You are on page 1of 20
ror @ Ad O novo objeto Hector Guimard, Estacio do. perce is ene ee ee par PCO RT) ee ee eNotes eee any sn eR teed ite cues nee eee eee eee Cae eee aceay Cee aE Ue ken ec iaeeeee re etteirar ee Sao ie O perfodo que vai dos movimentos de 1848 & crise econémica do final do Ee in rea nee eet ete Nee ec ince est reed ete eet kee teeters representar os préprios valores nos campos do comércio e da conquista en Me MCN ecko uN ticle ceca Corea re meee ee una EE tasted sie eMac tee eRe Wace cc cuca eet as regras do bem-vestir, do comportamento em pilblico, da decoracao. v, Novo oB:ETO A burguesia ostenta, ao lado da prépria poténcia militar (o imperialismo) e econdémica (0 capitalismo), uma Beleza prépria, para a qual confluem, aquelas caracteristicas de praticidade, solidez e durabilidade que fazem 2 diferenca entre a estrutura mental burguesa e a aristocratica. O mundo vitoriano (e o mundo burgués, em geral) é um mundo regido por uma simplificagao da vida e da experiéncia em sentido francamente pratica: as coisas sao certas ou erradas, belas ou feias, sem inuiteis complacéncias para com 0 equivoco, os caracteres mistos, as ambigiiidades. O burgués nao é dilacerado pelo dilema entre altruismo e egoismo: € egoista no mundo exterior (na bolsa, no livre mercado, nas colénias) e bor pai, educador, filantropo no recéndito das paredes domésticas. O burgués nao tem dilemas morais: é moralista e puritano em casa, hipécrits e libertino com as jovens mulheres dos bairros proletarios fora de casa. Esta simplificacao em sentido pratico nao é sentida como ambigilidade: ao contrario, espelha-se até mesmo na auto-representacao doméstica da casa burguesa em objetos, méveis e coisas que devem, necessariamente, exprimir uma Beleza a um sé tempo luxuosa e sdlida. / A Beleza vitoriana nao é perturbada pela alternativa entre luxo e funcdo, entre parecer e ser, entre espirito e matéria, ‘Acasa burguesa Eric John Emest Hobsbawen O triunfo da burguesia, 1975 Acasaera a quintesséncia do mundo Durgués,poisnela enela apenas se podia esquecer,ou suprimir artiicialmente, os problemas eas contradigées da sociedade. Aqui ¢ somente aqui as familias burguesas, mais ainda as pequeno-burguesas, podiam manter uma ilusdo de felcidade harmoniosa e hierérquica circundadas pelos manufaturados que erem a demonstracio dessa felcidade e que, ao mesmo tempo, tomavatr-na possivel podiam inclusive conduzira vida de sonho que encontrava sua expresso culminante no rito doméstico sistematicamente desenvolvido para tal fim: celebragao do Natl. cela de Natal celebrada por Dickens), a arvore de Natal inventada na Alemanhe, mas que, gracas 20 patracinia rel, adlimatou-se rapidamente na Inglaterra), a cangao de Natal - conhecida sobretudo aalems Stife Nacht — eram o simbolo, um s6 tempo, da fieza do mundo exterior do calor do circulo familiare do contraste entre os dois, Aimpresséo mais imediata de um interior burgues da metade do século 6 de superaglomeragio e dissimulacso: tums quantidade de abjetos,no mais das vezes mascarados por almofadas, tecidos,drapeados, lapecarias,e sempre, qualquer que seja a sua natureza, elaborados. Nenhum quadro sem uma moldura dourada, entalhada, marchetada, até listrada de veludo; nenhums cadeira sem estofamento; nenhum tecido sem uma borla;nenhum trabalho em madeira que nao tivesse passado pelo torno;nenhuma superficie sem um enfeite ou um objetazinho em cima.Era indubitavelmente um sinal de riqueza e de prestigio.[...) Os objetos exprimiam 0 seu custo e, hum tempo em que quase todos os ‘objetos domésticos continuavam a ser largamente produzidos a mao,a eleboracao era, em grande parte,indicio de custo e de material caro, Opreco pagava também o conforto que, portanto, nao era apenas desfrutavel, ‘mas visivel. Mas os objetos nao eran somente utlitarios ou simbolos de condigde social e de sucesso.Tinham valor em si como expresso de ppersonalidade,como programa e ao ‘mesmo tempo como realidace da vida bburguesa e até mesmo como transformadores do homem. Tea Party, National Portrait Gallery Inglaterrs,c.1880 1. ASOLIDABELEZAVITORIANA, Das molduras sdlidas ¢ entalhadas ao piano para a educacao das filhas, nada é deixado ao acaso:nao ha objeto, superficie, decoracao que nao diga a0 mesmo tempo o seu custo e a sua ambicao de durar no tempo, imutavel como a expectativa do British Way of Life que os canhées e bancos ingleses difundiam nos quatro cantos do mundo. Aestética vitoriana exprime portanto uma dubiedade de fundo, Proveniente da insercao da fungao pratica no dominio da Beleza. Em um mundo no qual cada objeto se torna, além de suas funcoes habituais, mercadoria, no qual a cada valor de uso (a fruico, pratica ou estética, do objeto) sobrepde-se um valor de troca (o custo do objeto, sua qualidade de indice de uma quantidade determinada de dinheiro), também a fruigéo estética do objeto belo se transforma em exibicio de seu valor comercial. A Beleza acaba por coincidir nao mais com o supérfluo, mas com 0 valor: 0 espaco anteriormente ocupado pelo vago, pelo indeterminado, agora é preenchido pela funsao pratica do objeto. Toda a evolucao sucessiva dos objetos,na qual se diluira progressivamente a distingio entre forma e fungao, sera inteiramente marcada por esse duplo sinal originério. x ONOVOOSIETO 2. Ferro e vidro:a nova Beleza Um elemento posterior de duplicidade é a nitida distincao entre o interior ( domicilio, a moral, a familia) ¢ o exterior (0 mercado, as colénias,a guer=)_ “Um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar’;recita uma maxima d= Samuel Smiles, escritor bastante conhecido na época por sua capacidade S= exprimir em textos claros e edificantes a moral burguesa do self help. A longa crise econ6mica do final do século (1873-1896) abala esta distincsa_ minando a confianca no crescimento progressivo e ilimitado do mercado mundial regulado por"mao invisivel’ e até na racionalidade e governabilidade dos processos econémicos. Por outro lado, os novos materiais com 0s quais se exprime a Beleza arquitetonica dos edificios contribuem simultaneamente para a crise das formas vitorianas para 2 afirmacao das novas formas do final do século XIX, comego do século XX. A bem dizer, 0 surgimento de uma verdadeira revolucao no gosto arquiteténico centrada no uso combinado de vidro, ferro-gusa tem uma origem mais distante:a utopia positivista dos seguidores de Saint-Simon, convencidos, na metade do século XIX, de que a humanidade se dirigia pare o pice de sua historia: o estagio organico. Os primeiros indicios de novidade sao, justamente na metade do século, 0s edificos publicos projetados por Henri Labrouste:a Bibliotheque de Sainte-Genevidve (cuja realizaco ser o ponto de partida para o chamado “movimento neogreas™ e.a Bibliothéque Nationale de France. Labrouste, que em 1828 suscitara grande alvorogo com uma acurada dissertacao na qual demonstrava que um dos templos de Paestum era na XK ONOVO ORETO ATorre Eifel, Paris Joseph Paxton, Gaystal Palace, fem The Builder, 18s. Londres, National ‘Museum of Science and industry 366 tealidade um edificio pubblico, estd convencido de que os edificios nao devem exprimir uma Beleza ideal - que é deliberadamente recusada -, mas as aspiracdes sociais do povo que desfrutard do edificio. Nos ousados sistemas de iluminagao e nas colunas de ferro-gusa que dao forma aos espacos e volumes das duas grandes bibliotecas parisienses, toma forma um modelo de Beleza intrinsecamente permeado por um espirito social, pratico e progressivista. A Beleza artistica exprime-se entéo nos elementos singulares da construcao: até o menor parafuso ou prego, nao ha material que nao se torne objeto de arte de nova criacao. Na Inglaterra avanca a convicgdo de que a nova Beleza do século XIX deve se expressar através d== forcas da ciéncia, da industria e do comércio, destinadas a suplantar valor== morais e religiosos que no passado exerceram um predominio doravant= exaurido: é a conviccao de Owen Jones, autor do projeto do Palacio de Cristal, para cuja realizagéo Joseph Paxton foi chamado posteriormente. Na Inglaterra, a Beleza expressa nos edificios em ferro e vidro provoca aversao nos tedricos de um retorno a Idade Média (Pugin, Calyle) e a0 neogético (Ruskin, Morris), o que culmina na fundacao da Central Schoo! Augustus Welby Pugin, esriorneogatico 2, FERRO EVIORO:A NWA BELEZA of Arts and Craft. Mas é sintomatico que esta aversao, centrada na utopia regressiva do retorno a Beleza da natureza e na recusa de aceitar uma nova Beleza criada pela civilizacao das maquinas, ndo bote em discusséo (a0 contrario do que faz Wilde) a convicgao de que a Beleza exprima uma funcdo socials que est em discussao € que funcao devem refletir as fachadas dos edificios.O objetivo da arquitetura é, segundo Ruskin,a realizacdo de uma Beleza natural que se obtém com a harmonizacao do edificio & paisagem:esta Beleza nistica, que recusa os novos materiais em nome da natureza dla pedra e da madeira, sé ela é capaz de expressar 0 espitito vital de um povo. Trata-se de uma Beleza palpavel, tatil, que se exprime no contato fisico com a fachada e os materiais dos edificios e que revela a historia, as paixdes e a natureza dos produtores. Mas uma bela casa 56 pode ser produzida se por trés daboa arquitetura’ houver homens felizes en0.0s seres alienados da civilizacao industrial. O socialismo utopico de Morris chega a fantasiar um retorno &s formas socials da Idade Média ~ aldeias rurais e guildas de trabalho artesanal - em antitese & alienacao das metropoles, friae artificiosa Beleza do ferro, a produgao industrial em série. 367 XM OHOVO OBIETO Phiippe Wolters, Luminariaelérica, “La Fée Paons 1901 368 3. Do Art Nouveau ao Art Déco A Central School of Arts and Crafts, com sua glorificagao da Beleza artesanal e sua proposta de um retorno ao trabalho manual, opde-se a qualquer contaminacao entre industrialismo e natureza. No campo das artes, um dos. ‘objetivos mais diretos do movimento é o estilo Art Nouveau, que se difund= a cavaleiro dos dois séculos com notavel rapidez no campo da decoracao, dos objetos e do design. E interessante notar que, diversamente de outros movimentos artisticos que encontram uma etiqueta ou uma delimitacso a posteriori (como o barroco, o maneirismo etc.), 0 Art Nouveau é um movimento que surge € se define de baixo para cima, espontaneamente, assumindo diversos nomes segundo os paises de proveniéncia: Jugendstil na Alemanha, Sezession na Austria, Liberty (do nome do proprietario de ums cadeia de grandes magazines) na Italia Tudo comeca com os ornamentos dos livros: frisos, molduras, iniciais fazem dos livros objetos nos quais a Beleza preciosa da decoracao se une a funcao habitual do objeto. Esta proliferacdo tao comum e difusa de decoracées sobre um objeto-mercadoria é sintoma de um irresistivel impulso de revestir as, formas estruturais com linhas macias, novas: logo esta Beleza tomaré posse. 3. DOARTNOUWEAU AD ART ECO das janelas em ferro, das entradas do metré parisiense, dos edificios, dos objetos de decoracao, Seria possivel falar aqui de uma Beleza narcisista: como Narciso, espelhando-se na 4gua, projetou a propria imagem para fora de si, assim a Beleza interior se projeta no Art Nouveau sobre o objeto exterior e dele se apossa, envolvendo-o em suas linhas. A Beleza Jugendstil € uma Beleza das linhas, que nao desdenha a dimensao fisica, sensual:como esses artistas logo descobrirao, também o corpo humano — eo feminino em Particular ~ pode ser envolvido por linhas suaves e curvas assimétricas, deixando-se imergir em uma espécie de voluptuosa vertigem. A estilizacao das figuras nao é apenas um elemento decorativo.O vestuacia Jugendstil, com suas echarpes flutuantes, é uma divisa nao apenas exterior, mas interior:0 ondejante andar de Isadora Duncan, a rainha da danga envolta em véus verde-palidos, que parece encamnar as inquietantes belezas géticas dos pré-rafaelitas, é um icone da época. A mulher Jugendstil é uma mulher sensual, eroticamente emancipada, que recusa 0 busto realcado e ama a cosmética: da Beleza das decoracées livrescas e dos cartazes,o Art Nouveau logo passa & Beleza dos corpos. Nao ha, no Art Nouveau, a nostalgia melancélica eo aroma de morte da Beleza pré-rafaelita e decadente, nem Jugendstil Dolf Sternberger Panorama do Jugendstil V,1976 Jugendstil nd0 é portato, um conceito Tepresentativo de uma época, mas define um fenémeno que fez époce. Geograficamente, difundiu-se em todo o Ocidente:Inglaterra, Belgica, Holanda, Franca, Alemianha,Austia, Suica,Escandindvia, Estados Unidos e,limitado a alguns motivos e personagens, Espanha, Itlia @ até Ruissia.Em todos esses pafses estavam Presentes contemporaneamente movimentos de género diverso, muitas vezes mais potentes; mas Jugendstil era a marca do novo, da Novidade,e inovacao e renovacio eram a marca do Jugendstil (desde entéo a novidade tornou- se @ permaneceu como sinal caracteristico, alii, requisito irenuncisvel,de toda empresa artistica que teivindique o direito & estima, 8 fama, a0 mercado ea inscrico na historia) Esta peculiaridade exprime-se imediatae evidentemente no outro nome que se difundiu forada Alemanha:Art Nouveau, Nawuralmente, & preciso distinguir entre escolas, grupos ov individuos, mas também entre Londres, Glasgow, Bruxelas, Paris, Nancy, Muniq Darmstadt ou Viena,onde entrou em uso uma outra palavra de orclem: Secessio. |... Também nao gostatia de tracar uma linha niida cle demarcacao entre’simbolismo" e Jugendstit tratar-se-ia de operacéo artificiosa e forcada Prefiro buscar as diferencas nas obras nos ersonagens. Trata-se de um universo formal continuado e entrelagado, que carrega em si aspectos positivos e negativos. Aos motivos da Juventude, da primavera, da luz e da satide, fazem contraponto anredamento, sonho, lascivia, obscuridade fabulosa perversso; Oprincipio mesmo do omamento organico significa simultaneamente humanizacao da nnatureza e desumanizacéo do homem. Separando as contradicoes e atribuinde-esa diversas tendéncias ou fases de desenvolvimento, perde-se de vista a profunda € fértil ambigtiidace que,no Jugendstil, nos fascina einquieta ao mesmo tempo. Uma ambigiiidade que ihe 6 indispensavel. Quantas ccontradicdes existem em arquitetura entre a “racionalidade” de urn Van del Velde eas fantasias cle um Antonio Gaudi em Barcelona, entre o pudor de um Mackintosh em Glasgow © opulencia de um Hector Guimard em Paris! Que constraste poético existe entre a elegante perversidacle de Oscar Wilde © o idealizante ppithos do casal, do alem8o Richard Dehmel, centre a pressaga visionariedade de Maurice Maeteriinck e @ cortante leticia de Frank Wedekind! Que mundos separam,em pintura, © fausto lascivo de Gustav Klint do intenso desespero dos quadros de Edvard Munch (sern querer entrar no mérito das diferencas de nivel, de estatura, cle energial! E,no entanto,algoos Une, ha nas obras desses pintores, poetas, arquitetos alguns tracos fisiognomdnicos ‘omuns:é esta marca comum que definimos com 0 temo Jugendstil 369 em face Louise Brooks Henny van de Velde, ‘Magazines Habana, em Braxelas 3. DOARTNOWEAU AO ARTOECO a revolta contra a mercadizacéio dos dadaistas: esses artistas buscam um estilo que possa protegé-los de sua declarada falta de independéncia Nao obstante, a Beleza Jugendstil tem um marcante traco funcionalista, que se distingue na atencdo aos materiais, na rebuscada utilidade do objeto, na licidade das formas, avessas a desperdicios e redundancias, na atencao a decoragao das residéncias: confluem para isso elementos provenientes do movimento Arts and Crafts. Essa influéncia é temperada, porém, por um claro compromisso com a civilizacao industrial que, no novo estilo, logo encontra um elemento de ornamentacao que nada tem de efémero e acidental. E bem verdade que em sua origem o Jugendstil nao era imune a um certo gosto antiburgués, ditado mais pela vontade de escandalizar - épater les bourgeois - do que pelo propésito de derrubar a ordem constituida. Todavia essa tendéncia, presente nas estampas de Beardsley, no teatro de Wedekind, nos cartazes de Toulouse-Lautrec, se esgota rapidamente na superacao dos gastos clichés da Beleza vitoriana. Os elementos formais do Art Nouveau sho desenvolvidos, a partir de 1910, pelo estilo Art Déco, que herda as caracteristicas de abstrac&o, distorcao e simplificacao formal em direcéo a um funcionalismo mais marcado.0 Art Déco (0 termo, porém, 56 sera cunhado nos anos sessenta) recupera motivos iconograficos do Jugendstil ~ ramos estilizados de flores, figuras femininas jovens ¢ esbeltas, esquemas geométricos, serpentinas e ziguezagues ~ enriquecendo-os com sugest6es vindas das experiéncias cubistas,futuristas e construtivistas, sempre sob 0 signo da subordinagao da forma a funcao. Mas a liberdade e a riqueza decorativa do Jugendstil sao progressivamente suplantadas por um design cada vez mais estilizado, intencionalmente acessivel ao gosto comum. 0%, ONOVOORIETO Macello Dudovich, sboc0 para a publicidade {do modelo 508 Baril, 1924, Tarim, Archivio Fiat em face Janine Aghion, TheEssence ofthe Mode ofthe Day, ilustragao, 1920. ‘Colegao Susan J.Pack ‘Beleza colorida e exuberante do Art Nouveau é substituida por uma Beleza que jé ndo é estética, mas funcional, uma rebuscada sintese de qualidade e produgao em massa. O traco caracterizante dessa Beleza éa reconciliacao entre arte e indtistria: isso explica, pelo menos em parte, a extraordinatia difusdo dos objetos Déco nos anos 20 e 30, até mesmo na Italia, onde os canones oficiais da Beleza feminina fascista sao decididamente adversos a’mulher-crise’ gil e esbelta, das producées Déco. ‘Ao colocar em segundo plano o elemento decorativo, o Art Déco parti de um sentimento difuso que invade o design europeu dos primeiros anos do século XX. Os tragos comuns dessa Beleza funcionalista sao a aceitagdo definitiva dos materiais metdlicos e vitreos e a exasperacao da linearidade geométrica e dos elementos de racionalidade (provenientes da Sezession vienense do final do século XIX). Dos objetos de uso cotidiano (maquinas de costura e chaleiras) desenhados por Peter Behren aos produtos do Werbunck, de Munique, fundado em 1907;do Bauhaus alemao (que sera fechado pelos nazistas) as casas em vidro prefiguradas por Scheerbart, ¢ até 05 edificios de Loos, desenvolve-se uma Beleza que reage a transposi¢ao do elemento técnico para 0 decorativo operada pelo Jugendstil (que nao sente a técnica como uma ameaca e pode, portanto, comprometer-se com ela). Auta contra esse elemento decorative - como definido por Benjamim ~ 60 traco mais marcadamente politico dessa Beleza Fascista segundo as“regras de vida" indicadas pelo Gabinete de Imprensa da Presidéncia do Duce no memoravel discurso aos médicos. Conselho, Desenhos e fotografias de macias Dever set eliminados os desenhos de figures: femininas,1931 femininas emagrecidas e masculinizadas que ‘A mulher fascista deve ser fisicamente si para representam o tipo da mulher estéril da ‘que possa vira ser mae de filhos sos, decadente civlizacao ocidental. 2, DOARTNOUVEAY AO ART DCO 373 Xv, ONOWOOEIETO Antonio Gaudly Cornet, Espirais da Casa Mi ((aPesdrera). Barcelona, 1906-1910 em face Frank Lloyd wright, Casa Kaufmann, Bear Run, 1936 ama 4, ABeleza organica iéncias Vimos como o estilo Liberty contribuiu (a0 lado de outras exp culturais do periodo, como as filosofias de Nietzsche e Bergson, a escrita de Joyce e Virginia Woolf, a descoberta do inconsciente com Freud) para derrubar um canone da idade vitoriana:a distincao nitida e trangiiilizante entre interior e exterior. Esta tendéncia encontra na arquitetura do século XX, em particular em Frank Lloyd Wright, a sua mais completa expressao. ideal de uma “nova democracia’ fundada no individualismo ena recuperacao da relacao com a natureza, mas livre de utopias regressivas, exprime-se, nas Prairie Houses de Wright, em uma arquitetura“organicay onde 0 espaco interno se alarga e se prolonga no espaco externo:assim também a Torre Eiffel pintada por Delaunay funde-se no ambiente circunstante, Nas tranguilizadoras “cabanas” de ferro e vidro,o individuo americano participa de uma Beleza ao mesmo tempo arquitetdnica € natural, capaz de recuperar o conceito de lugar natural integrando-o a0 artefato humano. A esta Beleza tranqililizadora op6e-se z plastica e surpreen nstrugées de Antonio Gaudi, que substitui as estruturas linear labirinticos, 0 rigor do ferro e do vidro por uma matéria plastica, magmitica, flutuante, desprovida de qualquer aparente sintese lingiifstica e expressiva. Suas fachadas, semelhantes a g colagens, viram do avesso a relacio entre funcao e decoracao e atuam um rompimento radical entre objeto arquitetonico e realidade: na aparente inutilidade e inclassificabilidade dos edificios de Gaudi

You might also like