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Instrução aérea, os primórdios do ensino aeronáutico no Brasil

Falar dos primórdios da aviação civil brasileira é remeter-se aos primórdios da aviação mundial e fazer
uma viajem ao campo de Bagatelle, onde no dia 23 de outubro de 1906, o brasileiro Alberto Santos
Dumont entrou para os anais da história como o primeiro a fazer o mais pesado que o ar voar por meios
próprios.

Não seria justo fala dos primórdios da aviação civil sem mencionar o nome dos grandes aeronautas
pioneiros, como Gariel Voisin, Louis Blériot, Wilbur e Orville Wright, Trajan Vuia e Hery Farman.
Guardando-se as devidas proporções é possível colocar ao lado de Santos Dumont a memória destes
aviadores como grandes colaboradores para o desenvolvimento da aviação civil, seja com suas
pesquisas ou com sua ousadia. Desde antes da Primeira Guerra Mundial, para estes aviadores
atravessar o atlântico sem escalas era a meta e com o avanço da grande guerra, a aviação tomaria um
grande impulso em virtude do uso dos aviões como arma de grande poder ofensivo.

Neste momento da história, a aviação já era uma grande realidade que havia passado por sua “prova de
fogo” e comprovando grande eficácia. No Brasil, já era razoável a movimentação existente ao redor do
tema aviação e motivados pelo pioneirismo de nosso patrício em terras francesas vínhamos
desenvolvendo a aviação brasileira principalmente na esfera militar coma Marinha e o Exército e em
iniciativas isoladas na aviação civil.

Podemos dizer, que a aviação civil precedeu a aviação militar em terras brasileiras, com a fundação do
Aeroclube Brasileiro, sendo o primeiro aeroclube do Brasil e um dos primeiros do mundo, fundado cinco
anos após o primeiro vôo do avião. A iniciativa de fundação deste aeroclube se deu da iniciativa de
profissionais de diversas áreas que possuíam um desejo comum de fomentar a aviação no Brasil e deu-
se no dia 11 de outubro de 1911.

No Brasil, encontravam-se um grupo de estrangeiros integrado por Roland Garros, Edmond Planchut e
Ernesto Darioli, neste mesmo período juntou-se ao grupo, vindo da Itália o italiano Gian Felice Gino,
trazendo consigo um monoplano Bleriot. O clima no Brasil estava favorável para a aviação que
despertava grande encantamento na população e detinha um grande apreço por parte dos militares.
Observando este contexto, Felice Gino se reúne com os italianos Vittorio Bucelli, Eduino Orione e Arturo
Jona e juntos fundam a Escola Brasileira de Aviação. Para funcionamento da escola foi assinado um
acordo com o governo que assegurava o funcionamento da escola, mas que em contrapartida, exigia que
a mesma montasse toda uma infra-estrutura aeronáutica ainda inexistente como hangares, sistema de
manutenção, etc.

Neste período de implantação da escola, oito hangares foram construídos no Campo dos Afonsos e os
nove aviões que seriam usados foram trazidos da Europa. A inauguração oficial da escola se da em
fevereiro de 1914 e o Ministério da Guerra apresenta uma relação com 35 nomes para fazerem o curso
de aviação. Estes oficiais, oriundos da Marinha e do Exército, foram os primeiros brasileiros a se
submeterem a um sistema de instrução aérea formalizado no Brasil. Contudo, a existência da escola não
durou muito, devido a problemas financeiros crônicos e ao início da Primeira Guerra Mundial na Europa, a
Escola Brasileira de Aviação fechou suas portas em junho de 1914.

Os aviões da escola foram emprestados ao exército que se encontrava envolvido na Guerra do


Contestado em Santa Catarina. Após o final desta guerra, os aviões emprestados ao Exército demoraram
a ser devolvidos e somente em 1916 pode ser retomado o Curso de Pilotagem. Contudo, mais uma vez a
aviação brasileira é travada por influências indiretas do exterior, os nove alunos desta primeira turma não
puderam se brevetar, pois as vésperas do vôo de cheque os dois militares responsáveis por esta missão
foram mobilizados, em virtude da declaração de guerra do Brasil ao Império Alemão em outubro de 1917.

No ano de 1916, surge também uma nova iniciativa de ensino aeronáutico no Brasil, desta vez por parte
da Marinha. A Escola de Aviação Naval, fundada em 23 de agosto de 1916, funcionava no antigo Arsenal
de Marinha, no Rio de Janeiro. Os aviões usados na escola vieram dos Estádios Unidos: três hidroplanos
Curtiss; junto com os aviões e enviado pela própria Curtiss veio o Sr. Orthon Hoover, que além de
mecânico foi o primeiro instrutor de vôo da Marinha. No final de 1916 a Escola de Viação Naval forma sua
primeira turma e o Exército, que ainda não dispunha de sua escola própria, enviava alguns de seus
oficiais para estudarem na Escola da Marinha.

Com o fim da primeira grande guerra em 1919, a normalidade começa a retornar a aviação brasileira,
neste ano foi efetivada a filiação do Aeroclube Brasileiro junto a FAI (Fédération Aéronautique
Internationale) e com isso, o aeroclube passou a função oficial de examinador dos pilotos formados no
Brasil. O primeiro a se brevetar, sendo assim o nº 1, foi o 1º Ten. Do Exército Raul Vieira de Mello. Este
mesmo ano, que deveria ser comemorado pelo aeroclube pelo seu credenciamento na FAI, foi marcado
por uma perda significativa. O Exército, na pessoa do Gal. Caetano de Faria, solicitou ao Aeroclube que
desocupasse o Campo dos Afonsos, pois o espaço seria utilizado pelo Exército para a criação da Escola
de aviação Militar.

Embora a historiografia aponte que as iniciativas para a fundação da Escola de Aviação Militar foram
anteriores a 1919, somente após o fim da Primeira Guerra Mundial é que o Exército da início a sua Escola
de formação de aviadores militares. O Exército buscou na França contratar os instrutores de vôo e
mecânicos, tal como de lá vieram os equipamentos necessários para a fundação da escola. À vontade de
se fundar uma escola de aviação militar sob o comando do exército após a guerra era tanta, que no dia 21
de novembro de 1918, somente 10 dias após a assinatura do Armistício na Europa o Ministro da Guerra
expediu o seguinte aviso:

“ nº 1463 – Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1918.

Sr. Chefe do departamento do Pessoal da Guerra:

Declaro-vos, para os devidos fins, que o serviço de


Aviação militar fica subordinado à Repartição do Estado-
Maior do Exército, competindo-lhe, portanto, organizar
com urgência esse serviço e bem assim o regulamento da
Escola de Aviação, cujo material acaba de chegar da
Europa; sendo que ambos esses trabalhos deverão ser
feitos de acordo com a missão francesa, para este fim
contratada, à qual caberá a direção técnica da referida
Escola.

Saúde e fraternidade

Alberto Cardoso de Aguiar”.

Com os aviões franceses Nieuport e Spad 84, ambos excesso de guerra da França, a Escola de Aviação
Militar começa sua ação de ensino aeronáutico, formando sua primeira turma em 22 de janeiro de 1920.
Os alunos desta turma receberam além do brevet de piloto militar, o diploma internacional de piloto-
aviador emitido pelo Aeroclube Brasileiro em nome da FAI.

Com a saída do Aeroclube Brasileiro do Campo dos Afonsos para dar lugar a Escola de Aviação Militar, o
mesmo, sob a presidência do Deputado Mauricio de Lacerda decidiu estimular a criação de Escolas de
Aviação e outros estados do Brasil, credenciando para isso delegados em vários pontos do país. Neste
momento, é possível observar a participação primordial do Aeroclube Brasileiro para fomentar em nível
nacional a cultura e a mentalidade aeronáutica através do ensino da aviação.

Em 1931, foi criado no Brasil o Departamento de Aeronáutica Civil, que funcionava subordinado ao
Ministério de Viação e Obras Públicas. Este departamento surgiu da necessidade que existia de se
regulamentar a atividade aviatória no Brasil, tendo em vista que já funcionavam várias escolas e clubes
de aviação por todo o Brasil. A partir deste momento, coube ao DAC a emissão de carteiras de piloto e
toda a regulamentação quanto ao ensino aeronáutico civil no Brasil.

Com a criação do departamento de Aeronáutica Civil, o Aeroclube Brasileiro perdeu um pouco do poder
que possuía na aviação civil como representante da FAI e passou a viver momentos conturbados
financeiramente e administrativamente. Em 1932, em uma assembléia, o nome do aeroclube foi mudado
para Aeroclube do Brasil, por proposta do Maj. Guedez Muniz. Neste mesmo momento, o agora
Aeroclube do Brasil iniciava uma nova fase de sua história em um novo endereço. Através de um acordo
com o governo federal e com o Instituto Oswaldo Cruz, um terreno em Manguinhos foi cedido ao
aeroclube e trabalhado para que pudesse ali ser construído o campo de aviação do aeroclube. Em 1936,
pousaram em Manguinhos, os primeiros aviões oficializando o trabalho de implementação deste campo.
O Campo de Manguinhos tornava-se o mais importante do Brasil.

Em 1941, se dá o fato mais importante na história recente da aviação brasileira, a criação do Ministério da
Aeronáutica, fruto de um trabalho que já vinha sendo feito a muitos anos de fomentação da aeronáutica
no Brasil e que contava com grande apoio do então presidente Getúlio Vargas. Já existia uma aviação
comercial funcionando no Brasil com pilotos sendo formados aqui nas diversas escolas existentes no
Brasil e com empresas como a Panair, Aerovias, Real, Paraense, VAPS e Votec. Se fazia necessário uma
regulamentação e um órgão que pudesse extrair da aviação brasileira tudo o que ela podia oferecer.
Neste contexto, o Ministério da Aeronáutica foi instituído pelo Decreto-lei nº 2961 de 20 de janeiro de
1941, cujo texto nas suas partes principais, é o seguinte:
O Presidente da República, usando da atribuição que
lhe confere o Art. 180 da Constituição:

Considerando o desenvolvimento alcançado pela


aviação nacional e a necessidade de ampliar as suas
necessidades e coordená-las técnica e
economicamente;

Considerando que a sua eficiência e aparelhamento são


decisivos para o progresso e segurança nacionais;

Considerando, finalmente, que sob uma orientação


única esses objetivos podem ser atingidos de modo
mais rápido e com menos dispêndio:

Decreta:

Art. 1º - Fica criada uma secretária de Estado com a


denominação de Ministério da Aeronáutica.

Com a criação do Ministério e o apoio irrestrito do governo, um clima muito favorável tomou a aviação
brasileira, principalmente à aviação civil. Iniciativas como a campanha "Dê Asas para o Brasil", criada por
Assis Chateaubriand na década de 40, ajudaram no aumento do número de pilotos em nossa aviação. A
campanha de Chateaubriand contribuiu para a criação de 400 aeroclubes e aproximadamente 700
aeronaves foram para os céus brasileiros. O Aeroclube do Brasil, mais uma vez marca sua presença
importantíssima neste momento da história da instrução aeronáutica no Brasil, pois Manguinhos saiu a
grande maioria dos instrutores que viabilizaram a implantação das Escolas de Pilotagem dos novos
Aeroclubes, criados pelo projeto e ideais de Chateaubriand.

Com o aumento da aviação civil no Brasil e conseqüente aumento do tráfego aéreo, o tráfego de
Manguinhos passou a conflitar com o do Aeroporto Internacional do Galeão e com o do Aeroporto Santos
Dumont, inviabilizando a atividade de instrução aérea em Manguinhos. Com isso, o Aeroclube do Brasil
interrompeu suas atividade se instrução 1m 1962, somente voltando a voar em instrução no ano de 1972
quando passou a ocupar suas atuais instalações no Aeroclube do Brasil.

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