You are on page 1of 81
PROPOSTA = I evista Trimestral de Debate da Fes< TTT Entrevista A gentidade de Paulo rine meee) os Bevin map dee no, comprare der ance da mart do pane scar E Paso re, rca pra edcadors «sera no rl en pate, pripanente Inesmencans fre qe deka todas i 3 ecco. end capris rescipaco gana dese deo pasado fd, tou so mundo coma cur aprenden. AE aes as eras hrenages che aconacem ean, e dada eta ei de Popes 3 mena, pope 20 ‘Rat de Pune anc opie desi pdaggi Tados of atcltasconvicades se mastaram muito cepeniveis para excever sobre este mes qu, sem duvica infiunciou nuit trabalho ena vida decadaumdeles.Mustosnos Ceceram fotos, deram depoimentos, permisia para pubiar um artig, uma carta, uma sMlaptarzo de captulo de lvo, alam de sugestoes que acreditamos te eniquecda esta publieago, O imei artigo, por exemple, # um testo do propria Paulo Fee, sugerido © ferwiado por Carls Rodrigues Brandio. que pode ser publicado gracas a permiss30 dos profesor Luigardes Freire Moxey Gadott, Fosse o que fs. todas conti deforma muito generosae soldéia com esta edo. Bem ao rio fereano. uma obra consruida Coletvamente ‘ozs eolahoradors nas brincam com reflexdes sabe o fazer © o pensar de Paula Fei, sobre a atualidade de sins ideas. 0 lslogo da sa obra com a de autos pensacores Contemporaneos cu nao ea coerenciadesua patica corm edwcador e coma hemem public, 2 relacto de sua priv pedagogica com os moviments populares lembada comma uma Consbuico inesimavel ao processo de lua pela democatzacao das insituloes e pela autonomia do sueto na consruco de seu proprio sabe Aleitura do atual tei social que formaodesenho dopaise ar ransersaimentea ptr do conjurtodos anges. ue ns faz entender oalance do pensamentofeieano:patirdeleparsialem ee. ‘Nuns depoimentas dao conta do legado de Paula Freie no apenas como uma pedagogia, ‘mas principalmente como um tstemunho de vida esperanca ela, genersidadeevespet, hhumldade, tolerance soldaiedade. Compreendemes 3 kmportcla da coeréncia enue ‘sas paloraseseus ato, ones teola esa pra, educa populares educacioformalsio evistadaseloucrtiadas pensadasedicuidasa partir das vealidades abordadas pelos artiultas que, como educadores ov educadoras, Inelecuals, mitts ou polticos,apesentam o estado da educarzo no Bras /AYASE. que tem toda sua trajetria constidaa pat ds premisas da Educa Popular nb podria dear de embrara grande contribu deste edixador as piri ross dante todos exes anos. Eta revista possbltou mais um moment de reflex sabre sua praia fata, Apoiodes em docimentos © na colaborarso de coordenadores © tencos de programas e projter ds FS. faemos uma tative de regate hittice do trabalho eltestve a nettle © apresentamos também alguns dos suns caminhosadonadoe nas diverse egies efrentesonde estamos presents, Sem pretensiode exgoar ov abrange todas as icusbes a parirdseducagio,e mesmo da ‘ouatio popula perebeme neisa ecicso um laque ce posses rlacoes da queso feduatva com os prncpais temas do cenrio socal. Prcebemos também a grandiosa ‘orribuigo do mesreFaulo Fete no daa dia dalutapelacarstruco de uma Sociedade mais igualtaa. € princpalmente. percebemos ac porsblldades de lberacaa a partir da ‘onstrugaocoletva dosaber Procuramos aprender a licio: ensinar ~aprendendo~ ensinando. & will it xe texto toma intencie de provocar um dete nie os rilkantes spats co PT para que exes, persando 2 queio educaional dopa. possam apreertar ontbuites A Comisiso de Eauacao encaregada pela Comisfe Brecutha Nacional de elaborar um Pano de Educagao. se text, por io. & proviso. servindo apenas de “tubsicio" para dain aotrebalho. O Plano (Ge Fducacdo do FT deve refleti em sua tealdade © ‘ontdevita dos iltaces do part, No Pt 0 debate da educacso nto pode ser ma coisa privat de um cieulo reste ce educadores Doofisionas. Todas s qustoes do partido sto questes Ge todos: nlo S80. questoes “ténicas™. quests de epeialitas.O PT aprende © que &edvcacio a0 foe feagio, OPT € edicador que educa a massa, ‘apaitondo o seus militants para que desaiema massa ‘uperara pura sensbildade dos prablemas tao imposshelnegar 2 raturerapoltca do proceso feducatvo quanto negar © cariter educatvo do ato politic. ste nao signin. poem, queanatureza pola a process educativo e que 0 carter educative do ato palticorgotem acompreensio daquele proceso e deste fo, Ito significa Ser imposshel de um lado, uma feducagio neste. que se dga a Serco da huranidade, os ser humanas em geral do outro. uma prin poles eneaiada de sigrifiagio educatva. € neste Femtido que todo paid pollico& sempre educate ‘como‘al sua propesta pla vai ganhando came ou nto narelaca etre oats de denuncaresnuncir. Mas € reste Seti amber que, tanta no caso do proceso educative quanto to do ato palico ov do partido, uma des quettoes fundamentals seo oclareraer tome doa fvordequme que posanto, cca que € anivaoavefaxemas aedveatso, ¢do3 aor de queme do (ue, poranio,conra quem esa que desanvahemos 2 atividadepotca, Quanto mais gorharms eta area TT través _da_pritica tanto mais percebemos 2 impossibilidade de sparar 0 lseparavel: 2 educa da pale. Oem overdo queede quem quest narigem mesma do parce ede sua lua determina a maneia ‘como sun pratca eduativase dena quale incorporam ‘denice o andncio antes refrides, ber como © hjetodaderincne do sninco. Um partido de canes dorinants, por etemo, em primeio lugar no pode denunciat as verdad caus ‘Sos nivel de pobre ede miseia das masses populares mas. pelo contra qua ele pode lar dels. quando fla, e al manelra que aquelascausas se outer, NO fund, a grande denunca que faze os dominanes @ ‘denceia de quem os denurcia & sue ordem,vistos “empre poreles coma "svrsNor e"dasodeos". Por ‘uta lado, que anne podem os dominates fzer a ‘io ser no mise, da mudancara crtnuidade?™ Por tudo so, pede um paride des dominantesexar Jamas com ae mses popular, mas conta els. Servingo-se dels, O em favor de que e de que dos dominates, que o seu pare proc vablaar través de um ser-nimero de fligranas ede engodes, excaa ineengio de sua pritica educatva no. sentido da preservaciodoesabeleido, Fela do partido dos dominantes com as masses Popelare, taves da dicurs de agbes asses fempre manipuladors. 0 discuso. ou as acces Seiten prouram anesocular de que desvlar 130 osc, pore, ue as masas populares se dese ‘empre dacnenteeoganar po ae clscursos portals Formas de ceo. Uma patie poleico-pedagopin a ar fesenvoida por militants de um parido dt moss este cso sera, oa de tentar"Tevar”a populace de ta faela pein a dune i. porenempla, que the ‘hogam cme engodo plc. ou etiéla por aceiar figo Go imporante para ela. mas, pelo coneatio N reconhecendaadivetoquetem a populace eter iguae tue trabalhar com ela para wansfermaro sentido fas 63 doacioem rvindcags0 Go pa%0 fm ultima anal, a pars dealt no pode reaiar uma edueacao que, Gesswolvendose na Incmidede mesma dos movimentas populares, jude as masas @ facer mero que testa fazendo poraassim fazer que tina ne foi feto. Ea, € uma das tarts polio ‘cminstrativas de um pido demassascomooPT. Oem favor de que’ eo om fcr de quem. o corre que © 2 ‘enra quernen tornados quaso PT vem seconsttuindo, 0 nascer no corpo mesma de maviments sodas the ‘gem uma comprensaoe ura priia necesariamente lferentes enquareo educator ‘OFTniopadeseraeducador ques sabewudo, qvejstem tsa verdade intcdvel. ante de uma mass popular Incompetent a ser glade ala, Um educadce para ‘quem ofaturo sea algo preetabelcid. uma especie de fad, desinaoudedesinairemediive Enquanio edad ede a ado, ao pode acta que ‘educach saa alvenea das ransformacies sols. 0 ode, por our, desontecer seu papel incisive esas ansformarbes. Papel que se resi, ene outros mementos, fundamentalment, noesforgomcblizadore ‘rznzador das mass populares, come também no dt ‘apncitacdodeseusquaosde lant F precio. contudo, camara atenaoparaofato de quea (questa nao eta apenas em procamar verbalmente 3 Opcaa plas classes stores dominados, master uma pratca poltico-pedapigcarigarsimenteconrente com E proclmacto verbal. Um colt @ expresso oral da ‘pct pale claes operas, pels masos populares. uta uma praca ela, quando saberos qenio ea Sica 2 que aul a pais, masa pita que aja ‘caren ent a coerencia entre asa pra as suas ‘pctes procamadas que vr fazendo 0 FT, enquanto Eicador reconecerse tamibem come educando, Vale fepetr para que o PT astra osu pape! dedicate tenquano partido, coerentemente com as Sues Opes proclamads, ele tom de asumir taribém 0 papel de eucande dae mass populares. Asua area formadors, omo partido de mates e nao de quads. se di na Imeriondade des tas populares, a intimidade dos ‘movimento socaisce onde eevela os quan pode tstarse ecom as qual deve aprender sempre. 6 educadores autoritarios negam a solidariedade centre 0 ato de educar ¢ 0 ato de ser educado ‘pelos educandes, 6 eles separam o ato de ensinar do de aprender, de tal modo que ensina quem se supie sabendo ¢ aprende quem é tide como que nada sabe. Que saudades de Paulo Freire! LUsete Arelaro* e Regina Lelte Garcia** Neste momento que nos reunimos para homenagear a proessor Paulo eke (ejonsrundo os ersiaments, fue ele nos deixos, & imposivel nio enfatizar a contigo insubativivel da centraidade de sa cena fo proceso cidadSo do logo. do. rept. aos ‘ensamentos ferentes aos ernie eos dese sentir cra com queseforjauma educaciobertadora. Um “ouvir fut da opcio_poltica pelo dieto 3 Jgualdadee & fratemidadenadilereca.equeexige uma Atansmulagaa nas elgbee entre alana © profesor ~ © pranto, de quem aprende, com quem ensna a partir {de uma especie de pacto democratic, em que um admit {que no sabe tudo €0 outro, que runes € ti ignorant. ‘ode contnbuir com suas eles e pritcas de vid no proceso educational. Logo, queo proceso de ensinat © Sprender € sempre um co llogo em que ambos aprendeme enstam. Nazis, netoncamente. a concepcto cialis, nie coma um método de ensino ou esata” pedagéica ‘mat como uma teotia do conhecimento ©. da fprendizagem, © condigaa fundante das relagdes fedueacionals, dentro fora da escola, «nesta, envatvendo todas funcéesdo trabalho exolare pedagosico. Nessa concepcio. nao ha o professor ou especie da ceduagio "que manda fazer porque tudo sabe, eco “aber” the da um poder hierarquiamente superior aot demals. mas 0 “colega" de equipe. que coopera. que psi, ce coordena,Ecada umd “equpe”tem. a portir de metas construe em furro de um objetivo comum um conjunto pose e variado de tara e furges a 0' Be osetia escols, os sistemas. as redes de fensing e 0 govermos. Eas ‘condicbesestruturais que esto ‘endo cada faverecem o debate sabre as candicdes necessiias para que as escolas se constituam fem centros de criagio e difusio de ‘ultra e conhecimento, Esse Paulo fol um homem no qual a seriedade de sua postura ‘ia poltica nto the trou o bom humor ea vortade de i Quando retomou doesiio. queriacanhecero Bras em texos os seus aspects: lia os estos das tastias de aminho. dos escritos nos. banheitos publics. das Inseriebes nos murs das uns da cidade. Queria também, ‘einicarseno gosto das piadasbasileiasquede maneira jgeral gram em toma de sexo © de oso: imios Parugueses. Paulo ria delas com gosto mult especial desde que na fssem desrespltoss a dlgnidade do ser os prxagonisas ra) (carder lic de Paulo o fer guardarem sual ua cla de Cr 5,00 (cinco erie) que recebew poucos ‘is depois da sua volta ao Bras porque nels esava uma “rradiha” de gosta abiolutamente popular Nea eta ‘sctito, com letra de quem poucoestverana esol: “Em azo de emegenca vire esta nota’. Curoro, querendo ‘aber 0 que estaria euro na verso Paula canfome 3 Instugsa de quem escrevera na eédula, vious e lea 3 comtnuacodo esctono anverso"Emcazo deemegenca fila d puta. Ele gortava de mastrar esa cdula a amigos, mas quando a tava da bolsa 2 sagurva fimemente porque ele ‘eso queria le exe fl ccturae num eolague bem enfatco « caracteisteamente popular. Ria. ria muito texas as vezes que “encenaa" esa bread bem 20, tosto do powo bral, "Iso € uma deli”. rept Sempre que lia essa “mensagem". € mesmo uma Sell” Na mina paricipacio em Pat Feo menino que a0 ‘mundo, de Carlos Rodigus Branio, também fle do ‘comportamento-menina da Paulo. até par que ete lira tem coma objeto “apresentr Paulo Freie” as cranes brah As fdas a0 cinema do baino de Casa Fore ‘ram parte exsenil das lmbranas de Fal, Sabretudo os fies de Tom Mix, seu hersh predieto, com um chapéu grance, mertado hum eatala banca, Fs) amigo, 0 animal ‘avalgava coforme a necesidade do dono. “om Mix era um cowboy acima de qualquer suspeta, salvando mocinhas.indefess, homens hurhades, pronto para agi em qualquer situaio de injustica, Quando Palo je ra um homem famoso. ‘onhecido em tantas partes do mundo. tna st exctonum ire que ocaval de Tom Mix fra ance e que os sus filmes eam lenges. ‘evi um desses fies e fou. perplen Foi Lum gope duo perceberqueocavalonaoera bronco, Branc era x6 a enorme chap 30 ‘ero! Oseu lado menino. que nunca pede ficow inconformado. € conclu: Nits prefirecontnuar com o Tm Mix de minha Infancia montado no belo e elegant cavalo ‘branco! leo € multe bonito, mute legal me:ma, um penzador que nao quer deba a azio fcar cima de uasemagbe-rang, Saber, depose que nor casamos vi coma aula govtnva de cutie mesmo esa de ser rmenino, Adorava pads bem ingenuas do tipo que Rene grande no gosta: ria muito com Didi, Dedé, Mucum © Zacaia, aera? ie) Na ttimo comico de Lula, na campasha de 1989, em CGaranfuns,tnhamos id de Si Paulo a Recife, ede, decane, num calor ecaldante aolocal onde ocandidata tinka nacido, para que Paulo fzesse um discuso. Na or, todo mundo no palanque.a praca cela de gente. um fla outro fla de repente Paul feu inal com sua mao no meu braco que eu j2 sala 0 significado: {queria ie emborat “O que houve, Paulo?” pergunte tou com medo... aio sl fla em comic.» sempre fale: em sala de aula, em culos de colra, em anfiteatros de niversdades de escola. Dag deste palangue to alto fia poe. Fale nur comico das ‘iets J. mas hoje se que mao sabe falar acho que 6 you perdera vor. Vamossairde mansinho!” "Paulo, oma vamos fs daqu?t Ror que nao tea reso? chaque voc sabe falar em qualquer lugar Voce sempre temalgoadequadoe interesante adler Bem peéximo de ods, vi Aloo Meradante © Bruno ‘Maranhao, e naa tve dubidas: “Gente, Paulo esta me chamando pra fi.” Semter larga o meu bracoem momenta nent Paulo me eatucou 9 Braco cam mais forea, mas nfo me reciminou nem pelo oar rem por paliwrs, Os dos petisaesldarios © amigos acamaram > ° tem humo delete une no fend 8 no seperate Stes passe dss (2 dedi um aera.) oo a & Paulo se dspuseram afar ao lado dee na hora do seu Gecuro. Ele nGo preciou deste apoio, ous minutos epois anuncaram que Paulo ina disurar e © pave comegou, entio, a gitar entsaticamente: Ministe! Minisio! nse! Ele ex eu curso mano echeio de esperagas a0 da de Bruno. de Mercadante. de Lula € da muitds0 que o apleuha. De mos dadas comigo. $6 as sltava quando precavadelas parafalar.elogoasagaravenovament! 's qulidades de Palo eram eudentes,etavem expostas 3 Sua corporeidae. Seu corpo pequen delgado. sem ‘sombre de petulanca ou empaverarenta imadiava 3 levers eapurezadesuaalma sincera de menina quesempre foi auainlignca eperpiica, sa amoroidade poz sua serenidae e aconchego: sa seredadee bom humor ‘us humidade etolernca tac o que se pasta em {odo 0 seu ser Seu corpo pedagoguava. Morava por ‘nti sa dignided esimplidade de Sercom ound Nunes confindiv simplicidade.humidace ou mansiao comsubmissdo ou serio, Tikamed eovtadia, Nunca ‘seachow mals importante mai sabedor das coisas do que e outer © tras, mas tinha a convceao de que sabia “algumas cosas" Tinha um enorme respeit pels otras pessoas e pela natureza. Suas qualidade: sao, Indubtavelment, utc de a sabedola, Fol foram voew, © 56 quando presientiu © mal que o tabaco estava fazendo a sua sade € que largo. com aia, como gosta de enfatizar a fumsca eas wogadas Inflizmente muito tarde, porque vnha sfrendo sequels {que a ata do fama nz0pogou deseu corpo. Oenfare do ‘iccdio que 0. arancou do coruilo conosco, na ‘madrugada de 2 de moio de 1997, foi provocodo, em ‘grande parte, pelaincleréncia coma qua igor aac os Sus amantes. Wrst, tea contradic ds qual Palo foi tum ere curas mihares © mihares de vtimas que se Inbrisvam com os engodes da furaca, do cheire dos esos cracersicos. que adqurem os que gostam do (ga, Hava deesste anos que Paulo paaradefumar. Semblant alma, cabelot lngose barbs brancs, stars ‘medians, corpo magroelevement nclinado pra adil, fndar mango, lho corde male ua constame dsposcso para tocar expeiéncis, pare exctar ¢ para dilogar Sobretudo quando estava explitando suas ideas sobre educacioe polities. opressoelibertaci. ou dscutindo as is dos outros e das outas pesos 520 algumas de suas ‘racers neequecii. ‘roti tes humaiadeFaull em asa msnima nese testerunha de respeito a dgnidade do outa e da outa, ‘sca ua nabalve pstra de vespeto pelos auvos soutrar © plo mundo, imbrcada 3 amoresidade e 3 soldaiedade ara coms sts, os peimidos eexcuids que naxceu dos Sentiments da razsonutrdos nee nocomo um in emt esr, mas. para, vokarse intencionalmente para a lorena da vida pautada njustia quepossibita Paz ‘Quando recsbes, prtelefone, um convitedeuniverstrios Bralere vendo eesucando em eae, respondeu- hee “Tere maior prazerm ira sal. mas quand howver paz com os palestios. Serd uma alegrla coowver com iraelensse plestinos, juntos” Enfazo também sua postu inencionaleeminentemente ‘ia de permanecer manso e quite. dgramente na sua posggo de huildade mesmo nos momentos mas difees ‘esa vid. Asim, jamais e amerav, mesmo quando injsxado ou incompreenide por quem quer qe fre, Falou muito eesreveu sobre as inustcas que Ie foram pos golpe militar de 1964, sobretudo sabe o ello © impossbilidade de ter um passaporte e de poder vi 20 Bras, so tudo teve aust ralva, ma jamal lari mesmo quando nao pede wr nem sequer despediese da mae antes dela falece Paulo fot_um hemem bom, radiaimente bom, nunca “bondnh’. poi fol Torte. enérgic, rebelde, ovsado © coerente tanto nasa manera de ser como nas ss decisdeseopsoes, Faulo gosta de ter sido um canter famoso ou eminente profesor da gramatica da lingua braseica~ sentose frustada por nao ter sido tambim profesor do curso primario mas ele mesma reserva para so dieta © 0 Privileglo de sar, econhecidament,além de professor da ‘ass lingua, o maior educador basi, um dos mais importantes da histia da educa de todos a erp. Uma dasexpressoesmaioresdopensamentobrasle, Emsuma suas qualldades, sua maturdade esabedova sua ‘apacidade de ser gente © de vier apabonacamente camprim-se_inegrlmente. Deseou tambem assim morer asim moreu:amande os juts os oprimidese ‘primidas,tabalhando indignada © apaizonadamente ‘mando Sabretudo amano, ei a paut® ANAT PAULO FREIRE: UMA HISTORIA DE VIDA ANA MARIA ARAUJO FREIRE VILLA DAS LETRAS EDITORA Vencedor do 49° Prémio Jabuti 2007 - Livro de Biografia Entre Paulo e Boaventura Algumas aproximacdes entre o saber e a pesquisa Carlos Rodrigues Brandao*™* terme) Fazendo pesquisa educo¢ estou me educando com os grupos populares. Voltando & Grea para por em prética os resultadas da pesquisa, do esto somente educando ou sendo educada: estou ‘pesquisando outra vez. No sentido agui descrito pesguisar € ceducar se identificam om um permanente ¢ dinamica movimento’ Alguns esbocos iniciais Comece este pequeno escrito sabre a atvalidade das {las de Paul Freire no ambivo da pesquisa, procurando aproximé-lo de Boaventura de Souza Santos. com uma epigrafe de Paulo. £ quero Iniciar este primero t6pico com uma autra passagem sua. Deixemas que ele nos fale Dizer que a partcipasio dlreta, a ingeréncia dos ‘grupos populares no processo da pesquisa altera a pureza’ dos resuitados implica na defesa da reducdo daqueles grupos a puros objetos da acao ‘pesquisadora, em conseqiénca. os tnicossujitos $30 of pesquradores profisionas. Na perspectva liberadora em que me sitvo, pelo contriia, a pesquisa, como ato de conecimento, tem coma ‘ujeitos cognoscentes, de um lado, os pesquisadores profsionas: de outro os grupos populares e, coma bjetoaserdesvelado, a realidade concret Teremos percebido a. sui inteligéncia com que Paulo Freie realiza o desocamento da relagaa sujeto-objetona construgio do conhecimenta? Para mim esta pequena ppssagem ¢ um das momentos de rio mais fecunda da ‘alternativa patcipante no exercicio da pesquisa, Ele se ‘oloca desde um ponto de vita diferente dos pratcados pela ciancia da norma cuta. Vejamos como. Ele nao colaca como syoltos de criagao ede deco de projetos de canhecimento de una readade social os investigadores de competénciaacadémicaefou cientificae, como objetos da pesquisa as pessoas stuadas “do outro lado”, ito aqueas eaqueles através de cujs informacdes dadas em Fespostas a questionévios ou envevsts uma suposta realidade social pode sr conhecida Ele convida para lado dos sues da pesquisa todas as Paulo Freire pessoas de algum modo emvolvdas em um processo fomum, solidério, de construcso de novos conhecimentos sobre 0 "real", ¢ deiva como abjeto do conhecimento ~ logo. da investigacao ~ apenas este proprio “real”. A raidade social de um mado devia, de tuma condigdo peculiar de sya socal a ser investigada para ser um pouce ou bem mais conhecida, no seu todo (Cascondigoes soca da vidacotdianaaqur") owen uma pare delimitada ('a siuacao wal de sadde @ alimentacao dascriangasdaqut ‘Uma nova e inovadorainteracio na consrucao social do contecimento humana sobre a realidage da vida € fstabelcida, De um lado esti um nds de sujeto ampliado: eles ens, pessoas de conhecimento em busca ide novos saberes através da pritca da pesquisa, De ‘ute lado est a realidade social, beta a ser conhecldo Por nés que a compartimos © que ciferencialmente a vivemos,cadatum aseu tempo, cada um aseu modo. £& esta deren de modos pessoas e culturals de ser, de vives, de sentire de pensar onde antes acincia“neutra” Consttia uma desigualdade, © que toma possivel 0 ialogo cientifieo. Um dialogo nao mais procura da verdad e, menos ainda, de uma verdade absoluta, Um logo fegile convel, matiplo e, portanto,capaz de chegar a alguma unidade. Uma intelocucie continua, se possvel temas que descabrir com fazé-la ser possvel fm busca de sentidor e de sigrficados partihavets, , ater pene al reo soe saa ae Fav ree operant p38 2 Novos econfiévels sigifcados na interpreta solid de uma realidade de vida socal. Significados que justamente por nio serem, de um mado definitive, enuficamente objevos, podem ser objetvamente compartdos e levados a um trabalho pedagogica cuja proposta nuo ¢ a de apenas descever, compreender ¢ contemplar uma fri da relidade da vida, mas € a de Jnterpreta-la para aprender asaber como transforma, ‘Mesmo antes dura decisio politica de uma “perspectiva liberadora", para uma questio humana. Nao somos {das todos, “de um lado ou do outro”, sees humarios dotadas de capacidades diferenciais, mas nao necessariamente desiguals ce sent. de pensar. de fazer perguntas ede buscar intelgenternente a5 respostas? Nao 0 eles", 0"nos" pestoal e coletiva das mulheres e dos homens que “sto daqui”. que “vieram para aqui”. “que vivem aqui” eque aseu moda e segundo o: seu stile de vida, Senter. pensam € criam sistemas culturais de sentimento-pentamenta sobre "como se vive aqui? Eno em nome de que principio epstemologico (sempre Dretensamente neutto, sempre socalmente motivado) ou dde que deci30 de poder entfce, em um momenta de producao de conhecimento sobre “como se vive aqui €0 ‘quedetermina amaneia como aq se vive ass”, os que “sao de fora” se consttuem como sujetes. na mesma medida em que pré-estabelecem como objetos da pesquisa e do conhecimento, os ue “so daguie vive aqui"? Tem mais. Nao € através “dles" — da percepcao que postem€ que nos comunicam na interacio da pesquisa — ‘que uma realidade comunitaia vai ser conbecida através dde uma pesquisa? Nao sao els os detencares primaros @ primeizos do saber e da sentir através dos quais um conhecimento-sobre-aveaidade-social pretende ser ‘obtida cietiliamente? Entio nda. setiam eles ot portadores do conhecimenta original e essencial para a Construcao deste proprio saber? Perguntas na aparéncia faci, mas de uma df resposta clara ecomvincente até hoe. € por muito tempo. € para sempre. uem sabe? Desde as antigosetcritos e manifestos dos movimentor de Caitura popular dos anos sessent, tems solidariamente defendido a ideia de que as peculiaridades de-entre culturas, entze pessoas e entre povos nao waduzem maneiras desiguals ¢ hierarquicas de ser. de viver @ de pensar Alga que até hoje algumas pessoas dstibuem em ‘uma excala que vai “deles" 05 selvagens, os primitvos, os populares. até “nés", of cilizados, os enuditos eos praticantes de um modo de vida © de uma cultura “superioes".Aquem? Aque? De Paulo e Boaventura - da ciéncia moderna a ciéncia pés-moderna e dela ao saber emancipador Tudo 0 que se classifica depende do aleance do olhar de ‘quem classifica. Podemos pensar através de vera “olho ru", como. um microscépio. um bindculo ou um poderosotelescpi, Em um outro capita do lio " A erguntaa vias maos".no qual oi publicada a primeira versa dest artigo, procure estende a idéias de pesquisa para fora do aleance do campo das cencias lgitimas como. por exemplo. aquelas que dvidem cenarios © epartamentos nas universidades, Assim, ao invés de limita o olhara vera pesquisa cena, considera todas as modalidades de pensamento e de aes criadoras de onhecimento, sentido © significado coma formas leatimas de investigacao, De uma manera semelhante quero pensar aqui uma classificaca0-de-oficina a respeto dos novos paradigms 14 dos paradigmas emergent com um olhar um pouco mais ousado e abrangente do que aquele que limita a percepcto da que est acontecendo de novo na aventura humana do pensar e do cla sistemas de comprecnsdo sistemdtica da realidade 20 puro # simples campo dat clencias. Faco ‘sto para sitar Boaventura de. Souza Santos, quenos esperaalgumaslinhasabsix. Reconheco uma tendéncia de teoria e de pritica de pesquisa dos paracigmas emergentes no Incvior de um fampo definidamente cientifico ©, de maneira male especializada, dentro da esfera das clncias da natureza, ide que a Fisica e a Biologia veriam os exemplas male visiveis ya Prigogine, cujos lives sa0 chados com feequéncia entre nos, seria um bam pora-vor desta tendénca, A palavra wancdiscpinar possi na fronteira entre a cenciaeaeducacao.aqui. uma forca especial.” Reconheca a seguir talvez a tendncia mais civulgada © mais discutida, Ea tem um pé na tradica0 inovadora das ciéncias da naturera eo outro, no desagio da interac entre ciénciaocidentale a tradicoes de ciénci,filoeaia © espintuaidsde orienais. De maneira algo diversa do ‘que acontece no caso da primeira tendncia, existe aqui recanhecimento deque mao € apenas de dentro da longa rise dos sistemas ocidentais de pensamentocientifico,e (or desafioe de integracio entre campos de cinciae, 30 lado de uma reconstruc epistemogca radical ~ onde tuma cera subjetivacio das eludes tedricaseoperatvas , 1 so ast um dsr ons open Gea ce tm ders frases en ro dea amd da investigacao possu urn lugar de importincia- que 0 surto inovador das noves paradigmas deve ser buscado, Ele estavia também em uma inevitavel abertura. dos modelos ofcias-ocidentals 20 dialogo com sistemas de Jmagindrio ede pensamento das tadigdes ofertas e, no limite, dos povos indigenas,Fijov Capra 0 difasor mais reconhecide desta tendéncia. Mais prxima dos extudos Sobre a pessoa humana, a verente califomiana. da Pricologia Transpessal deve serlembrada.' ‘Uma terceira tendéncia € a que nos toca de male perto aul, Paulo Fete esta stuado nea. Edgar Morn seria lum seu representante mais moderado © Boaventura de Souza Santos um representante mais citco. Ela se diferencia das uasantecedentes por estar mais associada 4 uma compreensao totalzante do mundo, da vids, da pessoa. da saciedade e. nela. da educacao, a partir das Ciencias socials. Veremos logo adiante Boaventura de Souza Santos inverendo 0 exo classco das rlacoes. © defendendo aida de que nos adventos dos paradigmas femergentes sao ae ciéncae da natureza que tomam dae soxiais os fundamentos de sua logica e de suas futuras ovientacdes de pesquisa. De outa parte, sobretudo em A critica 42 raza0 indolente — conta 0 desperdkio da expertncia e em Pela mao de Alice 0 soca e o police na ‘pos medemidace. Boavencua ira pensar a nevidade nos ‘madelos de pritica da. ciéncia em dltesao. a uma thumanizacio de er politico da aiidade do pensamento ientfio, Finalmente, e ainda que sto possacausarestranhamento ‘emalgumas pesoas, podemosreconhecer uma tendéncia situada na fronteia ene as cincias académicas (conto a Astronomia), os sistemas reconhecidos pelos seus pratcantes como altemativascienifio-ilosieas (como 2 Astronomia) ¢ sistemas religiosos eou espirituals de ‘compreensso da realdade, de significa da vida e de frientagao ica dasacoes humans, Por toda a pare. para onde quer que ns virssemos, eu seus companheiros nos vimos de um momento para ‘utr cerados de palavras ede brados de alera a respelto dd exgotamento dos padrdes de pensamentos © de rac Ciencia através 2 pesquisa, segunda os modelos ‘Genificistaxquanitativtas que noshaviam acompanhado até endo. Desde ocomeca dos anos sessenta,aprendemos ‘com pessoas aqui do Bras da América Latina ede outros ‘quadrantes do. mundo a realizar uma severa crtca a respeito dos fundamentos de tearia € empiria dos esilos dominantes de criacio de conecimentos por meio da investigacaa centfia. Nao queriamos mais nos enganar Sabiamas bem da boa inocéncia au da ma. conscigncia Comtidas nos princpios de neuvalidade-objetvidade de Ciencias final orentadas. segundo interesses © para uitlidades econmicas, polticas e de autos culos sciis bem distances de um valor Furano que tomavams como terme) ‘sentidade tedoo noso trabalho. Tambem no campo do humano estamos empenhads ‘agora em realizarmos unt, a0 rer detodo.o Mundo, 4 nossa outta “revelucto de Copemico”. Um exemplo bem proximo & quando, através de experiéncas Inovadoras de cultura popular, constiwimes este popular” no apenas como o “objeto de nossos estudos".mas coma o“sujaito do destino denossosideles estudos acces". Ua orientacao que permanece viva e valida. © que ja esta presente nas preocupacdes de Paulo Freire desde quando o seu “Método Paul Freire de Alfabetiragio” jé antecipava, no comeso dos ance sessenta, uma postura em que a diferenca entre “quem sabe" e quem “nao sabe". © “quem ensina” e “quem aprende” era profeticamente muito relatiaada, sda, sta em questo, Entio € quando re-aprendemos a praticar a crtea politica da crtica epistemologica. Descobrimos que nao basta corigir desvios teorcos da cigncia para que ela reencontre 2 sua vocacao. Era também necessrio recolocar 0 todo do conhecimenta criado por mentes hhumanas através da ciéncia © de virias outrae madalidades de pensamento € compreensio de-nés rmesmos. a vida eda mundo em que vives, dentro do campo da vida social € das relacoes de interesse e de Poder que a constiem. que a legitimam que onanto, estabelecem os ertérios de verdade e de utlidade do propria conhecimenta centific, Boaventura de Souza Santos na ajuda a clarear bastante (os rumos de uma escalha ertica, Aa lado da critica cientfiea da cncia, ele procede a uma ctica social da trtcae isto representa um avanco muito grande. Delo ‘que ele nos ale. A stuacao de bifureacao, ou ea. 0 pontocritco em quea minima fluuagao de energia pode conduzica um nove estado representa a potercalidade do sistema em ser atraido para um novo estado de menor entropia. Deste > * Alans do sus os. nde com ates de Capra eo van parvo pongues Aum recomend etude cote rz por Roper sshe Fes aupanambas etapa Ca eS asl deh Camis lam do — ‘Smeets tontpeoas es Plog e187, mt Canines alm dogo wa visi tampenon de 1999, Umdor pout oe 0 Jogo Chsmie~ enpleaces das rons da tension humana pica ea tr fer. 9 Palm {aon tec nem enka face ote. teas 0 ra) peta ol pel geal mara UMA & modo, a ireverslidade nas sistemas abertas significa ‘queestessio produtosda sua istéria, ‘Aimporancla desta eora esta na nova concepeas dda matériae da naturera que propSeuma concepcio aificimence compaginavel com a que herdamos da fisia clssica, Em vezda eternidade, historia em vee do determinismo. a imprevisibilidade: em vez do ‘mecancism, a interpenetracaa,aespontaneidade e 2 auto-organizacio; em ver da reversibilidade, a lmeversibildade ea evalugao; em vee da ordem, a ddesordem: em ver da necesidade,acritividads © cident. Nae paginas de onde recolhi o parigrafo acima, Boaventura de Souza Santos. um cientisa social portugues com experiéncia de. vivéncia © pesquisa junto a comunidades populares no Brasil, nao esquecer. ests relacionando alguns pontas de critica 4 “cnc clasca fe preparanda 0 terreno para falar a respeito de um *paradigma emergent Zo contririo do que se aceditou durante muito tempo, nos dias de agora nao sao as ciencas socials as que procuram imitar as teorlas duras © supostamente ‘abalave’s (mas sempre provioras) © 05 métodos diigidos & oiagdo objetiva de certezas oj cada vez mais reconhecidas como incertas e igualmente efémeras. A tendéncia € oposta. E sabemos que desde 0 Feconhecimento de que nao hi “co's objetvamente Vista" que nao tenha sido de um modo ou de outro fexperimentada, assim como nao existe experiéncia que, ao ser realzada por um ou uma equipe de sujeltos hhumanos.ndo contenha a propria subjetividade como um principio’ denufico nao fortuito € inoportuno, mas fundador © criador da propria possibilidade do conhecimento objetivo. as itncas do universae da vida aprendema pensar ea pensar-se cada vez maiscomo asda pessoa, d socedade eda cultura. Ora, arespeito do que ‘os velo dizer Boaentua de Souza Santos i ainda algo sais. Vejamos fm resumo, & medida que as ciéncias naturais se sproximam das cléneiassocais erat aproximam-se das humanidades. 0 sujeto que a ciéncia madema laneara na didspora do conhecimento inacional regressainvestido da tarefa de fazer erguer sobre si tumanavaordem centifica.” E uma nova ordem mundial, dsamos ns “nagueles tempos”, au sea, tudo o que, aqui, pode ser pensanda come ene 0 ano: seenta os anos oitenta, esas 30 dduasoutrasrazées irmas-gémeas- pois acreditamos que rio se pode pensar de autra manera sem se conceber também um viverem um autra mundo, au € em algum tempo. nao tio dlstante, se possvel. Que desde os primeltos parfgrafos do que escrevs a suposicio fundamentada de Boaventura de Souza Santos recorde os tenmos em que as propostas de pesquisa aqui apresentadas € deserts foram defnidas por pessoas como Paulo Freie e Orlando Fas Borda, Uma pesquisa fue sinva a cianca, que se abra como um digo, que sirva 20 encontro entre pessoas humanas que se rediner através de suas diferencas para crlarem saberes que facam definhar © cesaparecer de seus mundos as esigualdades que até entao e até agora tomam Suspeitamente legtimo chamar a algumas pessoas ‘povo"e. aautras “intelectual” Ha mais duasoutasrazoes. £m uma delas Boaventurase lune aos que parecem questionaro “fim da historia’, ea como um fo de process, ats, sentidos e prodiutos da ‘cdo scilrelizada em uma ou entre algumasculturas, fa como um modo de ciar conhecimentoscientifioe confavels a rspelio de nos mesmios: quem somos, de fonde viemos, @ que fezemos ® criamos, para onde parecemas estar tendenda, Mas, diferente dos que ‘deferdem em tems sciais a presengada hist camo fato, come feito e como fala entre pessoas eerie grupos hhumanos, nossa autor traz depoimentos de cientistas da ratureza para lembrar aos cientstas da sociedade lobalzada que os fsicos © 05 bidlogos dos novos paradigmas descabrem a hstria presente nos mistérios {a vida edo univers. Pais do stom e seus componente 20 universoe seus sere. o que se passa em uma minima pnicula infinitesimal & um “conhecimenta’ no Interamente previsivel © que. quando se explica.€ por causa e avavés de sua historia, Uma minima e insantanea hisria. Mas uma histéria, enfim, Se 0 mesmo acantece com o curso de um elon € com a paicua de uma ceuls, porque imaginar que conosco no haverd de ser e seguir endo assim? Ate mesmo Porque, como sees senhores de gestosreflexivas ena apenas reflexs, somos mais imprevisives do que eles. E inde ha libertiade ¢ imprevisio, tem sabemos que hi acontecimentose, logo, ha histéria, historias, estias. A vida cotidiana eo fo de setidos dados a ela €a0 que ela twee atraes dens. Finalmente, Boaventura recorda como at proprae clencias da nacureza completam e lnvertem as regas coma Emile Durkheim nas indicava cansiderar os fatos socials como coisas. Pols agora, dizem os fsicos @ ot > (02 adeae) Eee Afenanans Fone p 2 : Braver de Soca Santas. op tp 4, bidlogos. nso “coisas” que eistamou queseconhecam a nao ser como, dentro e através de campos de relactes ‘onde elas exstem e ganham as suas razdes de ser. Ene a fisiea atomica, a ecologia. a pslcologiae a antropotogia, tudo © que hé para ser experimentado e compreendida 0 interacbes,integracbese indeterminacces. E bem mais fentre nos do que entre os fscas: Onde hi cosas, hi ‘Casas, Onde hi causas, ha relagaes, Onde ha elas, hi sentidas. Onde ha sentidos. ha finalidades. Onde hi finalidades, ha histdria, € pela pora da frente dos Jnboratorlos a “causa final” de Arstteles retoma 26 cléncias com mals frca de eslarecimenta da que as *causas materials" domecanicima, Assim sendo: Mao vies longeo dia em que a fica das paricolas nos fale do jogo ene as paticuas. ou a biologia ‘os fale da teatro molecular ou a astrofiiea do texto celestial. ou aindaa quimica da biograia das reaccées quimmicas. Cada uma destas analogs, Cervela uma ponta do mundo, A nudes total, que ser sempre a de quem se vé no que vé.resultara das configuracdes de analogias que soubermos imaginar: afnal. 0 jogo pressupde um pao. um paleo evercitase como um texto € 0 texto € a Autobiografa do seu autor. ogo, pako, texto ou biografia. o mundo & comunicacéo e por iso a loglea existencial da ciencia pos-modema € promover a “stuagao comunicativa’, tal como Habermasaconcebe* Pelo menos por agora, podemos deixar na espera estas das tao certerase to surpreendentes.Confesso que até ler Boaventura‘e outs de seu tempo, néo havia ousado pensar por af. Nao el anda se estou de acordo com todas | conclusdes a que ele chega, mas quero, antes de Finalmente tazer a0 nosso dislogo a refiexdo mais proxima da pesquis patiipante, deixar aquipor escrito sintve dela, Bom a contramao dos que preferem dar ao paradigma “emergente nomes mais poremademos e mals completo, entre “holisticos” transdiscplinares” ~nomes de cues, faces sriase atuais no devemos desconfiar de moda algum ~ Boaventura de Souza Santos ercole: parachgma eum conhecimento prudente para uma via decente” O longonome quertracuzicasduas dimensSesde qualquer vyocacéo do saber clentifico originado de qualquer ‘modalidade de investgacio sobre qualquer dimensi0 do real Que ele seja uma forma de conhecimento que atribua um verdadeito sentide humano & revolugao clomtifca que bate a nossas ports. Pois ele serio conhecimento de uma tansformasio de modelos € sistemas le pensamento bem diferente da que ocome no seculo XVI e, com as cgncas socials, no seculo IK. Pois terme) le acontece dentro. de uma sociedade universal a revolucianada pelos diferentes saberes da. propria lencia. Assim sendo, io se vata mais de uma evolucio cenifica” mas de uma escala de revolucio também soil através do que se vansforma no universo das citncls, 2 responsabilidade social de teor politico da paradigma lemergente faz com que um conhecimento prudente e reconstruido, passa a paso, dento e ao longo de novos sistemas de integracao slidria entre cicias stuadas ‘nos mais diversas campos do saber, de intracio ene as clncias © outros campos humange do conhecimento, Inclusive os das tradigdes orientalis. as dos povos tba ada senso comum, e de uma abertura 8 indeterminacso f¢ a0 reconhecimenta da fraglidade e do efémer de ‘qualquer construcdo de sistemas também cientiios de Ccompreensio do"real, desagie em ele se reconhecer ‘como responsivel pela qualidade da vida social. poruma vida decent entre todas as pessoas e todos os poves Daique 1, Todo 0 conhecimento cientifico-natural & entifico-social. NNio tem mais sentido a separacio arbitrvia entre dencias da natureza da vida. da pessoa, da sociedade Todas sto momentos de integracao de complexos trantdisiplinares de conhecimentor. De saberes © sistemas inteatvos. de saberes que apenas operam em planos especficos de ur rel, ele mesmo a sertomado como uma totalidade indivisa de estuturas, processes € inegracoes. As cigncias da-naturezaaprendem a comprecnder a logica do universa segundo padroes de referencia nao maito diferentes daqueles com que autas percebem ¢interpretam o fendmeno da vida, da pessoa humana e da vida social. Guardadas as cracterisicas préprias dos contedidos dos processos. hd uma_mesma complesa e mulivariada logiaa de realizacio de acontecimentos que atravessa. as estrelas. as flores eas pessoashumanas Ena mesma medida em que as diferentes ciéncas lneragem e se aproximam da logca dos dilemas das tdenciassocais, estas se aproximam das humanidades, Pais 0 sujeto humano que a cléncia modema (a que estamos tatando de superar agora com os novos pparadigmas) “langara na diaspora do. conhecimento lrracional”, etoma de la com a missio de reconstuir a 2 rele apunes am st de born snes pg 37 58. & 2 fi partir de si mesmo e de sua condicao toda uma nova ‘ordem cient, Etodo.umautra nave mundo passive [A concepcdo humanist das clénclas sodais lenquanto agente catalizador da progressvafasfo das dendas nauraise cléndas socials colaca a ppestoa, enquanto autor e sujeto do mundo, no entra do conhecimento, mas, 20 contrio das hhumanidedes tradicionais, coloca a que hoje esignamos por natureza no centro da pesioa, Nao ha natureza humana porque toda natureza humana €poisnecessério descobrircategorias de ieligibitidade globais, concetos quentes que ercetam as fonteras em que aciéncia madera tividiveencermouahumanidade." 2°. Todo oconhecimento¢ local etatal Onde a ciéncia modema ve planos hierarquizados doldentro do real, © paradigma emergente percebe planosintegrados interativosde um mesmo todo. Assim como as diferencas entre os campos de conheciment® eixam de ser departamentalizadas para serem desafiadas a um didlogo enter diferencas de nio- desigualdades assim também as dstincoes entre o locale tata deixam de existic ‘Todo oconhacimenta referente a uma pessoa tora toda a espécie humana mais transparent para si mesma, Todo 0 onbecimento a respeita de como se vive em uma Perferia de Porto Alegre nos ajuda a. compreender: ‘aquelas pessoas e familias daquela comunidade’, as comunidades de periferia de Porto Alegre, 2 vida © 0 ppensamento sobre a vida em Foto Alegre, idem para o Rio Grande do Sul, para o Brasil, a América Latina, 0 “Terceiro Munda’. 0 "mundo atual", 20 misteio da humanidade. Dependendo da caragem de compreensia com que nos lancamasa investigare buscar compreender ‘oque “descobrimos do rea. podemasestender oalcance de nosso olhar, de nosso coracao um excelente instrumento de iterpretaao da vida ede és mesmos) denossa mente. 43°. Todo o conhecimento é autoconhecimenta A dénda moderna consagrou 0 homem enguanto sujito epistémico mas expusou-o. tal como & Deus fenguanto sujeto. emmpaico. Um conhecimento objectivo, factual e rigoroso nfo tolerava a Interfrénca dos valores humanes ou religosos. Fo nesta base que se constitu 2 dstingao deotémica sujlefbjeco." A separacio entre sujeito que pesquisa e objeto pesquisado € uma construcao da ciénca de uma era. E ‘mesma assim no era um madelo absoluto. De tudo o ‘que Boaventurafalasobre esta questo. importa retomar algo que aqui e ali fui esbocando nas nas anteriores, ‘ads a distineia ene diferentes que tende a se tomar ‘uma oposiio entre desiguais tende hoje em daa ser posta em questo, soa naclénca, seja na educacdo, sea ‘emuma politica humanista de vocagao cidada, €Emnome de uma abjetividade que, vim irmaisde uma vez. as proprias ciencas exatas tratam de colacar em questio e rever as ciéncias saciais de vocagao mais rmecanica operavam tres reducoes: a) a separacio absoluta entre sujeita deconhecimento objeto (pessoal (4 soxial) do conhecimento: b) a desconsderacao da subjetvidade, da interioridade, dos fatores nia redutiveis a0 comportamento ou aos procssos passives cde manipulacaa experimental ou de reducso do fato a0 dado, do dado 20 ndmero e do nimero a formula: ¢) a desqualifcacao do biogratico e do pessoal (0 ‘depoimento pessoal, a historia de vida, a histria eum familia, de uma comunidade), como um individual universlzavel bem isto mesmo o que os novesolhares, mais crtcos€ bem mais emancipatrios de nossascincias. procuram revista Vimos que mesmo entre a iéncias da vida e do univers aindividualidade o acantecimento ea historia gerada pela sucessio de acontecimentos, 2 interacéo {quate intersubjetiva entre elementos, entre paricuas, 0 fatos € sta fatores tao relevantes quanto ¢ em algumas siuacbes até mals do que a observacio controlad eatenta de amplasrezularidadesobjetives 4°, Todo © conheclmento clentifico visa consttuir-se Uma temeriria hipétese, sem a menor divida, Mas nfo erautra coisa o que Paulo Frere e quantase quantos de ‘és acredtamos pela vida afora. Ela em nada tem a ver ‘com uma “foldlrieagao" do conhecimento human. a comecar pel cientfica. Em uma directa, nao se ata de desquaificar 0 saber académico e suas variantes em nome de uma espécie de pol-saberdo-povo. ergido ‘como um conhecimento orginal, um saber de rales, ogo. o maislegiimo, Ete sera ocaminho para esair de tum fundamentalsmo ~ 0 da cincia cua que se erige , cpa pss como o nico confiével ~ para um out: 0 de um populisme epstemoligicacujos maus fates so bastante Conhecidos. Em uma outra reco, nao se trata de uma cetrategia de banalzaci do conhcimentacentiia para aque ele venha a ser “de todos” no seu proceso de construc enos seus produtos derealizacao Ocaminhoe out. Ele comeca na conviecio de que tal como o a. a tera ea gua, se conhecimenta€ mais da que uma conuista de ppoucos, um bem de tados epara odor, entioele deve ser ‘objeto de toda a parulha possivel. Toda a poise privlagiads da dom do saber, através da pesquisa ‘estinada a relizacao da vida eda pessoa humana, ¢ emt simesma arbitra, injustaereforcadora da desigualdade entre pessoas, entre grupos humanos e entre povos da Terra. Tao importante quanto saber como criar conhecimentos oportinosehumanizadores€ saber coma ampliar 0 circulo dos seus criadores, dos. seus particpantes e dos seus beneficirios dirstos. Da mesma ‘maneia come tantase tantor companeir de destina tm pensada a questio da partiha dos bens da terra através de uma economia solidiria tio divergente quanta Possvel do modelo globalizado e vigente de producto, osseecirculacao dos bens da Terraedos poderesentre os Povo. assim também preisamos criar de todas as formas Possveis verdadeiras experincia de citi soldi. de pedagodia soldara - de que a Pedagogia do Oprimido freriana pode serum excelente fundamento. ainda hoje— asociada a outras pritas socks salidinas da vida ‘otiiana eda historia human, Numa esfera de pensamento muito préxima a de Paulo Freke, Boavenura de Souza Santos lembra que a cencia ‘moderna prods conbecimentose deconhecimentos. Se faz do cientita_um ignorante especaleado, faz do cidadso ‘comumumignorante generahzado.” Lembremor a oposiao “ciéncia_modema’ (a. dos paradigmas dualistas. mecanicistas. objetivstas, ‘eclusvstas e excudentes) do sistema hegeménico do pensar centifico versus a “clecia pos-modema’, a dos Paradigmas emergentes em Boaventura. A oposica entre luma e outa esta em que a primeira considera como ‘objetivo, verdadeiro e confiavel apenas 0 seu desqualifcando as outras como formas Impereitas de pratiea da ciencia, au como sistemas de producao de onhecimento sequer clentficos (crencas populares ‘rendices, reperoros de mitos te), Enquanto.a segunda sabe (ou desconia cada vez mals) que sistema algum de ‘riacdo socal de saberes¢ em si mesmo confiaval. abe «que a resolugo dos grandes problemas do conhecimento da vida humana nao vird da pratca especializada, isolada e auto-referente de campos restritas da ciéncia, ‘mas de ura franca aberura em tes drecoes ft lembradas linhasacima: a integracaotransdsciplinar entre campos, terme) tendencias, sistemas diferentes de conhecimento clentifce: a interacio fecunda © nao hiernquica entre dencias académicas e outros campos e dominios do saber e da sensblidade humana, da Mosofia as artes € elas ds misticase espiriualidades de todos os tempos de todos os poves: a conexao entre as formas cults de saber e 2: miltiplasaltemativas do senso camum, de ‘uma comunidade indigena da Amaz6nia_auma comunidade de pescadores patrimaniais de Sia José do Nore (tera gaicha de mina mae e minha avé) dela a ‘qualquer comunicase cultural de perferla de Porto Alegre © delas as comunidades de uma das vérias Categorias de seus educadores: a das professors © dos professoresdas escolas da redepiblica de eduracao. Assim sendo, €0 intervalo entre, ¢ nao 6 lugar unico, 0 cenario dialégico da possblidade de um novo Cconecimento. Ele est na crescentecapacidade humana de criacdo de pontos de interconexdo, De interacdes Vividas nas grandes pracas poblicas de um saber polissémico, camplexoe aberto a dferencas. Pracs até ‘onde cheguem e de onde partam as mas diversas as fvenidas dor diferentes modes de percepcio © de ‘ompreensio da pessoa humana. da vida e do unverso, Eo pdlo-alz deste saber intorativa edialdgica € 0 senso. ‘omum. Ele nao € somenteo “saber do povo". em um Sentida antopologico. Ele € 0 saber-que-esti-em-toda- pane. Ele ¢ 0 conhecimento dirtamente brotado da fexperiéncin direta da vida e da comunicagao entre as pessoas em busca de setidase de signficados para esta prépria experiencia, ‘Ao contrvio (da “eltncia modema” — CRB), a ‘iéncia ps-modema sabe que nentiuma forma de Conhedimento €, em s! mesma, racional; so a configura de todas ela racional. Tents, pois lalogar com outras formas de conhecimento deisando-se penetrar por elas, A mais importante de todas € o conhecimento do senso comum, 0 contecimento vulgare pratico com que no Cotidiano oriantamas as nossas acgdes © damos semido a nossa vida. Aciénca moderna constui Ssecontaosenso comum que considerouiuséria falso. A ciéncia posmoderna procura reablitar 0 senso comum por reconhecer nesta forma. de conhecimentoalgumas virwalidades para enriquecer a nossa relacao cam o mundo. € certo ‘que. conhecimento do senso comum tende a ser tum conhecimento misiieado e misificador mas apesar disso eapesar deserconservados. tem uma & dimensio utopia e Wberadora que pode ser ampliada através do dlogo com 0 conhecimenta Ciemufco, Esa dimensio affora em algumas das ‘araconsucas do conhecimento dosenso comm.” {As palavas de Boavencura comacando em: "é certo que © conhecimento do senso comm ..” sto a fal atual de consensos esta de Paula Frere e dos movimentes de cultura popular dos anos sessenta. Poder estabelecer um dislogo entre a nosta ciéncia era © comprometida, com as culturas populares e o seu senso comum, era a propria razao de ser da educaio popular que buscavamos criareporem pratica Da parte ao todo, da coisa a relacio, do lugar do mercado ao da comunidade Sempre se fala de algum lugar social. Nunca se fala de um local situado fora do mundo da vida cotidiana, Estamos todos em um mesmo mundo e ns falamas, enue nds @ futios, dele e de algum lugar situad nele. Este lugar pods ser Porto Alegre, FassoFundo, Angicos, Recife, Nova York, Havana ou a sua ma. Mas pode ser também o lugar sociocultural da mercado de ben. 0 gar sociocultural do ‘poder de enado (ou de um estado de poder) ou 0 lugar ocicultural da comemniade Assim, aquiloa que de ate aquio nome de agar sci de crgem de um trabalho social qualquer. de uma pratica soxlal (como a educacic), cietfica (como a pesquisa associada 4 educacao), flasofic, arstca, religiosa, de tuma outra dimensio cukural, ou esukante ca inerarao entre as lemibradas aqui divide-se ~ em Boaventura de Souza Santos ~ em tes principios de regulacio da vida social @ do mercado, © do estado e a da comuniade. Os dois primeirassaohegemanicas ne Mundo Modema eora se alteram, ora se enfentam, ora se allam como Drincipios dominantes e colonzadres da vida cotiiana realizada na esfera da comunidade. E ¢ este dino Principio de regulaeao, o da comunidade, aquele que pode, bem mais do que o principio do mercado ou 0 prinipiodo estado, viraser emancipador. Em meu entender. as representacoes que a rmodemidade deixou até agora mais inacabadas e abertassf0, no dominio da regulasZo,o principio a comunidade e, no dominio da emancipacaa, a racionalidade estétic-expressiva. Dos tres principios “de regulacao (mercado, Estado e comunidade) 0 principio da comunidade fi. nos Lltimoe duzentor ane, @ mais negligenciado. € tama asim foi que aabou por ser quase totalmente absorvido pelos princpios do Estado e {do mercado, Mas. também por is0. 60 principio ‘menos cbstuide por determinacdese, partanto, mais bem colocado para instaurar uma dalética positva como pilar daemancipacao" Colonizada ecoroida ao longo dos anos pelos princplos de regulagio do poder de estado e dos interesses do ‘mercado, a comunidad Isto & os espacos da vida e do trabalho ainda no dominados por intero pea logica instrumental das relates regidas pelo poder « pelo Interesse do capital, constituem espacos abertos a solidariedade e & partipacio. Quando Paulo Freire ‘opunha uma educacdo bonciria a uma. educacao libetadora, ele queria wacar a cistincia cultural ppedagogica e politica entre uma esfera de criacko, difusto € controle do saber regida pela logica instrumental do interese do mercado ® uma outa esfera.regida nBo por um projeto politico-ideaogico ‘unico (atencao para este pant} mas por uma prepasta ‘de ruptura com a dominio das ideias © a domesificacto dos imaginaios através de um recentrar o lugar do Cconhecimento legtime na comunidade popular 90 enlace entre 0 senso comum e uma ciencia mulipla € atvamente emancpadora Nao se tratava entao (nos anos da criacao da pesquisa paricpante) € continua ndo se ratando agora. de mudar somente conteudos de ensino-aprendizagem ¢ ‘modemizar alguns processas ddaticos. altrando apenas capa pedagogica de algo que tem os ps plantados no thio da politica. Um chio complicada, € certo, © 64 ‘mesmo ndo gosto muito dle. Mas, afnal um ugar onde ficam as rates da vida social, Pols bem, odesafo esta em trabalhar, passo a pass, no sentido de deslocaro lugar de criacao do conhecimentoe das rocas de sentido ede valor da vida através de saberes. de signficados, de sensiilidades e de socabilidades, do dominio’ de regulacio do estado centrado em simesmo ou do ‘mercado centrade no interesseulitro, para odominio altemativo da comunidade. Da vida ‘comunal, das ‘miliplas e interconectaveis teas de grupos humanos nao colonizados pela logica e pelos desejos do mundo dosnegécio. Eis 0 chao da pesquis partipante, Pr isto et lembrei mais acima que ela nao se confunde com uma teoria clenuifca nica (nem o materialsmo histério e nem foutra qualquer. tomadas em sua. exclusvidade exciudente) com um método de trabalho. Aexperiéncia desert da experi op. pe 75. de pesqusas que entre tate, enganos e acertas aqui e ali tems experimentado por toda parte. em incontaveis Cenivios de enlace entre comunidades populares educadores comprometidos no Brasil, na América Latina e fem virios autor ecantas da Mundo, procura ser uma aproximacio a esta mudanca de paradigma dentica, Uma mudanca de modos de pensar e saber através da ‘ual a educacto popular a pesquisa partcipante podem ser consderadas coma uma fecunda contnibuicso do Terceiro Mundo aos paradigmasemergente da ciénca ps ‘madera anunciada, ene outs tantos, por Boaventura de Souza Santos, E com boas razdes. porque poucos outros sistemas de peensamento entre nés tém colocado desde os anos sesenta, como a educacio popular ea pesquisa paricipante. uma enfase tao persistente: a) no eterno a0 Aisloge com o ensa comum das cuturas populares e das comunidades de excluidos:b) a euptra com 05 velhos rmados de pensar. de educate de investiga a ralidade fundados na logica uilitaria do mercado; <) no desiocamento do lugar social da busca de sentidos e de projetos de consricso da histria da poder totaltrio © {do mundo dos negécos para a socedace civil e. nela, para a esfera das comunidades © dos movimentos populares. d) naconstruao de modelos de educacao e de Pesquisa fundados no dilogo ena disoluceo da hirarqula de competentes desguals em nome da iteracaoigualtria entre co-criacores diferentes, CCoube & ciencia modema uma prolangada Iuia contra ‘manapélios extabelecidos de interpretacao, da familia tradicional ao estado autortrio, do partido Gnico a teocradia religisa. No entanto, eis chegado © momento fem que a cidncia e a tecnologia se erigem como a Ideologia progresista de nosso tampa. Ao fazerem i, tas ocupam o higar de interesse do mercado e cada vee mais parecem sugerir que @ desmantelamenca. das ideologias utopias dos tempos passados (mas nao tanto) deixa lugar apenas a utopia possvel a ser instaurada em todo © mundo quando todo o planeta Terra estver colonizado pelo principio do mereada.” Um mercado -lobalizado, excludenteeorganicamente desgual aa qual dlevem se subordinar os estadas de todas as nacoes e em que devem subaltemamente desaguar ae comunidades detados ospavos {a lado de ser um insrumento de valor local, as cexperiencias de pesquisa patipante ou de partipacao da pesquisa em aividades de conhecimento de comunidades poptlares como um instrumenta de trabalho pedagogica sa também um esforco a mais em um proceso de emancipacio muito importante fortalecimento,em dire a autonomiae a conslidacao de redes teas socials de contronto solidi frente 20 oder de colonizacao do mundo do mercado. de a ESE ‘plas comunidades inerpretatvas. Bem nome dels ‘que as pesquisas descrtas © debatidas aqui tem uma ‘aio de ser Em name do esfoco para cir e maltplicar grupos humanos dedicados a aprender a pensar por Conta prépria, ea transformar em agBes de uma lenta, dif, mas desesperadamente inevitivel emancipacio Comunitvia © que tem sido até aqui o predominio da ‘hegemoniamandtana do mercado, Campinas, outono de 2007, o ano mio de ani aarp paras Hake ee Referancias BibliogrAticas: BRANDAO. Carlos Rodrigues e FALS BORDA, Orlando Investigacion Partiipativa, Cotulla, Ricardo (or), Montevideo: Instituto Del HombreEdiciones de la Banda Oriental, 1985, DAMEROSIO, Ubirstan, Transdiceiplinaridade, Sto Paulo: Edtara Palas tena, 1997, DIOCESE DE GOIAS. Condigées de vida e situagso do ove de Gols. Colina: Diocere da CoisgUCG, sd, (ita cademosde pesquisa) FREIRE, Paulo. Crando metodos de pesquisa altemativa, Inc BRANDAO. Carlos Rodrigues (rg. Pesquisa participante. Sao Paulo: Erasilense,1981 CGROF. Stanislav. © Jogo césmico ~ exploracoes das fronteias da conseiénela.Sio Paulo: Eitora Athenew 1999. MORAES, Maria Candida, © paradigma educacional ‘emergente. Campinas: Papirus 2000 POPPER, Kart Rudolf, Conhecimento Objetive, Sto Paulo: tatiayEDUSE. 1975, SSRNITOS, Boaventura de Souza, Pela mio de Alice - 0 Social e 0 politico na pés-modemidade, Sao Paulo A critica da razdo indolente ~ contra 0 Gesperdicio da experiéncia. v.1 Sao Paulo: Conez FEditora, 2001 [Um discurso sobre a eigncia, 12% ed, Port “irantamento, 2001 WALSH, Roger e VAUGHAN, Frances (org). Além do Ego = dimensoes transpessoals em pslealogia. Sao Palo: CultrisyPensamenca, 1997, Caminhos além do Ego - uma visio twanspossoal. S30 Paulo: CulubyPensamento, 1999. Paulo Freire (1921-1997): fl pedagogia do oprimido em perspectiva Pedro Claudio Cunca Bocayuvat™ 7 os date Coons Cr do Pc de Acompasineni de PRONINC Ha dee anos ats perdemos o grande educador Paulo Freire que, ao Tongo de sua vida, desenvolve um amplo leque de reflexdes © atividades engajadss para twansformar 0 contexto educacional classista bancariado do capitalismo tardio. O impubo da ampliacio da democraciaexteve articulado em sua pris poltico-educatwa, combinando o engalamento a0 lado das clases populares com a reflexao sobre a fungio da Escola e 0 papel da educacio na transformacao social Desta forma, tivemos um desenvolvimento teérica € pritico na perioda da democracia populista com “a educagio como pratica de lberdade”. que artculou as dinamcas do saber popular ea palava geradora na lita pela alfabetizacao no impulso das reformas estrturas © ‘daamplagioda dre de voto, No periodo da ditadura militar, com 0 retocesso autortri e ciante das novas formas de dependencia © intemacionalizaao do capital, Paulo Freire ampliou a sua Visa0 erica recabrindo a totlidade socal, definiu uma concepcao pedagégica com 0 pono de vista dos sujltos socais que emergem das lasses populares. A"pedazogia ‘do primo” seafirma coma uma cancepsie de mundo, orientate politica para fazer frente ao quadro espoliaiva fe classsta das formas de dominacao’. 0 resultado Imprevsto do exlia forcado peo golpe militar fo! 0 de tuma recep e difusdo do trabalho do grande educador (0 que contibuiu para universaizar a sua pespectva e 0 seu acolhimento na America Latina, na Asia era Aa. A difusao do seu pensamento e do impacto de sua atuacao dire em projetos e poltias fol signifiatva para a formagio de uma nova intelectualidade coletiva ‘comprometida, orginica em relacdo as novas Was dos stores classes oprimidas nasmais diferentes socedades, inclusivenasdo capitalsma avancado. Aforcainovadora do enfogue de Faulo Freire pela forcade seu humanismo radical se fer sentir, até mesmo, nos contextas do socialism burocratica de Estado, Por iso falar de emancipacio © libertacio. nacional (de escolonizagaoe de democratizagio). na perspectva da feducacao vottada para as classes populares, se tomava, sinénimo de um conjunt de praticas que tinnam a marca, oseu pensamento." Na constructo de uma visio de mundo, orientadora de praticaspolitcas voltades para a educacdo.emancipadora necesiia para a transformacao social. Paulo Freire antecipa e, posteriormente, daloga numa chave propria, com as vias dimensdes da subjetvidade e da cultura Sua concepcio politico educativa, centrada na Perspectiva das classes populares © nos diferentes contertas de constucao das sociedades naclonals, fol fartalecia pelo dislogo derivado da recepcaae impacto se grandes pensadares contemporaneos. como Antonio, Gramsci’ e Mikhail Bakhtin’, nos temas da lingua, da cultura, da escola eda construe da hegemania, ‘A pedagogia da autonomiaarticula.a dimensio daiogca comunicativa na pratca educativa que orienta e define 2 ‘Sp de sera psn REI Paulo eagega do. pei 15 fae ers 197088 sin om ox ruransino. No bebo es modes dea a Frelguria se nove humana it FANOM Fat Os condenads tater Ro de Sein Edtoe Cnn Basra, 1968 9205 * a adeno do ot unt spe ined nasa roe ‘bao lec ewabalo sal no apenas a ela maser (Roce io: Cin eva 2000p “a au de conc, de er de cabaret frm dt Greco soe BARAT. Nhat Mapes eos da Tngvagrm of 12 So Fu Edtora Hate 2006 p18 ‘uma abordagem radial na implicagaa recipraca, pela ‘gualdade na dferenca como fundamento da rovarelacao ‘educador feducando. Nos termos das Teses de Feuerbach, de Kary, Paulo Freie contribul para o avanco da reflex flosfica nos termos da “teoria da alienaglo" como reforo da perspectivada“flosofla da prix”, como dialética aberta pelos sueitos da educacio. Os sujeitos Historiamente. siuadosenvolldos na dialtica do concrete, podem doravante aspirar a superacao das ddesigualdades afmando seu dieito a0 saber © a parlcipacto no poder. Paulo Freie aposta na via da feducacio socializadora da experiéncia coletiva © da competéncia critica de todos todas, de cada um e de ada_uma, de forma a romper com as ideologias conservadorss, © com ss abordagens dogmaticas © fetichisas da cukura edasciéncias oii, nsttudas pelo Eade burocratiradce pelo Capital Naarticulacaoda critica asstuacdes de dominacao dentro fora da Escola, na articularao dos saberes eda potencia transformadora_ na. conscienciaemancipatoria_ pela consttugéo de sueitos do conhecimento, Paulo Freire tmantém viva e supera.dialeticamente a heranca ‘luminsta, © seu pensamento ¢formulado na dieca0 da critica a0 procesio de aprendizagem e construcao do Individualism, 0 ethos dosujetoracional competitive se apoia nas leiuras do tipo constutivsta e ou postvsa Pot iso, Paulo Freire assume 0 pensar sobre a complesidade ¢ os demas do processo educativo como ‘questao politica na qual as dficuldades e desafios 20 estruturas de poder eproducioideolgica que bloqueiam a construcio de novos posses. Paulo Freire vai muito além do populismo, esi bem dstante do estruturalism, {8 que, coma um ut6pico realist. ua reflesdo se aticula feferenciada a0: confltas que bloquelam © potencal {nerente aos sjetos humanos,destacanda a necessidade dde ampllagao do dominio etco como experincia de construgao de autonomia, de descoberta do pacer de criacdo que advem do instigamento ao desejo de saber ‘come potenca imanente aossueitos. No conjunta de sua obra, 0 pensador educador contribuiu para a consruca0 de um conceito de projeto politico, cuja cimensio educativa a chave na disputa da hhegemonis, direct intelectual e moral da vida sis & Vista como mediada pela cenvalidade da cultura e orientads pelo sistema de valores concretizdas no terreno etico,cancretzada em instituicoes, pratcas.ideias fe saberes que no plano da totalidade social remete a0 [papel dos movimentosautonomos processor educativos, dentro € fora da instiucionalidade. no guarda-chuva ‘conceitual da chamada “educar0 popular” ‘A educagao como processo apoiado na luta dos sujitos {tem papel chave na capacidade de apropriacio da letra critica. condicao.indspensdvel para. desnaturaizar 0 terme) Poder dos dlversos monopolias econtmicos. politicos « ultras, com destaque para a superacso das suas formas © ‘mados de fabricagae do individualism. de egoismo, do alismo e da guena de todos contra todos, que anulam a fsfera do crexcimento da autonomia individual © do econhecimento e valorlzagao dos seus lacos de pertencimento social 1 demacraizacao brasileira e aculturacvco-democratica no Brasil, desde a transicao democritica, devem muito 20 tsforcade Paulo Freire edo enorme coletiva de ecucadorase feducadores que, como intelecake organices,fortalecem as aires para repensarmos os contextos de bloquelo da Uuniversalizagao do acesso a potica. 2 furdos ea espacos puiblicos por parte das grandes maiorias. A transformacao fas praticas nas escola ea rica 20 metodo e aos padraes curiculares descontextualizados e descanectados dos Conflitos reais ® dos desafios do conhecimento sia pontos fortes de suainfluencia rea, come homem publica gestor ta educagio na maior cidade brasileira. Na caminbos de transformacaa da nossa fermaciobistorca, na pasaagem do rural 30 urbane. nas aspracdes da descolonzacio da politica, da culturae dos saberes Paulo Freie conseguesituar as aspiagoes da resistencia e do impulso que anima nossa Ta pela democratizacao radial Na escola, nos sndicats. nos movimentos sociais,ajudou a formar quacos eliderancas capazes de manter viva a visio a educacdo crita como abordagem metodologica, que serve de referencia para uma aplicacao crativa e uma apropriaco plural pelosatores socials em varios recortes do ‘mundo da vida" e dos aparelhossstémicosinstitucionas. 0 ‘mavimento pela partcipacao popular na Constiticio e a lua pelo dreto a cidade deve multo 20 seu esforco de mabitizacdo das aspiragbes coletvas. Por isso. quando estamos na véspera de fazer o balanco das nosas frustracoes fe avangos na lita pelos direitos socnis inseritos na Carta ‘Magna (no artigo 6). apés quase vine anos da promulgacso da Consttuicao (1988-2008), a partir de Paulo Freire demos, com a elaboracio critica, pensar nos passos politicos e educativos que nos separam de um avanco substantivo para aefetivacta de dieitos, Hoje. precsamos pensar a crise da politica atual como um bsticulo para a mudanca, enquanto efsito de uma logica cultural de esvasiamento e deseducacio politica. & contra- reformano plana dos valores nealinerassetraduzra politica coma mercado, A reestuturaio captalsta marcada pela logica financeirzadora (da moeda autonomizada) € reforcada pelo espeticulo imagético (cultura como mercadoria), impondo a imagem ideologia da repetica0 sem diferenca e sem teansformagia, do presente naturalizad na isbilidade da profusio de sgnos objeto: {que enfraquecem opptencial emancipate. A educaczo critica como pedagogia da emancipacao dos ‘primicos & uma das forcas propulsoras da construcao de tuma nova Paldéla para o século XX1, A foxmacao politica & cultural praa participacao nos process de decsioda pais {um aspecto decisivo da luta pela educacio na sua relacio com um projet de efecvacao de direitos, em que a propria feducardo deve ser percebida como um dieito dos sujitos rnadinamica de constucao da cdaani, 1 cesgate do potencaltransformador dos dieitosinscritos ra constituico exige que 0 poder constitute da cidacania permaneca vivo. de modo a garantr a dimensio publica e democritica que deve orietar a acto do Estado © Condicionar as opgbes dos tréspoderes. A formacdo poli cultural, orientada pelo enfoque mobilzador dos direitos, epende da idencacao © superacao dos desafios dos contextostestitivas, Uma tearia criti do capitalise tardio. passa pela anliscritica e sua difusao como formasde saber, a partir das experiencas de resistencia face as modifcacdes {qualitativas do capitalism e da socedade global, com seus processosculturasintensvos e mercantiizados (na forma da

You might also like