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Capítulo 8 - A “Ressurreição” Física do Cosmo

“Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus.


Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a
sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da
corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação
geme e está juntamente com dores de parto até agora”.

“E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos
em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque, em
esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém
vê, como o esperará?” (Romanos 8.19-24).

Uma das experiências mais divertidas que já tive foi memorizar o capítulo vinte e um
do livro de Apocalipse, particularmente este parágrafo grandioso:

E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra
passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus
descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande
voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará,
e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus. E Deus limpará de
seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque
já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço
novas todas as coisas. E disse-me: Escreve, porque estas palavras são verdadeiras e fiéis (Ap
21.1-5).

O que o profeta de Patmos quer dizer quando fala: “Já o primeiro céu e a primeira
terra passaram”? Ele quer dizer que este berço da humanidade será realmente obliterado? Ou
este universo, inclusive o planeta Terra, será nossa casa ao longo da eternidade?
Tragicamente, muitos cristãos passam pouco tempo precioso pensando sobre sua casa eterna.
Eles se esforçam em se esquecer disso construindo casas e refúgios temporários.

Neste exato momento, a notícia da morte do campeão do torneio US Open, Payne


Stewart, está sendo divulgada pelo mundo afora por rádio, televisão e Internet. Hoje cedo,
Stewart saiu da casa de seus sonhos perto da Disneyworld. Desde agora, neste preciso
momento, sua casa terrestre não é senão uma memória distante, e a eternidade é uma realidade
dinâmica. O corpo físico de Stewart caiu do céu em um acidente aéreo, mas em breve este
mesmo corpo será ressuscitado materialmente, e ele estará de pé uma vez mais no mesmo
chão no qual caiu.

Esta, no fim das contas, é a esperança do cristão: não só que Deus ressuscitará nossa
carcaça física, mas que resgatará o cosmo físico. Nas palavras do Dr. John Piper, a esperança
histórica da fé cristã não é “a mera imortalidade da alma, mas a ressurreição do corpo e a
renovação de toda a criação”. 1 A redenção de Deus é tanto a ressurreição do corpo físico
quanto à renovação deste universo, inclusive do planeta Terra. A verdade grandiosa e gloriosa
que uma vez mais andaremos neste planeta físico está abundantemente clara na Bíblia. A
expressão de João “um novo céu e uma nova terra” não tem o sentido de comunicar um lugar
que seja totalmente diferente desta terra atual, mas é este universo renovado. Diz Anthony
Hoekema: “Em 2 Pedro 3.13 e em Apocalipse 21.1, a palavra grega usada para designar a
novidade do novo cosmo não é neos, mas kainos. A palavra neos significa novo no tempo ou
na origem, ao passo que a palavra kainos significa novo em natureza ou em qualidade [ou
seja. de natureza nova, ou de qualidade nova]. A expressão ουρανον καινον και γην καινην
ouranon kainon kai gen kainen (‘um novo céu e uma nova terra’, Ap 21.1) significa, então,
não o aparecimento de um cosmo totalmente diferente do atual, mas a criação de um universo
que, embora seja gloriosamente renovado, permanece em continuidade com o atual”.2

Como há continuidade entre o nosso corpo atual e o nosso corpo ressuscitado, também
haverá continuidade entre o universo físico atual e aquele onde habitaremos pela eternidade.

Continuidade

O princípio da continuidade começa com a ressurreição das pessoas e progride para a


renovação deste planeta. Cristo não ressuscitará um grupo completamente diferente de seres
humanos; Ele ressuscitará as mesmas pessoas que povoaram este planeta. De certa forma,
Deus não renovará outro cosmo; Ele resgatará o mesmo mundo que certa vez ele chamou
“muito bom’ (Gn 1.31). John Piper destaca que quando Pedro diz que os atuais céus e terra
passarão (vide 2 Pe 3.10), ele está comunicando que o cosmo será transformado totalmente,
ao invés de ser totalmente destruído:

Não tem de significar que eles deixam de existir, mas pode significar que haverá tamanha
mudança neles que sua condição atual passará. Poderíamos dizer: “A lagarta passa, e a
borboleta emerge”. Há uma verdadeira passagem e há uma verdadeira continuidade, uma
verdadeira conexão. E quando Pedro diz que este céu e terra serão “desfeitos” não tem de
significar que serão completamente “exterminados”. Podemos dizer: “A inundação desfez
muitas fazendas”. Mas não queremos dizer que elas desapareceram da existência.
Podemos dizer que no dia 18 de maio de 1980, os arredores imediatos do monte Santa
Helena em Washington foram desfeitos por uma explosão 500 vezes mais poderosa que a
bomba atômica de Hiroshima. Mas qualquer um que for lá agora e vir o novo crescimento
saberá que “desfazer” não significa “exterminar”.
E assim, o que Pedro quis dizer é que ao término desta era haverá eventos cataclísmicos
levando este mundo a um fim na forma em que o conhecemos — não o exterminando,
mas eliminado tudo que é mau, limpando-o pelo fogo e adequando-o para uma era de
glória, justiça e paz que nunca terminará. 3

Piper também argumenta que é precisamente isso o que a Bíblia diz. Em Romanos
8.22-23, Paulo conecta especificamente a redenção de nosso corpo físico com a restauração da
criação. Diz Piper: “O que acontece com nosso corpo e o que acontece com a criação vão
juntos. E o que acontece com nosso corpo não é aniquilação, mas redenção. [...] Nosso corpo
será resgatado, restaurado, renovado e não jogado fora. E assim é com os céus e a terra”. 4

Conquista

Além disso, podemos concluir acertadamente que o cosmo será renovado, não
aniquilado, com base na conquista de Cristo sobre Satanás na cruz. Como Cristo libertou seus
filhos da morte e doença, assim também Ele libertará seu cosmo da destruição e decadência.
Como diz Paulo em Romanos 8: “A criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas
por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da
servidão da corrupção” (Rm 8.20-21). Esta libertação, que começa com a conquista da cruz,
será completada na segunda vinda de Cristo. Como a conquista de Cristo assegura nossa
ressurreição física, assim também sua vitória assegura a restauração deste cosmo:

De fato, nas Escrituras a ressurreição do corpo corno corpo glorificado de carne está
inseparavelmente ligada com a renovação e glorificação do cosmo.
Em contraste com os que declarariam que esta verdade bíblica é um mito, em 1931, E.
Thurneysen expressou sua fé nisto quando escreveu: “O mundo no qual entraremos na
parousia de Jesus Cristo não é [...] outro mundo; é este mundo, este céu, esta terra;
porém, passado e renovado. São estas florestas, estes campos, estas cidades, estas ruas.
estas pessoas que serão a cena da redenção. No momento são campos de batalha, cheios
de briga e tristeza da consumação ainda não realizada; depois serão campos de vitória,
campos de colheita onde pela semente que foi plantada com lágrimas os feixes
perpétuos serão colhidos e levados para casa”. 5

Anthony Hoekema amplia mais a conquista de Cristo, mostrando que se Deus


aniquilasse o cosmo atual, Satanás teria ganhado vitória decisiva. Ele teria tido tanto sucesso
em corromper o cosmo que Deus teria tido que anulá-lo completamente. “Mas Satanás não
ganhou semelhante vitória. Pelo contrário, Satanás foi derrotado decisivamente. Deus revelará
as plenas dimensões dessa derrota quando renovar esta mesma terra na qual Satanás enganou
o gênero humano e finalmente expelir dele todos os resultados das más maquinações de
Satanás”. 6

Parto

Uma garantia final de que Deus não vai descartar este universo e recomeçar um
novíssimo é comunicada pela metáfora do parto. Como a Bíblia diz: “Sabemos que toda a
criação geme e está juntamente com dores de parto até agora” (Rm 8.22; grifo meu). Paulo
usa a metáfora do parto para descrever o desejo que a criação têm que a conquista de Cristo
na cruz seja consumada. Diz Piper: “Algo está prestes a ser parido da criação, e não em lugar
da criação. A criação não vai ser aniquilada e recriada sem continuidade. A terra vai dar à luz
como uma mãe em trabalho de parto (através da sublevação de fogo, terremoto, vulcões,
pestilência e fome) a uma nova terra”. 7 Da perspectiva de sua cadeira de rodas, Joni
Eareckson Tada pinta um retrato mais inspirador do que estas dores de parto
conseqüentemente darão. Aqui está apenas uma amostra do que ela comunica tão
eloqüentemente em Heaven... Your Real Home (Céu... O Seu Verdadeiro Lar):

Quando vou de carro para as montanhas litorâneas, perto de onde moro e me maravilho
com as rochas e cânions salientes e entalhados, fico ciente de que estou no meio de região
propensa a terremoto (o terremoto de Northridge em 1994 foi como uma dessas “dores de
parto”). A lama desliza e incêndios ocorrem o tempo todo em torno daqui. Estas colinas
são inquietas. Também estão cicatrizadas pelos irracionais palácios das estrelas de
cinema de Malibu que cobrem de lixo a paisagem com antenas parabólicas. Meu coração
se parte por estas montanhas e árvores (e estrelas de cinema!) para que sejam libertas de
sua escravidão.
Esta é a terra que Cristo levará à sua liberdade gloriosa. Ouve o suspiro no vento? Sente o
silêncio pesado nas montanhas? Percebe o anseio impaciente no mar? Vê nos olhos
aflitos de um animal? Algo está vindo... algo melhor. [...] Fico intrigada em pensar que
depois que Cristo voltar para nós, podemos habitar este mesmo planeta novamente. Os
caminhos em que ando com minha cadeira de rodas hoje bem podem ser os mesmos nos
quais meus pés glorificados caminharão quando Cristo reinar, [...] O céu não é um lugar
imaginário de formas e nuvens franzinas e fantasmagóricas. Não é um lugar onde você
cutuca com o dedo as pessoas e descobre que elas são seres espirituais bizarros, os quais
não podem ser abraçados ou segurados de verdade. De jeito nenhum! [...] Talvez anos
atrás tivesse como certo que o céu era uma casa nevoenta e nebulosa para anjos e – céus!
– humanos, mas hoje não. Fico empolgada em pensar no quanto o céu é sólido como
pedra, e no quanto é um lar. 8
Para ter mais um vislumbre de como será o universo renascido, Joni nos regala com
uma visão do céu conforme visto pelos olhos de C. S. Lewis, um dos escritores mais
inteligentes, imaginativos e inspiradores deste ou de qualquer outro século. Em The Great
Divorce (O Grande Divórcio), Lewis leva os leitores a uma viagem fantasiosa na qual os não-
remidos dão uma olhadela a um cosmo liberto de sua escravidão à corrupção:

Era a luz, a grama, as árvores que eram diferentes; feitas de alguma substância diferente,
tanto mais sólidas que as coisas em nosso país. [...] Vi pessoas vindo nos encontrar.
Porque eram tão brilhantes eu as vi enquanto ainda estavam muito distantes. [...] A terra
tremia a cada passo quando seus pés fortes afundavam na relva molhada. Uma neblina
minúscula e um doce cheiro subiam de onde elas tinham esmagado a grama e espalhado o
orvalho, [...] as vestes não disfarçavam nelas a grandeza volumosa de músculos e a
suavidade luminosa da carne, [...] ninguém naquele grupo me ocorreu ser de qualquer
idade em particular. A gente pega num olhar, mesmo em nosso país, o que é perene –
pensamento profundo na face de uma criança, e infância divertida no rosto de um homem
muito velho. Aqui era tudo assim. 9

Não sei quanto a você, mas quanto mais penso no novo céu e na nova terra,10 mais
empolgado fico! É incrível pensar que em breve não só experimentaremos a ressurreição de
nosso corpo, mas a renovação do cosmo e o retorno do Criador. Teremos literalmente o céu
na terra. O Éden perdido se tornará o Éden restaurado e muito mais! Não só teremos a
comunhão com Deus como Adão tinha, mas veremos nosso Salvador face a face. O Deus
encarnado viverá em nosso meio. E nunca chegaremos ao fim de explorar o EU SOU infinito
e inesgotável ou a grandeza e a glória de sua criação incomparável.

Os que morrem em Cristo experimentarão o novo céu e a nova terra como lugar físico
na criação e como a presença pessoal do Criador: “E ouvi uma grande voz do céu, que dizia:
Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu
povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda
lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras
coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as
coisas. E disse-me: Escreve, porque estas palavras são verdadeiras e fiéis” (Ap 21.3-5).

Ressurreição ― Uma poderosa defesa do principal acontecimento do Cristianismo


Hank Kanegraaff
CPAD

Referências: Capítulo 8. A “Ressurreição” Física do Cosmo

1. John Piper, Future Grace (Sisters, Oregon: Multnomah Publishers, 1995), p. 374.
2. Anthony A. Hoekema, The Bible and the Future (Grand Rapids: William B. Eerdmans
Publishing Company, 1979), p. 280. Cf. G. K. Beale, que escreve: “Levando-se em conta a
natureza qualitativa do contraste entre ‘nova’ criação e ‘primeira’ criação, é provável que o
significado do retrato figurativo deva conotar um cosmo radicalmente transformado,
envolvendo não somente a renovação ética, mas também a transformação da estrutura
cósmica fundamental (incluindo os elementos físicos). ‘Não haverá mais noite’ (Apocalipse
22.5; cf. Apocalipse 21.25), que indica outra diferença especialmente em contraste com
Gênesis 8.22; ‘Enquanto a terra durar, [...] dia e noite não cessarão’.
“Apesar das descontinuidades, o novo cosmo será uma contraparte identificável com o antigo
cosmo e uma renovação dele, da mesma maneira que o corpo será ressuscitado sem perder sua
identidade anterior (b. Sinédrio 92a-h e Midr.; Sl 104.24 vêem a ressurreição futura do corpo
como parte da ‘renovação’ maior da terra). Que uma renovação ou renovamento está em
mente é evidente em Apocalipse 21.5: ‘Eis que faço novas todas as coisas’ (assim como nos
escritos judaicos...). As alusões a Isaías [...] em Apocalipse 21.1, 4, 5 entendem que Isaías
provavelmente está profetizando a transformação da antiga criação em lugar de uma criação
ex nihilo inteiramente nova”. (The Book of Revelation [Grand Rapids: William B. Eerdmans
Publishing Company, 1999], p. 1.040.)
5. Piper, Future Grace, p. 376 (grifos no original).
4. Ibid., p. 378.
5 J. A. Schep, The Nature of the Resurrection Body (Grand Rapids: William B. Eerdmans
Publishing Company, 1964). pp. 218, 219. Schep escreve: O mundo por vir é um novo
mundo, tão completamente diferente do atual que qualquer descrição ou concepção adequada
é totalmente impossível. É um mundo tão completamente diferente do nosso que a Bíblia
pode dizer que Deus criará novos céus e nova terra. É necessário o poder criativo do Deus
todo-poderoso para ocasionar esta mudança.
“Contudo, é este mundo que será redimido. Romanos 8.18ss mostra que há a mais estreita
conexão entre a redenção da criação e a de nossos corpos. Os dois ocorrerão simultaneamente
(Romanos 8.21, 23). A redenção de nosso corpo [...] não significa a aniquilação de nosso
corpo atual e sua substituição por um corpo recentemente criado, mas sua renovação e
glorificação. Do mesmo modo, esta criação atual não seria verdadeiramente libertada da
servidão da corrupção’ (Romanos 8.21) se fosse destruída e substituída por algo totalmente
diferente, sem qualquer conexão material com este mundo atual. Aqui também podemos
esperar [...] renovação e glorificação.
“É nesta terra, transformada pelo poder todo-poderoso de Deus em um lugar de habitação
satisfatório para os crentes em seus corpos glorificados, que ‘o mesmo Deus estará com eles e
será o seu Deus’ (Apocalipse 21.3ss).
“É esta terra que os mansos herdarão, de acordo com a promessa de Jesus (Mateus 5.5)”.
(Ibid., p. 218 [grifos no original].)
6. Hoekema. The Bible and the Future. p. 281. Hoekema acrescenta: A opinião de que a nova
terra será a atual terra renovada é confirmada claramente por um famoso credo da Reforma, a
Confissão Belga. Art. 37. §1; [Cristo voltará] ‘queimando este velho mundo com fogo e
chamas para limpá-lo”.
7. Piper, Future Grace, pp. 377, 378.
8. Eareckson Tada, Heaven... Your Real Home, pp. 68-71.
9. Lewis, The Great Divorce, pp. 28. 30; citado em Eareckson Tada, Heaven... Your Real
Home, p. 71.
10. O Dr. Anthony Hoekema argumenta que a expressão “céu e terra” que ocorre em Isaías
65.17 e em Apocalipse 21.1, “deve ser entendida como modo bíblico de designar todo o
universo: ‘O céu e a terra juntos constituem o cosmo” (The Bible and the Future, P. 279).

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