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BIBLIOTECA HISTORICA DE PORTUGAL E BRASIL publicada sob 0 direccdo do VISCONDE DE LAGOA SERIE REGIA: — DA VIDA E FEITOS DE EL-REID, MANUEL, de B. Jeréaimo Qsatio — 2 volumes = BY TEODOSIO Il, PRINCIPE E 7° DUQUE DE BRAGANCA, Se D. Frapcitea Manuel de Melo, sducio de Augusto Casitit. ~ KRAINHA D. MARIA FRANCISCA DE SABOIA, de, Antonio Aivaro. Daria -CRORICA DO CONDE PD HENRIQUE, D, TERESA E INFANTE D. AFONSO, de Frei Antonio Braedao, ~GRONICA DED. AFONSO"HENKIQUES, de Ft Anenio Brando. ~ CRONICA DE D, SANCHO 1 e D, AFONSO Il, de Frei Avt6nio Brando, -ERONICA DE_D, DINIS, de Rui de Pina THISTORIA DE PORTUGAL RESTAURADO, do Conde da Friceira~ 4 volumes -ERONICA, DE CINCO REIS DE PORTUGAL edigéo, diple tatiea da Crinica inedite quateccentis, codice n° 886 ds BP. M. 4p Porto, com a respectiva versio octualizada, cepitalos ineditos Gs verao portoguses da Cronies Gersl de Espana, relerentes & Foutuga), guttos textos eum cstude. de A. de Megaihics Basto, seguide da versio actusisada~ 2 volumes. I-TRATADO DOS DESCOBRIMENTOS ANTIGOS E MODER- NOS, de Antonio Galvic, ILM = VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD, de Laval ~ 2 volumes, IW DIARIO. DA VIAGEM DE VASCO DA GAMA ~2 volumes 'V HISTORIA DA ETIOPIA, do jesuita Péro Pais ~3 volumes, Vi— ASIA PORTUGUESA, de Masel de Fasia ¢ Souss ~ 6 volumes, VIIA VIDA DE VASCO'DA GAMA, de Diogo do Coste, SERIE CIMELIA 1 OPUSCULOS HISTORICOS, de Damiio de Gsis SERIE MISCELANEA: 1-MEMORIA V_ [PARA A HISTORIA DA LEGISLAGAO, E COSTUMES DE PORTUGAL) de Antéaio Csetsno do “Amat FREI ANTONIO BRANDAO CRONICA DE D. AFONSO HENRIQUES EDIGAO ACTUALIZADA. COM UMA INTRODUCAO bE A. DE MAGALHAES BASTO arpcioTeca PEDRO UETOR FLUP-BIBLIOTECA © wii AGRORDE DELETE BIBLIOTECA AO PEDRO SETS FORTS, BIBLIOTECA HISTORICA~SERIE REGIA LIVRARIA CIVILIZAGAO — EDITORA As fomtes de Frei Anténio Brandao © douto cronisia('),0 erudito bernardo (’), 0 cons- ciencioso Frei Anténio Brandao (} (expressdes nao banais, visto serem de Braamcamp Freire, critico autorizado e severissimo em matéria de rigor hist6- rico) maravilha-nos ainda hoje quando se estuda a sa obra e faz 0 balango da bagagem colossal de informacGes arquivisticas em que ela assenta. Mais nos maravilha se n4o nos esquecermos de que foi escrita na primeira metade do séc. XVIL Pode Brandao considerar-se um outro Hercules nos estabulos de Augias. Desviando sébre as ante- riores crénicas portuguesas relativas aos principios da monarquia, sem davida estimaveis, porém eivadas de impurezas sem conto, um rio caudaloso de documentos e de critica, {éz-lhes uma primeira mas admiravel limpeza com a torrente das 4guas que brotavam das fontes que éle soube descobrir. Sem davida que, a uma ou outra dessas fontes, a critica moderna apés a nota fatal de suspeigao ou até ‘ ) db. pig 72 GB pig 15, ramne. Freite-Brasies da Sala de Sintra, 22 ed. m pig. 181 x INTRODUCAO inteiramente rejeitou como falsas; sem diivida, também, que éle nio depurou completamente a nossa histéria de todos os erros out de t6das as len- das, nem disse sdbre as asuntos que estudou a altima palavra, Mas, em boa verdade, dificilmente se poder exigir mais a um iniciador. Nunca nenhum historiador portugués fizera nada semelhante em relacio a histéria dos primér- dios da nacionalidade! Ainda poucas dezenas de anos antes Duarte Nunes de Leto em grande parte se limitara a reproduzir, mais ou menos & letra, 0 que'as antigas crOnicas diziam, se hem que se apresen- tasse com a prévia declaragio, s6 relativamente em pequena proporcao verdadeira, de vir dizer cousas tam differentes das historias até agora recebidas (". Os documentos fundamentais para ésses estudos ¢ fonte essencial de todo o conhecimento histérico jaziam quisi desprezados e a bem dizer ignorados nos arquivos dos Mosteiros, das Igrejas, das Camaas e do Estado. Mais de cem anos passariam ainda antes que D. Anténio Caetano de Sousa publicasse (com seus erros...) as Provas da Histéria Genealdgica, a primeira grande coleccio de doéementos portuguieses—e mui- tos mais anos decorreriam até que José Anastasio de Figueiredo, Antonio Caetano do Amaral, Joao Pedro Ribeiro, os trés cescritores criticos» da nossa historia =na frase de Herculano—comegassem a trabalhat. Pois Frei Antonio Brandio, sem guia e sem exemplo entre nds, soubs mergulhar no mar imenso dos inexplorados ¢ dispersos cartérios portugueses néles descobrir e aproveitar com notivel senso critico =note-se-lhe © que se quiser—as melhores fontes para 0) DLN, de Leio, Primeira parte das Chronices dos Reis de Ponty ‘al, Lisbos, 1774, pig. 1. INTRODUGAO. Bee aelaboracio da Histéria Portuguesa dos primeiros tempos da monarquia, Insuspeita e autorizadamente, ale foi proclamado por Herculano o mais grave dos nossos kistoriaclores(), Se algumas vezes foi iludido na confianca que depositava em memérias ¢ documentos vetus- tos, que modernamente se reconheceu serem falsos ou suspeitos de falsidade,—o que é no entanto, verdade é que a grande maioria dos que ésse cons- ciencioso probo Historiador publicou, ou, sem os publicar, simplesmente utilizou, constitui ainda hoje a melhor base, a base essencial de todos os estudos sérios sobre a histéria do govérno do Conde'D, Hen- Fique ¢ dos primeiros cinco reinados de Portugal. Limitando na presente introdugio o estudo das fontes de Brandio iquelas que éle citou para a his- toria do teinado de D. Afonso , por ser ésse 0 periodo de que trata o presente volume), comecemos por pesquisar, através dos sucessivos capitulos desta obra, as principais fontes citadas pelo seu Autor. T I—'Apuramento das'fontes'ettadas nesta! sCrénican Abre_o trabalho pela Campanha de Ourique (cap. 1a V), As fontes af atilizadas foram quasi especialmente de natureza narrativa. Para o pormenor do ntimero de soldados aue acompanhavam Ismdrio, rei poderoso dos arabes, Brandao menciona a opiniéo de ANDRE DERESENDE, 0) Histria de Porural, 7 edicio, WV. pig @ Be volume f lormadn plioe Hiroe X @ XE da. Monarchia Lustanar Como os editors entensderam dar sqgt sox eapitolos déaes Lives saasesg seguide, dvertimes que, 4 pettie do cep. xt, se deverio Gedurir 43 onilades gor némerea dos copitules, pare teLobter © nimero orteepondente do Livro x1 da Alon. Lu | xIL INTRODUGAO, as ANTIGUIDADES DA LUSITANIA. Transcreve a fala de D, Afonso Hentiques aos seus homens con- forme a encontrou em certa MEMORIA ESCRITA DE MAO DE SANTA CRUZ DE COIMBRA, composta em latim. Nomeia 0 LIVRO DA GENEALOGIA do Conde D. Pedro, ¢ reproduz uma curta efeméride da HISTORIA DOS GODOS a respeito da batalha de Ourique. Cita ainda o HISTORIADOR DE EL-REL D. AFONSO HENRIQUES e uma MEMORIA DE SANTA, cruz. Da MEMORIA DE SANTA CRUZ QUE LHE VEIO A MAO extrai 0 Catdlogo dos fidalgos portugueses que se acharam na batalha; a respeito de cada um déles faz. judiciosas consideragdes de caricter genealdgico, tomando por base as informacdes do NODILIARIO do Conde D. Pedro e do LIVRO ANTIGO DAS GERA- GOES, O QUAL ESTEVE NA TORRE DO TOMBO, mas cotrigindo ésses dados com teflexdes criticas, quasi tédas apoiadas em documentos que cita. ‘© que largamente refere da Viséo de D. Afonso Henriques em Ourique é tirado de uma ESCRITURA AUTENTICA em latin, cujo texto transcreve integral- mente e traduz, e da qual diz ter sido descoberta em 1596, no Cartério do Mosteiro de Alcobaca, pelo Cronista. Mor de Portugal, 0 Doutor Frei Ber: nardo de Brito; informa ser ésse documento Na questéo do pagamento do censo a Curia Romana, Brandaoinvoes 0 RECIBO DE FRATER GUN- DISALVUS, de 1213, em nore do papa Jnecéncio Mm, que traslada do Arquivo da Téire do Tombo (cap. Xu), € contesta DUARTE NUNES DELEAO, que fa VIDA DE EL-REI D. AFONSO HENRIQUES afir- mara nunca os reis de Portugal terem pago 0 dito censo & Santa Sé INTRODUCAO xv Aceita que D, Afonso tivesse feito o seu reino sujeito 20 Mosteiro de Claraval e publica a respectiva CARTA DE FEUDO (cap. Xit), que se encontrava escrita num pergaminho antigo, no Mosteiro de Alcobac2, «como sélo das armas reais em cera branca*(, Alude muito de passagem a correspon- déncia do nosso primeiro rei com S. Bernardo, citando Frei Bernardo de Brito. No cap. xiit, D. Anténio Brandio apresenta 0 TRESLADO DAS CORTES DE LAMEGO, ) exttaido de um caderno do Cartério de Aleobaga, ém que outras coisas estavam escritas, e observa que nao vita sendo ésse traslado; ndo é, portanto, coisa sem diivida, € declaradamente como tal o publicou. Sem mencionarmos os varios autores, ¢ BULAS ¢ ‘outros documentos citados por Brando nos cap. XV © XVI, em que trata da precedéncia de Portugal sobre outrosreinos da cristandade, notemos que no cap. XVII, falando da entrada que fizeram os mouros de San- tarém em terra de cristaos, até 4 comarca de Soure, reproduz um trecho da VIDA DE S. MARTINHO DE SOURE, ...— SEGUNDO TRADICAO, acentua o historiador, eviden- temente para mostrar que tal afirmativa nao tinha com. provagao documental. Quantoachamarem-se os mem- bros dessa Ordem, primeiro, da Nova Milicia ou Freiria de Evora, e depois de Avis, fundamenta-o com esctituras antigas!a DOAGAO A ESTA ORDEM Da VILA DE CORUCHE, EM 11176, por D. Alonso 1; um BREVE DE INOCENCIO Il, DE 1221; A DOACAO DE ALBU- FEIRA. DE 1250, ete. Falando do Mosteito de Bouro (cap. XLVu), transcreve da Térre do Tombo a nova CARTA de Couto de 1162, dada aquéle Mostciro por D. Afonso 5 cita outra ESCRITURA daquele mesmo sei, de 1148, doando 4 dita Casa a Igteja ¢ Vila de Santa Maria Sobre a antiguidade do Mosteiro cita FREI BERNARDO DE BRITO, € um certo e fantastico Pelaio Amado (}, (Pate Bename. Brive, 9h, sit 1, pig. 204.30, és Paco Amado « gue mulher Munia sio puras ivencden Ge Barnard de Brito: sete res. peito diz ainda que se Frei Betnstdo viveste hoje dava um eplendido Autor de romances histovicos INTRODUGAO. XX ede quem (Brito) diz que procedem os Almeidas»; e um MEMORIAL QUE ME VEIO A MAO DOS MOSTEI- ROS DO PATRIARCA S. BENTO; que da ao Mos- teiro de Bouro origem diferente da que the atribui Brito; nota, porém, que, «quanto a ser Pelaio Amadoo que deu segunda vez principios a esta Casa de Bouro> € «em ser o mesmo Pelaio Amado o ascendente dos Almeidass, endo ha implicagao alguma> «ainda que Ihe nao possamos dar a confirmagio das escrituras de que usamos em semelhantes matérias». 'Transcreve palavras do LIVRO DAS JNQUIRIGOES DED. AFONSO Ul, DA TORRE DO TOMBO, para provar que no tempo de D, Sancho 1 ja havia Almeidas, Da mesma forma que no cap. XLVI fizera con- sidereqdes sobre o significado da palavra miles, baseado em documentos, a no cap. XLIT os significados antigo ¢ moderna de vasselo, citando documentos de varios cartétios e ainda 2 CRONICA DE EL REL D. PEDRO ¢ a PRIMEIRA PARTE DA DE ELREI D. JOAO, © PRIMEIRO ('); adiante falara do titulo de Dom (). No cap. XLIX transcreve do Arquivo de Santa Cruz o principio de certa CARTA EM QUE AFONSO HENRIQUES AFIRMA A SUA SUJEICAO AO PAPA ALEXANDRE III ¢ di «mostras de verdadeiro filho da Igteja Romana ()» Para histdtia de Frei Jodo Cirita, Monge de Cister € Abade deS. Cristdvao de Lafdes, ¢ para a dos prin- cipios déste Mosteiro (cap. L) baseia-se no RELATORIO MANUSCRITO DO MOSTEIRO DE S. JOAO DE fer « Oy 09,95. 3% Bando falary dos Maldon, Dai fxerecran tals fuaee, Wer a Gee teqpekoras sertigoss de Jou Pedse Wibeiro, Diem, vol. 1, pig 22, nots 1 Yer cap. iv (8) Flere, Ob cit, vol th, pig. 109 cits cea eats steavés de Braid, XXIV INTRODUGAO TAROUCA, que publica integralmente no Apéndice (escritura xvi, de Livro 1x; nesta Colecgao escrit. XVI da Crénica do Conde D, Henvigue) ("Para funda- mentar a sua hipotese de ter sido fundado por volta de 1120 © Mosteiro de S. Cristévao, alega o LIVRO DOS TESTAMENTOS ~ que nao é mais que o Livro Santo_de Santa Cruz de Coimbra, onde se contém a Vita Tellonis Archidiaconi, ena qual efectivamente se Ie 0 que Brandio refere, Cita varias escrituras 2 proposito de Frei Joao Cirita, a maior parte origi- nais, dos ARQUIVOS DES. CRISTOVAO, DES. JOAO DE TAROUCA € de SALZEDA. Diz ainda que nao da copia da carta que Cirita teria escrito 20s monges ausentes quando estava pata mosrer «por andar ja estampada na CRONICA DE CISTER», € reproduz o EPITAFIO moderno da sepultura de Frei Joo Cirita e o antigo, éste referido por Brito. A natragio da conquista de Sezimbra ea de um subseqiiente desbarato infligido aos mouros (cap. LI) tiveram por base quasi exclusiva as NOSSAS HISTORIAS. Documenta a DOACAO DO CASTELO DE SANTA EULALIA, feita em 1166 por D, Afanso a Santa Cruz (cap Lt), transcrevendo trechos da ESCRITURA origic nal que existia no Mosteiro. Por certa MEMORIA DO MESMO MOSTEIRO organiza a lista dos alcaides que oreferido Castelo teria tido antes de ser entregueaquéle Convento; reproduz, do original existente em Santa Cruz, um documento com o nome de TESTAMENTO DE EL-REI D. AFONSO HENRIQUES pelo qual éste rei, em 1166, deu a Santa Cruz a Vila do Lourigal, em compensagao de parte das rendas que o mesmo rei tomava, Alude ainda 2 OUTRAS ESCRITURAS DE SANTA CRUZ, «que nao € necessévio alegar », ) Chamaites Brandae, 90 tial io do. Real Mosteiro de 5, Joia de Tat Flor volume grande, mas desconhecees ta ¥ meméis notivel do exe ‘Esta telerese a um ante. INTRODUGAO, xxv Falando dos condes que houve em Portugal no tempo de D. Afonso 1 ede seu pai (cap Lill) cita, além do NOBILIARIO DO CONDE D. PEDRO, a ESGRITURA DE COUTO DE S. JOAO DE TAROUCA, DE 1140, a da DOAGAO DA VILA DE FREITAS, ada DOAGAO DO CASTELO DE CERES AOS TEMPLARIOS, em 1159, a de DOACAO DE ALVORGE, GERMANELO E ATANIA A SANTA CRUZ EM 1160; 2 Do GoUTO DO MOSTEIRO DE MACEIRADAO em 1173; a da DBOACAO DO CANAL DE AULANTES AO MOSTEIRO DELORVAO em 1176; etc. (3) ‘A tomada de Evora, por Giraldo Sem Pavor, em 1166 (cap. LIV € LV) parece inteiramente baseada em sANDRE DE RESENDE, NO DOUTO LIVRINHO QUE FEZ DA ANTIGUIDADE DESTA CIDADE», mas trans- cteve da HISTORIA DOS GODOS ¢ do LIVRO DA NOA DE SANTA CRUZ DE COIMBRA duas ementas para concluir que, 1982, pig 264, Nota x20 dlecto de conguona em trrs de Magulenanes Gr Floez Eypaia Sagrada, XXllpg 99 seg Cemonsiiod ee 6 sucetag 26 dear cm 1109, devAbril 4 Junks: Olucacme Gomea de ‘Azevedo publicou documentos dos qua se conclue que s desrots sostee fo primita semana de Abiil, ob e vel eit pg. 274 INTRODUCAO XXVIL Alega ainda cetta ESCRITURA ORIGINAL, existente em Santa Cruz, pela qual D. Afonso féz COUTO DA HERDADE DE OLIVEIRA DE FRADES, ), A propésito do desastre acontecido 2 D. Afonso t 20 sair pela porta do Castelo de Badajoz, cita, além das NOSSAS CRONICAS, ROGERIO DE HOVEDEN na VIDA DE HENRIQUE I DE INGLATERRA, ¢ aponta lhe 0 érro de ele dizer que o desastre se deu em Silves (), Nocap. Lix,em que trata do modo como se fize: 1am as pazes entre os reis de Portugal ¢ Leao, Brandao censura © pouco exame dos AUTORES MODERNOS? 20 falarem daquele assunto; contraria-os, transcre vendo as opinies de AUTORES GRAVES E ANTIGOS; ~0 ARGEBISPO DE TOLEDO, D. RODRIGO XIMENES: © BISPO DE TUL D. LUCAS; CRONICA GERAL DE ESPANHA € ROGERIO DE HOVEDEN, Reproduz tre- chos da DOAGAO feita em LafSes por D. Afonso Henriques, em Setembro de 1169, aos cavaleitos do Templo, de tudo 0 que se povoasse além do rio Tejo, sob condigao de tudo isso defenderem dos drabes € ainda de CARTA DE FORO dada no mesmo més e ano aos moradores da Vila de Linhares, Incidentalmente alude ao facto de LUCIO MARINEO S{CULO_afirmar que 0 papa S, Damaso foi natural de Madride, afir- (0. Hereglano Hist, de Por. 72 ed. vob Il, pig. 93, nots, também. cobreeva 0 dra de Hoved XXVIII INTRODUGAO magio a que opée as de todos os autores antigos € modernos que esctevem as vidas dos Sumos Pontifi- ces, «por mais que alguns autores castelhanos tragam em seu favor a FLAVIO DEXTRO, autor antigo nova- mente divulgado com as cores que Ihe deram seus inventores» ( Ao referira sucessio dos Bispos do reino (cap. LX) bascia as suas afirmagoes estrictamente em escriluras € numa PEDRA DES.JOAO DE TAROUCA. Poe de parte © que dizem as NOSSAS CRONICAS sobre o primeiro abade de Alcobaca, e estabelece a lista désses, pri- meiros abades a face das doagées daquela Casa ¢ de outros cartérios. Descreve a batalha em que morreu Gongalo Mendes da Maia (cap. LX1), tendo como fonte, sobre- tudo, © NOBILIARIO do CONDE D. PEDRO; eno mesmo autor se apoia para falar da geracao daquele cava- Iciro e dos seus companheiros (cap. Lx}, embora note (cap. LXul) as dificuldades que certas afirmacées do Conde apresentam em face de documentos autén- ticos do CARTORIO DOS MOSTEIROS DE POMBEIRO, SALZEDA, AROUCA E PEDROSO, € das INQUIRIGOES DE D, AFONSO I, «que estdo no livro intitulado PROPRIOS DE COIMBRA» ~concluindo que, nalguns pontos, falou com mais certeza do que o Conde, 0 LIVRO VELHO DAS LINHAGENS (') Dissertando sobre 0 uso do titulo de Dom em Portugal nos primeiros tempos da monarquia (cap. Lx1v), declara:— «Isto nos asseguram as doa- () Adignte, no Cap. Lx1e, sade « uma adigdo de Ele inverts nos fraraised Hara Bor, «da upon et icon : () ‘A propisit, patecem noe taerestntes ss seguintespalavras de Braame, Freire Braroes i pg, 8:—ePara conhecimento das geracoes entigas Sine fnmilin potagueseetemot de ssw soliton de intagens a weet sas indicacoes, nao 20 quando coniirmadas por docomentes, mst mesmo {uando nao invalidadss por eles; ness eso, © claro, quango nie ofendem 2 cronologie. INTRODUG des originais daquele tempo, em as quais nio ha os erros das cronicas, nem dos livros das linhagens, que depois se trasladaram», Reproduz (cap. LXV) © texto de uma DOACAO FEITA EM 1170 AO MOSTEIRQ DE s PEDRO DAS AGUIAS (escritura original do mesmo Mosteiro) ¢ uma CARTA de Afonso 1V, de 1338, sébre padroeitos de Mosteiros. Cita FREI BERNARDO DE BRITO a tes- peito dos Tavoras, escrevendo:— ce conforme ao que ali diz»...() Ainda no mesmo capitulo nomeia diversos documentos dos CARTORIOS de GRO e da IGREJA COLEGIADA DE GUIMARAES para mostrar as extorsdes que os padreitos faziam as Igreias, Falando da morte da mulher de Egas Moniz, (cap. LVI) reproduz 0 LETREIRO DA RESPECTIVA SE. PULTURA, que diz tet ainda visto em uma pedra fora da Sacristiar da Igreja do Mosteiro de Salzeda, e acres- centa:—«faco esta declaracdo para que saibam os que depois vierem que relatamos verdades*. Narrando as liberalidades daquela dama ea ctiacao dos filhos de D. Afonso 1, de que ela foi encarregada depois da paliroat a ec err anes rene eer tet MENTOS DE SALZEDA F AROUCA. Reproduz a afir- magio de FREI BERNARDO DE BRITO de terem os religiosos entrado em Salzeda apenas em 1117. por tanto onze anos depois da doacio feita por Tareja Afonso, mulher de Egas Moniz, a0 Abade Joao Citita, ¢ diz a é3se respeito: ~ «Bem poderia ser® etc. Baseado nuns VERSOS QUE ESTAO NA PROPRIA CASA de Salzeda «e traz 0 Doutor Frei Bernardo de Brito €)_A tespeito da sscendéncisfabulotatcids 208 Tivore por Brito, Brame. Frete estevea: J, porem, antes ds todee 0 consciencogo Feel ‘atone Brando arachnoid Pedro de An Sie dena as asergies, de Britos ¢ se 0 doutar Beandao pretende logs oneilist os dizeres do, Sccumint com 2 statis do tee prelecein 2 orque a te tempo sinds 0. padte Biito eta consideredo quasi como Um Srdeuloe (Ob. ce il, pig 105) XXX INTRODUGAO, na CRONICA da CISTER? —afitrma que o dito Mos- teiro foi sagrado em 1225. ‘No cap. LXVII fala, sem citar fontes, da entrada dorei de Sevilha ¢ da sua derrota junto de Santarém, sucessos que colaca em 117! ("), € acrescenta: ~ «re- conhecido el-rei D. Afonso disto dizem que instituiu uma Cavalaria com a insignia da asa», mencionando 4 margem BRITO NA CRONICA DE CISTER, |. 5. cap. XVII. (Reparese que escreveu_dizem...) Refere a CARTA DE COUTO BO MOSTEIRO DE ‘TAMARAES, de Margo de 1172, ea DA CONCESSAO DO PADROADO de Tamaries AO MOSTEIRO DE ALCO- CACA, em 8 de Dezembro de 1217, A respsito de uma afirmagao de BRITO diz: — «Como nao temos: as relacées antigas donde tirou estas coisas as nao podemos confirmar mais que com seu dito, que além da sua autoridade se mostra verosimil> ‘A trasladagao do corpo de S. Vicente para Lisboa écontada por Brandio (cap. LXVIII) seguindo sobre: tudo a MEMORIA telativa aquéle acontecimento, que se «conserva no Cartério da $é de Lisboa ¢ no nosso de Alcobaga, a qual se deve todo 0 crédito por ser AUTOR DELA ESTEVAO CHANTRE, que era da mesma é ¢ vivia naquele tempo». Adverte nao aprovar certos pormenores narrados nas HISTORIAS DESTE REINO E OUTRAS MEMORIAS QUE DESTE CASO TEMOS». ‘Ao discutir se 0 corpo de S. Vicente trazido para Lisboa é 0 do 5. Vicente que foi martirizado em Valenga (cap. LXIX). cita AYMOINO, AUTOR ANTIGO, FREI FRANCISCO DIGGO e «alguns autores», para Ihes contrariar 2 opinido e mostrar como ela esta «cheia de tantas coisas imprevaveis», Conclui, dizendo: ~ ‘«Porém eu nao ofereco por nossa parte a autoridade () Here, ob, ¢ vol. ct. dé 4 mesma data, Gonzaga de Azevedo nega que tivesse havido tal eatrade, ob. e vol. cit. pig. 275, 278 INTRODUGAO, XXxT dos Anais do Reino e da historia de el-rei D. Afonso, como fazia 0 MESTRE ANDRE DE RESENDE, Nao recorro aos escritos do MOURO RASIS, que concorda neste ponto com o que dizem nossas histérias. Nem alego uma CRONICA DE MAO ANTIGA QUE COMPREENDE AS OBRAS DE RASIS ¢ de OUTROS MUITOS AUTORES DE ESPANHA. Nao me valhoda sutoridade de §, BOAVENTURA, 0 qual na VIDA DE SANTO ANTONIO diz expressamente estar 0 corpo de 8 Vicente naSé de Lisboa. S6 proponho a RELAGAO DO MESTRE ESTEVAO Chantre da Sé desta ci- dade» etc, Fala. no cap. LXX do principio da Orden Militar de Santiago; cita o prolego da respectiva REGRA e nomeia, adiante, as diferentes sedes que 2 Ordem teve em Portugal; chem sei—observa—que nio concorda em muitas destas coisas o PADRE FREI JERONIMO ROMANO, mas 0 que digo tenho por mais, certo, como se vera com as mais particularidade desta Ordem em outros lugares», Da o Catalogo dos Mestres de Santiago, de Portugal, segundo o traz 0 mesmo Romano, parecendo ter verificado ou admi- tir a exactiddo dessa lista, pois tem 4 margem a seguinte nota:—«Um autor moderno _nomeia D. Pedro Estaco, porém € contra as escrituras da Torre do Tombo». uundamenta Brandio o seu parecer de que D. Sancho {éz a sua entrada em Andaluzia no ano de 1178 (cap. LXXI). na HISTORIA DOS GODOS ¢ no LIVRO DA NOA (reproduzindo as. respectivas ementas) ¢ observa:—«Com a autoridade déstes luga- res e concordancia das Crénics manuscritas nao tem que nos mover algumas HISTORIAS DE ESPANHA»(’). ()_A dats de 3178 é a dads por Herculana, ob, © val, cit pig. 105-207, INTRODUGAO Para determinar a idade de D. Sancho naquela data ¢ © ano do seu casamento invoca a DOACAO DE ABIUL feita ao Mosteiro de Lorvéo em Setembro de 1175, ¢ a CARTA DE D. SANCHO AO. PAPA URBANO II, em 1186, Reproduz do CRONISTA DE D. AFONSO a lista dos compauheiros do Principe na jornada de Sevilha, ¢ adverte:—«Porém ou fosse desatento ou ignorancia do esctitor os mais déstes senhores que aqui se nomeiam nao podiam ser companheiros do Infante nesta ocasiio.» Para demonstrar essa impossi- bilidade aproveita-se de DOCUMENTOS DO ARQUIVO DE LORVAO, da TORRE DO TOMO ¢ da Sf DE COIMBRA, Vai contando os sucessos da jornada de Sevilha, mas nio da particularidades da batalha, “por me nao patecerem dignas de crédito algumes que se referem.> Sdbre certa faganha de Mem Moniz © origem das armas dos Monizes usa a expressdo: . Actescente-se que deve ter Brandao trabalhado com uma copia da Brevis Historia Gothorum, feita por Gas- par Alvares Lousada Machado sobre outra cépia que André de Resende tirara em Alcobaca, em tempos passados (').. Contrariando 2 opiniao de Herculano, quante & confianga relativa que as duas versdes da Cr, dos Gédos deverao merecer, modernamente o historiador P. Gonzaga de Azevedo @) sustentou, com impressio- nantes argumentos, que o transunto mais extenso dessa Cronica € 0 Unico digno de fé, pois o outro ado sera mais do que um resumo do primeiro—uma simples composigao de Lousada Machado, feita sébre a pauta do exemplar mais extenso (°) 8) Bxdrdio da fundagio do Mosteiro de S. Jodo- -de-Tarouca. Reproduzindo a Meméria do Mosteiro de Tarouca, dum original hoje desaparecido em virtude do incén- dio que devorou o Seminario de Viseu, em 1841 — Memsria que inclui varios diplomas do nosso primeiro rei (") Brando teve o cuidado de, & margem do pri- meiro dos aludidos diplomas, escrever a observacio Estcerradaadata, Herculano reeditando a Meméria nos Scriptores, pig. 89 © seg., ao chegar 4 data do aludido diploma que ¢ Era 1187, colocou chamada para uma nota, € nesta escreveu:~ «Lege M. C. LXXVIP, 0) Seripores pig. 7. 3) Ver are i Bicra, Set de 192%, pig. 440 « sep, depois toe sto mp vol. iy da Hit de Porangaydo melo A. (nba 1332) (GG. de Azevedo Hi. Pore vol ie pig 182 (Ba Eecnna xy do: Apéndice da mt Patel de Mon. Lus, Nesta Biblioteca, na Cronies do Conde D. Hlnrigue de A. Brandi, pig 202 + seg XLU INTRODUGAO ‘) OForal de Leiria de 1142 do Mosteire des F2 9 Mosteito de Tote do Tombo tC Copia sem autenticid 85 n° 1 no Rireal) © 69 onaminia Phare lsticade No séc. 3, tu) : Rad aeRO fasficacao do sido); Ba ede Zevedo, nos Diplomes ray famente fsis0, mas que sre MOS ite asSes> (palavras de “sen inte. reulano, Portugal de Outigue-umg 3s Set otigem celebs oe Ale mi ais as de t3da a nossa histsiig 33 € famosas pol ~ «Discutir to, de Quique one S326 % bls gue ae pron Principe antes da batalha tibese eS SPaMG8O ae Cri cena em um documento tio © Reuter ob Revie ob ie 1a (2 Bia G2092- De fotos de Ses Cre tis tage i 1 -Litbos, 1933, ig bee oe 0 Re crea Pogson INTRODUG XLUL mal forjado, que o menos insteaida aluno de diplomética © rejeitard coma falso 20 primeiro aspecto (0 que facilmente poderd qualquer verificar no Arquivo Nacional, onde hoje se ha). Parece, na verdade, impossivel que tio grosseira fal- sidade servisse de assunto a discustées graves. Quem, toda- vvia, desejar conhecer a impostara désse documento consulte @ memoria de Fr. Joaquim de Sento Agostinho (Mem. de_ Litt da Acsd., T, 6, p. 335), as Dissertacoss Chronologicas (TT, Dissert. 2, p. 60 ¢ segg eT. 3. P. 1, no 187) as Mem da Academia (T. 12, PI p. 75 ¢ segg) onde a consura nao consentia que se dissesse tudo, mas onde se diz 0 suficiente para os entendidos> (*) Que nos conste, a primeica vez. que saiu publi- cado em letra de frma 0 Auto do Juramento da Visio de D. Afonso Henriques foi na 2* edico dos Dialogos de Varia Historia, de Pedro de Mariz, aca- bada de imprimir em 1599. A 1 edigio dessa obra (1594) nao aludira ao juramento; mas a 2+ ja 0 insere, num capitulo nove ~ 0 Cap. 5° do Didlogo p. 36 ¢ seg. Conta ai Matiz: ~«§ querédo o Doutor frey Lourenso do Espirito Santo, Abbade Gers] de Alcobaga [..] chegar a Corte de Madrid, & negocios da suz ordé the pateceo, que pela vsansa dos Reys antigos da Persia, nfo iria com as maos veries, ante a Mages- tude d'EiRey Dom Filippe Nosso Senhor, primeyro do nome em Portugal, se The leuasse hum antigo perguminho, que pou- cos dias havia hum religioso d'squella cosa tina achado em his Archivos antigos, ein que conseruados estaudo grande soma de cscriturss & doscdee dos Reys passados, E para mayot cer teza, 0 mandou tresladar 2 hum Notario apostolico da cidade Lisboa (si), & que em sua Nota ficesse ad perpetuam Memo~ iam. © qual como era curioso, 0 fez com a solenidade devida 2 Gao grande couse, E parecendolhe que tee entio se teuera feyto “hi grande roubo a consolagio publica patticulat deste Reyno, logo 2 publicou como tal couse merecia 0) Heres ob cit. da 74 ed, Nota xvi 2 pig 289-286, | XLIV INTRODUGAO E ssbida a verdade, era hia cettidio jurada & fiuma com. muytas testemunbes. "& cellon peldeness uma eiRey Dom Affonso Hentiques da verdadeyra noticia se Me do do que the aconteceo com Chiisty Nosto 8 noyte antes do dia em que elle sleansou 2 vittoria de’ Cree Outiques ete) E Marz passa tansorever oman eee térmos!~ &B die 4 Certdio cotes polarice Ego Aldephooies na, em. gue enhor, # noyte tido é um traslado da propria esctitura c em Coimbra, a qual ficou em Santa Cruze se teria perdido (no sé. XV), por ocasiio do dihivio, ou ce. lebre enxurrada que assolou aquéle Mosteins © ina. tilizou numerosas escrituras (3) Podemos acrescentar que, pelo menos, em dois antigos cédices manuscritos de Santa Cruz, hoje na Biblioteca Publica Municipal do Porto se enosame copiada, em letra dos fins do sé. xViou comeses de XVII uma certidio do Juramento da Visio de D. Afonso 1 tirada pelo Notétio apostdlico Tomé de Cruz. ('}, ¢ que contém apenas ligeiras vatiantes ony relagdo ao texto de Mariz, as mais importantes’ dae guais se encontram nas assinaturas, ¢ na falta de data em que o traslado foi feito, Em 1602, poucos anos depois de aparecer a 24 edigio dos Dialogos de Varia Historia, Brito publicea a Chronica de Cister, € ai na Parte 1, Liv. tcap. 3° de pag. 125 a 128, inseria o Juramento sem nade dizer da historia de tal escrito. Em 1632 sai a lume a Parte Terceita da Monarchia Lusitana, de Antone Brandio; no Liv. x, cap. v, dessa 34 patte, volts 5 (9) Matiz, ob. eed. cit. pg. 26 v2 37, UB) Maresh Sd ee OT, @) Ver God. 195, its O45, slo ido ao Ind : Sipe de Cotman: Cod. Bul ane sontsen cn enis 20S Santa * ‘sr6nica de Afonso1.ea de Sancho 1(No ladice fate. p25) | | | iNTRODUCAO, XLV ser publicada a antigualha ~com a prévia declaragio de ter sido Frei Bernardo de Brito quem, em 1596, achara em Alcobaga 0 respectivo pergaminbo com selos de cera pendentes, etc, (", Inumeras vezes tem sido publicado o juramento depcis disso. Frei Joaquim de Santo Agostinho, em 1793, considerando 0 documento uma invengdo, talvez de Brito (}, refere-se ao transunto do notirio Tomé da Cruz, feito, segundo diz, em Lisboa, aos 4 de Novembro de 1597, ¢ do qual se con- servava cépia no Arquivo de’ S, Vicente de Fora; confronta as descrigdes que do original fizeram ésse notario ¢ Anténio Brandao, e compara as assinaturas que se [gem no transunto ¢ nas edigdes de Brito Brandio, estas concordes entre si; verificadas as dis- cordincias entre estas e 0 transunto, conclui, naturalmente, que houve mais de um original!— «De tudo isto se tira suficiente prova para podermos afirmar que o original, visto pelo notatio Tomé da Cruz em 1597 é diverso do que esta em Alcobaga. Tudo o mais que se pode conjecturar por esta and- lise, eu_o deixo a consideragdo dos enteadedores acaba dizendo prudentemente Frei Joaquim de Santo Agostinho(), no sem que antes tivesse ficado bem claro que 6 seu. modo de ver nao significava que pusesse em duvida a autenticidade do milagre, em si. Um argumento muito invocado em favor da autenticidade da escritura de juramento produziu-o logo Pedro de Mariz ¢ repetiram-no Bernardo de Brito, Anténio Brandio, Antonio Caetano de Sousa () Vide, neste val 9 esp.» (3 Ac dette, ds Mom, ¥,pig. 31 (8). Ben. de Ei v, pig Si, eta noes. Ae copiae do. furamene gm ceriidio de Tomé da Cri, que ze encoatiai nos Cinlices da BM. slo Porto, ats citados, dileren nat asinatusne de Marie « Brito duss vere, © 8 de Beto duns vezes timber, XLVI INTRODUGAO Antonio Pereita de Figueiredo, etc.:—é 0 de Duarte Galvao ter escrito «no Cap. 15 da Crénica de el-rei D. Afonso, que quando foi uma meia hora ante manh se tangeu o sino, como o Ermitao dissera ¢ o Principe saiu fora de sua tenda, segundo éle mesmo disse e deu testemunho em sua historia viu a N.S. na maneira como dissera o Ermitio», Essas palavras dew testemunho ent stia bist6ria querem os aludidos autores, que sejam alusio ao juramtenio. Mariz escreve: — «E como esta Cronica (a de Duarte Galvao) ha mais de gitenta anos que foi recopilada de outra antiqissima [...] fica sem diivida a sutoridade desta certidao ¢ juramento» (*) Por seu lado, diz Anténio Pereira de Figueiredo: = +0 que tira toda a duvida, de que a noticia vinha de Memorias antiquissimas, que se conservavio, e que corrita neste Reino; he ver que a Cronica d'E\Rei D. Alfonco Henriques ‘escrita por Duarte Galvio em tempo @El Rei D, Manuel, anno de Christo 1505, rcfere no exp. XV, a mesma apparicao, como hum facto notorio e corrente, dizendo: E o Principe sabio se fora de sua tenda e segundo elle mesmo dise, dew testemunbo en sua historia vio Noss Sebor om a Crus na mesma mancita que disse 0 Hemitdo, ¢ adorowo & esta Historia, que a Chronica attribue « El Rei, he evidentemente 9 Juramento que publicou Brito, Ora esta Chronica de Dustte Galvao no he outra cousa mzis, do que huma Compilacio da outra que alguns cem anos ‘antes em tempo de ELRei D. Duarte tiaha composto Femnio Lopes, Chroniste Mor do mesmo Rei ¢ Guarda Mér da Torre do Tombs, Assim nolo assegura Joao de Barros na sua Terceita Década, Livro | cap. 4, onde diz que © que Duarte Galvio fez 4 Chronica antiga, foi apurar a sua linguagem: 9 que tambem attesta André de Resende na sua carta a Bartholomeo de Quebedo ».() No ha duvida de que na Crénica de Galvio @) Diego, ob. e 0 cit pig. 42. I) Aa. Pods Figueiredo ~ Eoeoydov Reis de Porugal em latin ¢ om portugues —Tisbos, 1788, Nota via D. Afonso pip, 9 INTRODUCAO XLVI ha a frase ou frases que Figueiredo e 08 outros lhe attibuem, Registam'se, porém, certas_diferengas importantes entre 0 modo como Galvio relata os factos ¢ aquéle pot que séo relatados no Auto, Uma dessas diferengas, pelo menos, nao escapou a Antonio Brandio: é a de se nao aludit na Crénica «i diminul- gio da Casa Real na 16# geracio >... Mas éle encon- tra para ésse facto uma explicacao que lhe parecia «verosimil»: faltando, no tempo’ de Galvio, apenas duas geracées para se cumprit a profecia,' Galvao calou ésse pormenor para nao desgostar D. Manuel, soberano entao reinante(')... : Que 0 documento de Alcobaca, hoje na Térre do Tombo, ¢ um documento apécrifo, ninguém o pode contestar, Mas, gndo teria existido outro ou outros documentos que Ihe servissem de original? E Frei Joaquim de Santo Agostinho quem escreve ~sMuito antes de Brito publicar 0 juramento, pelo teste- musho do Cénego D. Manuel Galvao existia Original déle, ou cépia, em 1556, provavelmente no Arquivo do Mosteito de Santa Crvz, de que era Cartorario: vej. D. Nic. de S. Maria Chron, des Coneg. Regrant. I. x, exp, 32. Ali mesmo viu 0 Cro- nista Frei Francisco Brandao um transumpto do dito jura- mento, feito pelo Notério Manso, no Reinado de D. Joto 1 isto € antes de 1495: vej, Pigueitedo Append. 1 vida da Rainha S. (sic) Tereza. No Cartorio do Mosteito de S, Vicente de Fora achei uma cépia de outro ttansumpte, feito a 4 de Novembro de 159, pelo notrio Tome da Cruz ¢ peas die rencas [..] mostra nao ser titado sObre © que hoje vemos con Alsbads epublice Bato Vej. Catt. de S. Vie, Armar. 22, Maco 3, num. 19. E pois mui provavel que existiu Origi- nal ou Originais daquele Juramento. Vej. Figueiredo Loe. cit») Mas ainda que tivesse sido inteitamente forjado A) Ver adiante esp. v. (8) Mem. de Litt, pig. 326 ¢ seg, note (@) XLVI INTRODUGAO no fim do séc, xvi o documento hoje existente na Torre do Tombo, nao se pode de modo algum afir- mar que foi éle que desse origem a «lenda da apa: tigdor. A tradicao do milagee pode ir buscanse muito mais longe ¢ acompanhar-se desde data bas, tante remota. D. Antonio Caetano de Sousa, no W tomo do Agiologio Lusitano (17.44), Commentatio a0. dia 25 de Junho; A. Pereira de Figueiredo in Novos testemunhos da milagrosa apparigao (Lisboa, 1787); Frei Manuel do Cenaculo, Bispo de Beja ¢ depois Arce. bispo de Evora, nos Cuidados Litterarios (1791), pag. 363 ¢ seg: Frei Joaquim de Santo Agostino na Memoria (1793) sobre os cédices de Alcobaca, tantas vezes ja citada—referem testemunhos comprovativos da alta antiguidade da tradigio. Alfredo Pimenta ainda recentemente, lembrou_o discurso que, em 14 de Julho de 1380, 0 Bispo D. Martinho, legado do nosso Rei D. Fernando, pronunciou perante Carlos ¥ de Franga, ¢ no qual 9 prelado empregou palavras que aquéle etudito esctitor diz assentarem eno conhe. cimento do milagres (}. €) O Auto das Cértes de Lamego. Nio se deve esquecer que Brandio a0 publicar ésse auto acentuou bem que nao vira déle escritura original € que nao tinha essas Cértes por certas Herculano referiu-se ao mesmo relatério na sua Nota xvi do tomo It da sua Historia de Portugal, nos seguintes termos: ~ 40 ainda mais célebre auto das cértes de Lamego (lalara antes do auto de Juramento da aparicio de Cristea {9 A: Pimentn Bhnentes da Hisona de Portgal, 3934, p, 21 gm nota. As palauran do Bupo podem ficilmente ler setora Conse Bat os Hist da Adin, Puble em Port Pn INTRODUGAO IL 1D, Afonso 1), tinico pela sua forma e citcunstinciss no meio de tantas actas que nos restam de concilios © cones ae Expanha ¢ Portugal desde 0 tempo dos Gédos até © ha Gg século xv, também se tefere a batalha de Ourique comes fundamento da aclamacio de D, Afonso 1 naquelas correc Faremos 2 devida justica a esta invencio de algum deg iat sitios do séc. xv1 quando tratarmos da historia dae insticek, goes © legislegio de berso da monarquis. Diremos, portion, de passagem que pata conhecer que as actis das cdrter de Lamego seriam abaixo da critics, se nao fassem o haver sido consideradas desde 0 século xvit como as leis fundamentaig do nosso pais, basterd atender 20 seu preatobulo, no qual ji figura um procurator regis na época em que procurator sig ficava sempre administrador, cabsga, principal de umoa terre ou Ge uma comporagio, ¢ onde os imsginarics representantes des municipios que sli se fezem figucar se dizem procuranter bonam prolem per suas civtates, no que o falsirio. passou aleve da meta, carregando ignorantemente a mio na batbaridade do latim Prof (proveito) era pslavra antiqueda ja no fiea do sé. xv1, @ por isso querendo o impostor traduzir fem latim barbaro que des eram os que _procuravam 0 bom proveito dos Concelbos, fr dizer ao vedaetor das setae que éles procuravam ter boa descendéncia ou filbos nas suas eidade:>, ete () Falando do mesmo documento, Frei Joaquim de §. Agostinho escreveu: ~sSei que alguns historisdores sfirmam, como facto ine- sivel. que Filipe 1! levou ss Cértes de Lamego conservadss bo livro Porco Espim, do Senado de Lisboa, e que também as havia em Alcobsca, onde hoje nio existem, talvez, pele mesma taxi. Vej. Mons, Lus. Liv. X, cap. 13. Liv, xxlli cap. 29, Figueie, na Cart. a respeito da Heroin. de Aljubarrot. Cunha de Prima Brac Keel cap. 24.n° 14,~Cardoso Agiol. Lus. tl, p.290, ciudo pelo Senh, Bispo de Beja no Comment, 6 &s Mem Hist. dos Pro. a1. ¢ Restabel. das Letras na Ord, Tere. de S, Franc. dos Portug. B. 305, di fundamento pera conjecturas semelhantes, relative, mente a outros Documentos. Porém, embora se conceda que Ob, eit. tome a, ed. 74, pig. 286 es INTRODUGAO. aqucles 60-anos passaram 2 méos atheias muitas Memorias ‘Mss, destes Reinos: talvez o concedamos ficilmente, ¢ tere- mos provas para 0 supor verdadeiro; questio é outta: se os Documentos, que faltam no Arquivo de Alccbsca sendo. por ua, natutezs tuspeitos ede nenbum interese, pia Espace, podem supor-se existentes no cartério daquele Mosteiro ¢ leva. Ae Gull pate livia do Escorial, Inte € 0 que tenbo por improvivel, eoquanto desta suposicio nio apstecetem provas mats decsivasy qusis oA, do. (index, Codie BIL “Ale Olissipon, 1775) deveria ter produzidor, Que o Auto é falso, ninguém 0 pode contestar; mas, com Alftedo Pimenta, deve reconhecer-se que a existéncia das Cértes de Lamego «nao é nem pode ser condicionada pela autenticidade do documento que a afirma, O mesmo A. aponta uma série de factos em que funda a sua opinido quanto a verosimilhanca das discutidas Cortes.) Registe-se, 20 menos por curiosidade, que as Cortes de Lisboa de 1641 decretaram que se tivesse por verdadeira a tradicdo das Cértes de Almacave (); € que a Academia Real da Historia, do tempo de D, Joao v, . (‘) A autoridade dessas Cértes «foi crescendy em Portugal na proporgio do empenho Fe J.deS. Agosiaho wsnona soe os cOiees Manusear tes 4 chanoiig no nom Se nignanes Cec Wee Th peas, pow i) Eduardo Free de Olver Bleep shale de that det EIT pane tome i Ltbon 1890, ig 8006" se duo soak {65 mo se conse ho Argues St uniipo cagucs sae om fees Inia Pore erpon cu Pea espnor ee Tet 6 leveu conga Fats Machide no no Se 1619, wo negreao Ge sig Lisbon Neste Hoe Esisia om exemplae ou tslado do el fondamentee de monnyguta cee Gh" A Finente"Subidies para'a Bd de Pongal abe: 15 ir 92:95 BG) Flane. da. Fonsecs Repeider Rashes de Paral pig. 87 US) DiFranco Colin de Sous e Se Palo Preeqaer dl Bireto ibiza Patt, Coie, B98 pag INTRODUCAO, LI que os espanhéis punham em refutar a sua existén- cias—diz Gama Barros; ¢ elas tiveram, com efeito, autoridade legal nas Cértes do séc. XVII ¢ em actor legislativos do século seguinte. Vide Amaral (Anto- nio Caetano do-) nas Mem, da Acad, Vil, pag, 353 nota ce Rocha (Coelho da-) Ensaio (sobre « hist do Gov. etc) () f) Vassalagem a Santa Sé. A chamada Carta de Feudo 4 Sé Apostilica foi editada pela primeira vez por Frei Bernardo de Brito na Cronica de Cister, live. 1, cap, 4, onde o Cronista informa téla recebido em copia de Gaspar Alvares Lousada, juntamente com a Bula do mesmo Inocén- cio Ih a quem diz dirigida a Carta de Feudo; Lousada, por sua vez, teria havido as copias do Arquivo de Toledo.) Santa Rosa de Viterbo no vb. Dinkeiro, (}) produz essa mesma Carta com algu- mas variantes (a primeira ¢ a falta de enderéco, pois comeca logo Clauis Regni Coelorums, dizendo Viterbo que ela era dirigida a Celestino 11; outra é a data, que diz ser Era MCLXXX1, quando Brandao da Eta, de 1180) copiada do arquiva da Igreja Bracarense, para onde teria ido por copia do Registo de Laicio 11 Essa copia é das mais seguras; a data nela indi cada (Era de César cortespondente ao ano de Cristo de 1143) é que deve ser a verdadeira Joao Pedro Ribsito esforcou-se por mostrar as suspeigdes dessa Carta de Feudo. Publicou a copia de Braga, com as variantes de Brito, Brandao e 40) (Betton. Hist. da Adm. Pub. 1, Lisbos, 1885, pig. 633, wT Ebsiro Diss, Chr. vol, Disa 1, 2° ed, pig. 68 P) Bhicidario 2+ ed’ ol. 1° Lisboo, seniceceay ali a igs 267 ZAR OnDE OF LF 52> SIBLIOTECA PEORO VEIGA SPORTS Lu INTRODUGAO. Balizio, (}}¢ a ccarta atribuida por Balizio 20 Papa Licio 11, em resposta da do Senhor D. Affonso Henriques». Acentuando que ainda que esta tltima mereca todo o crédito —de facto merece-o ~ ela nada tem de comum com a de Lousada Machado, — considera esta Gltima fabricada & face da genuina de Alexandre m, a célebre Manifestis probatum. Baseado em vatias contradigées de datas, Joio Pedro Ribeiro nega também autenticidade a Caria da Vassalagem, de Afonso Henriquesao Papa, (?) «persua dido de que fora fabricada para cortoborar aquela (outra) insigne imposturay da Carta de Feudo 20 Mosteiro de Claraval () Herculano, embora considerasse cindubitavel- mente forjadas a resposta de Inocéncio 11, que Brito publicou e Brandio reproduziu —respondeu triunfan- temente as objecgdes levantadas por Jodo Pedro Ribeiro contra a Carta de feudo a Sé A postdlica (4); deve apenas notat-se que, segundo Gonzaga de Azevedo, ésse diploma nao é propriamente uma carta, pois nao tinha © enderéco que em algumas cépias aparece (°) Considera-se hoje apurado que éste diploma de ablagao ou, se quizerem carta de feudo~, chegou a Roma, conforme em parte lembrava Brandio e escreve Reuter, ¢apds 0 falecimento de Inocéncio ile por isso foi langada no registo de Lucio 1, sendo esta a fonte da qual emanam tédas as c6pias» (9, No registo de () Balizio Miselan, Tom. 1, pig. 220: ¢ na ed, de Luca de 1762, ‘Tom. i. pig. 78: Col. 2* (cit-de Ji. Hib} Foi editads por Balézio oe Baluze (ed Mans. u, 78) seg. tepieto de lnovéucis wv leit de Revtet que anda ver a edicio do sregisto de Inocéncio av pot & Berger e 2 nots de Erdmann em Das Papuriem und Portugal im eaten Jabrbundrt der porughe, suchen Gesebichte,p. 90. 8) Dis. 11,24 ed. vol, 1°, pig. 65. 76. () Here, Hist. de Port 7* ad, tomo i note xt%, pig, 300. (@ Id. ob. pap. 900 208, @ L.G. de Azevedo, ob. ¢ vol. eit, pig. 34 Renter, ob cit. pag. 183, doe. 126 INTRODUGAO Lilt Tnocéncio IW encontram-se reprodusides o diploma ou carta de oblagao e a resposta de Liicio I(r dare editou Baliizio (9). 8) Feudo do Mosteiro de Claraval. A Carta de Feudo do Reino ao Mosteiro de Cla- taval € hoje considerada como uma falsificagio do século xvi. Existia em Alcobaca, no tempo. de Frei Bernardo de Brito, que pela primeira vez a publi, cou na Chronica de Cister, cap. 5;em seguida public caram-na Brandao e Frei Manuel dos Santos (), que a transcreveram do original. Ainda a examinou no Cartorio daquele Mosteiro Joao Pedro Ribsiro,e nela viu o sélo real de céra branca ('. Hoje guarda-se no Arquivo Nacional da Térre do Tombo.() «Os Padres Maurienses (Art de Verifier les dates, 32 ed. T. 1, Diss, prelim, P. I, § 10, pag, 19) a citam do Arquivo de Cla. aval —lembra’o referido J. P. Ribeiro ( Considerada auténtica, sem discussao, até 20 tempo déste insigne Diplomatista, foi éle quem pela primeira vez atacou a sua validade, demonstrando trespondivelmente tratar se de uma escandalosa mis. tificagao. Tanta fe se lhe ligara, porém, que D. Jodo 1v, por Dec. de 17 de Abril de 1646, mandou satisfazer anualmente a prestagio. supostamente devida 20 Mosteiro de Claraval, pagamento que se fez, embora com alguma interrupgao, até aos dias de J. P. Ribeiro; nos tribunais, essa Carta foi muitas vezes invocada © aceite, sem controversia, para firmar a competéncia dssea ), HE telere que em 18410 Vise. da Cateitaremete certidéo sete doc. o Arq. Nac. da Te do Tombo,ob eval ot pag Sud GF Sa ite ree ce 8 Aleboca Haida, Apparat « Hist pig. 64 ® Dis ty volt pag Sh fe Reuter ob. cit, pop. 165, (9) Diss ih volt pig 54-83, Liv INTRODUGAO do Juizo da Coroa em litigio sobre bens dos Mos- teitos Cistercienses»;e «Antonio de Sousa de Macedo (Lusit, Liberat. L. 1, cap. 2} muito sériamente se propos mosttar que 0 feudo prometido na mesma Carta (de cuja genuinidade nao hesiton) nio dava direito algum ao Mosteiro de Claraval sobre éste reino por morte do Senhor Cardeal Rei D, Henrique» ('). Nio ha dvida, porém, de que simples exame dos caracteres intriasecos do Documento (solenida- des, data, contexto etc) levam a0 convencimento inabalavel de que se trata de uma falsificacio (do séc. XVI). [Basta reparar em que D. Afonso Henri- ques nao podia governar na Era de 1142 (a. Cr. 1104), fem sequer nesseano estava ainda fundado o Mosteiro de Claraval! Brandio reflectiu nesse facto, mas resol- veu a dificuldade; lendo, como Frei Manuel dos Santos, Era onde’ Brito lera estranhamente Ano, considerou nesse documento Era como sindnimo de ano—o que ¢ contra o costume do tempo-, e significando ano do nascimento de Cristo (conforre Brandao fizera em relagio ao famoso Auto do Juramento sibre a Aparicéo de Ourique, do qual, alids, a teferida Carta denota directas influéncias, numa breve passagem logo apés as ptimeiras linha); por esta forma o anacronismo desaparece.. b) Dongio do eclesidstico de Santarém aos Templatios. Da doagio do eclesiastico de Santarém 4 Ordem do Templo~que Brandio transcreveu do Livro das Ordens Militares fis. 62, na Tore do Tombo — Santa Rosa de Viterbo copiou, do original, entio ainda existente em Tomar, 0 que essa doagao tinha J.P, RID, ob, wal, cit pig. 55. INTRODUGAO, Ly de «mais interessante», e publicou-o no seu Ehucidario, vb. Tempreiros (2 ed. ‘pag. 235.236), com um adita. mento que no mesmo documento se lia, em eletra daqucle tempo, porém mais mitida, e a tinta mais pretax, Ver a éste respeito 0 que diz Reuter a pig, 209, doc. 145, das Chancelarias Medievais Portuguesas, i) Vida de S. Martinho de Soure. Esta Vida 6a Escritura xix do Apéndice (nesta ed. Escrit. 1) que Brando, em nota marginal, diz ter sido copiada de fis, 46 do Livro antigo escrito de mao, que se intima dos testamentos, pertencente ao Cartério de Santa Cruz de Coimbra, Esse Livro dos Testamentos, hoje na Tore do Tombo, € a primeira das duas partes em que se divide © célebre cartulirio conhecido pelo nome de Livro Santo ou do Mestre Pedro Alfarde, ~ xeddice pergamindceo —diz Rui de Azevedo com a enca. demnacio moderna, cscrito numa sé coluna, pau- tada a séco, © composto primitivamente de 148 folhas, de que the foram cortadas oito. Titulos © parte das iniciais a vermelho; aumeragio ro mana, antiga, ¢ depois de fol. 80 também nume- ragao moderna, O cartulério propriamente dito comeca a fol. 17, porque até ai féz-se néle tras lado dos mais antigos previlégios pontificios do mos- teito (de Santa Craz, de Coimbra), precedidos de uma noticia sébre a fundacio do mesmo e vida do seu fundador, 0 arcediago Telo» O Livro Santo, como ficou observado, «reparte-se em dois livros, 0 dos testamentos ou doagdes, ¢ 0 das vendas ¢ trocas, subdividindo-se o 1.° em cinco par. tes ¢ 0 2° em quatro; tem indices com os documen- tos numerados, sem obediéncia a ordem cronolégica, LI INTRODUCAO. ¢ em tddas as suas partes se deixou espago em branco pata aditamentoss, Comegou «a escrever-se em 1155, conforme se diz no prologo e ¢ atestado pela andlise interna. Trata-se assim de um original. Foi seu principal caligrafo o conego do mosteiro Pedro Alfarde, que veio a ser o quarto prior, nos anos de 1184 90> © que trabalhou nesse livro ‘ainda em vida do prior S, Teoténio, todavia ji quando o con- vento de Santa Cruz era totalmente dirigido por Joao Teotdnios ('). Segundo Rui Azevedo, os folios do Livro Santo foram pteenchidos em trés etapas distintas: 1* —assento ptimitivo, em 1155, da letra de Pedro Alfarde; 24—primeiro aditamento, em parte talvez por Alfarde, feito entre 1155 ¢ 1167; 3*~ segundo aditamento, do primeiro quartel do século XIII, no priorado de Joao César (1196-1226). A Vida de Sao Martinho de Soure (fol. 46 y.° a 49) é um aditamento déste grupo; o escriba que o regis. tou foi o mesmo que copiou um «documento do ano de 1220, a fol. 50 v.°, outro de 1224, a fol. 51 v° © ainds outros». Por isso Rui de Azevedo conclui sttatarse de um registo dos fins do primeiro quartel do sé. xit», acentuando io haver «divida que Herculano se enganou ao considerar a noticia da Vida de S. Martinho de Soure quasi coeva dos pri meitos assentos, isto é meados do século Xtl>() Nes Portugalia Monumenta Historica-Scriptores a Vide citada ocupa de pag. 60 a 62; na pag. 59 ede 62 a 64, Herculano da noticia do Livro Santo ¢ publica o respectivo prologo. 18) lolormacoes de Rui d'Azevedo, in Decxmentos falzos de Santa ‘Gree, Lisboa," 1995, p. di, com eiacdes de Nicolau de Sante Mati, Hercilano, Pedro de" Azevedo @ Antonio Baiso, Etdunenn ¢ }. MM Buroam, 1) Rode Azevedo, ob, cit. pig 54. INTRODUGAO LVIL 4) Relatério da conquista de Santarém Brandio reproduziu éste relatorio (no Apéndice é a Escritura 11 desta edigao, ¢ xx da P.1da Mon, Lus,) de um cédice do Cartério de Alcobaga:— «hii liuro grande escrito de mao em pergaminho q con- tem as obras de S, Fulgencio». Esse cédice encontra-se hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa, ¢ tem o n° 207 do fundo alcobacense. Do Inventario dos Cédices Aleobacenses, (L.** 1932) publicado pela Bib. Nac. de Lisboa, pag, 391, extrai- mos a sua descticao. = «cov a5 Obrs de S Folgéneio de Uspe (De fide incarationis Filii Dei, Pro exponendis quingue queesionibus, De regula verce Fide ¢ Reseripium de Aethiopit baptismate) com uma carta de Seat ¢ uss de Femando Diacono, divigides @ 8. Fulgen: Gio, ~ Os sete livros das Historias, de. Paulo Osorio, seguides io da conguista de Santarém e do camen de ove a conguiste de Alcicer do Sil pon 482%200.—(150 Hs) 2 clo [| lt xin) {. 0th foinads de Santrém comecy ie a Quomedo si eapta saren crit dregealfonso config iy, ermina os {146 08] A segue ate esl tra diferente ¢ posterior (a segunda metade dose. 2), © camten de Goswino sdbre a conquista de Alcacer do Sal € a rubs: Quon? capt fuit aleaser afoncis Frei Joaquim de Santo Agostinho, que conside- rou a Oragdo sobre a conquista de Santarém «mais em estilo de romance que de hist6rias, condenou-a ccomo supositiciay «com dous fundamentos: 1° por ser escrita no fim de um cédice antigo com letra do século xvi e junto de outros documentos provados LVI i INTRODUGAG falsos; 20 i 2 POF ser (quanto a éle) j comada de Santarém, colocande? a notcineett itiulaidede do_més ¢ diz (Marco 13). (0 ‘ardeal Saraiva (Frei Fram; ‘a duvidava de que orelato 45k leghimes ona) *L*~ Porque te : pele Scnbor "dit Porsuspeios estes Relatrvese tbrica do Juramento de ag ode" © parecem-nos pipet Paine Orden da’ la fo 20,Ceme0 de Ouiquae da ‘incips que faem autor of ees 12° ~ Porque ton oe Boraue tems por inverosimi} © ano om gue ares, fe ELR&i ndo so Gadde tne TH andava da sua ida oe uasi cette cronalo #sesse que andava SPoraae sno fa suv Hannes do. sew rein af0s0 que ELRej dizende Goer badd desde 1128 {args PERC! contse erm diplosee, @48%2 nos desenove deco eig) ote @5 conta BP TTS e 8 oan aa’ ZO) wo gus el #20 rapa MH (Gee sibsmo come crea SEP +5? ~ Finalmente, fade nore deinen EO 0s pases aller primeto ih 2 49 a ¢ mcs eng’? HU cassmento, bens Sorte tad a, esa 18 no principe S888 eo mDOleBicES de nomey Ge fy RESO, com explicn be escu- As objeccses de Frei Joaquim de Santo Agos- {9 Seeunto its Menor. dt Liter cd. vol. 2° ar ele doe esd SP 3 gS 2° HB 300, em que (5° Sonate de Siar Fret Jounin oe oe die Mh, 1873, pig, 265, INTRODUGAO Lix tinho tespondeu Herculano, numa das Notas da sua Histéria de Portugal ('); nao respondeu, porem, as do Catdeal Saraiva, publicadas s6 depois da'1 edicao da Histéria de Portugal, embora escritas muito antes, Her- culano admiteo caracter de veracidade do Relatorio de Alcobaga, «pela concordancia delle com outros mona: mentos daquela epocha recentemente descobertos e, portanto, desconhecidos dos falsarios do século XVIn, Afirma que «no codice 207 de Alcobaga, hoje na Biblio- theca Publica de Lisboa, ha cousas de mao muito mais moderna, mas nem a narrativa da tomada de San- tarem nem 0 poema de Gosuino (3) 0 sd», ()e «posto que nao haja absoluta certeza de que ella seja um monumento contemporaneo, € 20 menos quasi coevar,e digaa de fé,— pelo menos nas «circunstancias do sucesso» eque nao parece derivarem das formas poéticas que predominam nessa meméria> (4 k) Indiculo ou Relatério da Fundagdo do Mo.teiro de S. Vicente de Fora, E a Escritura 111 do Apéndice, neste volume, ou xx1 da P. ut da Mon, Lus. Esta publicada também em P.M. H. Scrip. pag. 91.93, Porque nos parece de superior interésse, trans- crevemos integtalmente 0 que Herculano diz desta Jonte legitima para a historia da tomada de Lisboa: = lndiculum Fundationis Monasterie B. Vinceatit Ulixbone. Maauscripto do cartorio de S. Vicente no Archivo () Here. His, de Port. 74 ed. vol. 2,, pg. 309 ¢ seg. Nota xt (8) © Gomint de Expugnatione Salacice Carmen cacontease repre dutido, déste cédice, de pag. 102 1 104 dos Postugnlic Mon: Flitosen: _Setipiores Frei Anténio\Uesadse publicow a0, pesina, wn WV Pate de ‘on ae. G@)" Here. ob. © vol. ct, pigs 310, () Here! obs ¢ vol cit page 217. LX INTRODUGAO Nucional. Foi _publi i ‘oi publicado por Brendio, Mon. Lusi Appendic. Escrit: X31, subttincialmente anado, Pobeady Cpftectamente nos Mentomenta (Scrptores), vol. p.92. Teer se ctlercido algumas duvidas sébre a sua'authencidade. O que se pode ter por certo & que ou nio foi esctipto nos prime, tos snnaz do reinado deD. Sancho 1, como thi se. Sndics Su due € sive cOpla tirada posteriormente, 0 que nos parece mais provavel vista das pondeisedes que. vamos fazer #ce%a desta meméria, a mais peticularizada de. todas (es fontes histéviess para historia da tomada de Lisboa), salvo 4 carts de cruzado inglés e a carta de Armulfo a0 bispo “Aetius est ut te videant infideles, ef credant quam exo, qui a fonte baptismatis te Dew verum filium Virginis, ef Patris dterni agnovi, et agnosco. Erat autem Crux mire magnitudinis, ef elevata d terra. quasi docem cubitos. Dominus‘ Gis sono, quem indignae aures see pe Non ul tuam fidem augerem hoc modo apparvt tibi, sed ub corroborem cor tum in hoe conflitu, ef initia Regni tet supra firmiam petrain stabiliven. Confide Alfonse, non soltun “enim hoe certamen vinces, sed onines alios in guibus contra ininicos Crucis puenaveris, gentem tuam invenies alacrem ad bellum, ef “fortem, petentem, ut sub Regis nomine in hac pugna ingrediarts, nec dubites, sed quid quid petierint, libere concede. Ego enim edificator, et dissipator imperiorun et Regnortm sun: “volo enim in te, ef in semine tuo iinperitin mihi stabilive, ut defo. atu’ nomen mem in esters gentes; ef te agnoscard suecessores tui datorem regni insigne tau ex precio; quo ego Iuumanum genus emi, ef ex e0 quo ego a Indéets emplus sim compones, et erit miki Regnwn sanctificatum, fide purunt, et Pietate dilectum. Ego ut hice aitdiviy. huni prostratus adoravi dicens. (Quibus meritis Domine tantam mihi annuntias pietatem, quidguid iubes faciam, ef tu in mea prole, quam provtittis oculos benignos pone, gentem gue Portugallensem salvam custodi, et si contra eos aliquot paraveris malin, verte illum potixs in me, et in successores ‘meos, e¢ populion guem tanguaim unicum filium diligo, absolue. | Annens Dominus. ingutt. "Non recedet ah eis, neg: @ fe unguam misericnrslia mea, por illos enim parart anil messem imultam, et eleai eos in messores mecs in terris longinguis, hee dicens disparvit, et ego fiducia plenus, et 26 FREI ANTONIO BRANDAO redij in castra, et quod taliter fuerit, iuro ego Serie Rds per sanctissima Tsu Christ ‘Brengelia ice, manibue facia.» deireo precio suecessortbus mes in perpetuum futur a seule quingue i erucem par Tar propior, Crucem et guingue sulnera Christy in tn ? frit ein ioquogue trigintr argent: at super Sitpdntem, Moyes, ob Christ figuran, ef hoc sit meme, ide wostrne in gencratione nostra’ af si quis. liu Tdtentayert, 4 Domino sit-maleditus, ef cum: luda tre Shore in informum maceratus. Facto carta Kalend. Novembris. Era M.C.LI. ‘Heo cildefonsus Rese Portug 1. Colimb. Epise i. Brachareehs. bletropo T. Prior, Ferdinan ius Petri Curie Dapif. Petrus Fela. Curie Signifer Velascus Sancif ii Alfonsus Menen. pref. Ulis. Gondisalvus de Sausa proc. Imn Pelagine Menen procir. Vise. suer- Martin. procurat. Coli Ee cellar. : : : ignificagao em portugues é a seguinte: | SBE Akane, ret Ge Boreal ilo do conde Henrique ¢ neto do grande rei D. Afonso, diate des, bispe de Brags 6 DaPs dino fro em ete Cr de metal, e nate Hiro dos tee Evangelhos, em que pono minhas mios, que ey mise~ BeGP pecador Stes clos indigos a Nosse Senor jesus Cristo estendido na Cr a ge mo sequin Ba are com meu exéreito nas terras de 20 Campo de Our cy para lat batalha lsmael e outros gato fels mouros She finbam consigo infinitos milhares de omens, © minha Gene temerosa de sua multidio, estava atribulada ¢ tris Sobremaneira, em toato que pilblicamente diziam alguns set femeridade acometer tal jorada, eu, enladado do que buvia, comecei a cuidar comigo que faria; © com tvesss na rane ede ee Crise abriy eh sale a vhéria de Gedeio, ¢ disse entre mim'mesmo: Mui bem sabeis vos, Senhor’ Jesus Cristo, que por amor vosso to b. AFONSO HENRIQUES 4 este guerra contra vosses adversirios ; em vossa mio estd dar a'mim ¢ aos meus fortaleza para vencer @stes blasfema- dores de Vosso nome. Ditas estas palaveas adormeci sobre © livro ¢ comecei,a sonhar que vit um homem velho vit para onde eu estava ¢ que me dizia: Afonso, tem confianca, porque vencerds © destruirds éstes reis infdie’ e desfards sae poténcia ¢ 0 Senhor se te mosiraré. Estando nesta visio, ‘hegou Jodo Fernandes de Sousa, meu camareiro, dizendo-me! Acordai, senhor meu, porque esti aqui um homem velho que vos quete falar. Entre (lite respondi) se é eatolico: e tanto gue entrou, conheci ser aquéle que no sonho vira, o qual me disse: ’ Senhor, tende bom coragio, vencereit ‘e ‘hio sereis vencido; sois amado co Senhor, porque sem divide pos sobre ds, ¢ sdbre vossa geracio depais de vossos dias, 03 olhos de sux misericérdia, até A désima sexta descendén cia, na qual se diminuiria a sucess#o, mas nela assim dimi. muda @e tornaré a pdr os olhos, ¢ verd, Ele me manda dizer-vos que quando na seguinte noite ouviedes a campainha de minha ermida, na qual vivo ha sessenta e seis anos, guar: dado no meio dos inlidis com o favor do mui Alto,’ sainis fora do real sem nenhuns criados, porque vos quere mos. tar sua grande piedade. Obedech e, prostrado em terra com muita reveréncia, venerei o embaixador e quem o man. dava, e como posto em oracdo aguardasse o som, na segunda vela da noite ouvi a campainhé, e armado com espada e rodela sai fora dos reais, e sibitamente vi & parte direita contra o nascente um raio resplandecente, ¢ indo-se pouco © pouco clarificando, cada hora se fazia maior, e pondo de Propésito os ollios| para aquela parte, vi de repente no pré- prio raio o sinal da Cruz, mais respiandecente que o sol, ¢ Jesus Cristo crucificado nela, e de uma e de outra parte uma c6pia grande de mancebos resplandecentes, os quais ereio que setiam os santos anjos. Vendo pois esta visio, pondo “aparte o escudo ¢ espada, e langando em terra as Foupas, ¢ calcado me lancei de bruses, e desfeito em lagri mas comecei a rogar pela consolacao de meus vassalos, ¢ dlisse sem nenhum femor: A que fim me apareceis, Senhor ? Quereis, por ventura, aerescentar fé a quem tem. tanta? Methor por certo que vos vejam os inimigos e creiam em Ws, que ett, que desde a fonte do baptismo vos conheci por Deus ¥erdadeiro, filho da Virger » do Padre Eterno, o assim ¥os conheso agora. A Cruz era de maravilhosa grandeza, levantada da terra quési dez-cdvados. O Senhor, com um 28 FREI ANTONIO BRANDAO tom de voz suave, que minhas orelhas indignas ouviram, me disse: Nao te spareci déste modo para acrescentar tua £6, mus para fortalecer teu coragio neste conflito, e fundar 08 principios de teu reino sObre pedra firme. Confia, Afonso, porque nio s6 venceris esta batalha, mas tOdas as outras em ‘que pelejares contra os inimigos de minha Cruz. Acharés tua gente alegre e esiorgada para a peleja, ¢ te pedira que fenives na batalha com title de rei. Nao poabas divida, mas tudo quanto te pedirem Ihe concede faciimente, Eu sou o fun- dacor e destruidor dos reinos e impérios, ¢ quero em tie ‘teus descendentes fundar para mim um império, por cujo meio seja meu nome publicado entre as nacées mais estranhas. E. para que teus descendentes conhecam quem Ihe da o reino, Comporis o escudo de tuas armas do prégo com que eu cemi d género humano, ¢ daquele porque fut comprado dos judeus, e Ser-me-A reino santificado, puro na fe amado por minha pie- dade. Eu tanto que ouvi estas coisas, prostrado em terra, 0 adorei, dizendo ; Por que méritos, Senhar, me mostrais tio grande misericérdia? Ponde pois vossos benignos olhos nos Sucessores que me prometeis, guardai salva a gente portu- guesa. E se acontecer que tenhais contra ela algum castigo aparelhado, executaio antes em mim e em meus descenden- 16s, ¢ livrai éste povo que amo como a tinico filho. Con semtindo nisto, o Senhor disse: Nao se apartard dales nem de ti_nunca minha miserieérdia, porque por sua via tenho aparelhadas grandes searas e a éles escolhidos por meus segadores em (erras muito remoras. Ditas estas palavras, desapareceu e eu cheio de confianga © suavidade me torne! arto real. KE que isto passasse na verdade, juro eu, ‘Afonso, pelos santos Evangelhos de Jesus Gristo tocados com estas ‘méos. 2, portanto, mando a meus descendentes jue para sempre sucederem, que em honra da Cruz e cinco hagas de Jesus Cristo tragam em seu escudo cinco escudos partidos em Cruz, e em cada um déles os trinta dinheiros, € por timbre a serpente de Moisés, por ser figura de Cristo ste seja o trofeu de nossa geracio. E se alguém intentar © comtrario, seja maldito do Senhor e atormentado no inferno com Judas, 0 taidor. Foi feita a presente carta em Coim- bra aos vinte e nove de Outubro, era de 1152 Eu elrei D. Alonso. Jogo, Metrapolitano Bracarense Jodo, Bispo de Coimbra ‘Teoténio, Prior. D. AFONSO HENRIQUES 29 Femto Peres, vesdor-mor da casa Vasco Sanches. a ‘Afonso Mendes, governador de Lisboa. Gongalo de Souta, procurador de lintre Douro ¢ Minho, Paio Mendes, procurador de Viseu. Sociro Martine: procurador de Conbra Mem Peres 0 escreveut por mestre Alberto, cancelério de el-tel Deve-se advertin que a data déste testemunho é ano de Cristo e nfo era de César, porque a ser era de César fieara sendo antes da batalha de Ourique e incluia implieagto mani. festa. Nao deve de causar divida néle estarem tOdas as firmas de uma mesma letra, porque antigamente nao punam seu sinal os que confirmavam € eram testemunkias, como além da experiencia de pergaminhos originals temos' adver, tido de se Romearem muitas vezes us igrejas catedeais que estavam vagas, as quais claro é que nfo faziam estas firmus Faz mais cm ab6no déste testemunho o que diz Duarte Galvdo no capitulo 15 da crénica de elsei D. Afonso, que quando foi uma meia hora ante-manha se tangeu o sino, como 0 ermitio dissera, ¢ 0 principe saiu fora de sua tenda, segundo éle mesmo disse e deu testenmunho em sua historia vit a nosso Senbor em Cruz na maneita que dissera o ermi- Yio. Eno fimdo mesmo capitulo, maagoendo-se 0 autor do esquecimento que havia das promessas feitas por Cristo nosso Salvador a el-reiD. Afonso, diz déste modo, E por suas coisas andarem por culpa dos tempos em muti falecida Tembranca de escritira, quis Deus, segundo parece, que (ficassem algumas em confirmada fama. ¥. posto que 0 autor nna relagio que di das promessas ‘de Cristo ngo faca mengiio mais gue dos favores, calando 0 ott.u ponto da diminuigio da casa real na décima sexta gerasio, nem por isso ¢ de crer que o ignorava, antes ¢ verosimil que, cotso em. tempo do glorioso rei D.’ Manuel, quando escrevia ndo feltassemn mais que duas geragdes para o efeito daquela profecia, @ gual se hevia de cumprir em os netos ow bisnetos. daquele principe (como sucedeu) o no quisesse desgoster, nem enteis. tecer o reino fazendo semelhante lembranga. 30 FREI ANTO! “IO BRANDAO, CAPITULO VI Em que se mostra como antes de el-rei D. Afonso Henriques houve outros reis em Portugal © eo desmembrou esta provincla das outras de Espanha. Ainda que comummente se tenha ser el-rei D. Afonso Henriques 0 primeiro rei que houve em Portugel, se deve entender dos reis que com sucesso continuada perpetuaram esta coroa. Porque, falando absolutamente, notério ¢ entre 08 que téem alguma noticia das histirias, ndo ser esta 2 pri meifa vez que Portugal aparece ‘uo mundo com titulo: de reinado, Antiqilissimo é éste nome, e a dignidade real nesta provincia. Porque deixando 0 modo de govérno particular gue sempre teve entre tOdas as mais de Espanha e a separa Gio que sempre fizeram os escritores dos naturais déste Feino a0s outros povos de Espanha, no se contentando com The der o nome genérico de espanhdis somente, como 20s otros, atribuindorlne sempre o de lusitanos, somo ainda hoje se costuma: sabemos que quando na declinagao do Império Romano vieram nagbes virias do norte e ocuparam Espanha € outras provincias, coube aos alanos ¢ logo aos suevos a ferra de Portugal, sonde remnaram com sentorio separedo e lndependente alguns anes, : a ‘No fim de um martirolégio antigo do mosteiro de Cér- quere, esto estas palavras. Rapavsianus Lusitaniam & tomanis capessit, fuit Alans quidem ef Lusitanie Rex, sed Breviter a suis occisus successit Aitacius, gui ultra Lusi taniam sian Regnum dilatavit, sed & Rege Gottorum inte fectus occubuit. “Quere dizer: «Rapansiano tomou Lusiténia ‘tos romanos, foi alano de nasdo e rei desta provincia, e como. 05 seus em breve tempo o matassem, Ile suceden Atasses, 0 tal ditatou seu imperio tlem des Hiites de Lusitania a0 fim 0 veio a matar el-rei dos gddos. Sucederam os suevos da Galiza no que os alanos inhio em Lusitinia e ficou Hermenerico ret de ambas as Galizas Lucense € Bracarense, porque Atasses nio teve her- deiros. Fetes reis euevos assentaram sua cérte na cidade de Braga, como consta de muitas memérias antigas. Em 0 brevidtio’ de mio desta igreja, nas ligdes do arcebispo D, AFONSO HENRIQUES 31 S. Martinho, se diz, que reinava em Braga Teodomiro. Bra- care Regnabat Theodomirus. Em o livro do cabido da Sé hha uma carta de el-rei Trodomiro, esctita aos bispos ce set reine congregados no concilio de Lugo, a qual comesa: Cupio santissimi Patres ut provida utilitate decernatis in Provincia regni nostri, ete.” Na qual Ihe encomenda orde- hem e acrescentem as metrépoles de seu reino, como em efeito executaram, dando a Lugo titulo de Metrepolitana, ¢ ordenando bispado em Dume, a quem pertencesse a familia real, o qual € sinal manifesto que os reis tinham sua corte em Braga, junto da qual estd Dume, e é ao presente uma pardquia da cidade para o norte. Foi escrita a carta de ‘Teodomiro na eta de G07, ano de 569, € é pode ser, une das mais antigas déste género que hi em Espanha De outras escrituras da mesma Sé de Braga consta como reinava ¢ residia nesta cidade el-rei Miro, e particular mente de uma da era de 610, ano de 572, a gual comeca Post peracto Bracharensi Synodo ibidem in diebus glorio- sissimi domini Mironis Regis in pravsentia ipsiu Regis. Quere dizer: «Depois de acabado 0 sinodo Bracarense em o rei nado e presenca do gloriosissimo rei Miro, etc.s E por outra scritura do mesmo livro, que é ceria doagio de eb-rel D. Afonso Magno, consta que os reis suevos se enterravam nna igreja de Braga, e assim se nomeia: Ecclesia Sancti Marie Bracharens, quod est camiterium Regale. Durou o reino dos suevos, como se colhe du histéria de S. Isidoro, 177 anos, até 0 ano 17 de Leovigildo, rei dos gédos, ¢ de Cristo 585, em que se uit a monarquia de Espa. Bha.. “Porém tornou-se a separar em o ano de 697, porquanto Flavio Egica largou 0 reino da Galiza a seit fitho maior Vitiza, 0 qual possuiu éstes estados até 0 ano de gor Depois da entrada dos drabes e restauracio de Espa aha pelos reis de Leto e Oviedo, se tornou a restituir « Portugal © titulo de reino, ¢ teve feis particulares. El-rel D. Afonso Magno, alguns anos antes da sua morte, deu Por- tugal ¢ Galiza a ‘seu filo D. Ordonho. Ha déste principe algumas memérias do tempo de seu reinado. Um privilégio da Sé de Braga, cuja data ¢ em Fevereiro de goo, acaba assim: Regnante in Galletia, e in extrema Minij, e in extrema Dorij Ordonius Rex Aldefonsi filius. Isto «Reinando em Galiza ¢ nos extremos dos rios Douro ¢ Minho ebrei D. Ordonho, fiho de D. Afonso.» Déste rei se conte que, senhoreando Portugal e Galizs Ba FRE] ANTONIO BRANDAO ‘iéz guetta aos mouros com grande reputasio, ¢ chegou a onguistar a cidade de Beja, a, qual estava entdo em o cora- gio do reino dos drabes,’ Este rei foi o que sujeitou a provincia de Braga & igreja de Lugo, por estar entéo aquela Gidade_acrufinada, como consia da eseritura de sua restau: ragio ji referida.” Finalmente possuit) Gstes reinos separa. dos até o ano de gi5, em que se tornaram a unir com Leto por morte de el-rei D. Garcia, seu irméo, 2 quem éle sucedeu. Em o ano do Senhor de 1oG4, em que faleceu elrei D. Fernando, Magno, se dividiram seus reinos of seus trés filios "1D. Sancho, D. Afonso e D. Garcia im Castela suceden 1D. Sanchd, Lefo se deu a D. Afonso, Portugal com Goliza ficaram a’ D. Garcia, Nao importa referir neste lugar 2s coisas de seu reinado, pois no fim do segundo volume desta obra estio escritas, mas em confir- magio do nome de reino que Portugal ji gozava, pode ser- vir’o epitifio de sua sepultura, o qual diz assim: Hl R. Dounus Garcia Rex Portugallie, et Galecie Jilins Regis Magai Fernandi. Hic ingenio captus a fratre ‘wo ia vinculis obiit Fra M.C.XXVIN, — Kalendis apritis. Quere dizer: eAqui descansa D. Garcia, rei de Portugal e Galiza, filo do grande rei D. Fernando, o qual sendo préso por engano de seu irmio morreu na cadela em a era de M.C.XXVII, a onze das calendas de Abril. Vem a ser a 22 de Margo do ano de Senhor de 1090. Esti a sepultura deste rei na igreja maior de Ledo, ¢ nela se vé sua figura de meia talia com grilhbes e cadeins na forma que éle deixou ordenado, por ter na morte sepulcro as insignias que 0 acompanherem na vida Ultimamente se desmembrou Portugal sé dos outros reinos de Espanha em o ano de 1094, como ja temos mos- trado, por dote dado par el-rei D. Afonso, o Sexto, & rainha Dona Tareja, sua filha 'e déste tempo em Durow © reine diante ficou separada esta coroa até 0 ano 4 Portal nz e580, da gual se comesou a chamar rel #40. 486 Tonos, infante D. Afonso, filho da mesma rainha, antes da batatha dé Ourique e depois dela foi continuando o titulo com maior firmeza eo deixou estével © perpéiuo a seus descendentes. D. AFONSO HENRIQUES 8 CAPITULO VI De derivasto © signicacto das armas reais de Ports @ somo da batalha Je Ourque connaseas ete outras meas vere ee sage fonds D. Heotique ¢ seu fh o infemte D. Afonso teaziam por armas uma Cruz, a que chamam potentea, por ter a haste de alto a baixo mais longa que aoutra gue atravence de parte a parte. Nao foram éstes principes 6s. prineinee gue usaram desta sagrada insignia, que o imperador Core, fantino @ pintou em seus escudes, ém sinal da que lhe apa. Feceu no céu, quando houve de dar a batalha a Maxéndo, Também os reis de Aragio ¢ ainda os de Leto, depois de eltei D. Afonso, © Casto, tomaram a Cruz sagrada por armas ¢ usaram dela algum fempo. Se foi esta empresa part cular do conde D. Henrique, ov a tomou pela rarao inteodu, da em seu terapo, dos que passavam 4 Ferra Santa ¢ pela mesma causk se chamavam cruzados, nfo podemos deter. sminar, Elsei D. Afonso, com a ocasiio da batalha de Ouri- gue, tomou por armas as cinco quinas tio celebradas ¢ conhecidas em tdas as quatro partes do mundo, ¢ pore no perder a meméria da insignia da Cruz, ordenou os escudos fem. forma de cruz, e temos advertido em sclos ¢ medalhes antigas serem os éscudos daquele tempo feitos a0 comprido, @ modo de pontas de langas, com que a sagrada Crud mais pfepriamente se ligurava. “Quis glee signiear nfo 36 a iruz sagcada em 2 posisao dos cinco escudos, mas em o numero déles as cinco Chagas de Cristo, nosso Redemptor, © 0 preso porque foi vendido aos judeus, em os dinhsiros gue mandou por em cada um dos escudos.” Costumava:se @ por trinta dinheiros em cada um dos escudos: e porque éste numero, além de grande, no tinha lugar muitas vezes pela incapacidade do sitio, se ordenou pelo tempo adiante que em eda escudo se metessem cinco dinheiros, com que o siimero de trinta se podia encher contando duas vezes'o escudo do meio ou juntando ao niimero dos dinheiros os. cinco Alguns autores sofrem mal terem as armas de Portw-

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