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nio de linguagem. Talvez seja essa a razio de os trabalhos em lin-
giiistica contrastiva evitarem abordar relagées textuais efetiva-
mente realizadas, atendo-se quase exclusivamente a quest6es ora-
cionais, com algumas referéncias a contextos de uso. A atividade
tradutdria € idealizada, quando nfo excluida da teoria, € 0s produ-
tos dessa atividade acabam por se considerarem desviantes no in-
terior do campo de estudo (Krzeszowski, 1981), justamente por
‘do exibirem as relagdes postuladas pelos tedricos.
Apesar disso, alguns contrastivistas consideram a traducio
‘uma parte da lingitistica contrastiva. Nesse sentido, a seguinte afir-
magio de Halliday ct al. € exemplar: “as teorias e os métodos para
a comparacio das linguas, inclusive a teoria da tradugéo, perten-
cem a0 ramo do assunto chamado ‘Lingtifstica Comparada’”
{p.137). Vista por esse prisma, a tradugio seria um caso especial de
comparagii, seu estudo corresponderia a uma érea de um dos domi
nios da lingiiistica e seu objeto de andlise scria o material que exibisse
0 tipo de telagio idealizada previamente determinado pela teoria,
Entretanto, mesmo essa relagao a priori ¢ idealizada nao é
simples, Cada autor supostamente define de modo objetivo a equi-
valéncia, mas acaba por ter de fragmentar o conceito em uma série
de categorias, desde “congruéncia” até “equivaléncia de tradu-
40”, pasando por “correspondéncia formal”, “equivaléncia se-
mantica”, “equivaléncia pragmatica” etc. Além disso, 0 proprio
Krzeszowski nota que nem internamente a um tipo de andlise con-
trastiva as relagSes podem permanecer as mesmas:
1 nogio de equivaléncia no é a mesma para cada um dos tipos de
comparagio. A equivaléneia de sistemas expressa uma relagio dife-
rente da equivaléncia de construgées e de oragées ¢ diferente da
equivalencia de cegras. Em uma anslise contrastiva organizada hori-
Zontalmente, cada tipo de equivaléncia exige sua propria explicagio
¢ motivagio independentes. (1976, p.73)°
13 Kraesnowski (1976) diferencia a anlisecontrastiva horizontal da vertical. A pri-
rmeiea consstra no isolamento de wa sistema ou constragdo ou fegra em uma
lingua ea busca em outralingu, de um sistema, consteugbo ou regra correspon-
dente dquele da primeita lingua, Aandlse vertical partra do pressuposto de que
Ins construgbes equivalents entre lnguas, que passam por tansformagbes su
cessvas até chegar&s estrutras supericiais.
TRADUGAO E DIFERENCA 37
Mesmo idealizada, mesmo tendo passado por um processo de
total assepsia, mesmo em um tinico modelo de referéncia, a “equi
valencia de traducdo”, ou a “equivaléncia”, nao se refere aum tini
co tipo de relagio na sea de lingiistica contrastiva, Se isso ja é
problemético em um campo de pesquisa que lida com o sistema
lingitstico e busca abstrair do conceito todas as referncias a situa-