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Anatomia da Laringe e Fisiologia da Producdo Vocal Mara Behlau, Renata Azevedo & Glaucya Madazio OBJETIVOS dor ndo existe enquanto unidade anatémica, mas deve se comportar . 0 foco do texto em questdo é a anatomia macroscépica da niseca ¢ intrinseca; os aspectos neurolégicos; drenagens iringea; e as bases da respiragdo para a produgao sdo também apresentadas. 0 conhecimento vocal e a descrig&o de seus componentes celu- das implicacdes da arquitetura histoldgica na clinica iologia laringeas permite compreender o processo da fona- reconhecer 0 impacto de lesdes especificas na produgdo vocal, avaliacao do paciente, definir o planejamento terapéutico e reconhe- da atuasto fonoaucioldgica. DESENVOLVIMENTO EMBRIONARIO DA. LARINGE Alaringe situa-se no pescogo, sendo conectada inferior- mente 3 traquéia e superiormente abre-se na faringe. A. estrutura da laringe é extremamente complexa, 0 que é espelhado em seu desenvolvimento embriondrio, Existem varias teorias sobre o desenvolvimento da laringe humana e a literatura disponivel é geralmente complexa e controversa. O sistema de classificagao de Carnegie divide o desen- volvimento embrionario em 23 estgios. O desenvolvimen- 10 principal da laringe concentra-se entre 0 9° e o 23° est gio, no periodo entre 20 ¢ 51 dias de gestacdo (Henick & Sa- taloff, 197) (Fig. 1-1). O primérdio das vies aéreas infetiores aparece no em- briao de 20 dias, no 9° estigio, sob a forma de evaginacao mediana da parede ventral do intestino anterior. Num em- brigo de quatro semanas pode-se observar, pela primeira vez, um orifico laringeo primitivo, entre 0 IV eo Vi arco branquial. Na quinta e sexta semanas continua o crescimen- toda laringe, observando-se rudimentos das cartilagens a ‘tendideas e da epiglote, com uma configuracao laringea em forma de “1”; entre a 7"e a 10%, a estrutura tubular é fecha- da, mas na 10' semana ocorre a recanalizacéo dos tecidos, abrindo-se novamente o adito & laringe, com o desenvoli- mento de dois recessos laterais, os ventriculos da laringe, {que serao delimitados por pregas que se constituirao nas pregas vocais e vestibulares (Aronson, 1990). Ao redor da 1" e 11? semanas de vida embrionaria, a configuracao to- posrifica principal da laringe esté formada, e as cartilagens, em fase de endurecimento. Assim, a laringe forma-se entre a4” ea 10" semana do de- senvolvimento, € € nesse periodo que podem ocorrer malfor- mages nesta estrutura, As estruturas da laringe sio derivadas do I, Il, VV e VI arcos branquiais (Tucker, 1993: Henick & Sataloff, 1997). Cada arco branquial é composto pelos trés folhetos embrio- nérios: endoderma, mesoderma e ectoderma, 0 epitélio da laringe, traquéia, bronquios e pulmdes & de origem endodérmica, Entretanto os elementos esqueléti- cos da cabeca e do pescoco, incluindo as cartilagens e os misculos, os sistemas vascular e linético e, ainda, os nervos laringeos, derivam do mesoderma. O osso hidide deriva em parte do Il arco branquial, conhecido como arco hidideo, ¢ que origina a parte superior do corpo do osso e seus cornos ‘menores; jd o Ill arco branquial da origem a parte inferior do corpo do osso hidide e a porgdo posterior da lingua (Zem- Tim, 2000). 0 IV dé origem a cartilagem tiredidea; 0 IV e V arcos branquiais dio origem as cartilagens cricéidea e arite- néideas, além dos anéis traqueais. As dilatagdes ariten deas diferenciam-se nas cartlagens aritendideas e cornicu- Jadas, e as pregas que as unem a epiglote passam a ser as pregas ariepigidticas. As cartilagens cuneiformes desenvol- vem-se como derivados da epiglote, A musculatura intrinse- ca da laringe e a musculatura faringea derivam do IV e VI arcos branquiais; 0 nervo laringeo superior ver do IV arco e VOZ: O LIVRO DO FSPECIALISTA © nervo laringeo inferior desenvolve-se a partir do VI arco (Aronson, 1990). ‘A musculatura da laringe deriva do mesoderma do IV e VI arcos branquiais. Ao redor do 23* estagio de desenvolvimen- 10 (51 dias) a maior parte dos miisculos da laringe é identifi vel, o palato duro esté se formando, o véu palatino esté a da aberto e o vestibulo laringeo conecta-se coma infraglote, quando se desenvolve entao o ventriculo da laringe. As principais caracteristicas anatomicas da laringe es tao desenvolvidas ao redor do terceiro més de vida embrio- néria, entretanto esse desenvolvimento continua mesmo apés 0 nascimento, ‘Ao nascimento, a laringe apresenta uma posigio elevada no pescoco, ao redor da terceira e quarta vértebras cervicais (C3 e C4), com a cartilagem tiredidea encaixada no oss0 higi- de. As estruturas do esqueleto laringeo comecam, entio, ase separar, o que ocorre paralelamente a ossificacao das cartila- _gens, que sao do tipo hialino, ocorrendo um processo poste- rior de endurecimento total ao redor dos 65 anos, a excecio das cartilagens comiculadas e cuneiformes. O hidide comega a ser ossificado aos dois anos de idade, as cartilagens tiredi- dea e cricéidea sao ossificadas no inicio da terceira década de vida (ao redor de 23 a 25 anos), enquanto que as aritendideas io ossificadas no final da quarta década (ao redor dos 38 anos de idacle). A epigiote, em forma de Omega, apresenta a configuracao dita infantil, com suas metades aproximadas & quase fechadas, até a puberdade, quando a laringe desce ¢ atinge o nivel da sexta e sétima vértebras cervicais (C6 e C7), continuando esse descenso gradual e lento por toda a vida. A cartilagem epiglote, as cartilagens cuneiformes ¢ os apices das cartilagens aritendideas sao fibrocartlagens amareladas, ‘com pequena tendéncia & ossificacao. As cartilagens comic ladas sao fibrocartilagens brancas que se ossificam ao redor dos 70 anos de idade. ANATOMIA MACROSCOPICA — OS COMPONENTES DA LARINGE 0 esqueleto da laringe é formado por cartilagens, miis- culos, membranas e mucosa (Fig. 1-2). A laringe como um todo divide-se em trés espacos: supraglote, glote e infraglo- te. A cavidade supraglética é formada pelas estruturas que esto acima da glote, incluindo o ventriculo laringeo (c ddades pares localizadas lateralmente e logo acima das pre- ‘gas vocais), e tendo como limite superior o dito laringeo. A cavidade infraglotica inicia-se logo abaixo da glote, tendo, ‘como limite inferior 0 primeiro anel traqueal. Arima glética, ou simplesmente glote, & 0 espaco entre as pregas vocais, com altura de cerca de 1 cm no adulto. O som da voz é pro- duzido na glote, sendo imediatamente acrescido de resso- nancia na propria supraglote. Cartilagens Laringeas {As cartilagens laringeas so em ntimero de nove, sendo trés impares, uma par principal e duas outras pares, consi deradas acess6rias. As cartilagens impares sao a tiredidea, a Praga ‘ecofagotiaquoal Divortculo respiratrio Cartlagem alee ‘til laringeo Enumecimenta semanas clas arteries 3 (Gam) 8 somanas (orm) CCarilagom (2mm) erigiote Carsagem ssigote Tsomanes 10 somaras (16mm (Gon) Fig 1-1. Estdgios embriologicos do desenvolvimento da laringe. Memerana ttreo-igides Carttagem Fig. 1-2. Desenho esquematico da laringee da traqueia nopescoco, cticdidea e a epiglote;a cartilagem par principal 6 ariten« dea: e as duas cartilagens acessérias, também pares, s30 as comniculadas e as cuneiformes (Fig. 1-3). Ha ainda outras duas cartilagens pares, de menor importancia, nem sempre presentes e também consideradas acessérias, chamadas de triticeas e sesaméides. De todas as cartilagens laringeas, as mais importantes sio a tiredidea, a cricéidea e as aritendideas. Tais cartila- gens so constitufdas principalmente por fibras hialinas,, mas também ha a patticipacao de fibras coligenas e elist- cas. Todas as cartilagens possuem tanto fibras colégenas quanto elisticas distribudas 2o longo das estruturas, ha- vendo predominio de fibras eldsticas em regiao de grande mobilidade laringea em suas diferentes fungoes, com predo- minio de fibras colagenas na regiao de maior sustentacdo da cartilagem (Hirano, 1996). 0 esqueleto cartilagineo laringeo é sustentado principal- mente pelo osso hidide, que também serve de apoio para os imiisculos da lingua. Esse oss0, 0 tinico do corpo humano que no se articula a nenhum outro, tem forma de uma ferradura deitada, situado superiormente na laringe, com as hastes vol- tadas para o plano posterior, ou seja, a abertura da ferradura tem diregio posterior; sua incluso no esqueleto anatdmico da laringe é bastante polémica (Fig. 1-2). 0 osso hidide apre-

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