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filho que perdeu e que costumava adormecer-me cantandome(Campos, 1915, p.147) a Nau Catrineta. A lembrana destes
episdios consola, mesmo que tristemente, Campos, cujas lgrimas
cem sobre o meu corao e lavam-o da vida (Campos, 1915, p.147),
num aconchego que finalmente afasta o vazio da existncia e o
preenche, por momentos, calorosamente. Mas o sentimento de amor
que perpassa nas memrias , num instante, consolo e, noutro instante,
dor, quando o arrependimento de Campos e a tristeza de ser quem se
evidenciam, e marcam a ausncia, a perda e o esquecimento:
Relembro, e a pobre velha voz ergue-se dentro de mim/E lembra-me
que pouco me lembrei dela depois, e ela amava-me tanto!/Como fui
ingrato para ela e afinal que fiz eu da vida? (Campos, 1915,
p.147). E a ternura retorna com a memria da cano da Bela Infanta e
da felicidade sentida, para mais uma vez surgir, de rompante, a
dolorosa tristeza do que j no existe: meu passado de infancia,
boneco que me partiram! (Campos, 1915, p.147). A melancolia
perpassa as lembranas e a frustrao da perda da infncia e da
impossibilidade de retorno (No poder viajar pra o passado, para
aquela casa e aquela afeio,/E ficar l sempre, sempre criana e
sempre contente! (Campos, 1915, p.147)), que aumentam a sensao
de vazio presente e de desejo irrealizvel, como uma fome duma
cousa que se no pode obter (Campos, 1915, p.147), e que firma mais
as suas sensaes alternadas e indesejadas, em que o encontro com a
perda D-me no sei que remorso absurdo (Campos, 1915, p.147), e
revela-lhe o desassossego pelo que j no existe: Furias partidas,
ternuras como carrinhos de linha com que as crianas
brincam,/Grandes desabamentos de imaginao sobre os olhos dos
sentidos,/Lgrimas, lgrimas inuteis (Campos, 1915, p.147). E nesta
desolao interior o poeta no quer permanecer, e procura retornar ao
chamamento da pirataria, com um esforo desesperado, sco, nulo
(Campos, 1915, p.147). A tentativa v, pois o esforo consegue
apenas uma aproximao da fria sentida, atravez duma imaginao
quasi literaria, Da chacina inutil de mulheres e de crianas,/Da
tortura futil, e s para nos distrairmos, dos passageiros pobres/E a
sensualidade de escangalhar e partir as cousas mais queridas dos
outros (Campos, 1915, p.148). Apenas uma aproximao do que foi
outrora, uma vez que o surgimento da melancolia presente no
GUAVIRA LETRAS, n. 18, jan.-jul. 2014
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REFERNCIAS
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