social. Em contrapartida, se aumentamos – por que
meio for – a trama do tecido social, aumentam as chances de sucesso
dos empreendimentos produtivos.
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16 – Em outras palavras, desenvolvimento, seja o que for, é alguma
coisa que acontece na sociedade humana. Isso significa que todo
desenvolvimento é, sempre e antes de qualquer coisa,
desenvolvimento social. Não pode haver nenhum tipo de
desenvolvimento que não seja desenvolvimento social. Pois
desenvolvimento é um conceito que se aplica a sociedades humanas
e não a outros sistemas (de seres animados ou inanimados). Só
metaforicamente pode-se falar de desenvolvimento de uma colônia
de insetos, de um processo industrial ou de uma teoria.
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a teia social que estabelece as conexões entre as pessoas e os grupos
em uma sociedade. São essas conexões que caracterizam os padrões
de convivência social. Anisotropias criadas nesse tecido social,
singularidades geradas nesse “espaço”, condicionam fluxos,
constroem caminhos preferenciais para esses fluxos. Perturbações
introduzidas nesse espaço vão percorrer o sistema seguindo
caminhos construídos por repetição, pré-cursos que foram sulcados
pelo transito diferencial de mensagens. O software modifica o
hardware. A dinâmica da rede constrói sua configuração. Um caminho
muito trilhado é um canal com mais capacidade. Redes de
conversações acionadas com grande freqüência são como ruas que
ligam bairros construídos em uma cidade. Tornam-se padrões
invariantes na geografia urbana. O sistema que resulta dessas
múltiplas anisotropias conforma a identidade de um espaço social,
quer dizer, uma rede social particular, identificável.
21 – Tal ocorre com a rede social que está por trás da rede urbana.
Mais do que isso: tal só ocorre no espaço urbano (territorial) porque
ocorre no espaço das conexões entre pessoas e grupos (social). Isso
é a localidade do ponto de vista do desenvolvimento sustentável.
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circunstâncias. A nova ordem implicada na mudança só pode emergir
porque a transformação e a variação passam a ser reguladas. Essa
nova ordem emerge quando há regulação da mudança. Quem regula
a mudança, desse ponto de vista, é a rede social. Ela se adapta e
conserva seus padrões de adaptação. Ela só consegue conservar a
adaptação porque reconstrói (ou seja, muda) seus programas de
adaptação a partir desse padrão (a identidade de uma rede social).
Sustentabilidade, isto é, desse ponto de vista, desenvolvimento, só
pode existir quando existe ordem emergente, quer dizer, auto-
regulada.
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regulação) se dá a partir do local; inclusive uma ordem emergente de
caráter mais global é construída a partir de interações locais.
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‘extensão característica de caminho’ ou pelo ‘comprimento de
corrente’) existentes entre os nodos de uma rede social que dá o
poder social de uma sociedade, ou seja, a sua capacidade de
empoderar os seus elementos para que eles criem, inovem,
empreendam, assumam protagonismo – enfim, se desenvolvam na
medida em que desenvolvem o coletivo do qual fazem parte.
Desenvolvimento (sustentável) é, assim, a coincidência de auto-
desenvolvimento e comum-desenvolvimento. Em outras palavras,
desenvolvimento é sempre a operação de uma rede de co-
desenvolvimentos interdependentes
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33 – Ora, na sociedade (em termos genéricos; ou seja, nas
sociedades humanas) quem pode fazer isso na escala e com a
intensidade necessárias é o tipo de agenciamento chamado sociedade
civil (ou comunidade, no sentido em que Offe e os teóricos alemães
empregam o termo), esfera da realidade social caracterizável por
uma racionalidade cooperativa e baseada em uma “lógica”
participativa. Não é o Estado, caracterizado por uma racionalidade
normativa e baseado em uma “lógica” representativa e delegativa,
produtor, por excelência (e por definição) de ordem top down, ainda
que o Estado possa também induzir processos bottom up, quando
consegue estimular a sociedade civil a produzir capital social (ou
quando se abstém de desestimulá-la, renunciando a programas
baseados em uma padrão de relação centralizador, assistencialista,
clientelista e adversarial). Nem o mercado, caracterizado por uma
racionalidade competitiva, muito embora o mercado também produza
algum tipo de ordem emergente.
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