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Rio de Janeiro, 18 de Abril de 2010 +> busca avançada

Editorial
Artigos Colunas
E-Seguros
Notebook As enchentes no Rio de Janeiro: opiniões Leia também nesta edição:
Gaia
Colunas A semana de 5 a 13 de abril foi muito difícil, triste e danosa para a cidade e o estado do Rio de COP–15: encontro foi
Janeiro: chuvas torrenciais, enchentes, deslizamentos, engarrafamentos, caos, desespero, lamentável, mas Brasil
Entrevista perdas materiais, mortes... se destaca. EUA
Seções decepcionam e Tuvalu
Comunidade Cadernos Em meio a tentativas de explicar (ou de se desculpar) o que provocou ou motivou tal situação resiste!
(ocupação irregular em encostas, má conservação das vias e sistemas de escoamento públicos, Antonio Carlos Teixeira
Fale com o Editor condições topográficas das cidades, frente fria, massa de ar úmida vinda da Amazônia, descaso,
etc.), o fato é que ainda preferimos remediar em vez de prevenir. Direito sub-rogatório
das seguradoras
Neste sentido, pedi a alguns profissionais associados ao setor para que opinassem sobre o caos, (ressarcimento) contra
suas causas e consequências vividos pelo estado do Rio de Janeiro e algumas de suas principais concessionárias...
cidades nos últimos dias. Ricardo Bechara Santos

Eis as declarações: Shoppings e


supermercados – alguns
aspectos para seguro de
responsabilidade civil
Osvaldo Haruo Nakiri
“Cada vez mais o inquilino-homem está pagando pelo mau uso da casa chamada Terra. Se não
tomar cuidado, vai virar despejo puro e simples. Aliás, em várias partes do mundo esse despejo
vem sendo realizado sistematicamente. O homem é que ainda não entendeu o processo.

“No Rio de Janeiro, tudo contribuiu para que, quando as condições ideais se apresentassem, um Edições Anteriores
desastre de proporções catastróficas acontecesse. Os sinais evidentes vinham se manifestando
de forma individual em ocorrências menos graves no decorrer do tempo. Como receita de bolo,
ao juntar tudo, não poderia ter acontecido outra coisa.

“É tarde? É! Mas sempre se pode tomar atitudes para o futuro. Contudo, a lição deve ter sido
aprendida. Afinal de contas, não é possível que no exterior não exista local com características
Cadastre-se para semelhantes as do Rio de Janeiro e cujos governantes não tenham implantado planos de
receber nossa newsletter. contingência e gerenciamento de risco. Se não dá para evitar, o negócio é minimizar, como já
ensina há muitos séculos a instituição do seguro.

“Se ao brilhar o sol acharmos que o pior já foi, é fazer como a avestruz. Enfiar a cabeça na terra
e acreditar que se está a salvo – até levar um pontapé no traseiro para acordar para a
realidade.”

Osvaldo Haruo Nakiri, Analista de Risco

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"Para fazer choque de ordem, investe-se o que for preciso. Para fazer as obras faraônicas do
PAC, também. Para aquela desgraça, que é a tal Cidade da Música, dadas todas as prioridades
de uma cidade com grande número de pessoas muito humildes, também, e poderíamos
mencionar outras centenas de exemplos de distorções como essas.

“Agora, para entrar numa favela construída irregularmente e desapropriar os barracos, ninguém
faz nada, porque os votos estão em primeiro e único lugar.

“Depois que vem a chuva, que realmente foi incrível, muito forte, resolvem dizer que toda a
responsabilidade é da natureza e dos próprios favelados, porque resolveram morar em áreas de
risco.

“Na minha opinião, o estado ou município, conforme seja, pecam muito mesmo, por omissão.
Agora estão todos trabalhando, correndo contra o tempo, mas o mal já foi causado...

“Por que não prevenir, na medida em que todos sabemos que diversas áreas da cidade alagam
mesmo? Por que não desapropriar todos as moradias em áreas de risco? Por que não ser mais
eficiente na gestão do que na captura dos votos?

“Nas construções regulares, basta subir um telhado diferente para vir um auto de infração da
Prefeitura. Nas construções irregulares vale tudo, tudo mesmo, em nome do voto...

“É preciso examinar a questão de forma realista. Dizer que a natureza é a culpada é cômodo e
covarde."

Ilan Goldberg, Jurista

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“Assistimos em São Paulo, no final de 2009 e início de 2010, chuvas sem precedentes na
história. Com elas, trânsito, enchentes, desabamentos, árvores caídas, pessoas desabrigadas e
outras mortas. Algum ensinamento anterior evitou que a desgraça fosse maior, mas alertou que
ainda é necessário fazer mais para que a população não sofra tanto. Era de se esperar que os
governantes do Rio de Janeiro, se ainda não crédulos das forças da natureza, apesar de todas as
ocorrências que ano após ano afetam os moradores da Cidade Maravilhosa, cuidassem para
evitar esses transtornos.

“Não, isso não é e nunca foi prioridade. Prioridade é mostrar o Rio de Janeiro para o mundo,
com Copa das Confederações, Copa do Mundo, Olimpíadas e outros megaeventos, como se isso
fosse necessário, já que este paulista que aqui escreve é um admirador daquela cidade, de

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beleza rara e povo fantástico. Penso como For
poderia ficar o Rio deOnly.
Evaluation Janeiro se os 32 bilhões de
reais fossem utilizados para prevenir os problemas causados pelas ocorrências da natureza, dar
um fim à violência, solucionar os problemas da população dos morros e fazer desses morros
mais um ponto turístico, onde as pessoas se sentissem seguras de visitar.

“Será que isso não geraria tanto ou mais emprego do que será gerado para um evento efêmero
que terminará em 2016 e do qual, em 2017, ninguém mais se lembrará? Quantas pessoas se
recordam de onde foram disputados os últimos Jogos Olímpicos? Será que as ocorrências dos
últimos dias não deixaram o mundo incrédulo com a desumanidade desses governantes
Olímpicos?

“Não me venham com desculpas de que foram as chuvas mais fortes dos últimos mil anos,
todos os anos vemos a mesma coisa, com maior ou menor consequência. Talvez esteja na hora
de termos para uma Cidade Maravilhosa governantes que realmente lutem para o bem de
todos.”

Marco Antonio G. Olivato, Analista do IRB Brasil Resseguros

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“Os problemas que afligem o Estado do Rio de Janeiro nesses dias – e que podem voltar se as
chuvas forem tão intensas quanto e chegarem com o mar em ressaca – estão ocorrendo devido
a uma série de fatores. Ou seja, todos têm nome e sobrenome.

“Em primeiríssimo lugar vêm as autoridades constituídas, pois além de não cumprirem com a
legislação existente, não fiscalizam corretamente, ou seja, deixam de cumprir a sua obrigação
maior: as responsabilidades in vigilando e in diligendum. Ressalte-se que há uma excelente
legislação no limbo. O Estatuto da Cidade, como se tornou conhecida a Lei Federal nº 10.257,
de 10 de julho de 2001, regulamentando os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de
outubro de 1988, representa um avanço institucional para o tratamento da questão urbana no
Brasil, historicamente carente de diretrizes e princípios definidos de forma articulada e
integrada a nortear o desenvolvimento urbano.

"Em segundo lugar vem o governo, que por absoluta falta de programas de conscientização
desorienta a população com relação as questões mais elementares relativas à preservação do
Meio Ambiente.

“Em terceiro lugar, o governo, que autoriza a construção de imóveis que não contribuem para a
melhoria das condições ambientais. Autorizam-se prédios em lugar de casas de vila;
constroem-se teleféricos em morros onde não poderiam existir casas, e por aí segue. Muitas
vezes as licenças são casuísticas.

“Em último lugar, a população, que apesar de buscar espaços para o assentamento de suas
famílias o faz de modo irresponsável, sem qualquer percepção do risco. Aliás, diga-se de
passagem, muitos têm essa percepção, mas alegam que era o único lugar disponível.

“A falta de um adequado planejamento urbano, coerente e apolítico, permite que


continuamente assistamos a sinistros dessa magnitude. Participei recentemente de um
seminário sobre Meio Ambiente promovido pelo governo da Suécia. O palestrante disse a todos
que sua capital estabelece o planejamento urbano com uma antecedência de 50 anos. As
cidades ao redor estabelecem seus planejamentos com antecedência de 30 anos. Na hora das
perguntas, questionei-o sobre como conseguiam essa proeza. A resposta foi simples: os
governantes representam a vontade do povo. Se o povo quer, mudam-se os governantes. Os
governantes devem pensar e agir de acordo com a vontade do povo. E completou: 'Aqui
planejamos para o futuro, independentemente de partidos políticos'. Será que algum dia
teremos planejamentos dessa importância? Tudo indica que não, pois o chefe da nação e o
governador disseram a todos na televisão que os governantes eram culpados, da mesma forma
que o sofrido povo brasileiro. Será?

“Em minha dissertação de mestrado, em 2004, pude observar, avaliando populações carentes
sujeitas a riscos continuados, questões como:

- 66,35% dessas pessoas declaram que os órgãos públicos não estão preocupados com a
segurança delas;

- 95,26% informaram que nunca foram procuradas pelas Assistentes Sociais da Prefeitura;

- 70,62% declararam que é importante que a Prefeitura se preocupe com elas.

“A população, de modo geral, se sente órfã e gostaria que o governo se preocupasse com ela –
não da forma que vemos hoje, para angariar votos, com a construção de teleféricos, mas sim
oferecendo, a preço que seja possível pagar, moradias dignas. Contudo, não adianta a edificação
de moradias dignas se não há ônibus que possam levar as pessoas ao trabalho.”

Antonio Fernando Navarro, engenheiro, Mestre em Meio Ambiente, Doutorando em


Meio Ambiente - Universidade Federal Fluminense (UFF)

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“A situação que o carioca passou e culminou com a morte de mais de 200 pessoas demonstra
seriamente a necessidade de mudarmos conceitos, estruturas, pensamentos e de reagirmos
contra a inércia do poder público.

“No caso de Niterói sabiam claramente que ali era um lixão, e por que deixaram fazer até rua
asfaltada? Temos sérios problemas com a topografia de nossa cidade, que é cercada de morros,
e entre eles e o mar temos a cidade.

“Os projetos ambientais não são colocados em conjunto com as medidas que são tomadas
visando a acabar com essa situação. Tirar a população da área de risco e levar para onde?

“Por que não fazer um projeto com construção de casas populares em terrenos planos, com
infraestrutura? Daí seria possível realizar um reflorestamento dessas encostas. A Prefeitura
podia perfeitamente fazer um decreto obrigando os estabelecimentos comerciais de rua a
manterem suas calçadas limpas com o lixo recolhido, à espera da Comlurb.

“A população precisa ser educada para não jogar o lixo em qualquer lugar.

“A conscientização é fundamental nesse processo, caso contrário, teremos outras catástrofes.”

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Lucio Marques, Presidente do CVG/RJ

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“Quando criança, meus pais brincavam que a chuva era S. Pedro lavando sua casa. A água
abençoada tornava o verde mais verde, o inverno mais aconchegante, a agricultura mais farta e
o verão mais ameno, sem falar nos alegres banhos de chuva.

“O que digo para meu filho? Certamente que S. Pedro não se tornou um mau vizinho.

“As informações sobre riscos e perigos estão disponíveis e são conhecidas e ignoradas. A
polí¬tica pública se tornou projeto de poder e enriquecimento pessoal. A grande maioria não
lamenta perdas humanas, mas perdas de votos. Para muitos, as tragédias representam
oportunidades de levantamento de recursos e demagogia.

“A solução para transferência de pessoas para locais adequados e transporte decente e para
evitar novos episódios, como esse, é técnica e pode ser dada em três meses. A partir daí, a
implementação só depende de foco e vontade.

“Precisamos achar um jeito de inibir a ineficiência e tornar nossa república idealista.”

Ricardo Villaça, Diretor da AgeMcia - Inteligência Artificial e Pesquisa Operacional

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“O caos que assolou o Rio de Janeiro nesses últimos dias e que tem assolado várias cidades e
capitais do país, além de ser algo a se lamentar, é fruto de um somatório de atitudes, tais
como:

- negligência pública ao permitir a instalação de moradias em áreas de risco,

- comodismo por parte da população, independente de faixa de renda, ao se instalar com as


famílias nessas áreas;

- interesses políticos com fins meramente eleitoreiros concedendo lotes de terrenos em locais de
alto risco;

- ocupação e instalação de populações migratórias;

- interesses escusos,

- utilização de terrenos e locais sem o devido preparo para instalação de aterros e outros;

- falta de conscientização pública quanto à prevenção e mecanismos de prevenção, dentre


outros.

“É bem a história de que catástrofes, sinistros e coisas ruins só acontecem com o vizinho, nunca
conosco. Porém, fatos desse tipo vêm acontecendo ciclicamente, produzindo ruínas, mortes e
desespero. Isso é o que mais causa revolta.

“Todo mundo sabe disso, mas falta coragem para se implementar medidas de prevenção, tais
como:

- mapeamento e divulgação pública das áreas de risco, baseando-se em eventos passados;

- remoção de famílias dessas áreas mapeadas;

- implementação de uma cultura de prevenção em todos os sentidos, como por exemplo, a


remoção do lixo doméstico, a educação da limpeza pública, etc.

- cobrança das autoridades do exercício de sua investidura;

- investimento público em aparelhagem para detecção de eventos climáticos de risco;

- instalação de órgãos de "defesa civil" preventiva, quando chegarem as épocas mais evidentes
de catástrofes;

- mobilização pública de prevenção, etc., afinal, "prevenir é melhor do que remediar", e "quem
não escuta CUIDADO, escuta COITADO”;

“Pensemos todos nisso!”

Reinaldo S. Gonçalves, Professor da Escola Nacional de Seguros – Funenseg e


Consultor de Negócios da Tecnologia Única (TI para seguros)

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“A tragédia que assolou o Rio de Janeiro evidencia o descaso dos nossos governantes em
estabelecer políticas públicas preventivas.

“Os eventos decorrentes das forças da natureza são realmente inevitáveis, porém suas
consequências podem e devem ser minimizadas. É triste dizer, mas vivemos em uma sociedade
anestesiada pela inversão de valores, onde o necessário não convém e o que convém acaba
sendo desnecessário.

“Retirar as pessoas que vivem penduradas em morros, encostas e lixões é algo necessário, mas
causa desgaste político e antipatia perante os retirados. Por outro lado, viabilizar a distribuição
de água e luz para essas pessoas pode garantir preciosos votos na próxima eleição. Dessa
forma, as comunidades carentes encontram guarida e acabam fixando moradias em locais
impróprios, arriscados e vulneráveis.

“Já que a prevenção não é prioridade para o poder público, a sociedade civil deve se organizar e
buscar meios alternativos, como a criação de comitês comunitários para ‘fiscalizar’ o
cumprimento dos códigos de construção e ocupação.

“A prevenção é uma questão humanitária.”

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Sérgio Rangel, Consultor Sênior, Mirador Assessoria Atuarial

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Pelas declarações e opiniões dos profissionais, constata-se que já está mais do que na hora de a
nossa sociedade trocar a “remediação” pela “prevenção”.

E prevenção tem tudo a ver com o mercado de seguros.

Prevenir, em vez de remediar: o caminho pode ser por aí.

Antonio Carlos Teixeira


Jornalista, Editor da Revista Cadernos de Seguro
antonio@funenseg.org.br

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